'Toma lá, dá cá'jogo da paciênciaBrasília é 'quase sexo explícito', diz Celso Amorim:jogo da paciência

Celso Amorim

Crédito, BBC Brasil

Legenda da foto, Para Celso Amorim, não pode haver um cenáriojogo da paciênciadisputa à presidênciajogo da paciência2018 sem Lula

Mesmo diante do acirramento da crise na Venezuela, o ex-ministro não faz mea-culpajogo da paciênciarelação à proximidade gestada entre o governo Lula ejogo da paciênciaHugo Chávez, o líder venezuelano à época.

Nem vê problemas na estratégiajogo da paciênciaaproximação com países africanos que abriu as portas para negócios brasileiros - entre eles, lucrativos contratos com a construtora Odebrecht, que, como se descobriria mais tarde, pagou maisjogo da paciênciaR$ 1 bilhãojogo da paciênciabenefícios ilegaisjogo da paciênciaMoçambique e Angola.

"O que as empresas brasileiras fizeram, eu não sei. E não sabia. Agora, também posso dizer que não é diferente do que fizeram empresas francesas, espanholas, americanas", afirma ele, dizendo que casosjogo da paciênciacorrupção internacionais estão longejogo da paciênciaser exclusividade brasileira e o que o Brasil estaria cometendo que chamajogo da paciência"automortificação" no escrutínio global a suas empresas.

Apesar dos cinco processos enfrentados pelo ex-presidente Lula, Amorim considera que "não pode haver um cenário presidencial" sem o petistajogo da paciência2018. Para o chanceler, ele próprio filiado ao PT, Lula seria a única pessoa com capacidade para derrotar "as ameaçasjogo da paciênciadireita ejogo da paciênciaextrema-direita". Ele considera as acusações contra o ex-presidente "ridículas" e "descabidas".

"Tenho certeza que nenhuma dessas acusações se sustentará. Acho que as pessoas percebem que as acusações são infundadas", considera. "Acho que o povo não vai cair nessa, e que o Lula tem muita chancejogo da paciênciaser eleito."

Leia abaixo os principais trechos da entrevista.

jogo da paciência BBC Brasil - Primeiro queria saber como o senhor vê a política externa do Brasil no momento. A gente viu muitas guinadas no país ao longo do último ano e agora o governo acabajogo da paciênciaassumir a presidência do Mercosul...

jogo da paciência Celso Amorim - (interrompendo) Mal se percebe, não?

jogo da paciência BBC Brasil - Como o senhor vê o papel que o Brasil está desempenhando?

jogo da paciência Amorim - A política externa obviamente teve uma queda brutal. Você não percebe mais a presença do Brasil. Eu me recordo que, quando presidia reuniões do Mercosul, eram entrevistas sem parar, jornais, canaisjogo da paciênciaTV, sempre tinha uma coisa nova, algo palpitante, ainda que fosse para criticar. Agora, não tem nada. Dá impressão que você está cumprindo tabela.

O Brasil estava presentejogo da paciênciaquase tudo que aconteceujogo da paciênciaimportante no mundo, da Rodadajogo da paciênciaDoha às questões da reforma da ONU, passando pelo Oriente Médio, Teerã, integração da América do Sul... Hoje, o que eu vejo é uma coisa passiva. Nos melhores momentos é passiva. Nos piores, é desastrada.

jogo da paciência BBC Brasil - O Brasil assume o Mercosuljogo da paciênciaum momentojogo da paciênciacrise acirrada na Venezuela. A situação está crítica, com a eleição da Assembleia Constituinte convocada pelo presidente Nicolás Maduro marcada para domingo. Como o senhor vê as ações do Brasiljogo da paciênciarelação à Venezuela?

jogo da paciência Amorim - O governo brasileiro adotou uma posiçãojogo da paciênciacrítica tão frontal ao governo venezuelano que deixoujogo da paciênciaser um interlocutor. Na situação atual, o Brasil sumiu. Porque se colocoujogo da paciênciauma posiçãojogo da paciênciaque não há diálogo.

