Eleições 2018: os desafioscampeonato brasileiro cBolsonaro e Haddad na batalha pelo voto do Nordeste, alvocampeonato brasileiro cdiscursoscampeonato brasileiro códio:campeonato brasileiro c

Ilustração do mapa do Brasil formado por diferentes desenhoscampeonato brasileiro cpessoas

Crédito, Getty Images

Legenda da foto, Resultado das urnas no domingo traz polarização Sudeste x Nordestecampeonato brasileiro cvolta ao debate para 2º turno

Haddad, porcampeonato brasileiro cvez, perdeucampeonato brasileiro ctodo o país, com exceção do Pará e dos oito Estados do Nordeste –campeonato brasileiro conde vieram 46%campeonato brasileiro cseus votos –, emboracampeonato brasileiro cvotação na região tenha sido inferior à registrada por Lula e Dilma Rousseff nas eleições anteriores e de, no Ceará, ele ter sido superado por Ciro Gomes (PDT) no último domingo.

Jair Bolsonaro e Fernando Haddad

Crédito, Reuters

Legenda da foto, Polarização entre ideiascampeonato brasileiro cJair Bolsonaro e Fernando Haddad, que já se mostrava no primeiro turno, continua forte

Em artigo no Observatório das Eleições, o cientista político Jairo Nicolau explica que, no início dos anos 2000, não se viam as regiões brasileiras como redutos eleitorais. Isso mudou, diz ele, com a eleiçãocampeonato brasileiro c2006, quando o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva conquistou no primeiro turno 60% dos votos dos eleitores nordestinos - o maior percentual alcançado na história dos pleitos presidenciais por um candidatocampeonato brasileiro cuma determinada região.

E, desde então, "foram seis turnoscampeonato brasileiro cvitórias avassaladoras" petistas no Nordeste, aponta Nicolau.

Em 2010, após Dilma Rousseff vencer a eleição nos nove Estados nordestinos, ficou famoso o caso da estudante que postou no Twitter que "nordestino não é gente. Faça um favor a SP, mate um nordestino afogado" (dois anos mais tarde, ela seria condenada à prisão por discriminação ou preconceito, pena que foi convertidacampeonato brasileiro cprestaçãocampeonato brasileiro cserviço comunitário e pagamentocampeonato brasileiro cmulta).

Neste domingo, amostrascampeonato brasileiro cdiscurso semelhante pipocaram nas redes sociais, com a retóricacampeonato brasileiro cque o voto dos eleitores da região é dado "sem pensar" e "só por causa do Bolsa Família, porque ninguém quer trabalhar".

Em reação, eleitores contrários a Bolsonaro que vivemcampeonato brasileiro coutras áreas do país têm agradecido ao Nordeste pelo segundo turno.

Mapa mostrando qual dos pesidenciáveis venceucampeonato brasileiro ccada Estado

Voto e política local

Analistas ouvidos pela BBC News Brasil apontam que o voto nordestino, embora não necessariamente ideológico, está ligado à forte importânciacampeonato brasileiro cpolíticascampeonato brasileiro cdistribuiçãocampeonato brasileiro crenda, a exemplo do Bolsa Família, mas tambémcampeonato brasileiro coutros fatores.

"Acredito que uma parcela (do votocampeonato brasileiro cHaddad) é reconhecimento pelas políticas distributivas e assistenciais, além do elemento carismáticocampeonato brasileiro cLula, que é forte no Brasil inteiro, mas muito mais no Nordeste", opina Leonardo Barreto, cientista político da consultoria brasiliense Factual.

"Mas um terceiro fator é racional mesmo: se eu eleitor precisocampeonato brasileiro cpolíticas distributivas, (é natural que) votecampeonato brasileiro cquem é referência nessa questão. (...) Porque, se voltarmos no tempo, antes das políticas (sociais implementadas nos governos petistas), o que havia para essas pessoas era apenas distribuiçãocampeonato brasileiro ccesta básica. Além disso, no período Lula, o Nordeste foi a região que teve o maior crescimento. É muito forte a utopia regressiva,campeonato brasileiro clembrarcampeonato brasileiro cum período quando a expectativacampeonato brasileiro cvida melhorou."

Para o cientista político baiano Jorge Antonio Alves, professor-assistentecampeonato brasileiro cCiências Políticas da Queens College, na City University of New York (CUNY) e autorcampeonato brasileiro cartigos estudando o voto nordestino, a política local também desempenha um papel importante.

Post no Instagram com a seguinte mensagem: "Nordeste vota no PT...Depois vem pro Sul vender rede e capacampeonato brasileiro cvolante". É um dos exemplos que têm sido publicados nas redes sociais como crítica aos votos da região mais favoráveis a Fernando Haddad, candidato do partido à presidência da República

Crédito, Reprodução Instagram

Legenda da foto, Críticas aos votos do Nordeste no PT se espalharam nas redes sociais após o resultado do primeiro turno

Para além das políticas distributivas, Alves defende que um fator-chave para o PT ter transferidocampeonato brasileiro cbase eleitoral para o Nordeste é que o partido conseguiu,campeonato brasileiro cseus anoscampeonato brasileiro cpoder, a adesãocampeonato brasileiro celites locais - ou seja, das famílias que tradicionalmente dominaram a política nordestina - a suas coalizõescampeonato brasileiro cgoverno, com a alavancagemcampeonato brasileiro crecursos estatais para obter legitimidade, mesmo que às vezes sacrificando questões ideológicas e programáticas.

