'Temos féesporte na tvDeusesporte na tvque sairão do Rio', diz famíliaesporte na tvbebê baleado no útero da mãe:esporte na tv
Claudineia, 28 anos, acabaraesporte na tvcomprar o carrinho para seu primeiro bebê naquela sexta-feira. Estava chegandoesporte na tvcasa no fim da tarde quando foi pega no fogo cruzado entre traficantes e policiais na entrada da Favela do Lixão, no municípioesporte na tvDuqueesporte na tvCaxias, na região metropolitana do Rio.
O tiro que atingiu a grávida entrou pelo lado esquerdoesporte na tvseu quadril. A bala perfurou seu o útero e atravessou o pequeno corpoesporte na tvArthur. Feriuesporte na tvcabeça, dilacerouesporte na tvorelha, atingiu seu tórax e atravessouesporte na tvcoluna recém-formada, atingindo as vértebras T3 e T4.
"Hoje, ele está paraplégico. Mas tudo pode acontecer na vida dessa criança", diz o ginecologista José Carlos Oliveira, secretário municipalesporte na tvsaúdeesporte na tvDuqueesporte na tvCaxias, que está acompanhando seu progresso.
"Essa criança ter sobrevivido é um milagre. Está acontecendo um milagre diante dos nossos olhos", considera o médico, queesporte na tvmaisesporte na tv30 anosesporte na tvcarreira "nunca viu nada igual".
'Ele vai se recuperar'
Arthur estáesporte na tvestado gravíssimo e respira com ajudaesporte na tvaparelhos. Mas a famíliaesporte na tvClaudineia na Paraíba, os pais e os cinco irmãos e irmãs, está unida num círculoesporte na tvfé.
"Os familiares aqui estão todos juntos rezando, só na esperança", conta seu irmão, Leonardo dos Santos. "Tem que ter féesporte na tvDeus que ele vai reagir bem aos tratamentos e voltar a andar."
As primeiras notícias que a família recebeu foram "o que passou na TV".
"Foi um choque muito grande", diz Leonardo. Na segunda-feira, porém, Claudineia mandou notícias por WhatsApp; um áudio dizendo para todos ficarem tranquilos, que ia ficar tudo bem. Ouvir a voz da irmã trouxe tranquilidade e confiança à família.
"Ele vai se recuperar", acredita Leonardo. "Quero ver o bebezinho crescer forte para andar e correr aqui junto da família."
Depois do que aconteceu, ele tem esperançaesporte na tvque a irmã deixe o Rio e volte para o berço da famíliaesporte na tvseis irmãos - a pequena cidadeesporte na tvLucena, onde todos trabalham na roça, a vida é tranquila e todo mundo se conhece e leva uma vida "muito humilde", conta.
"Aqui tem ar livre, tem espaço, ele pode andar, correr, ir para onde quiser. Tenho féesporte na tvDeus que a gente vai convencê-la a sair do Rio, vir morar aqui, junto da gente."
Claudineia deixou a Paraíba alguns anos atrás e veio para o Rio atrásesporte na tvtrabalho "para ter um futuro melhor", conta o irmão. "Até que veio essa tragédia".
A comunidade do Lixão é uma favela pequena na região centralesporte na tvDuqueesporte na tvCaxias, e tem esse nome por ter sido construída sobre um lixão aterrado décadas atrás.
Os tiroteios na comunidade na sexta-feira passada teriam sido precipitados por traficantes que atacaram um grupoesporte na tvpoliciais. A Polícia Civil investiga o caso, e considera forte a hipóteseesporte na tva bala que feriu mãe filho ter sido disparada por criminosos.
Criseesporte na tvsegurança
O longo históricoesporte na tvbalas perdidas no Rio é difícilesporte na tvmensurar. Os casos não são medidos separadamente pelo Institutoesporte na tvSegurança Pública, o braço estatístico da Secretaria estadualesporte na tvSegurança Pública do Rio (Seseg-RJ), e sim embutidos nas estatísticas geraisesporte na tvviolência.