Ejogo da paciênciavezjogo da paciênciater presente que o mais importante é a paz na Venezuela, a paz social e política, resolveu tomar um lado, e o lado contrário ao do governo. Eu não vou entrar nem no mérito das posições do governo Maduro, mas se você quer agir como um país que tem influência, você não pode tomar partido.

jogo da paciência BBC Brasil - Mas havia muitas críticas à proximidade dos governo do PTjogo da paciênciarelação ao ex-presidente Hugo Chávez ejogo da paciênciaMaduro, à faltajogo da paciênciaposicionamentojogo da paciênciarelação a violaçõesjogo da paciênciadireitos humanos ejogo da paciêncialiberdades democráticas.

jogo da paciência Amorim - Isso é totalmente injusto. Claro que Lula, nós todos, tínhamos simpatia pelo desejo do Chávezjogo da paciênciaafirmar uma independênciajogo da paciênciarelação aos EUA, ejogo da paciênciafazer um governo mais voltado para a população pobre.

Agora, veja bem. Quando havia um problema sério entre Colômbia e Venezuela, o Uribe (o ex-presidente colombiano Álvaro Uribe) vinha correndo falar com o Lula. Nós tínhamos diálogos com todos. Essa ideiajogo da paciênciaque a gente passava a mão na cabeça dos bolivarianos,jogo da paciênciaque o Brasil era leniente, é totalmente errada.

Havia uma proximidade. Havia muito esforçojogo da paciênciapersuasão. O Brasil criou o Grupojogo da paciênciaPaíses Amigos da Venezuela, teve uma liderança indiscutível. Foi o Brasil que convenceu, persuadiu, com jeito, sem agressividade, o presidente Chávez a fazer o referendo revogatório e a aceitar que a OEA (Organização dos Estados Americanos) fosse observadora. Algo impensável hoje, devido ao climajogo da paciênciahostilidade.

É fundamental o diálogo na Venezuela. É dificílimo, mas tem que haver. Não adianta você apoiar a solução do governo ou da oposição. Você tem que trabalhar pelo diálogo.

O presidente da Venezuela Nicolas Maduro

Crédito, Gustavo Salazar / Presidencia da Venezuela

Legenda da foto, 'É fundamental o diálogo na Venezuela. Não adianta você apoiar a solução do governo ou da oposição. Você tem que trabalhar pelo diálogo', diz Amorim

jogo da paciência BBC Brasil - O senhor não faz nenhuma autocrítica pelo fatojogo da paciênciao governo Lula nunca ter questionado tendências antidemocráticas na Venezuela, ainda mais agora que a situação se agravou tanto?

jogo da paciência Amorim - Não, não faço, porque não somos nós que temos que decidir para onde vai o povo venezuelano. A gente pode atuar numa crise para facilitar o diálogo. Coisa que o presidente Lula sempre tentou fazer. Mas há um limite do que você pode fazer.

jogo da paciência BBC Brasil - Dentro do próprio PT há um rachajogo da paciênciarelação à questão da Constituinte, com a presidente atual do partido, Gleisi Hoffmann, declarando apoio à convocação feita por Maduro, e outros quadros do partido desconfortáveis com esse apoio público. Como o senhor vê essa questão?

jogo da paciência Amorim - Eu não sei se tem um racha. O PT não tem força para fazer isso (influir na questão). Você tem que perguntar ao governo. O governo é que tem força para agirjogo da paciênciauma maneira oujogo da paciênciaoutra. Você tem trabalhar pelo diálogo, e o governo não está tentando fazer nada parecido com isso.

