'UPPs vieram para anestesiar a população e permitir que a corrupção acontecesse por baixo dos panos', diz ex-comandante da PM:n1bet freebet

Moradores da Cidaden1bet freebetDeus
Legenda da foto, Moradores da Cidaden1bet freebetDeus, na zona oeste do Rion1bet freebetJaneiro, também sofreram com confrontos entre criminosos e policiais | Foto: AFP/Getty Images

Em entrevista à BBC Brasil, Rodrigues diz que o governo e as forçasn1bet freebetsegurança do Estado não têm mais credibilidade da população e relaciona o descrédito à teian1bet freebetcorrupção no governon1bet freebetSérgio Cabral, antecessorn1bet freebetPezão.

"As disputas (em territórios conflagrados) têm aumentado tanton1bet freebetvirtude da fragilidade da segurança pública quanto da crise política e do vácuo moral que o governo do Estado enfrenta após as denúncias", considera ele, que vê no lucrativo esquema comandado por Cabral a provan1bet freebetque não havia vontade política para modernizar a polícia nem dar sustentabilidade às UPPs. "O interesse era ter uma política que pudesse contagiar a população e deixá-la anestesiada para que outras coisas pudessem acontecer por baixo dos panos."

Leia abaixo os principais trechos da entrevista.

n1bet freebet BBC Brasil - n1bet freebet O Rion1bet freebetJaneiro parou ontem com a operação no Complexo da Maré e a morten1bet freebetduas crianças. Que diagnóstico o senhor faz da situação atual?

n1bet freebet Robson Rodrigues - Já passou da horan1bet freebettermos uma resposta racional, organizada, mas estamos ouvindo muita retórica e vendo ações que não parecem ter uma coordenação ou planejamento racional.

Essas ações não têm um norte, não têm uma direção. Não há relação custo-benefício proveitoso para nenhum dos atores, nem para polícia nem para a sociedade.

Robson Rodrigues
Legenda da foto, O antropólogo Robson Rodrigues, hoje na reserva da PM, critica atuação das Unidadesn1bet freebetPolícia Pacificadora

Elas só aumentam a temperatura, a sensaçãon1bet freebetmedo, e a percepçãon1bet freebetque a situação realmente fugiu ao controle do estado. E vemos o carioca cada vez mais deprimido pessimista, sem conseguir enxergar uma luz no fim do túnel.

Vem uma frustração muito grande porque até um tempo atrás parecia que havia um controle relativo das coisas, com tendêncian1bet freebetquedas dos indicadores da criminalidade. Mas os númerosn1bet freebethomicídios estão novamente se aproximando da casa dos 6 mil (em 2017, foram 5.332 no Estado, contra 4.081n1bet freebet2012). O último ano que tivemos maisn1bet freebet6 mil homicídios foi 2007. Isso faz a gente comparar com a situação pré-UPPs (implantadas a partirn1bet freebet2008).

n1bet freebet BBC Brasil - O senhor disse que as açõesn1bet freebethoje não têm um norte. O que está faltando para nortear essas ações?

n1bet freebet Rodrigues - Acho que quem deveria estar coordenando essas ações era o Estado. As polícias são subordinadas ao governador, ao secretárion1bet freebetsegurança. Se as polícias erram, mesmo que seja na tentativan1bet freebetacertar, é por faltan1bet freebetliderança. Por faltan1bet freebetum comando. Me parece que elas estão atuandon1bet freebetuma forma autônoma. Falta uma coordenação racional inteligente que possa avaliar e medir os riscos que uma ação assim pode causar, riscos que estão resultandon1bet freebetmortes,n1bet freebetpoliciais inclusive.

Algo tem que ser feito, mas a que preço? As ações precisam ser ponderadas. Mesmon1bet freebetum momenton1bet freebettensão, não podemos abrir para que todos resolvam a situação a seu modo. Um plano tem que ser articulado, as instituições têm que levarn1bet freebetconsideração todos os impactos e prováveis riscos. Era bem previsível que uma açãon1bet freebetuma favela como a Maré, árean1bet freebetalta complexidade,n1bet freebetum horário como aquele (no meio da tarde da primeira semanan1bet freebetvolta às aulas) teria um resultado como o que tivemos.

