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Mulheres comandam uma das maiores ocupações irregulares do Brasil:1win roleta
Hoje, segundo levantamento da PUC-MG, abriga 30 mil pessoas1win roleta8 mil casas,1win roletaquase quatro anos1win roletadisputa judicial pelo terreno.
Reintegração1win roletaposse
A batalha judicial entre os moradores da ocupação e a Granja Werneck, dona do terreno, tem rendido muitos desdobramentos ao longo do tempo.
Em 2013 a Granja Werneck entrou com um pedido1win roletarestabelecimento da posse do terreno, juntamente com a prefeitura1win roletaBelo Horizonte, como parte1win roletaum projeto1win roletaconstrução1win roleta8 mil habitações do Minha Casa, Minha Vida.
O convênio para construção, afirma Otávio Werneck, um dos proprietários, foi fechado no mesmo ano, antes1win roletaas primeiras famílias ocuparem o local. "O projeto é para atender 40 mil pessoas. Número muito superior ao que vive atualmente lá", diz.
Ele afirma que os donos do terreno já pensavam1win roletauma destinação social para a área desde os anos 1990, mas houve demora nos acertos com a prefeitura e1win roletaliberações ambientais.
"Quando começamos a divulgar para colocar (o projeto)1win roletaprática,1win roleta2013, começou também a ocupação", afirma.
Em 2015, a Justiça mineira chegou a autorizar o despejo das famílias, mas a decisão foi suspensa pelo Superior Tribunal1win roletaJustiça.
No ano passado, a ocupação entrou na pauta da campanha eleitoral municipal. O atual prefeito, Alexandre Kalil (PHS), visitou a região na campanha e prometeu que evitaria o despejo das famílias.
"Sei que ali existem problemas graves, até mesmo1win roletaespeculação. Mas a Izidora já é um bairro consolidado. O que eles vivem ali é um verdadeiro terrorismo com essa ameaça1win roletadespejo", disse o prefeito à BBC Brasil logo após a vitória no segundo turno.
Em março, a prefeitura desistiu formalmente1win roletauma das ações relacionadas à Izidora, o que não impede o ingresso1win roletanovas ações1win roletareintegração no futuro. Na mesma época, o governo do Estado apresentou uma proposta pela permanência das vilas Rosa Leão e Esperança, com a condição1win roletaque parte da vila Vitória fosse despejada - os moradores rejeitaram a oferta.
No ano passado, o Tribunal Internacional dos Despejos, órgão que produz e envia recomendações à ONU e a governos sobre conflitos por moradia, elegeu o caso como um dos sete mais significativos do mundo.
Rose
Edna já perdeu as contas1win roletaquantas assembleias fez no local. "O primeiro passo foi conhecer nossos direitos, com ajuda1win roletamovimentos sociais. Imagine conscientizar milhares1win roletapessoas sobre isso?", questiona.
Toda terça-feira, Edna se junta à diarista Rose Freitas,1win roleta33 anos,1win roletareuniões com moradores da vila Esperança.
"Soltamos foguete, batemos sino e gritamos1win roletaporta1win roletaporta para chamar o pessoal. A participação é importante demais, e por isso chegamos até aqui", diz Rose, para quem a ocupação simbolizou um recomeço.
Após ter um filho1win roleta15 anos assassinado, ela deixou o bairro1win roletaque vivia na zona oeste1win roletaBH com os outros dois filhos,1win roletameio a uma depressão. Desempregada, não tinha como pagar contas e soube da ocupação por amigos.
"Conversei com o pessoal que já estava construindo e consegui um lote", relembra, ao mostrar1win roletacasa1win roletaquatro cômodos, erguida com ajuda1win roletaamigos. Nos últimos três anos, ela já trouxe a mãe e uma das irmãs para a Izidora. "Hoje, mesmo vivendo com medo1win roletadespejo, digo que estou na época mais feliz da minha vida."
Sem trabalho fixo, Rose vive do Bolsa Família, do trabalho como diarista e1win roletauma pensão para o filho caçula - renda total1win roletacerca1win roletaR$ 1,2 mil mensais. Nos dias1win roletaque não trabalha, passa o dia com Edna no centro comunitário da vila, atualizando o cadastro1win roletamoradores, organizando a pauta1win roletareuniões semanais e analisando as diferentes demandas da ocupação.
Charlene
A maioria dos moradores diz ter chegado até ali por falta1win roletaalternativas. Ao caminhar pelas ruas estreitas da vila Rosa Leão, Charlene Egídio,1win roleta33 anos, quase sempre é parada por alguém1win roletabusca1win roletaajuda.
"Outro dia chegou uma menina1win roleta15 anos com filho no colo. Ela tinha acabado1win roletaperder o marido, assassinado, e não tinha para onde ir. Procuramos ajuda, a vizinhança levantou o barraco dela e agora estamos atrás1win roletacesta básica e leite1win roletapó para o menino", conta.