O PT está fazendo uma manifestaçãojogo da paciênciasimpatia. Embora eu ache que a Constituinte não vá resolver problema nenhum, eu até entendo (esse movimento). Tem que haver um poucojogo da paciênciaentendimento, e no momento não há nenhum. O importante é você tentar promover um diálogo, que é difícil. Mas diplomacia é para isso, para as coisas difíceis.

jogo da paciência BBC Brasil - O senhor é filiado ao PT. Se não concorda com a Constituinte, lhe causa desconforto a defesa pública do partido?

jogo da paciência Amorim - Sou filiado, mas não sou do diretório, não participo das decisões. Não vou dizer que causa desconforto. Eu acho que a Constituinte não vai solucionar o problema e é passíveljogo da paciênciacríticas. Mas não estou no governo, não tenho como influir. Se tivesse, eu me manifestaria.

O (ex-presidente da Espanha José Luiz Rodríguez) Zapatero, o (presidente colombiano Juan Manuel) Santos, essas pessoas estão tentando mediar. Tem que se fazer as coisasjogo da paciênciaoutra maneira. Teria talvez que chamar Cuba para participar. Mas qual é o diálogo que o governo brasileiro tem com Cuba, se Cuba nem sequer dá agrément (consentimento à nomeaçãojogo da paciênciadiplomata estrangeiro para atuar no territóriojogo da paciênciaum país) para o embaixador brasileiro?

Isso tem a ver com a faltajogo da paciêncialegitimidade do governo atual. Você não dá um golpe impunemente. Você pode conseguir o poder, mas paga um preço.

jogo da paciência BBC Brasil - Após o impeachment, a ex-presidente Dilma Rousseff visitou diversos países para falar sobre seu afastamento e transmitir a perspectiva do PTjogo da paciênciaque ela foi vítimajogo da paciênciaum golpe. O senhor acha que a comunidade estrangeira se convenceujogo da paciênciaque teria havido um golpe?

jogo da paciência Amorim - Olha, eu acho que essas coisas semânticas... Eu, pessoalmente, acho que foi um golpe. As formalidades foram seguidas, o Supremo Tribunal Federal e o Congresso estão funcionando, então não é um golpe militar, claro. Mas se você teve uma eleição que elegeu uma chapa com um determinado projetojogo da paciênciapaís - pode até ter errado na execução, isso é outro problema - mas um projeto que pressupõe maior inclusão social, autonomia na política internacional, não incluía privatizações como as que estão sendo feitas agora, nada disso. E você substitui, através do impeachment, por um projeto oposto - isso é um golpe, a meu ver. Ainda que os meios não tenham sido ilegais do pontojogo da paciênciavista formal.

A sensação que eu vejo fora do Brasil éjogo da paciênciaperplexidade. As pessoas nem entendem o que está acontecendo no Brasil. As condenações do Lula são percebidas como uma coisa política, direcionada. Como você pode comparar o Lula, um homem que a maioria ainda responde que foi o melhor presidente do país, com o Eduardo Cunha, gente? O sujeito tinha contas na Suíça, é um manipulador. São entidades totalmente diferentes. Isso já mostra que a cabeça dessa pessoa que julgou não é uma cabeça... sei lá. Não vou falar mais nada.

O ex-presidente Lula dá entrevista coletivajogo da paciênciaSão Paulo

Crédito, Ricardo Stuckert

Legenda da foto, 'O Lula é a única pessoa que tem capacidadejogo da paciênciamobilizar o povo para derrotar essas ameaçasjogo da paciênciadireita ejogo da paciênciaextrema-direita', diz Celso Amorim

jogo da paciência BBC Brasil - Mas o Lula foi condenadojogo da paciênciaprimeira instância pelo juiz Sérgio Moro e enfrenta quatro outros processos. Como o senhor vê a sucessão presidencial para 2018?

jogo da paciência Amorim - Primeiramente, eu presumo que não pode haver um cenário presidencial sem o Lula. Nessa coisa não tem que ter plano B.

As eleiçõesjogo da paciência2018 serão muito importantes, e temos riscos até da (ascensãojogo da paciênciaum candidato de) extrema-direita, graças à campanha feita no Brasil. O objetivo foi desmoralizar o PT, mas desmoralizou a política. Os candidatos que se apresentam como não-políticos, da extrema-direita ou da direita mesmo, podem se beneficiar disso.

