Maior favelacbet biomedicalSP terá banco e moedas próprios:cbet biomedical

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Legenda da foto, Paraisópolis, maior favelacbet biomedicalSão Paulo, é vizinha do bairro do Morumbi, na zona oestecbet biomedicalSão Paulo

O Bancocbet biomedicalParaisópolis terá uma agência dentro da favela, alémcbet biomedicaloferecer contas correntes, cartãocbet biomedicaldébito e um aplicativo para celular. Maiscbet biomedical6 mil pessoas já utilizam um cartãocbet biomedicalcrédito exclusivo para moradores da comunidade.

"Nossa ideia é que as pessoas tenham uma conta, possam fazer saques e pequenos empréstimos", diz Gilson Rodrigues, líder comunitário e presidente da Uniãocbet biomedicalMoradores e Comerciantescbet biomedicalParaisópolis.

Para financiar a iniciativa, a associação vai realizar um jantarcbet biomedicaldoações com empresários e personalidades. O dinheiro arrecadado irá para um fundo, que financiará as ações do banco - jantares como esse já ajudaram a criar uma sériecbet biomedicalprojetos sociais na região.

Quando um morador pedir um empréstimo, por exemplo, o valor sairá desse fundo - depois, quando ele pagar a dívida, o dinheiro retorna ao banco para ficar disponível para outras pessoas.

Já os juros e as taxascbet biomedicalfuncionamento serão usados para financiar causas da comunidade, alémcbet biomedical32 projetos sociais que a associaçãocbet biomedicalmoradores toca na área, como uma orquestracbet biomedicaljovens, um grupocbet biomedicalbalé e um bistrôcbet biomedicaluma laje da favela.

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Legenda da foto, Paraisópolis tem cercacbet biomedical8 mil estabelecimentos comerciais e 100 mil moradores

"Nosso objetivo não é ganhar dinheiro, não é gerar lucro, mas investir no desenvolvimento da comunidade, no comércio e no consumo local, gerando empregos", diz Gilson. Ele promete que cadastroscbet biomedicalinadimplentes, como Serasa e SPC, não serão consultados.

Estima-se que Paraisópolis tenha cercacbet biomedical100 mil habitantes e 8 mil estabelecimentos comerciais - a maioria pertence a moradores. Grandes empresas também estãocbet biomedicalolho nesse potencial econômico e abriram lojas na área, como Banco do Brasil, Casas Bahia e Bradesco.

Cercacbet biomedical21% dos moradores trabalham dentro da própria favela, segundo a associaçãocbet biomedicalmoradores. Quem tiver conta no banco local terá descontos no comércio credenciado.

Por outro lado, apesar do comércio aquecido e da fama adquirida com uma novela da TV Globo que usava suas vielas como cenário, Paraisópolis ainda tem uma sériecbet biomedicalproblemas comuns a toda favela do Brasil, como pobreza extrema e faltacbet biomedicalsaneamento básico.

Obrascbet biomedicalurbanização estão paradas há anos, como canalizaçãocbet biomedicalum córrego e a construçãocbet biomedicalmoradias sociais. Cercacbet biomedical5 mil famílias da comunidade vivemcbet biomedicalbolsa-aluguel pagos pela prefeitura.

O novo banco deve priorizar empréstimos que financiem o comércio local, dando cursos para os clientes desenvolverem seus negócios. "Quando a gente incentiva e prepara os comerciantes, a tendência é que o negócio dê certo e ele nos devolva o dinheiro", diz Gilson, que tem 33 anos.

'Por que somos pobres?'

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Legenda da foto, O ex-seminarista Joaquimcbet biomedicalMelo Neto foi um dos criadores do Banco Palmas, referência brasileiracbet biomedicalinstituições financeiras comunitárias

Os bancos comunitários existem há 20 anos no Brasil. O primeiro foi o Banco Palmas, criadocbet biomedical1998 na favelacbet biomedicalPalmeiras,cbet biomedicalFortaleza, e tido como referência na modalidade.

Joaquimcbet biomedicalMelo Neto, coordenador da instituição, conta que o banco surgiu quando a associaçãocbet biomedicalmoradores local fez um levantamento sobre a pobreza extrema da área. "A pergunta que mudou nossa vida foi: 'por que nós somos pobres?'", diz Neto, que foi morarcbet biomedicalPalmeiras como seminaristacbet biomedical1984, a pedido da Igreja Católica.

"Percebemos que as pessoas gastavam todo seu dinheiro fora da comunidade, comprando produtos que não geravam dinheiro nem emprego para nós. Como éramos ambiciosos, montamos um banco para financiar os comerciantescbet biomedicaldentro da comunidade", conta.