Charlene se lembra do dia1win roletaque Edna a procurou para organizar a primeira assembleia da Izidora, e reconhece a capacidade1win roletadiálogo das coordenadoras. "É muita gente morando aqui. Se não tivermos lideranças internas que sejam porta-vozes dessas pessoas, nossa luta não flui", afirma.
Viver1win roletaocupações urbanas é algo familiar para Charlene. "Meus parentes ocupam lotes sem função social há 20 anos. Não tinha condição1win roletaseguir minha vida pagando aluguel sozinha no final do mês. Vim com tudo, simplesmente porque não tinha outra opção", relembra.
Por quatro anos, Charlene se dedicou1win roletaforma exclusiva à coordenação da vila Rosa Leão, onde vive com o filho numa casa construída por amigos. "Meu sustento vinha1win roletadoações", relembra. A convivência com movimentos sociais acabou lhe rendendo um convite para atuar no gabinete1win roletaduas vereadoras do PSOL na capital mineira, onde ganha um salário1win roletaR$ 2,6 mil.
"Minha experiência como liderança abriu portas para essa chance1win roletaatuar por toda a cidade. Sou mulher preta, periférica e sem nível universitário ali dentro, representando os meus. Minha faculdade foi a experiência", diz.
Contexto das ocupações
Segundo a arquiteta e urbanista Raquel Rolnik, professora da USP, as ocupações urbanas se expandiram muito no Brasil entre 2003 e 2013, na esteira1win roletaum boom no setor imobiliário.
"Houve uma explosão sem precedentes no preço da terra e dos imóveis e, embora tenha havido também elevação1win roletarenda1win roletasetores menos favorecidos, o aumento no preço da terra foi muito maior", analisa.
Ela aponta falta1win roletapolíticas urbanas e habitacionais capazes1win roletaequacionar essa situação que, somada ao avanço do desemprego, deixa milhares1win roletafamílias sem alternativa.
Para Rolnik, o programa Minha Casa Minha Vida, lançado1win roleta2009, se tornou o único programa1win roletamoradia do país, mas não atende necessidades emergenciais. "As pessoas precisam ter onde morar hoje, e não daqui a um ou cinco anos."
Nilce e Paula
A urgência por moradia também levou Nilce1win roletaPaula, a Lu,1win roleta41 anos, a buscar um pedaço1win roletaterra na Izidora. Com neta e dois filhos, um deles com deficit cognitivo, ela aproveitou uma oportunidade há dois anos para garantir uma moradia na vila Vitória.
"Tinha acabado1win roletaser demitida, tenho muitos gastos com meu filho deficiente e estava desesperada e endividada. Encontrei uma pessoa vendendo a casa aqui na ocupação a preço1win roletacusto (R$ 5 mil). Negociei e consegui minha casa própria", conta.
Pouco tempo depois, Lu conseguiu emprego como atendente1win roletatelemarketing e quitou suas dívidas. Recentemente, pediu demissão e foi atrás do sonho1win roletaabrir o próprio salão1win roletabeleza, trabalho que concilia com a coordenação da vila. "Segunda-feira é dia sagrado1win roletaassembleia, nem abro o salão", conta.
Nessas segundas, sempre às 19h, Lu sobe no pequeno palco da associação1win roletamoradores ao lado1win roletaPaula Fonseca,1win roleta30 anos, para a reunião semanal. Por meio1win roletarojões e mensagens via Whatsapp, todos são convocados ao encontro.
"Não importa se são 20 ou 100 pessoas. Estamos sempre aqui para fortalecer a comunidade", diz Paula, que chegou ao terreno há dois anos. "Vim com marido, filhos e uma menina que peguei para morar comigo porque estava grávida e abandonada. Precisávamos1win roletaum espaço maior", relembra.
Para montar a casa, Paula recorreu a grupos1win roletadoações na internet. "Consegui muita coisa, e vi que poderia ajudar outras pessoas daqui também. Minha vida não é fácil, mas há muita gente1win roletasituação pior", diz.
Após se envolver com essa rede1win roletaapoio, Paula acabou sendo indicada pelos moradores para coordenar a vila ou lado1win roletaLu. "Muito brasileiro morre sem conhecer seus direitos. Definitivamente isso não vai acontecer com quem vive aqui."
Organização
Com poucos recursos, as coordenadoras ajudam a comunidade a criar infraestrutura urbana onde não há.
As ruas, por exemplo, são abertas por tratores mediante pagamento1win roletadiária1win roletaR$ 100. A falta1win roletasaneamento básico é contornada com fossas cavadas três metros solo adentro - cada morador é responsável pela sua. As famílias queimam o lixo no quintal, pois não há coleta.