O Lula é a única pessoa que tem capacidadejogo da paciênciamobilizar o povo para derrotar essas ameaçasjogo da paciênciadireita ejogo da paciênciaextrema-direita. Não é nem para ganhar do PSDB tradicional, não, é para ganharjogo da paciênciapessoas que são antipolíticas e antidemocráticas.

jogo da paciência BBC Brasil - Mas para além das dúvidas que pairam sobre o futuro político do Lula, ele enfrenta uma sériejogo da paciênciaacusaçõesjogo da paciênciacorrupção. Como isso se concilia com a ética demandada por um candidato a presidente?

jogo da paciência Amorim - Mas você tem que se perguntar por que esses processos foram abertos. Não existe materialidade do crime. "Por que tinha intenção?" Como é que você faz uma relaçãojogo da paciênciacausa e efeito para aferir um eventual benefício para uma empresa? São coisas totalmente descabidas.

Criminalizaram o fatojogo da paciênciao Lula receber determinada quantia pelas palestras que fez. Gente, isso é o que faz o Clinton, o Bush... já que a gente gostajogo da paciênciaver exemplos fora. Quase todos esses líderes têm uma fundação. Você acha que eles tiraram dinheiro do bolso deles para botar na fundação? O Instituto Lula é auditado com uma lupa que eu nunca vi aplicada a outros institutos. Eu não tenho nada contra o Instituto Fernando Henrique Cardoso, acho bom que haja. Mas são critérios diferentes, nunca ninguém nunca pensou (em fiscalizar).

jogo da paciência BBC Brasil - Mas há acusações muito sériasjogo da paciênciacorrupção envolvendo o PT - outros partidos também, claro - e o períodojogo da paciênciagoverno do Lula, como as centenasjogo da paciênciamilhõesjogo da paciênciareais desviados da Petrobras.

jogo da paciência Amorim - Eu sei, houve acusações, não tenho como fazer aferições, mas posso falar das impressões que existem. Muitas dessas coisas na Petrobras, que não são defensáveis, já aconteciam antes, e não foram investigadas com o mesmo rigor. Agora o João Vaccari Neto, que era o tesoureiro do PT, acaboujogo da paciênciaser absolvido. Claro que depoisjogo da paciênciavocê criar uma imagem dessas...

As acusações contra o Lula são absolutamente ridículas. Um dos processos tem a ver com a aquisição dos aviões (36 caças suecos comprados durante o governo Dilma). Eu posso dizer para você, e poderia dizer a um juiz, se ele por acaso me chamar: A influência do Lula na compra dos aviões suecos foi zero. Zero. Até porque a preferênciajogo da paciênciaseu governo eram os aviões franceses, porque estávamos com uma aliança estratégica com a França. Mas a escolha das Forças Armadas era pelos caças suecos. A escolha da Aeronáutica era essa.

Tudo se amontoa. Em um dos processos, um sujeito se propõe a fazer determinada coisa para ter influência, e aí porque ele propôs, você incrimina a pessoa sobre a qual ele faria o lobby. Tenha dó. A questão é que tem que descobrir alguma coisa sobre o Lula. Tem que inventar.

Os outros estão acusadosjogo da paciênciater contas na Suíça, tem mala sendo carregada, até filmada. Não tem cabimento. Tenho certeza que nenhuma dessas acusações se sustentará. E acho que as pessoas percebem que as acusações são infundadas. Acho que o povo não vai cair nessa, e que o Lula tem muita chancejogo da paciênciaser eleito.

jogo da paciência BBC Brasil - Em uma palestra recentejogo da paciênciaCabo Verde, o senhor defendeu a necessidadejogo da paciênciaum entendimento entre os ex-presidentes Lula e Fernando Henrique Cardoso. De que maneira?

jogo da paciência Amorim - Isso, um entendimento para fazer a reforma política. Eu acho que tem que fazer parte da plataforma política do próximo presidente convocar uma Constituinte para promover uma reforma política e mudar o sistema eleitoral.