O indicador estratégicoesporte na tvletalidade violenta - que mede a quantidadeesporte na tvhomicídios, somando os dolosos às mortesesporte na tvdecorrentesesporte na tvoperações policiais, latrocínio e lesão corporal - tem dado a dimensão do aumento da violência no Estado.
Nos primeiros cinco meses deste ano, houve 2.942 homicídios somados no indicador, contra 2.528 no mesmo período do ano passado,esporte na tvacordo com dados do ISP.
Para o sociólogo Ignacio Cano, o aumento do númeroesporte na tvpessoas mortas e feridas por balas perdidas tem sido uma "consequência natural" do aumento do númeroesporte na tvhomicídios e confrontos entre criminosos e policiaisesporte na tvcomunidades do Rio.
"O contrário seria um milagre - esperar que apenas os protagonistas desses conflitos fossem atingidos", afirma Cano, professor e pesquisador do Laboratórioesporte na tvAnálise da Violência da Universidade do Estado do Rioesporte na tvJaneiro (Uerj).
Ele explica que a deterioração da segurança pública no Rio está relacionada à grave crise financeira do Estado, que impede novos concursos e a "compra"esporte na tvhoras extrasesporte na tvpoliciais para aumentar o efetivo, e à recessão, ao desemprego e à diminuiçãoesporte na tvrenda, que levam a um aumento da "pequena criminalidade".
"Além disso, as políticasesporte na tvsegurança criadas para o Rioesporte na tv2008 e 2009 nunca foram avaliadas, corrigidas, reformuladas. Hoje somos herdeirosesporte na tvpolíticas criadas há oito anos", afirma, referindo-se sobretudo às Unidadesesporte na tvPolícia Pacificadora (UPPs), que vêm sofrendo declínio.
De acordo com a Secretariaesporte na tvSegurança Pública do Rio (Seseg-RJ), desde 2007 o Estado vem investindo no processoesporte na tvpacificação das comunidades e na implantação do chamado Sistemaesporte na tvMetas e Acompanhamentoesporte na tvResultados, um modeloesporte na tvgestãoesporte na tvdesempenho desenvolvido com o objetivoesporte na tvotimizar recursos e ampliar o uso da inteligência e a integração e cooperação regionais.
"A Seseg tem como prioridade a preservação da vida e a reduçãoesporte na tvíndicesesporte na tvcriminalidade no Estado", afirmaesporte na tvnota.
Questionado por que os númerosesporte na tvcasosesporte na tvbalas perdidas não são monitorados separadamente, o ISP ressalta que "bala perdida" não é uma tipificação (um gênero criminal) adotada no Código Penal, sendo os casos investigados como homicídios (nos casosesporte na tvque a vítima vem a falecer) ou lesão corporal dolosa (quando a vítima não é fatal).
A Seseg afirma que os registros compiladosesporte na tvmaneira "sistemática e transparente" pelo ISP permitem acompanhar a evolução da criminalidade no território estadual e formular estratégias para combatê-lo.
Mães e filhos atingidosesporte na tvconjunto
De acordo com levantamento da Folhaesporte na tvS. Paulo, até meadosesporte na tvmaio deste ano, 66 pessoas haviam sido mortas ou feridas por bala perdida na região metropolitana do Rio.
No inícioesporte na tvmaio,esporte na tvapenas 5 dias, foram sete vítimas. E casos como oesporte na tvClaudineia continuam chocando o país.
No inícioesporte na tvjunho, 30 dias antesesporte na tva paraibana ser baleada, outra grávida foi atingida. Michele dos Santos Salas estava no sexto mêsesporte na tvgestação e foi atingida por um tiro no tórax, no municípioesporte na tvNova Iguaçu. Sua filha, batizadaesporte na tvManoela Vitória, nasceu aos 27 meses - mas não sobreviveu ao parto prematuro.
No mesmo dia do calvário que levou Claudineia ao hospital às pressas, um pesado tiroteio na Mangueira - favela que é berço da famosa escolaesporte na tvsamba e fica ao lado do Maracanã - tirou a vida, ao mesmo tempo,esporte na tvuma mãe eesporte na tvfilha.