Será que vale a pena? Quando há mortes, quando há esse impacto todo, o aumento do pavor, o desgaste ainda maior das forçasn1bet freebetsegurança, eu acho que não. Qualquer resultado que tem perdan1bet freebetvidas não valeu a pena. Perdemos. Perde a segurança, perde a sociedade, perdemos todos. E isso não tem impacto sobre as estruturas do crime mais organizado. Está faltando planejamento para guiar essas ações, ponderar esses resultados e minimizar efeitos como esses.

n1bet freebet BBC Brasil - Mas o senhor acha que a polícia está agindon1bet freebetforma autônoma, tomando decisões por conta própria, sem liderança?

n1bet freebet Rodrigues - Não sei. Acho que se não for isso, é pior ainda. Porque os resultados não têm reduzido os númerosn1bet freebetocorrência violenta. Pelo contrário, estamos produzindo mais violência, mais impactos. Se isso estiver sendo feito com uma coordenação, indica que a situação é ainda mais vulnerável, porque estão seguindo orientações equivocadas. Você fazer uma operação dessas com todos esses efeitos, com riscos, com morte, com risco para todo mundo, vale a pena?

Em um momenton1bet freebetcrise como o que estamos enfrentando, o mais sensato, racional, inteligente, seria você dosar toda a utilizaçãon1bet freebetseus recursos, ponderar se vale a pena aplicar. Operações custam caro, fora os custos sociais, o número vidas que se perde. Está faltando um plano mais racional e coordenado que possa tirar resultados mais positivos do que os que estamos colhendo, infelizmente.

Policiais militares do Rio

Crédito, Reuters

Legenda da foto, Rion1bet freebetJaneiro viveu nova escaladan1bet freebetviolência após policiais militares entraremn1bet freebetconfronto com traficantes

n1bet freebet BBC Brasil - n1bet freebet A policia está contribuindo para aumentar a violência?

n1bet freebet Rodrigues - Pelos resultados dessas operações, sim. Estamos produzindo mais problemas. No meio desse incêndio, você vai espalhar a brasa para tudo quanto é lado, com um bombeiro que tem pouca água para apagar o fogo?

O secretárion1bet freebetSegurança Pública afirmou que a polícia entrou na Maré por causan1bet freebetuma denúncian1bet freebetque policiais na Nova Holanda tinham sido sequestrados. A denúncia não procedia e a operação acabou matando um meninon1bet freebet13 anos. A decisãon1bet freebetentrar foi precipitada?

O momento é tenso e o níveln1bet freebetdecisão não deveria caber só à polícia nesse momento. Se tivéssemos uma coordenação, quem deveria estar orientando essas operações seriam as informações colhidas na investigação. Deveria ter uma trocan1bet freebetinformação rápida pra checar se a denúncia procedia ou não. Vai checar in loco uma denúncia que não existiu? O risco é maior, logicamente.

Nesse sentido, tecnicamente, me parece que houve muitas falhas. Ainda não se explicou o verdadeiro motivo (da incursão). Mas o resultado foi catastrófico. Com impactosn1bet freebettodos os setores, todos os segmentos. Ninguém sai ganhando. Somente os marginais, que se aproveitam dessa situação caótica. Esse crime relativamente organizado parece mais organizado diante da desorganização do estado.

n1bet freebet BBC Brasil - Temos visto uma retomada das disputas entre facções pelo controlen1bet freebetterritórios, como aconteceu na Rocinha. Em que medida o senhor relaciona esse aumenton1bet freebetdisputas à queda das UPPs?

n1bet freebet Rodrigues - Quando a polítican1bet freebetpacificação começou a atuar para recuperar esses territórios, gerar oportunidades e tentar entrar com outras políticas públicas para desestabilizar a permanência desses criminosos, isso surtiu efeito. Muitos se viram intranquilos, tanto é que preferiram fugir desses locais. Mas, logicamente, deixando aberta a possibilidaden1bet freebetretorno.

E assim que o governo do Estado começa a mostrar fraqueza, isso repercute rapidamente nas políticas públicas. Isso é percebido pelos traficantes, que tinham recuado mas nem tanto, sempre olhando aquele capital que tinham deixado para trás. A fragilidade das forças do Estado cria uma oportunidaden1bet freebetretorno.