Todos os problemas que ocorreram - Mensalão, Petrolão - estão ligados a financiamentojogo da paciênciacampanha. E isso está ligado ao alto custo da eleição. Se a eleição for cara, você pode fazer as proibições que fizer que o dinheiro vai continuar aparecendo, seja por caixa 2, caixa 3, caixa 4.

O ex-presidente Fernando Henrique Cardoso

Crédito, Tânia Rêgo/Agência Brasil

Legenda da foto, 'Eu respeito o Fernando Henrique, ele não é como a maioriajogo da paciênciapolíticos da centro-direita brasileira', afirma Amorim

Eu respeito o Fernando Henrique, ele não é como a maioriajogo da paciênciapolíticos da centro-direita brasileira. Ele tem influência e pode ajudar a fazer uma reforma política que dê legitimidade ao poder no Brasil.

Senão, fica impossível. Com o Congresso sendo eleito da maneira como é eleito hoje, qualquer governante vai ser obrigado a entrarjogo da paciêncianegociação.

Não estou falandojogo da paciêncianegociar politicamente. Isso é normal. Em qualquer país do mundo, você faz concessões para fazer uma coalizão. Não é isso. O problema é você ter que negociar favores, verba. Como você está vendo agora. Nunca vi uma coisa assim tão escancarada. É quase sexo explícito.

jogo da paciência BBC Brasil - O que o senhor diz que é quase sexo explícito? As negociações entre o governo e o Congresso? O toma lá dá cá?

jogo da paciência Amorim - Isso. É impressionante. Na frentejogo da paciênciatodo mundo. Eu nunca vi isso. Falaram tão mal da Dilma, mas a Dilma não mudou a composiçãojogo da paciênciaComissão nenhuma (referência à substituiçãojogo da paciênciaúltima horajogo da paciênciamembros da Comissãojogo da paciênciaConstituição e Justiça da Câmara dos Deputadosjogo da paciênciajulho para rejeitar denúncia contra Temer). E issojogo da paciênciapessoas do mesmo partido, como o deputado que soube pelo jornal que tinha sido substituído por outro.

jogo da paciência BBC Brasil - Recentemente especulou-se na imprensa que o PT poderia indicar o seu nome para se candidatar ao governo do Estado do Riojogo da paciência2018. O senhor foi sondado? Está cogitando voltar para a política?

jogo da paciência Amorim - Eu nunca saí da vida política, sempre mantive boas relações, mas nunca cheguei a me posicionar como candidato a nada. Fico envaidecido, mas, honestamente, tentando verjogo da paciênciafora e me desvincular emocionalmente, não acho que eu seja um bom nome. Acho que tem que ser uma pessoa mais jovem, que possa enfrentar os problemas atuais.

Se eu puder ajudar para que um governo voltado para justiça social e para a autonomia no Brasil ganhe a eleição, farei o que for possível. Mas não sei se uma eventual candidatura ao governo do Rio ajudaria com isso. Eu acho que não.

jogo da paciência BBC Brasil - A operação Lava Jato descortinou esquemasjogo da paciênciacorrupçãojogo da paciênciaempreiteiras, sobretudo da Odebrecht, muito além das fronteiras brasileiras, incluindo nos países africanos dos quais o Brasil se aproximou durante o governo Lula, como parte da políticajogo da paciênciaaproximação Sul-Sul. Diante da corrupção revelada, como o senhor olha para essa estratégiajogo da paciênciaretrospecto?

jogo da paciência Amorim - Olha, o que as empresas brasileiras fizeram, eu não sei. E não sabia. Agora, também posso dizer que não é diferente do que fizeram empresas francesas, espanholas, americanas, porque era como essas empresas agiam.