A luz chega por ligações irregulares, os chamados gatos, mas1win roletaum modelo autoconstruído, que traz energia1win roletabairros vizinhos e a redistribui entre as casas pela rede improvisada.
"Se a pessoa mora1win roletauma parte mais alta, a luz fica fraca e às vezes nem chega, mas a gente vai levando", conta Rose.
Segundo Edna, o principal desafio dos moradores da Izidora é o acesso a serviços1win roletasaúde e1win roletaeducação - a matrícula nas três escolas da região não é possível, por exemplo, sem comprovante1win roletaresidência. "Tivemos que pedir muita ajuda para os vizinhos1win roletaoutros bairros, pegando o CEP deles emprestado", conta.
Também há casos1win roletadiscriminação às crianças da invasão. "Como aqui tudo é chão1win roletaterra, as crianças saem com a garrafinha1win roletaágua na mochila pra lavar os pés quando chegam na aula."
Há um esforço1win roletapadronizar as construções e os métodos1win roletaingresso à ocupação, mas há casos1win roletapessoas que possuem imóveis1win roletaoutros espaços da cidade e tentam garantir ali um imóvel a mais. Um terreno na região pode valer até R$ 8 mil.
A lógica da especulação imobiliária que os ocupantes tentam impedir com a ocupação é, muitas vezes, reproduzida lá mesmo por grupos1win roletabusca1win roletalucro.
"Tentamos resolver tudo com conversas e assembleias. Mas é difícil e muitas vezes não dá. Esse tipo1win roletaproteção e organização é papel do Estado. Se ele não consegue fazer, imagina a gente?", questiona Rose.
Rede1win roletaapoio
A ocupação conseguiu reunir uma rede1win roletaapoio desde os primeiros dias. Frei Gilvander,1win roleta54 anos, integra a Comissão Pastoral da Terra e acompanhou os primórdios da ação.
O espaço, diz, começou a ser ocupado por famílias da região que não tinham mais condições1win roletabancar os custos1win roletamoradia. "Depois, por relação1win roletaparentesco ou amizade, foram chamando pessoas1win roletaoutros bairros", diz.
Gilvander promoveu articulações com órgãos como Defensoria Pública, Movimento1win roletaLuta nos Bairros, Vilas e Favelas e promotores1win roletadireitos humanos para assistência às famílias do local. Um coletivo1win roletaadvocacia popular, o Margarida Alves, assumiu a defesa gratuita dos moradores.
Raquel Rolnik também chama a atenção para o papel dos movimentos sociais na organização das ocupações, pensadas e planejadas para se tornarem bairros. "A ocupação urbana se tornou um símbolo1win roletaesperança para essas pessoas que não possuem nenhuma infraestrutura e se veem sem acesso aos direitos humanos básicos da vida", diz.
Na Justiça
No pedido1win roletareintegração1win roletaposse encaminhado1win roleta2013, a proprietária do terreno, a Granja Werneck, alegou que planejava um fim social para a área, a construção1win roleta8 mil habitações do Minha Casa, Minha Vida.
O convênio para construção, segundo Otávio Werneck, um dos sócios, foi fechado no mesmo ano, antes1win roletaas primeiras famílias ocuparem o local. "O projeto é para atender 40 mil pessoas, diz ele.
Em 2015, a Justiça mineira autorizou o despejo dos moradores, decisão suspensa posteriormente pelo STJ.
"Cada decisão judicial traz1win roletanovo angústia e incerteza. Mas também traz uma consciência política que é uma verdadeira escola", diz Charlene, para quem esses momentos unem a comunidade1win roletatorno1win roletaprotestos por apoio e visibilidade.
O atual prefeito1win roletaBelo Horizonte, Alexandre Kalil (PHS), prometeu, durante a campanha, que evitaria o despejo das famílias.
"A Izidora já é um bairro consolidado", disse ele após a vitória nas urnas.
Em março, a prefeitura desistiu formalmente1win roletauma das ações relacionadas à Izidora, o que não impede o ingresso1win roletanovas ações1win roletareintegração no futuro.
"Essa segurança é provisória. Estamos mobilizadas1win roletabusca1win roletauma solução definitiva para a ocupação, dando aos moradores uma vida digna", diz a advogada Thais Firmato.
Entre momentos1win roletatensão e1win roletatranquilidade, as assembleias semanais continuam nas vilas Rosa Leão, Vitória e Esperança. Enquanto a Justiça não define o destino da Izidora, casas ganham muros e cores, lonas cedem lugar a tijolos e ruas recebem placas com nomes - todas encomendadas pelas coordenadoras.
"Por alguns momentos eu me esqueço do formigueiro que era quando tudo começou", relembra Edna, enquanto tranca as portas da associação1win roletamoradores depois1win roletamais um dia1win roletatrabalho.
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