O investimento inicial foicbet biomedicalR$ 2.000, emprestadoscbet biomedicaluma ONG. "Quebramos o banco no primeiro dia com tantos empréstimos", lembra Neto, rindo. O episódio ficou famoso, e empresários da região doaram dinheiro para financiar o projeto.

Depois, o Palmas lançoucbet biomedicalprópria moeda, impressacbet biomedicalpapel sulfite, e que circula até hoje apenas no perímetro do bairro - cada nota vale R$ 1. O sucesso gerou problemas: o Banco Central processou os moradores, acusando o projetocbet biomedicalfalsificar dinheiro.

"Quando o Banco Central mandou uma carta questionando nosso banco, respondemos que a gente explicava se eles pagassem R$ 100 mil pela consultoria", lembra Neto.

O Banco Palmas ganhou o processocbet biomedical2005. O Banco Central reconheceu que instituições financeiras comunitárias podem existir - hoje elas estão sob o guarda-chuva da Secretariacbet biomedicalEconomia Solidária, do Ministério do Trabalho.

O Banco Nacionalcbet biomedicalDesenvolvimento Econômico e Social (BNDES) empresta dinheiro para a criação dos fundos, onde fica o dinheiro que financia os bancos comunitários.

O Palmas, por exemplo, tem R$ 3 milhões para realizar empréstimos e administrar o banco. Ele cobra 0,8%cbet biomedicaljuros por mês, índice que Neto considera alto - para ele, a taxa deveria ser zero.

A BBC Brasil procurou o Banco Central, mas a instituição não quis se pronunciar sobre as iniciativas.

Microeconomia

"Banqueiros" comunitários dizem que as unidades ajudam a desenvolver o comércio e o consumocbet biomedicaláreas com pequena atividade financeira e estatal. O último Censo,cbet biomedical2010, apontava que 11,4 milhõescbet biomedicalbrasileiros vivemcbet biomedicalfavelas.

Para Leonardo Leal, coordenador da Incubadora Tecnológicacbet biomedicalEconomia Solidária da Universidade Federalcbet biomedicalAlagoas, as iniciativas também incluem pessoas que estão fora do sistema financeiro tradicional. "Hoje, grande parte dos moradorescbet biomedicaláreas rurais, oucbet biomedicalpequenas cidades, não têm acesso a serviços como pagamentocbet biomedicalboletos e microcrédito", explica.

Leal participou da criação do Olhos D'água, banco tocado por moradorescbet biomedicalIgaci, cidadecbet biomedical25 mil habitantescbet biomedicalAlagoas.

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Legenda da foto, Notacbet biomedical10 Terras, moeda comunitária usadacbet biomedicalIgaci, municípiocbet biomedical25 mil moradoras

A cidade tem uma moeda local, a Terra, que dá descontos no comércio e só pode ser usada dentro do município. "Como o banco é administrado pelos próprios moradores, existe um sistemacbet biomedicalautogestão e controle social que ajuda a diminuir as taxascbet biomedicalinadimplência", explica.

Criadocbet biomedical2016 com uma linhacbet biomedicalcrédito do Ministério do Trabalhocbet biomedicalR$ 45 mil, o Olhos D'água já financiou 150 projetoscbet biomedicalcomércio local ecbet biomedicalagricultura familiar - os empréstimos chegam a R$ 1.500, no máximo.

Em Maricá, no Estado do Rio Janeiro, o banco Mumbuca também tem ajudado a movimentar a economia local. Sua origem é um pouco diferente dos demais bancos comunitários.

Em 2013, a prefeitura da cidade criou uma bolsa social para moradorescbet biomedicalbaixa renda, mais ou menos nos moldes do Bolsa Família. O valorcbet biomedicalR$ 110 passou a ser pago na moeda Mumbuca, que dá descontos nos 309 estabelecimentos comerciais credenciados.

Hoje, cercacbet biomedical16 mil pessoas são clientes, que também é aberto para famílias com renda maior. O Mumbuca financia iniciativas locais com juros zero - ou seja, ele não tem lucros com a atividade.

"O comerciante paga uma taxa para usar nossos serviços, mas ela volta para a comunidadecbet biomedicalformacbet biomedicalcursos e oficinascbet biomedicalempreendedorismo", diz Natalia Sciammarella, subcoordenadoracbet biomedicalgestão do Mumbuca. "As pessoas sabem que, usando nosso banco, elas movimentam a economia da cidade, gerando emprego".

Em 2006, esse modelocbet biomedicalmicrocrédito rendeu o Prêmio Nobelcbet biomedicalEconomia ao banqueiro Muhammad Yunus. O economista, nascidocbet biomedicalBangladesh, criou um banco que emprestava pequenas quantias para milhõescbet biomedicalpessoas pobrescbet biomedicalseu país.