Em carta pública inédita, diplomatas criticam uso da força para reprimir manifestações e pedem fimfutebol da sorte'tentações autoritárias':futebol da sorte

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Legenda da foto, Estopim para carta foi nota oficial divulgada pelo Itamaraty,futebol da sorteresposta a críticas feitas por órgãos internacionaisfutebol da sortedireitos humanos sobre violência policial no governofutebol da sorteMichel Temer

"Diante do agravamento da crise, consideramos fundamental que as forças políticas do país, organizadasfutebol da sortepartidos ou não, exercitem o diálogo, que deve considerar concepções dissonantes e refletir a diversidadefutebol da sorteinteresses da população brasileira", diz o texto (leia a íntegra no fim desta reportagem).

Segundo a BBC Brasil apuroufutebol da sorteconversas com sete dos diplomatas que assinam o texto, o estopim para a carta foi uma nota oficial divulgada pelo Itamaraty na sexta-feira passada,futebol da sorteresposta a críticas feitas por órgãos internacionaisfutebol da sortedireitos humanos sobre a violência policial no país.

No texto, endereçado a representantes das ONU e da OEA (Organização dos Estados Americanos), o Ministério das Relações Exteriores surpreendeu ao adotar uma linguagem dura ao se referir aos organismos internacionais.

"Tendencioso", "desinformado", "má-fé", "cinismo" e "com fins políticos inconfessáveis" foram alguns dos termos usados pelo Brasil como resposta às críticas feitas pelo Alto Comissariado das Nações Unidas para os Direitos Humanos (ACNUDH) e pela Comissão Interamericanafutebol da sorteDireitos Humanos (CIDH).

Em entrevista concedida à BBC Brasil efutebol da sortenotas divulgadas à imprensa, porta-vozes das duas entidades criticaram a violência policialfutebol da sorteprotestos contra o governo,futebol da sorteBrasília,futebol da sorteoperações urbanas na região conhecida como cracolândia,futebol da sorteSão Paulo, efutebol da sortereintegraçõesfutebol da sortepossefutebol da sorteterrenos ocupados por sem-terra, como a que gerou 10 mortes no interior do Pará.

Procurado pela reportagem para comentar a carta dos diplomatas, o Itamaraty não se posicionou até a publicação desta reportagem.

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Legenda da foto, Manifesto pede restabelecimento do pacto democrático e afirma que avanços do Brasil no exterior estão ameaçados

Legitimidade e riscos

Os diplomatas ouvidos pela BBC Brasil afirmam que a "postura defensiva e agressiva" das notas emitidas pelo Itamaraty pode "fechar portas" e prejudicar a imagem internacional do Brasil.

O país concorre neste momento, por exemplo, a uma das três vagas abertas para o períodofutebol da sorte2018 a 2021 na Comissão Interamericanafutebol da sorteDireitos Humanos, da OEA.

"Outros países podem deixarfutebol da sortevotar na representante brasileira se acharem que nosso compromisso com os direitos humanos está abalado", avaliou uma diplomata.

"Ou nossa legitimidade pode ser colocadafutebol da sortequestão simplesmente pelo fatofutebol da sortetermos atacado a CIDH. Aí a gente perde credibilidade com outros países, que poderão nos enxergar na mesma categoriafutebol da sortepaíses que historicamente violam direitos humanos."

Todos os entrevistados afirmam que o objetivo da carta não é um gestofutebol da sorteinsubordinação oufutebol da sorteconfrontofutebol da sorterelação ao ministério.

"Este texto pode representar um primeiro passo para que possa haver espaço para divergência e vozes dissonantes na diplomacia, porque isso é saudável", argumentou um dos entrevistados.

"O lugar para o qual sempre foi reservado o silêncio decidiu se colocar", disse outro, citando a rígida hierarquia dentro da diplomacia.

A carta foi assinada principalmente por diplomatas que acumulam entre 10 e 20 anosfutebol da sortecarreira no Itamaraty, com diferentes origens e inclinações políticas.

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Legenda da foto, Texto foi assinado por 90 diplomatas e 24 oficiaisfutebol da sortechancelaria

Segundo os entrevistados, diante da diversidade política entre os signatários efutebol da sorteleis que regem a atividade diplomática, a carta "busca um tom conciliador, não levanta bandeiras, nem faz críticas diretas a políticos ou à política externa" do país.

Muitos dos signatários discordam, por exemplo, da posturafutebol da sorteaproximação adotada pelos governosfutebol da sorteLula e Dilma Roussefffutebol da sorterelação à Venezuela - corroborando uma das principais posições da atual gestão do Itamaraty.

"O problema é que, com tanta agressividade, o Brasil ironicamente se comporta justamente como a Venezuela, que tanto critica", avaliou dos autores da carta.