Empresas americanas, alemãs, também foram acusadas disso ou daquilo. A Volkswagen, por exemplo, com aquele software (que mascarava as emissõesjogo da paciênciacarbono). Claro que ninguém vai justificar essas coisas erradas, mas não é por isso que você vai fechar a possibilidadejogo da paciênciaestar presentejogo da paciênciaoutros países.

Se propinas foram pagas, isso é lamentável e tem que ser punido. Mas eu nunca vi uma campanha acirrada, nem da justiça americana, nem da justiça alemã, para destruir todas as suas empresas. Você teria que ir corrigindo as coisas, mandar embora as pessoas ligadas àquelas práticas, e ir consertando.

Aqui, o níveljogo da paciênciacolaboração com a justiça estrangeira, com países mais poderosos que o Brasil, é uma coisa que nunca vi acontecer. São assuntos nossos, para serem resolvidos aqui.

jogo da paciência BBC Brasil - O senhor está falando das colaborações para investigar a corrupção no exterior, como da Petrobras e da Odebrecht?

jogo da paciência Amorim - Sim, porque houve um compartilhamentojogo da paciênciadados com a Justiça Americana que teve efeitos graves. Acho que tínhamos que resolver os problemas aqui, e quem quisesse, que viesse pedir para saber mais.

Você não vê outros países fazerem isso. Da maneira que foi feito, dá a impressão que só as empresas brasileiras fizeram isso (pagaram propina para obter contratos).

Eu não vou nem mencionar os países, mas nós já perdemos concorrênciasjogo da paciênciamaneiras muito suspeitas, onde sabíamos que tínhamos condições melhores para determinado contrato. Na hora H ganhava uma outra companhia,jogo da paciênciaum país europeu oujogo da paciênciauma ex-potência colonial.

Um erro não justifica o outro, mas nós fizemos uma automortificação, não é? Você vai sanear as empresas, mas você vai levar muito tempo para recuperar a credibilidade.

jogo da paciência BBC Brasil - O senhor acha que a Lava Jato virou uma automortificação?

jogo da paciência Amorim - Em boa parte. É muito delicado falar desse assunto, porque eu não quero defenderjogo da paciênciamodo algum as ações erradas que foram praticadas. Agora, eu acho que sim, houve uma automortificação. Na maneira como foi levado, a maneira como a imprensa tratava...

Você ter uma ação políticajogo da paciênciafavorjogo da paciênciauma empresa é parte da ação comercialjogo da paciênciaum país no exterior. Por exemplo, a Boeing queria vender o seu avião no Brasil. A Hillary Clinton me escreveu uma carta. A Condoleezza Rice já tinha levantado o assunto comigo.

Agora, acho que tudo ficou criminalizado indistintamente. Fez-se uma generalização errada e vai levar muito tempo para que isso seja corrigido. Se convenções internacionais anticorrupção já existem há algum tempo, é porque corrupção havia, né? Acho que isso tinha que ser vistojogo da paciênciaforma menos ingênua,jogo da paciênciamodo a não achar que eram só as brasileiras. Ainda que com a punição adequada aqui dentro.

jogo da paciência BBC Brasil - O governo do presidente norte-americano Donald Trump acabajogo da paciênciacompletar seis meses, e lá também o dia a dia tem sidojogo da paciênciasucessivas crises. Como o senhor vê o impactojogo da paciênciaseu governo até agora?

jogo da paciência Amorim - Eu não tenho nenhuma simpatia pessoal pelo Trump. Em muitas coisas ele representa um risco, porque a linguagem dele,jogo da paciênciavezjogo da paciênciaapaziguar, atiça conflitos. Mesmo vendo todos os defeitos do Trump, acho que ele fez uma coisa positiva, que foi acabar com a TPP (a Parceria Transpacífico, ou Transpacific Partnership). Se há uma áreajogo da paciênciaque o Obama, na minha opinião, falhou, foi na área do comércio, porque ele não fez nenhum esforço para reviver a Rodadajogo da paciênciaDoha numa épocajogo da paciênciaque isso ainda era possível.

