Perdabet365 5confiançabet365 5política cria vazio preenchido por consumismo, diz filósofo francês:bet365 5
Elke esteve recentementebet365 5Porto Alegre para participar do seminário Fronteiras do Pensamento. Veja abaixo, trechos da entrevista dada à BBC Brasil.
bet365 5 BBC Brasil - Sua obra fala muito do consumismo, das relações com o universo das marcas, que buscam nos seduzir, mas também nos representar. O que representa o consumo hoje para as pessoas?
bet365 5 Gilles Lipovetsky- Há as duas coisas. Há quem a gente chamabet365 5'fashion addicts' (viciadosbet365 5moda) que compram porque estão fascinados por esta ou aquela marca. Eles vão às lojas da Apple com se fossem templos, igrejas. São fanáticos. Mas há outra face também: há hoje quem, através do consumo, exerce alguma formabet365 5engajamento pessoal. Por exemplo, "não compro produtos desta empresa porque não gosto da visãobet365 5mundo deles".
Acho que o consumo hojebet365 5dia tomou um significado diferente do passado. As pessoas hoje estão perdidas no universo da globalização porque as referências tradicionais estão mortas: a direita, a esquerda, a igreja - são conceitos mais desfocados. E o sentimento geral das pessoas ébet365 5estarem um pouco desnorteadas. Mas justamente através do consumo as pessoas readquirem um certo poder porque disso elas entendem. Então, eu acho que se o consumo se tornou algo tão importante é porquebet365 5uma maneira elas exercem uma autonomia.
bet365 5 BBC Brasil - Seu livro mais recente lançado no Brasil fala sobre a leveza ( bet365 5 Da Leveza - Rumo a uma Civilização sem Peso bet365 5 ). O mundobet365 5geral, no entanto, anda pesado - da política à economia. A leveza hoje seria mais uma evasão, utopia ou ainda é algo possível?
bet365 5 Lipovetsky - Desde o começo dos tempos, os momentosbet365 5leveza sãobet365 5fato momentosbet365 5fuga, uma maneirabet365 5se desconectar. Então, por muito tempo, os homens descreviam leveza como um sonho, uma utopia.
Mas no livro que escrevi eu mostro que a questão da leveza mudoubet365 5status desde meados do século 20. A leveza não é mais apenas do imaginário: o mundo inteiro se reconstruiu através do princípio da leveza. Observe a evolução da tecnologia. No passado a potência era pesada: as grandes estradasbet365 5ferro, as usinas… hojebet365 5dia as empresas que mais crescem como Google - não vendem nada. É tudo virtual. É a época da desmaterialização. É mais leve do que o leve. O virtual é hoje o vetor do crescimento. A leveza se tornou o princípio da realidade do mundo.
Um segundo aspecto: no corpo se vê a marca da revolução da leveza. Pense na evolução da medicina, veja a obsessão com a magreza e também a evolução do esporte: surf, windsurf, asa delta…
bet365 5 BBC Brasil - E o poder, especialmente o político? Há leveza nele ou ainda é um elemento "pesado" na nossa sociedade?
bet365 5 Lipovetsky - Sim, vou chegar nisso. De fatobet365 5relação à política há uma outra questão. Mas vou terminar (o ponto anterior) rapidamente porque há uma conexão…
O terceiro exemplo que me parece essencial. Já disse o primeiro - os objetos -, o segundo - o corpo -, e o terceiro é o capitalismo. Porque, o capitalismo moderno, a partir da revolução industrial do século 19, repousa sobre o peso. São os equipamentosbet365 5estradabet365 5ferro, as grandes máquinas e ferramentas, tudo é pesado. Hoje estamos num capitalismobet365 5sedução. Nós apenas celebramos os prazeres, o lazer, a distração. Por todos os lados vemos a lógica da fuga.
bet365 5 BBC Brasil - É o consumo "das experiências"...
bet365 5 Lipovetsky - As experiênciasbet365 5viagem,bet365 5prazer… Tudo isso é muito leve. São as promessasbet365 5felicidade. O que eu digo é que o capitalismo hojebet365 5dia não é mais um capitalismo que é severo. Ele é severo para o trabalhador, mas não para o consumidor. É um sistema que funciona como a moda. Ele se baseiabet365 5coisas superficiais. Observe por exemplo os videogames, as sériesbet365 5televisão…Tudo isso é extraordinariamente leve. Não há mensagem profunda, tudo é lúdico.
Agora, a questão é: todas as esferas obedecem este princípiobet365 5leveza? A política, ela tenta pegar esse bonde andando. Claramente, por exemplo, no desenvolvimento do marketing político. Antes, os políticos tinham aparência austera,bet365 5comícios, para fascinar as massas. Não temos mais políticos como antes. Eles aprendem a falarbet365 5cursosbet365 5comunicação, aprendem como ser legais, como agradar as pessoas. Fazem promessas sem parar.
bet365 5 BBC Brasil - Tentam ficar "leves" se distanciando da política, e se apresentando, por exemplo, como gestores?
bet365 5 Lipovetsky - Sim, exatamente. Mas aí é um aspecto interessante. O capitalismobet365 5fato é bem sucedidobet365 5seduzir os consumidores. Eles adoram! Eles criticam, mas eles adoram! A política não é assim: quanto mais os políticos querem seduzir, menos conseguem fazê-lo.
Porque há hoje um imenso desapontamento dos cidadãosbet365 5relação à política, eles não confiam mais na classe política. A grande característica da nossa época é a perda da confiança na classe política. A política não é leve.
Todos os dias a gente vê na imprensa que pegaram dinheiro, que há corrupção… Então há algobet365 5estranho nessa sociedadebet365 5que tudo deve ser atrativo e a política não é mais atrativa: ela é repulsiva.
bet365 5 BBC Brasil - Mas repulsiva no sentidobet365 5que as pessoas abandonaram o engajamento político e estão mais individualistas?
bet365 5 Lipovetsky - Sim, mas o individualismo não significa necessariamente um desengajamento. Observe as pessoas que se engajambet365 5associações: há muitas, até mais do que antes. O que mudou é a maneirabet365 5se engajar.
Antes, o engajamento na vida política era um pouco como uma religião, e hojebet365 5dia não é assim. As pessoas não querem sacrificar nada, mas isso não quer dizer que elas não tenham mais interesse pelos assuntos da política. Hojebet365 5dia, as pessoas ouvem, refletem, mas no fim pensam "bom, vou fazer o que eu quiser". Isso é o individualismo, não é o egoísmo. É a autonomia das pessoas que não são mais controladasbet365 5uma maneira pesada pelos aparelhos.
Mas, ao mesmo tempo, vemos que os cidadãos se mobilizam quando há algo que eles julgam importantes, masbet365 5ações mais pontuais, não maisbet365 5grandes ideologias gerais. Por exemplo, se você é ecologista, você vai se engajar neste campo, ou no campo do feminismo, do casamento gay, e as pessoas vão se engajar nestes temas. Antes era direita e esquerda, capitalismo ou socialismo. Nas grandes ideologias, as pessoas não acreditam muito mais. Elas querem coisas mais pragmáticas.
Então, isso criou um novo tipobet365 5relação com a política e que, acho, deve nos levar a repensar os meios para melhorar o mundo. Porque se não é mais a política que tem a forçabet365 5mudar o mundo, então o que seria? E eu acho que uma das grandes forças que deve fazê-lo é a educação.
bet365 5 BBC Brasil - Queria falar sobre a mídia e as "fake news", as notícias mentirosas. A grande mídia parece conviver com essas novidades, e também com formas independentesbet365 5jornalismo. Que papel tem a mídia na nossa sociedade hoje?
bet365 5 Lipovetsky - Fake news é um termo que entrou muito na moda este ano, mas não é nada novo. Desde o século 19 há denúnciasbet365 5manipulação e notícias falsas na mídia. A novidade é que 'fake news' agora podem ser difundidas por órgãosbet365 5comunicação que não são como os jornais e a televisão. Normalmente isso passa pelas redes sociais. Então, não é (uma ação) centralizada.
Na minha opinião, há uma ameaça, com os novos meiosbet365 5comunicação,bet365 5se minar a força da mídia tradicional. E acho que isso é perigoso. Acho que precisamosbet365 5mediadores.
bet365 5 BBC Brasil - Por quê?
bet365 5 Lipovetsky - É perigoso para aqueles que não têm as ferramentas se orientar nesse magmabet365 5informação. Se você é alguém com educação, se você consegue distinguir informações, não está perdido. Mas muita gente não tem isso. Nós precisamosbet365 5mediadores porque não somos especialistasbet365 5tudo e é por isso que eu acho que é preciso defender a imprensa e ter uma ambição maior nas escolas, na educação. Não haverá solução sem isso, você será manipulado.
