A saga da escultura desaparecida na ditadura e resgatadaslot paga no cadastro'ação cinematográfica' por alunos da USP:slot paga no cadastro
"Durante a ditadura no Brasil, homenagear Garcia Lorca e a poesia que resistia ao fascismo europeu era uma formaslot paga no cadastrocruzar arte e política, mesmo que a política partidária não interessasse a Flavioslot paga no cadastroCarvalho e tampoucoslot paga no cadastroobra estivesse atravessada por qualquer viés ideológico", explica o críticoslot paga no cadastroarte e professor da PUC-RJ Luiz Camillo Osório.
Assim como os restos mortaisslot paga no cadastroLorca, que nunca foram encontrados, os restos do monumento dedicado ao poeta foram retirados pela Prefeitura da Praça das Guianas e levados para lugar desconhecido.
Mesmo diante dos esforçosslot paga no cadastroFlávioslot paga no cadastroCarvalho para recuperar a obra e devolvê-la à cidade, a história da escultura permaneceu escondida por uma década.
Daria um filme
Numa tardeslot paga no cadastro1979, durante uma aulaslot paga no cadastroArquitetura Expressionista, Fernando, um jovem tímido,slot paga no cadastroóculos e cabelo ruivo, ficou sabendo do acontecido com a obraslot paga no cadastroFlávioslot paga no cadastroCarvalho.
"O professor Daher (Gustavo Daher) contou a história da escultura, dizendo que ela estava desaparecida. Um tempo depois, li uma matéria do Estadão que dizia que os restos da obra estavam num depósito da prefeitura,slot paga no cadastroCotia (Grande São Paulo)", relata Fernando, ex-aluno da Faculdadeslot paga no cadastroArquitetura e Urbanismo, FAU - USP, hoje com 61 anos.
O Fernando da FAU se tornou o reconhecido cineasta Fernando Meirelles, diretorslot paga no cadastroCidadeslot paga no cadastroDeus. "Quando a gente é jovem, é mais propenso a fazer besteiras", brinca o cineasta ao lembrar da aventura.
Meirelles, então, foi sozinho até o local informado pelo jornal,slot paga no cadastroCotia. "Entreislot paga no cadastromoto na áreaslot paga no cadastroserviços e, embaixoslot paga no cadastrouma árvore, ao relento, deislot paga no cadastrocara com os pedaçosslot paga no cadastroferro que haviam sido a obra um dia".
A partir daí, a história da escultura, que já daria um roteiroslot paga no cadastrofilme por si só, ganhou um enredo novo: o jovem voltou para a FAU e contou para os amigos o que havia descoberto. Não demorou para que a história se espalhasse e um sequestro fosse arquitetado por Meirelles.
"A ideia viralizou muito rapidamente. Em pouco tempo apareceram os voluntários prontos para o crime e o (amigo) Carlão teve a ideiaslot paga no cadastrofazer uma cobertura do roubo para a revistaslot paga no cadastrocinema Cine-Olho, da ECA, da qual eu fazia parte", recorda Meirelles.
Carlão era alunoslot paga no cadastrocinema da ECA-USP e editor da revistaslot paga no cadastrocinema da Escola, Cine-Olho.
O ex-aluno da ECA conta que foi graças a Meirelles que todos souberam da existência da escultura e do seu desaparecimento. "Foi ele também quem teve a ideia do sequestro e nós, os amigos, fomos para dar apoio".
Hoje, Carlão é conhecido como o cineasta Carlos Nascimbeni.
"O plano foi o seguinte: tínhamos uma colega, Nina Grushenko, que trabalhava numa creche municipal. Ela roubou alguns papéis timbrados e envelopes com o brasão da prefeitura", conta Fernando, que, com os documentos roubados pela colega, fez algumas cartas "com caraslot paga no cadastroprocesso oficial".
"No final, tínhamos um processoslot paga no cadastroautorização muito convincente na mão", garante o cineasta.
Mas para colocar o crimeslot paga no cadastroprática, Fernando precisava reunir muitas pessoas, principalmente para conseguir transportar os restos da escultura, feitaslot paga no cadastrograndes partesslot paga no cadastroferro e tubos.
O exércitoslot paga no cadastroBrancaleone
A história da escultura, seguida do planoslot paga no cadastrosequestro, correuslot paga no cadastrobocaslot paga no cadastroboca pela FAU até chegar na ECA, como relata o jornalista José Genulino, o Pinho, alunoslot paga no cadastrojornalismo da ECAslot paga no cadastro1979.
O estudante era amigo da irmãslot paga no cadastroMeirelles, Márcia, que estudava teatro na ECA, e escrevia para a revista Cine-Olho, o que lhe rendeu amizade com Carlão.
"Na USP dos anos 1970, tínhamos o 'triângulo das bermudas', que era a FAU, a ECA e o cursoslot paga no cadastroEconomia. Foram essas três faculdades que começaram os agitos do movimento estudantil depois daquele períodoslot paga no cadastrorepressão e censura", conta Pinho.
"Nas vésperas do sequestro, o Carlão me contou o plano e combinamosslot paga no cadastronos encontrarmos no campus no dia seguinte e sairmos para a empreitada", recorda Pinho, que passou a integrar o que ficou conhecido como o "exércitoslot paga no cadastroBrancaleone", que conseguiu reunir diferentes tribos: trotskistas, marxistas, maconheiros, o pessoal do teatro etc.
"Fui para dar um suporte ao sequestro, para ter um monteslot paga no cadastrogente no ato... no sequestro... Não sei se foi bem um sequestro para a gente, mas do pontoslot paga no cadastrovista legal deve ter sido, né", questiona-se o jornalista, rindo.
O exército organizado por Meirelles, que, segundo o cineasta, "tinha muitoslot paga no cadastroBrancaleone", conseguiu reunir 14 jovens. Um deles tinha o principal instrumento do crime: um caminhãozinho.
"Subimos todos no caminhãozinho e fomos para Cotia. Quando chegamos no lugar, um senhor nos recebeu. Ele percebeu que tinha algo errado, ficou preocupado com os papéis que apresentamos e foi dar um telefonema", lembra Carlão, rindo.
Enquanto o senhor, o segurança do lugar, dava seus telefonemas, Carlão reuniu o grupo para fazer uma foto, publicada na cobertura que fez para a Cine-Olho.
"Fizemos caraslot paga no cadastrogente legal. O segurança resistiu, mas com tanto carimbo e sorrisos, nos liberou", conta Fernando. "Saímos rindoslot paga no cadastroorelha a orelha. Crime perfeito".
"Não demoramos nem 15 minutos para colocar a esculturaslot paga no cadastrocima do caminhão. Quando o senhor voltou, já estava tudo pronto", acrescenta o Carlão.
De Cotia, o caminhãozinho com os 14 sequestradores foi para a FAU, onde deixou os restos da escultura.
Os alunos da FAU, entre eles o Meirelles, começaram um trabalhoslot paga no cadastrofunilaria e pintura para recuperar a escultura. O trabalho, que recebeu ajuda até da empresa do paislot paga no cadastroum dos alunos, durou semanas.
"Um dia, o diretor da Faculdade nos chamou e disse que estava fingindo que não estava vendo aquela escultura na porta daslot paga no cadastrosala, mas achava que não conseguiria fingir por muito tempo", conta Meirelles.
A solução, decidida por votação entre os envolvidos, foi aslot paga no cadastrocolocar a escultura no vão livre do Masp, na véspera do aniversárioslot paga no cadastroSão Paulo, quando a avenida Paulista estaria fechada para as comemorações.
"Durante a madrugada, havia gente montando palanques, som, essas coisas. Chegamos com nosso caminhão,slot paga no cadastronovo tivemos que dizer para o policial que só precisávamos descarregar um adereço para a festa e ele liberou". Cercaslot paga no cadastro20 pessoas carregaram a escultura até um dado ponto do vão livre, retiraram uns paralelepípedos do chão, colocaram os pés ali e cimentaram a estátua.
Meirelles e os outros permaneceram no local para ver a reação das pessoas que passavam. Quando ficou sabendo do ocorrido, Pietro María Bardi, diretor do MASP, desceu furioso para o vão livre, gritando e ameaçando chamar a polícia. "Foi a maior bronca que já levei na vida", lembra Fernando.
Como era aniversário da cidade naquele dia, o prefeito Olavo Setubal estava por perto e ouviu a confusão. Ao chegar no museu e ver o tumulto que havia se formado, inclusive com presença da imprensa, prometeu aos estudantes que devolveria a escultura ao seu lugarslot paga no cadastroorigem. E assim, o "exércitoslot paga no cadastroBrancaleone" conseguiu devolver a obra para a Praça das Guianas, onde está até hoje.
Junto ao monumento a Federico García Lorca, que representa um desenho abstrato feito pelo próprio Lorca, há um dos poemas do espanhol:
"¡Hay que abrirse del todo Frente a la noche negra, Para que nos llenemosslot paga no cadastrorocio inmortal!", lembra Fernando Meirelles durante a entrevista. "É lindo".
"Fui domesticado"
Questionado se se orgulha do sequestro da escultura e se faria a ação novamente, Carlão revela que nunca contou o episódio para seus filhos.
"Que coisa...e olha que meus dois filhos estudaram na USP. Acho que fiz muitas coisas na faculdade, muitas ações, até por causa do período político e social que vivíamos", reflete Carlão.
"O que fizemos foi um roubo, na realidade. O Fernando foi intimado por um delegado e, quando levamos a escultura para o vão livre do Masp, foi uma confusão. O caso repercutiu e fomos capaslot paga no cadastrovários jornais no dia seguinte", lembra o cineasta. "Mas a verdade é que temos muita coisa para contar daquele temposlot paga no cadastroUSP e essa foi a única história que teve repercussão".
Fernando Meirelles conta que ainda tem muitas ideias cinematográficas como a do sequestro. Talvez por isso, o jovem tímido e ruivo da décadaslot paga no cadastro1970 tenha migrado da arquitetura para o cinema.
"Hoje, com 60 anos, ainda me ocorrem ideias para muitos crimes como esse, alguns assassinatos entre eles. Tenho uma listaslot paga no cadastrovítimas possíveis, mas não tenho o ímpetoslot paga no cadastrolevar a cabo", tranquiliza.
"Fui domesticado, creio. Uma pena", termina Meirelles.