Marlene Maria da Conceição,esporte na tv76 anos, estava a caminho da escola para buscar o neto quando recebeu quatro tiros - no pescoço, no joelho e umesporte na tvcada mão.
A filha, Ana Cristina da Conceição,esporte na tv42 anos, tentou socorrê-la, mas foi baleada nas costas. Ambas morreram antesesporte na tvchegar no hospital. Horas antes, Ana Cristina havia feito um desabafo no Facebook, afirmando que já chegava a três horasesporte na tvtiroteio. "Não dá para acreditar", escreveu, usando emojisesporte na tvpistolas para se referir aos tiros. Revoltados com o tiroteio entre criminosos e policiais da UPP, moradores incendiaram um ônibusesporte na tvmanifestação contra as mortes.
Criança não teve nem 'direitoesporte na tvsair do ventre da mãe'
De acordo com a ONG Rioesporte na tvPaz,esporte na tvjaneiroesporte na tv2016 para cá, 14 crianças foram mortas por bala perdida no Rio.
Desde 2007, a organização monitora o númeroesporte na tvcasos envolvendo crianças.
Neste ano, a morte da menina Maria Eduarda Alves da Conceição,esporte na tv13 anos, baleada dentro da escola,esporte na tvplena aulaesporte na tveducação física, chocou o Rio.
"Estamos vendo um quadro dramático atingindo muitas crianças, e agora vemos esse caso emblemáticoesporte na tvuma criança que não teve nem o direitoesporte na tvsair do ventre da mãe", diz Antônio Carlos Costa, fundador da Rioesporte na tvPaz.
"A família agora tem que viver essa incerteza. A criança vai viveresporte na tvum Estado que não já não garantia o direitoesporte na tvviver, e agora nem o direitoesporte na tvnascer", afirma.
Costa considera "chocante" a "indiferença" da sociedade, e imagina que um crime semelhante levaria o povo para a ruaesporte na tvpaíses europeus ou nos Estados Unidos.
"Essas mortes não mobilizam a classe média porque na maioria esmagadora das vezes ocorremesporte na tvfavelas", diz ele. "É uma dor do pobre. Uma desgraça sofrida pelo pobre."
Ele afirma que a tragédia é amplificada pelo fatoesporte na tvessas mortes serem frutoesporte na tvuma repressão violenta e ineficaz ao tráfico, que não ajuda a reduzir o crime.
"O poder público insisteesporte na tvum tipoesporte na tvatuação que não é respaldada por resultados e apenas expõe a vida dos policiais, que morrem dia sim, dia não, e dos cidadãos inocentes, sem fazer qualquer diferença para traficantes."
Garoto 'vitorioso'
De acordo com a Secretaria municipalesporte na tvSaúdeesporte na tvDuqueesporte na tvCaxias, Arthur está internadoesporte na tvestado grave no Hospital Estadual Adão Pereira Nunes.
Já Claudineia apresenta quadro estável, respira sem ajudaesporte na tvaparelhos, alimenta-se normalmente. Ela apresenta uma fratura no osso ilíaco, na bacia, mas não precisaráesporte na tvcirurgia. O tiro atravessou o útero e a bala ficou alojada no seu corpo. Por enquanto, os médicos estão poupando-aesporte na tvdetalhes sobre o estadoesporte na tvsaúdeesporte na tvArthur.
Mas seu pai, Klebson da Silva,esporte na tv27 anos, já pôde visitar e conhecer o filho no Centroesporte na tvTratamento Intensivo - e na saída disse a jornalistas ter se enchidoesporte na tvesperança ao ver Arthur, um garoto "vitorioso" desde o nascimento, e que vai trazer só alegria.
Agora é a mãe, Claudineia, que espera ansiosa a chanceesporte na tvver seu primeiro filho, que esperava com alegria e ansiedade, mandando notícias e fotos constantes para a família na Paraíba.
"Ela mostrava a barriguinha, mandava foto do armarinho do bebê, dava notícias quase todo dia", conta o irmão Leonardo dos Santos. "Ela estava muito feliz como que estava acontecendo com ela."