A exigência absolutabet365 5sociedades desenvolvidas do século 21 será a educação. E não se tratabet365 5lançar palavras ao vento! É necessário investir. É uma responsabilidade do Estado. E não se pode pagar salários miseráveis a professores - como frequentemente acontece na América Latina. Professores não são uma despesa inútil, são uma obrigação para que se faça uma sociedade digna.
bet365 5 BBC Brasil - Masbet365 5uma sociedade com tanta desigualdade como a brasileira, essa realidade é ainda mais complicada, não?
bet365 5 Lipovetsky - As desigualdades não devem ser todas rejeitadas. Não se tratabet365 5demonizar as desigualdades, mas há desigualdades que são insuportáveis. É necessário que a desigualdade não arruíne o ideal democrático. Por exemplo, quando há apenas estabelecimentosbet365 5educação privadosbet365 5condiçõesbet365 5receber alunos enquanto outros não têm dinheiro para estudar, isso é muito grave. A desigualdade impede a democratização da sociedade porque tira a oportunidadebet365 5muita gentebet365 5se desenvolver.
Vocês têm um país muito rico. O Brasil é um continentebet365 5que hábet365 5tudo. E ao mesmo tempo, os resultados escolares aqui não são bons. Pegue como exemplo países pequenos como a Finlândia, a Dinamarca, Cingapura, a Coréia do Sul… o que eles têm como riqueza material? Nada.
São países que prosperam com nívelbet365 5vida muito superior ao brasileiro, com resultados escolares excelentes, que têm mais capacidadebet365 5se adaptar à globalização, que são competitivos, que têm redesbet365 5proteção social. E não têm petróleo, não têm gás, não têm ouro… não têm nada! Eles têm a inteligência.
bet365 5 BBC Brasil - Mas eles não têm nossos índicesbet365 5corrupção...
bet365 5 Lipovetsky - Exatamente. E muito menos corrupção.
bet365 5 BBC Brasil - Da forma como o senhor coloca, parece como se dois mundos coexistissem. Um tradicional, antigo, pesado. E outro leve, mais coletivo, mais fluido, inclusivebet365 5relação a identidades. É um momentobet365 5transição?
bet365 5 Lipovetsky - Eu acredito que é o prolongamentobet365 5algo que vai se perpetuar. Essa lógica é estrutural. Mas o que eu digo também no livro é que essa fluidez para os indivíduos acaba pesando. No livro eu mostro que não estamos no Nirvana. É o paradoxo: tudo é leve, mas você não está leve.
bet365 5 BBC Brasil - Pelo contrário, muita gente se cobra essa "leveza".
bet365 5 Lipovetsky - Sim, e não somos (leves). Então, isso nos deixa ansiosos. Porque eu não sou feliz? Bom, antes as tradições e as religiões davam as respostas. As pessoas não ficavam se interrogando. Neste mundo fluido as pessoas mudambet365 5profissão quando querem, mas aí ficam ansiosasbet365 5relação ao futuro. Então, o mundo da leveza se tornou pesado para os indivíduos.
A fluidez é tão pesada para algumas pessoas que elas buscam soluções para escapar a este vazio. Dou um exemplo fácilbet365 5entender: o caso dos "jihadistas". Sãobet365 5geral jovens, nascidos na Europa - eles não vêm do Oriente Médio, são nascidos na França ou na Inglaterra. Eles escutaram rock, viram séries americanas, usavam jeans, iam a boates.
Eles conheceram esta vida leve, mas não encontraram seu lugar nela. E,bet365 5geral, têm uma imagem deles mesmos muito deteriorada. Em resumo: eles não amam as próprias vidas e estãobet365 5conflito interior. E é esta ansiedadebet365 5relação a eles mesmos que os faz buscar causas absolutas porque isso lhes devolve a dignidade. Isso lhes dá um peso pessoal, os ancora.
Então aí, você vê o paradoxo da leveza que se transformabet365 5seu contrário. No terrorismo, na violência terrívelbet365 5que se atemoriza toda uma população. E isso eu não acho que seja transitório. Acho que vai continuar.