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O legadosemifinal copa do mundo 2024negros muçulmanos que se rebelaram na Bahia antes do fim da escravidão:semifinal copa do mundo 2024
O planosemifinal copa do mundo 2024libertar Pacífico Licutan, porém, fracassou. Munidossemifinal copa do mundo 2024lanças, espadas e porretes, os amotinados se viram obrigados a recuar diantesemifinal copa do mundo 2024policiais armados com pistolas e baionetas. Desnorteados, fugiram da cidade e pediram ajuda aos escravos do Recôncavo, o coração do escravismo baiano.
Não apenas ficaram sem o apoio como foram encurraladossemifinal copa do mundo 2024Águasemifinal copa do mundo 2024Meninos, local do Quartel da Cavalaria. Foi ali que se deu a batalha final. Antes do nascer do sol, 73 rebeldes já tinham tombado mortos e maissemifinal copa do mundo 2024500 presos, explica a antropóloga Lídice Meyer Pinto Ribeiro, da Universidade Presbiteriana Mackenzie (SP), autora do artigo Negros Islâmicos no Brasil Escravocrata.
Até os africanos que não participaram do levantesemifinal copa do mundo 20241835 sofreram perseguição policial.
Um decreto assinado pelo chefe da Polícia, Gonçalves Martins, autorizava qualquer cidadão a dar vozsemifinal copa do mundo 2024prisão a escravos, muçulmanos ou não, que estivessem reunidossemifinal copa do mundo 2024númerosemifinal copa do mundo 2024quatro ou mais. Reunir gentesemifinal copa do mundo 2024casa, por exemplo, passou a ser terminantemente proibido.
Outra medida obrigava os senhores a "converter" seus escravos ao catolicismo. Se não o fizessemsemifinal copa do mundo 2024seis meses, seriam multados. Por medosemifinal copa do mundo 2024retaliações, os muçulmanos passaram a renegarsemifinal copa do mundo 2024religião. Mais do que isso: quando não era praticada às escondidas, a religião sofria aculturação com práticas católicas. Tudo isso explica a ausênciasemifinal copa do mundo 2024descendentessemifinal copa do mundo 2024escravos seguidores do islã.
Muçulmanos: inimigos na África, aliados no Brasil
"A vitória vemsemifinal copa do mundo 2024Alá!", dizia o fragmentosemifinal copa do mundo 2024árabe encontrado dentrosemifinal copa do mundo 2024um amuleto malê confiscado pela polícia. No entanto, a tão esperada vitória não chegou. Os corpos dos 73 rebeldes mortos foram jogadossemifinal copa do mundo 2024valas comunssemifinal copa do mundo 2024um cemitério local. Os maissemifinal copa do mundo 2024500 presos foram interrogados, julgados e punidos.
As penas variavamsemifinal copa do mundo 2024açoites para os escravos a deportação para os libertos. Quatro deles receberam a pena máxima: enforcamento. As autoridades mandaram construir forcas novas no Campo da Pólvora,semifinal copa do mundo 2024Salvador. Mas se esqueceramsemifinal copa do mundo 2024contratar um carrasco para fazer o serviço. Na faltasemifinal copa do mundo 2024um, os condenados foram mesmo fuzilados,semifinal copa do mundo 2024praça pública, por um pelotão improvisado.
Ao longo da primeira metade do século 19, muitos dos africanos muçulmanos traficados para a Bahia - emsemifinal copa do mundo 2024maioria haussás, etnia que prevalece na região hoje equivalente ao norte da Nigéria - eram soldados capturados durante uma jihad, ou "guerra santa"semifinal copa do mundo 2024árabe.
"Eles se diferenciavam dos demais por serem alfabetizadossemifinal copa do mundo 2024árabe e por terem conhecimentossemifinal copa do mundo 2024matemática", explica Ribeiro.
Na África Ocidental, diversos reinos viviamsemifinal copa do mundo 2024guerra no Califadosemifinal copa do mundo 2024Sokoto, um Estado muçulmano fundadosemifinal copa do mundo 20241809 pelo califa Usman dan Fodio e que ocupou um vasto território no norte da atual Nigéria. Inimigos emsemifinal copa do mundo 2024terra natal, os "prisioneirossemifinal copa do mundo 2024guerra" viraram aliadossemifinal copa do mundo 2024solo baiano.
"Como eles pertenciam a diferentes etnias, o islã proporcionou a esses muçulmanos um sentimentosemifinal copa do mundo 2024fraternidade. Tornou-se, portanto, um elemento civilizatório que transformou heterogeneidade étnicasemifinal copa do mundo 2024homogeneidade religiosa", explica o antropólogo Juarez Caesar Malta Sobreira, da Universidade Federal Ruralsemifinal copa do mundo 2024Pernambuco (UFRPE).
Corão
A religião islâmica foi determinante até na escolha do dia 25semifinal copa do mundo 2024janeiro para o início do levante. Para os católicos, a data é dedicada a Nossa Senhora da Guia e faz parte da festa do Senhor do Bonfim, uma das mais tradicionais da Bahia. Mas, para os muçulmanos, naquele ano, era diasemifinal copa do mundo 2024comemorar o Laylat al-Qadr, uma das festas islâmicas que precedem o fim do Ramadã, o mês sagrado para os muçulmanos.
Para se proteger do inimigo, os guerreiros islâmicos confeccionaram amuletos com trechos do Corão escritossemifinal copa do mundo 2024árabe, como "Ajude-nos contra aqueles que rejeitam a fé!" e "Resgatai-nos desta cidade cujo povo é opressor!",semifinal copa do mundo 2024pedacinhossemifinal copa do mundo 2024papel guardadossemifinal copa do mundo 2024bolsassemifinal copa do mundo 2024couro costuradas à mão. Cada talismã, acreditavam, "protegia"semifinal copa do mundo 2024uma arma: os laya contra flechas e os maganin karfe contra facas.