O texto pede "diálogo construtivo e responsável" como caminho para "a retomadafutebol da sorteum novo ciclofutebol da sortedesenvolvimento, legitimado pelo voto popular efutebol da sorteconsonância com os ideaisfutebol da sortejustiça socioambiental efutebol da sorterespeito aos direitos humanos".

Os entrevistados afirmam que querem chamar atenção para o acirramento da crise política e para os riscosfutebol da sorteuma eventual escaladafutebol da sorteviolência no país.

"Chegamos a um pontofutebol da sortepreocupação tal com a crise, o estado da democracia e das instituições brasileiras, que até diplomatas, que estamos tradicionalmentefutebol da sorteuma carreira muito discreta, decidimos nos manifestar", assinala um dos diplomatas.

"Como diplomatas, acompanhamos sempre a situação políticafutebol da sorteoutros países e sabemos como é fácil uma crise escalar para a instabilidade e mesmo para uma situaçãofutebol da sorteconflito", acrescenta.

Para outro entrevistado, o mote da carta é defender o legado do próprio Itamaraty.

"Não dá para perderfutebol da sortevista a importância que a diplomacia brasileira teve na construção, ao longofutebol da sortedécadas, do arcabouço internacionalfutebol da sorteproteção e promoção dos direitos humanos. Não estamos rompendo com nada, estamos reagindo à destruição do nosso capital diplomático", afirmou.

Legenda da foto, Diplomatas distribuídos por representações brasileirasfutebol da sortediferentes partes do mundo assinam manifesto

Represálias

O númerofutebol da sortesignatários, que chegou a 180 no início da semana, caiu por medofutebol da sorterepresálias dentro do ministério, segundo os entrevistados.

"Há três níveis: gente claramente insatisfeita com a nota (do Itamaraty criticando ONU e o OEA) e disposta a se expor, tantos outros claramente insatisfeitos, que cogitaram assinar, mas acharam mais prudente não se expor, e outros também insatisfeitos com a nota, mas não com o todo", explicou um deles.

A reportagem também conversou com um conselheirofutebol da sorteuma embaixada que recuoufutebol da sorteassinar o texto, apesarfutebol da sorteconcordar com seu conteúdo.

"Muitos dos que concordam com o conteúdo temem ser removidosfutebol da sorteseus postos, ou exoneraçãofutebol da sortechefias", disse, ressaltando que o direito a liberdadefutebol da sorteopinião é protegido pela Constituição.

"(Também temem) o fatofutebol da sorteexpor suas próprias chefias, pois o Itamaraty é muito hierarquizado e baseadofutebol da sorterelaçõesfutebol da sorteconfiança", afirma o diplomata.

futebol da sorte Leia a seguir o texto completo divulgado pelos diplomatas:

Nós, servidoras e servidores do Ministério das Relações Exteriores, decidimos nos manifestar publicamentefutebol da sorterazão do acirramento da crise social, política e institucional que assola o Brasil. Preocupados com seus impactos sobre o futuro do país e reconhecendo a política como o meio adequado para o tratamento das grandes questões nacionais, fazemos um chamado pela reafirmação dos princípios democráticos e republicanos.

2. Ciososfutebol da sortenossas responsabilidades e obrigações como integrantesfutebol da sortecarreirasfutebol da sorteEstado e como cidadãs e cidadãos, não podemos ignorar os prejuízos que a persistência da instabilidade política traz aos interesses nacionaisfutebol da sortelongo prazo. Nesse contexto, defendemos a retomada do diálogo efutebol da sorteconsensos mínimos na sociedade brasileira, fundamentais para a superação do impasse.

3. Desde a promulgação da Constituição Federalfutebol da sorte1988, a consolidação do estado democráticofutebol da sortedireito permitiu significativas conquistas, com reflexos inequívocos na inserção internacional do Brasil. Atualmente, contudo, esses avanços estão ameaçados. Diante do agravamento da crise, consideramos fundamental que as forças políticas do país, organizadasfutebol da sortepartidos ou não, exercitem o diálogo, que deve considerar concepções dissonantes e refletir a diversidadefutebol da sorteinteresses da população brasileira.

4. Para que esse diálogo possa florescer, todos os setores da sociedade devem ter assegurado seu direito à expressão. Nesse sentido, rejeitamos qualquer restrição ao livre exercício do direitofutebol da sortemanifestação pacífica e democrática. Repudiamos o uso da força para reprimir ou inibir manifestações. Cabe ao Estado garantir a segurança dos manifestantes, assim como a integridade do patrimônio público, levandofutebol da sorteconsideração a proporcionalidade no empregofutebol da sorteforças policiais e o respeito aos direitos e garantias constitucionais.

5. Conclamamos a sociedade brasileira,futebol da sorteespecial suas lideranças, a renovar o compromisso com o diálogo construtivo e responsável, apelando a todos para que abram mãofutebol da sortetentações autoritárias, conveniências e apegos pessoais ou partidáriosfutebol da sorteprol do restabelecimento do pacto democrático no país. