Marina poderia ser favorita para 2018, mas 'queimou caravelas com esquerda' ao apoiar impeachment, diz fundador da Rede:retro poker

Em entrevista à BBC Brasil, o cientista político considera que o cenário para 2018 estáretro pokeraberto e depende da possibilidaderetro pokerLula se candidatar ou não. O caminho até lá também é imprevisível. "Hoje o Temer já é dispensável para as elites", diz Soares. "Eu diria queretro pokerpermanência é realmente incerta."

Especialistaretro pokersegurança pública, critica a presença do Exército no Rio e diz que o efeito é meramente simbólico, para transmitir uma imagemretro pokersegurança à classe média.

Leia abaixo os principais trechos da entrevista.

retro poker BBC Brasil - O senhor ajudou a fundar a Rede Sustentabilidade e saiu fazendo críticas ao partido. Como vê hoje as perspectivas para a Marina Silva?

retro poker Soares - Fui o primeiro presidente da Rede no Rio. Mas a frustração foi muito grande, porque os víciosretro pokertodos os partidos foram simplesmente reproduzidos.

A minha divergência com a Marina teve a ver com seu apoio ao impeachment (da presidente Dilma Rousseff). Ela tinha sempre se manifestado contrária. O (deputado Alessandro) Molon entrou para o partido depois que ela se comprometeu a ser contrária.

E uma semana antes da votação, ela se pronunciou a favor do impeachment, sem nos consultar. E pior ainda, a direção do partido, que era contrária ao impeachment, mudouretro pokerposição menosretro poker24 horas depois, para não deixá-la só. Isso é o retratoretro pokerque o partido não dispõeretro pokerinstâncias autônomas.

retro poker BBC Brasil - Qual foi o impacto dessa mudança para a trajetória política dela? O senhor acredita que Marina tenha chancesretro poker2018?

retro poker Soares - Ser a favor do impeachment significava entregar o país ao núcleo mais perigoso da política nacional, o PMDB. Quando ela assumiu essa posição, extremamente irresponsável do pontoretro pokervista da democracia, acho que queimou as caravelas relativamente ao campo das esquerdas. Não só do PT, das esquerdas.

Ela hoje teria todas as condiçõesretro pokerser favorita nas eleiçõesretro poker2018 se tivesse se mantido contra o impeachment. Poderia unificar o campo das esquerdas com um discurso palatável, capazretro pokersuscitar respeito entre eleitores do centro, e a população evangélica também se reconheceria nela. Ela viria com um potencial eleitoral muito grande.

Comretro pokerruptura com o campo da esquerda, resta a ela buscar unir o centro com fatias mais conservadoras eretro pokercentro-esquerda. Mas isso já circunscreve o seu potencial eleitoral e político.

Ela deixouretro pokerser espontânea e genuína. Essa era aretro pokermarca. Passou a estar sempre numa posição ambígua, com poucas definições claras, e a jogar o jogo mais tradicional. Mas sem dúvida é uma candidatura forte potencialmente.

retro poker BBC Brasil - O cenário ainda está muitoretro pokeraberto para 2018 - o que o senhor acha que está se desenhando para a disputa?

retro poker Soares - O Lula é um forte candidato, porque para a maioria da população fez o melhor governo que experimentaram. Eretro pokerfato os resultados foram notáveis, superiores aos governos anterioresretro pokertermosretro pokercrescimento eretro pokerreduçãoretro pokerdesigualdades. Ele saiu com 85%retro pokeraprovação popular. Isso é um patrimônio extraordinário, que está sendo erodido pelas denúncias constantes da mídia.

Você tem um aventureiro, o prefeitoretro pokerSão Paulo, João Doria. Ele não merece confiança cívica. De maneira cínica, ele se apresenta como não-político, mas faz política o tempo todo, e da pior qualidade. É um demagogo que se apresenta como anti-Lula, anti-PT, já que não tem substância. O Alckmin, a alternativa do PSDB tradicional, tem mais substância, mas é muito difícil que o PSDB eleja um presidente dianteretro pokertantas denúncias.

E hoje temos a extrema-direitaretro pokerfato fascista, que propõe golpe militar, o Jair Bolsonaro. Ele nunca foi exposto, cobrado, nunca lhe perguntaram nada sobre o Brasil. Ele é apenas o que denuncia, que falaretro pokernome da ordem, e reuniu uma multidãoretro pokeradmiradores com a corrosão da credibilidade das instituições.

Já Ciro Gomes, acho que tem muita dificuldaderetro pokerse consolidar porque se comportouretro pokermaneira erráticaretro pokerrelação a compromissos e vinculações partidárias no passado, gerando incertezaretro pokertornoretro pokerseu comportamento, ainda que tenha talento e um projeto com alguma substância.

retro poker BBC Brasil - O senhor considera o ex-presidente Lula um candidato forte, mas ele é réu cinco vezes e já foi condenadoretro pokerprimeira instânciaretro pokerum sexto caso, o do tríplex do Guarujá.

retro poker Soares - Essas denúncias são muito complicadas. As do sítioretro pokerAtibaia e do tríplex são ridículas e não sensibilizarão a população. As pessoas sabem como funcionam os poderes no Brasil, e dirão, mesmo que (a sérieretro pokeracusações contra Lula) seja verdade, que outras pessoas estão aí roubando bilhões.

Na época do Adhemarretro pokerBarros, um governadorretro pokerSão Paulo que foi muito popular, a população dizia, "ele rouba, mas faz". Já que a categoria dos políticos é basicamente corrupta, com raras exceções, vamos escolher entre os que produzem benefícios. Esse tiporetro pokerespírito vai acabar prevalecendo quando as questões estiverem ainda num nívelretro pokersítio, pedalinho e apartamento.

retro poker BBC Brasil - A percepção sobre corrupção mudou com a Lava Jato ou o senhor acha que mesmo hoje as pessoas ainda comprariam essa ideia do "rouba, mas faz"?

retro poker Soares - Se você tiver um segundo turno entre Bolsonaro e Lula, não tenho dúvida que todos que criticam o Lula hoje vão votar nele. Todos que têm alguma ambição democrática. Mesmo que acreditem que ele tem algum envolvimento com corrupção. Talvez tenhamos que votar contra, e não a favor.

Os juristas mais importantes que conheço consideram pífias as acusações contra o Lula. Estou convencidoretro pokerque a fundamentação é insuficiente para uma condenação.

Não estou dizendo que a Lava Jato não mereça respeito. Mas que houve uma inclinação política na focalização do PT, houve. O PSDB começou a aparecer muito mais recentemente, eretro pokerforma muito mais leve que o PT, e os problemas são equivalentes. E são superados pelo PMDB, onde reside o núcleo central e mais tarimbado da corrupção na política brasileira.

Retirar a Dilma para levar o representante do PMDB para o poderretro pokernome da ética é despudoradamente hipócrita. Pois as massas foram às ruas, a classe média, instigada pela Globo, para apoiar essa troca. E diante do quadro atual, não há o mesmo tiporetro pokerinvestimento na mobilização política. As ruas estão vazias, por assim dizer.

retro poker BBC Brasil - Depoisretro pokerser quase derrubado pelo escândalo da JBS, o presidente Michel Temer conseguiu sobreviver ao julgamento do TSE e ao voto na Câmara que barrou a denúnciaretro pokercorrupção contra ele. O senhor acha que agora ele consegue se manter até o fim do mandato?

retro poker Soares - Ninguém sério pode responder a essa pergunta com convicção. É impossível saber. As variáveis são incontroláveis, como as que advenham das investigações da Lava Jato. Se algumas delações forem aceitas e negociadas, é possível que Temer não consiga se sustentar.

Até porque já há um substituto comprometido a seguir a agenda regressiva para cujo cumprimento Temer foi elevado a presidente. O afastamento da Dilma foi uma manobra para que essa agenda neoliberal extrema fosse implementada, que nunca obteria apoioretro pokeruma eleição.

Estamos dianteretro pokeruma verdadeira intervenção neoliberal, com uma agenda obscurantista e regressiva. Enquanto as atenções públicas se voltam para a permanência ou não do presidente, ele e o seu governo se apressam, na calada da noite, a promover mudanças trágicas para as sociedades indígenas, para a sustentabilidade, o meio ambiente.

Eu acredito que haja condições para que o Temer caia. Quais são as condições imprescindíveis? Uma alternativa comprometida com a implementação das mesmas reformas neoliberais, que é o Rodrigo Maia.

Hoje o Temer já é dispensável para as elites. Se ele cair, o presidente da Câmara pode dar sequência à agenda das reformas. E se as elites já têm um estepe, talvez ele seja mais conveniente. Mesmo que venha a ser denunciado, este será um processo demorado, e ele implementariaretro pokerforma talvez mais fluente a agenda neoliberal.

Se isso é possível, o Temer corre risco. Diria que hojeretro pokerpermanência é realmente incerta.

retro poker BBC Brasil - O Congresso está se movimentando para aprovar uma reforma política que implantaria o chamado distritão, que vem sendo criticado como um sistema que favoreceria a eleiçãoretro pokervelhos conhecidos da política. O senhor acha que isso vai adiante?

retro poker Soares - Isso é assustador. O distritão elimina as minorias, torna as eleições muito mais caras e com resultados previsíveis, porque os que já estão no poder vão viabilizarretro pokerreeleição, e as celebridades terão privilégios. Não haverá possibilidaderetro pokerque os partidos ideológicos se destaquem. As propostas vão ficarretro pokersegundo plano. Não à toa, esta é uma ideia do Temer, e do Cunha, que está sendo apresentada pelo PMDB e pelas forças conservadoras do Congresso.

retro poker BBC Brasil - O ministro do STF Luís Roberto Barroso disse há alguns dias que a crise política está levando a um "cenárioretro pokerdevastação no Brasil", e que é impossível não sentir vergonha. O momento lhe causa vergonha?

retro poker Soares - Claro. Quer dizer, eu não sei se vergonha é o termo, porque vergonha significa que você se sente representado pelos que elegeu e culpado pelo que está acontecendo. Eu não sinto assim, porque quando a gente é derrotado, não é necessariamente responsável pelo que sucede após a derrota.

retro poker BBC Brasil - Então é vergonha alheia?

retro poker Soares - Ah, isso sim. Sem dúvida (risos).

retro poker BBC Brasil - Há algo que lhe dê esperança no momento?

retro poker Soares - O longo prazo. Se você estuda história, você tem a perspectivaretro pokerque as coisas foram muito piores. Já vivemos momentos mais difíceis durante a ditadura. E o que ocorreu no Brasil no século 20 pode nos dar esperançaretro pokermudanças profundas.

No curto prazo, não dá para ser otimista. Mas os processos são dinâmicos. E há uma potência que vibra no subsolo do Brasil desde 2013 cujas energias podem se converterretro pokertransformações importantes.

retro poker BBC Brasil - O senhor costuma falar no deslocamentoretro pokerplacas tectônicas quando busca explicar os efeitos dos protestosretro poker2013. Esses efeitos ainda estão sendo sentidos?

retro poker Soares - A metáfora me ocorreu quando senti nas ruas essa palpitação, essa energia pulsando, inclusive a alegria da participação. Aqueles foram momentosretro pokerfesta, e eu dizia, o Brasil se revolta, se rebela, vai às ruas porque melhorou bastante. Em geral é assim. Você potencializa os agentes sociais, que elevam suas expectativas e assumem protagonismo.

Foi um momento muito bonito, contraditório. As mensagens eram, basicamente, que há um colapso da representação política. Ninguém acredita mais nas instituições políticas tal como funcionam. Isso é perigoso, mas é também condição positivaretro pokermudança.

O fatoretro pokernão ter havido nenhuma modificação diretamente derivadaretro poker2013 não significa que aquilo não tenha sido muito importante.

A partir dali, a gente passou a viver intensamente o que vivera anteriormente, mas requalificando as relações. Se já havia adversários, eles se transformaramretro pokerinimigos. Se já havia oposições, elas se converteramretro pokerconfrontos. Se havia uma linguagem da disputa, ela se converteuretro pokercódigo do ódio. As polarizações se enrijeceram e se firmaram.

O que marca tudo isso é a intensificação. E essa intensidade tem um sentido e ainda não se manifestou plenamente. Isso pode ser uma fonteretro pokertemor ou esperança. Nós estamosretro pokerum momento como esse diante da história, do seu abismo eretro pokersuas promessas.

retro poker BBC Brasil - Por que as ruas estão vazias? Por que não vemos nada parecido com as mobilizaçõesretro poker2013 ouretro pokerantes do impeachment?

retro poker Soares - O cenário está totalmente aberto, e as pessoas estão pensando nas consequências (dessa mobilização). Elas vão para a rua clamar pela queda do Temer para então receber Rodrigo Maia? E para continuar com a agenda das reformas?

A classe média pode desejar isso, mas a maioria da população positivamente não, conforme demonstram pesquisasretro pokeropinião. Além disso, há uma suspeição enormeretro pokerque as movimentações vão acabar beneficiando o Lula, então os contrários ao Lula não vão se envolver.

retro poker BBC Brasil - Como o senhor vê a situação atualretro pokersegurança no Rio? Temos visto uma escaladaretro pokerviolência e o governo respondeu com o envio do Exército. O senhor acha que isso ajuda a resolver o problemaretro pokeralguma maneira?

retro poker Soares - Não, claro que não, e a cúpula do Exército sabe disso. Sabe que os soldados não estão preparados para fazer vigilância nas ruas, para abordagens, eventuais enfrentamentos e para respeitar limites indispensáveis às ações internas ao país. Eles têm muito medoretro pokerum eventual deslize,retro pokeruma ação precipitada ou mesmoretro pokeruma autodefesa legítima, porque isso impacta a imagem do Exército.

Mas o fato é que presença do Exército tem efeito meramente simbólico. Transmite uma imagemretro pokersegurança para a classe média, que acha que agora está protegida. Não há dados sobre ações anteriores que demonstrem que esse é o caso. Os números não mostram quedaretro pokercriminalidade. Ao contrário, às vezes até aumentam, sobretudoretro pokerhomicídios dolosos.

retro poker BBC Brasil - É um gestoretro pokerdesespero convocar o Exército?

retro poker Soares - Mas é claro, e isso o governo já disse explicitamente. Deixou claro que não tem recursos, está perdido, não sabe mais o que fazer. Qualquer iniciativa para qualificar o trabalho das polícias envolveria mais recursos, e o Estado está quebrado, não paga os funcionários, mal paga as polícias.

Eles estão inteiramente perdidos e reproduzem o velho padrão da guerra às drogas e intervenção bélica nas favelas, que produzem desastres. São mortesretro pokerinocentes por balas perdidas, mortesretro pokersuspeitos e mortesretro pokerpoliciais.