Na Salvadorsemifinal copa do mundo 20241835, a Revolta dos Malês foi protagonizada por pessoas escravizadas que viviamsemifinal copa do mundo 2024áreas urbanas, que não cortavam canasemifinal copa do mundo 2024engenhos, nem passavam a noitesemifinal copa do mundo 2024senzalas. Muito pelo contrário. Desfrutavamsemifinal copa do mundo 2024relativa liberdade, podiam até trabalhar fora e recebiam uma pequena quantia pelos seus serviços. Os "negrossemifinal copa do mundo 2024ganho", como eram conhecidos, exerciam os mais variados ofícios:semifinal copa do mundo 2024barbeiro a artesão,semifinal copa do mundo 2024alfaiate a vendedor.
Com o que ganhavam, pagavam uma "cota" diária ao senhor. Com o que sobrava, arcavam com as despesassemifinal copa do mundo 2024comida, moradia e vestuário. "Alguns economizavam para comprarsemifinal copa do mundo 2024cartasemifinal copa do mundo 2024alforria. Outros, depoissemifinal copa do mundo 2024libertos, chegaram a acumular patrimônio maior que certos brancos", explica Ribeiro.
Para manter viva a crença no profeta Maomé, os malês se reuniamsemifinal copa do mundo 2024lugares afastados e a portas fechadas para fazer orações, ler passagens do Corão e celebrar festas do calendário muçulmano. "Assim como o candomblé, o islã não era totalmente livre para ser praticado. Senhoressemifinal copa do mundo 2024escravos e chefessemifinal copa do mundo 2024polícia tanto toleravam quanto reprimiam", observa Reis.
O artigo 276 do Código Penalsemifinal copa do mundo 20241830, aliás, proibia "o cultosemifinal copa do mundo 2024outra religião que não seja a do Estado". Mesmo assim, os alufás, nome dado aos dirigentes religiosos e que,semifinal copa do mundo 2024iorubá, significa sacerdotesemifinal copa do mundo 2024Ifá, transmitiam seu conhecimento aos mais jovens. "Os adeptos do islã dedicavam as sextas-feiras, dia sagrado para os muçulmanos, à prece e à meditação. Nesse dia, usavam roupas brancas, costume islâmico que se generalizou na Bahia", observa Sobreira.
Legado malê: da religiosidade ao vocabulário e à culinária
No dia do levantesemifinal copa do mundo 20241835, os malês saíram às ruas vestidossemifinal copa do mundo 2024abadá, espéciesemifinal copa do mundo 2024camisolão folgado na cor branca. Nos autossemifinal copa do mundo 2024devassa, as autoridades policiais se referiam à bata islâmica como "vestimentasemifinal copa do mundo 2024guerra". Mas a indumentária malê não estaria completa sem o filá, espéciesemifinal copa do mundo 2024gorro que teria dado origem ao turbante branco usado no candomblé e na umbanda.
A influência do povo malê na cultura popular brasileira, porém, vai além do turbante e do abadá. Segundo Reis, traços do islã podem ser notados na cultura, no vocabulário e até na culinária. Difundida no interiorsemifinal copa do mundo 2024Sergipe e Alagoas, a dança do parafuso ou "dança da assombração", por exemplo, seriasemifinal copa do mundo 2024origem malê. Segundo a tradição, na calada da noite, os africanos se disfarçavamsemifinal copa do mundo 2024fantamas e faziam a dança para espantar os capitães do mato.
No vocabulário, o historiador cita o exemplosemifinal copa do mundo 2024"mandinga": "Dicionarizado como feitiço, o termo vem da bolsasemifinal copa do mundo 2024mandinga, amuleto muçulmano que os africanos introduziram no Brasil". Na culinária baiana, outra tradição islâmica também cruzou o Atlântico: o arrozsemifinal copa do mundo 2024haussá.
Prato favorito do escritor Jorge Amado, é feito sem sal, óleo ou tempero e cozido com bastante água. Na hora das refeições, os adeptos do islã só consumiam alimentos preparados por mãos muçulmanas, não ingeriam carnesemifinal copa do mundo 2024porco e praticavam jejum no Ramadã.
No aspecto religioso, o parentesco entre muçulmanos e candomblecistas também se faz presente. Na mitologia iorubá, Obatalá é o nome dado ao deus supremo, "aquele que fecunda", abaixo apenassemifinal copa do mundo 2024Olorum, o criador do universo. No sincretismo brasileiro, ganhou o nomesemifinal copa do mundo 2024Oxalá ou Orixalá, orixá associado à figurasemifinal copa do mundo 2024Jesus Cristo.
O historiador José Antônio Teófilo Cairus, da Universidade do Estadosemifinal copa do mundo 2024Santa Catarina (UDESC), aponta outra hipótese para a origem etimológica do nome Oxalá: a expressão árabe Insha'Allah, que significa "se Deus quiser".
A antropóloga Lídice Ribeiro dá outras pistas da associação entre as duas religiões: o símbolo da meia-lua atrelado aos orixás, a substituição do colorido das vestes africanas pelo branco das roupas islâmicas e até a prática ritualsemifinal copa do mundo 2024tirar os sapatos antes das reuniões. "Apesar das perseguições, o islã negro continuou presente no Brasil até os diassemifinal copa do mundo 2024hoje", diz.
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