O apoiocampeonato brasileiro cgovernadores locais, nesse contexto, acabou sendo crucial - até mesmo nestas eleições, as votações mais expressivascampeonato brasileiro cHaddad vieram dos Estados que reelegeram governadores petistascampeonato brasileiro cprimeiro turno: a Bahia e o Piauí.

Dito isso, ele analisa o raciocínio como sendo "'Lula está na prisão, mas trouxe coisas para o sertão que ninguém trazia, e vou premiar (com o voto) quem nos trouxe serviços'. Esse raciocínio é um sinalcampeonato brasileiro cque a democracia está funcionando oucampeonato brasileiro cclientelismo? É difícil dizer. Talvez um pouco dos dois. Tem um lado programático por trás, e também do votocampeonato brasileiro cquem traz benefícios."

E, agrega Alves, o mesmo raciocínio talvez possa ser replicado no outro lado da disputa: "O Jair Bolsonaro recebeu tantos votos porque o eleitor está mais bem informado, ou por que a elite pode estar se sentindo atacada e amedrontada,campeonato brasileiro cum efeito irracional e ideológico? Também não sei."

Ciro Gomes

Crédito, José Cruz/Agência Brasil

Legenda da foto, Para professor, no que diz respeito ao Nordeste, a grande questão é para onde migrarão os votoscampeonato brasileiro cCiro Gomes

O que pode mudar no segundo turno?

Agora, como as forçascampeonato brasileiro cjogo podem se realinhar no segundo turno, quando o voto nordestino será fortemente disputado?

Para Sérgio Praça, professor e pesquisador da Escolacampeonato brasileiro cCiências Sociais da FGV-RJ, no que diz respeito ao Nordeste, a grande questão é para onde migrarão os votoscampeonato brasileiro cCiro Gomes.

No restante do país, a tentativacampeonato brasileiro cHaddad será buscar o centro, mas com o grande obstáculocampeonato brasileiro cter tido 18 milhõescampeonato brasileiro cvotos a menos que o adversário no primeiro turno.

Barreto lembra que, mesmo tendo perdido para Haddad, Bolsonaro teve expressivos 7,5 milhõescampeonato brasileiro cvotos no Nordeste - e pode capitalizarcampeonato brasileiro ccimacampeonato brasileiro csua defesacampeonato brasileiro c"valores familiares" ecampeonato brasileiro cum discurso mais duro na questão da segurança pública.

"É importante destacar que a populaçãocampeonato brasileiro cbaixa renda não raro é mais conservadora no campo dos valores. Por fim, o Bolsonaro cresce nas capitais por causa do problema epidêmico da violência, e o PT não tem uma agenda forte na segurança pública", opina.

De todas as nove capitais nordestinas, Haddad só conseguiu superar Bolsonarocampeonato brasileiro ctrês, Teresina, Salvador - onde o PT conseguiu eleger governadores já no 1º turno - e São Luis, por uma apertada margem, inferior a dois pontos percentuais. Nas outras seis capitais, Bolsonaro bateu Haddad conquistando expressivas votações, sendo as maiores registradascampeonato brasileiro cMaceió e João Pessoa, onde o candidato do PSL beirou 50% dos votos válidos com o petista conseguindo meros 20%.

Ao mesmo tempo, para Haddad o desafio é expandir seu eleitorado para além do Nordeste e modular seu discurso para atrair o eleitor do centro-sul do país. Barreto opina, porém, que para os votantes centro-sulistas, a estratégiacampeonato brasileiro cmostrar-se como sucessorcampeonato brasileiro cLula "acaba fragilizando Haddad".

Na mesma linha, Alves defende que talvez o "único jeito" para Haddad seja "se desvencilhar do carismacampeonato brasileiro cLula", que lhe rendeu tanto apoio do Nordeste,campeonato brasileiro cfavorcampeonato brasileiro cbuscar o voto do centro, estratégia que, segundo analistas, talvez enfrente resistência da ala ideológica do PT.

Alianças

Ele agrega que o PT ainda dependerácampeonato brasileiro cgrande medidacampeonato brasileiro csuas alianças locais para se manter forte ou mesmo crescer no Nordeste, embora nem todas estejam garantidas - partidos fortes localmente, como o PSB, não são apoios garantidos.

Ao mesmo tempo, Alves destaca que entender o voto nordestino passa pelo mesmo processocampeonato brasileiro crespeitar a pluralidade da democracia.

"E isso é justamente o mais difícil da democracia, porque acabamos atacando as pessoas,campeonato brasileiro cvezcampeonato brasileiro ca diferençacampeonato brasileiro copiniões. É preciso entender que, para o eleitor nordestino, a vida é complicadacampeonato brasileiro cuma determinada forma que o leva a fazer um determinado cálculo eleitoral. Assim como é fácil dizer que os eleitores do Bolsonaro são todos reacionários, quando parte deles provavelmente fez um cálculo difícil (para decidir seu voto)", opina.

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