A facção que mais perdeu território e capital com a politican1bet freebetpacificação (o Comando Vermelho) voltou violentamente para tentar recuperá-lo. Partiu para cima não són1bet freebetfacções inimigas como tambémn1bet freebetmilícias.

Quando há um sinaln1bet freebetfragilidade,n1bet freebetvácuon1bet freebetpoder, principalmente nesses espaços controladosn1bet freebetforma violenta, é claro que vai haver disputa. Na ponta da linha vamos sentir esses efeitos mais violentos. É o que tem acontecido.

Contribuem também a crise política e o vácuo moral que o governo do Estado enfrenta após as denúncias da Lava Jato. As facções voltaram muito mais fortalecidas, e aprenderam como deveriam agir porque tomaram um baque forte com a polítican1bet freebetpacificação.

n1bet freebet BBC Brasil - O senhor acha que a forma como a polítican1bet freebetpacificação foi implementada tem a ver com o que estamos vendo agora?

n1bet freebet Rodrigues - Não houve sustentabilidade. O problema foram os objetivos e as intenções que estavam por trás da polítican1bet freebetpacificação. Não falo dos policiais vocacionados. A maior parte acreditava no processo, mas essa credibilidade foi se perdendo ao longo do processo.

Mas havia intenções maquiadas por trás. Isso a gente verifica agora, com os avanços da Lava Jato. Aí você entende por que não se quis dar uma sustentabilidade ao processo.

n1bet freebet BBC Brasil - Quais eram essas intenções maquiadas?

n1bet freebet Rodrigues - Ora, hoje ficou claro que havia toda uma empresa criminosa no governo do Estado (durante o mandato do governador Sérgio Cabral, que já foi condenado a 87 anosn1bet freebetprisão e se tornou réu 21 vezes). O crime mais organizado estava lá. Tudo para poder obter lucros através das construçõesn1bet freebetempreiteiras. Essa coisa vergonhosa que estamos vendo põen1bet freebetdescrédito todas as ações.

A própria polícia acaba perdendo a credibilidade por causa dessas práticas criminosas e da corrupção política nos altos níveis do governo do Estado.

Você vê que por trásn1bet freebettoda a polítican1bet freebetpacificação, por mais que alguns policiais tivessem boas intençõesn1bet freebetfazer mudanças benéficas, as pessoas mais poderosas estavam com intençãon1bet freebetauferir lucros. E nisso se assemelham às práticas criminosas dessas organizaçõesn1bet freebetque estamos falando aqui.

Não houve um planon1bet freebetsustentação da pacificação,n1bet freebetmodernização das polícias,n1bet freebettransformar aquilon1bet freebetum produto benéfico para a sociedade, porque as pessoas estavam preocupadas com os próprios bolsos. A Lava Jato e as investigaçõesn1bet freebetuma forma geral estão mostrando isso. São os fatos. Quando você vê que os três últimos governadores do Rio foram presos recentemente e o ex-governador teve todas essas condenações,n1bet freebetforma tão contundente. Não pode haver dúvida.

Aí gente confirma a nossa tesen1bet freebetque não havia interessen1bet freebetdar sustentabilidade à pacificação através da modernização das polícias. O interesse era manter uma política que desse certo, que pudesse contagiar a população e deixá-la anestesiada, para que outras coisas pudessem acontecer por baixo dos panos. Isso foi catastrófico para uma política quen1bet freebetdeterminado momento foi um exemplo para vários países.

Hoje vai ser muito difícil recuperar essa legitimidade que foi jogada fora. É preciso reconquistar confiança, mas a crisen1bet freebetcredibilidade na classe política vai afetar qualquer planon1bet freebetsegurança pública no Rio por muito tempo, por mais técnico que seja. Precisamos encarar esse problema.

n1bet freebet BBC Brasil - De que maneira o senhor acha que a corrupção praticada na época do governo Cabral afeta a imagem das polícias hoje?

n1bet freebet Rodrigues - A confiança e a credibilidade das forçasn1bet freebetsegurança do governo do Estado do Rio e do governo estão lá embaixo. A população não acredita mais, e quando você perde credibilidade, é um fracasso total. Você tem aí um problema sério, porque o maior capital dos Estados, dos governos en1bet freebetsuas polícias e a credibilidade e a legitimidade que possa obtern1bet freebetsuas ações.