O TPP tinha o objetivo geopolíticojogo da paciêncialimitar a ação da China. Houve uma fragmentação do comércio internacional na época do Obama. Tudo bem que o Trump não vai defender a OMC (Organização Mundial do Comércio), mas terminar com o TPP eu acho positivo, pelo menos esse realismo nos poupa da conversa fiadajogo da paciênciaque a mídia entrava, falando que o Brasil está isolado, e é o Brasil é o único país que não tem acordo... mentira. Nenhum dos Brics é partejogo da paciêncianenhum desses acordos.

Mas não é bom falar que o Trump está certo porque ele é uma pessoa machista, contra imigrantes, racista. O que está fazendo com o México é uma barbaridade. Eu acho, aliás que a América Latina tem que se posicionar. Por que o Mercosul não dá uma declaração criticando o que o Trump está fazendo com o México?

jogo da paciência BBC Brasil - Condenando o muro que ele quer construir?

jogo da paciência Amorim - O muro, que evidentemente viola os direitos humanos, e também o que eles estão fazendo no Nafta, obrigando o México a fazer mais concessões para manter o acordo. O México já fez vários sacrifícios para entrar para o Nafta. Sobretudo a agricultura mexicana sofreu muito. Cadê a coragem dos que falam mal da Venezuela e do Maduro nesse momento? Não vejo.

jogo da paciência BBC Brasil - O mais recente ranking que mede os países com maior soft power no mundo recentemente mostrou que a França ultrapassou os Estados Unidos. Por outro lado, o Brasil caiu e está quase saindo da lista...

jogo da paciência Amorim - Quando o Brasil estava fortíssimo! O soft power existe como potencial. Se não há uma diplomacia ativa, ele se perde. Foi o que o governo do presidente Lula procurou fazer. Eu sempre disse que a política externa brasileira era ativa e altiva. O Brasil pode, sim, fazer as coisas. Aquela história do "yes, we can" (o sloganjogo da paciênciaBarack Obama). Sim, nós podemos. Sim, o Brasil pode trabalhar pela unidade sul-americana. Sim, o Brasil pode trabalhar pela paz na Venezuela. Sim, o Brasil pode fazer um acordo com os Brics. Sim, o Brasil pode ter uma política africana. Pode ter havido erros aqui e ali, mas era isso que nós tentamos fazer.

Nem tudo se perde. Alguma coisa fica. E quando a gente tiver um governo mais legítimo, vamos poder novamente usar as coisas que criamos, os Brics, o Ibas (Fórumjogo da paciênciaDiálogo Índia, Brasil e África do Sul), o diálogo com os árabes, a boa relação com a África. A gente vai poder voltar.

Espero que seja um governo voltado para a justiça social, porque isso é essencial. O Brasil não é uma empresa. Não basta ter o balanço adequado e estar tendo lucro. O Brasil é um povo.

jogo da paciência BBC Brasil - E como está esse Brasil hoje? Qual é ajogo da paciênciasensação como brasileiro?

jogo da paciência Amorim - Olha, eu seria tentado a fazer uma frasejogo da paciênciaefeito e dizer: "O Brasil não está". Tirando o período negro da ditadura militar, é o pior momentojogo da paciênciaque eu já vi o Brasil. Inclusivejogo da paciênciamatériajogo da paciênciacredibilidade internacional.

Mas o Brasil é um país grande, a diplomacia tem tradição, as Forças Armadas vão exigir que projetos importantes continuem, temos instituiçõesjogo da paciênciaprimeiríssima qualidade, como a Fiocruz, que luta pela saúde brasileira.

O Brasil tem que voltar a ter o peso e a credibilidade que perdeu. Agora, o Brasil está cumprindo tabela. Na realidade, não pode fazer muito mais do que isso. Mas eu acho que vai se recuperar. Agora como, e quando, eu não sei.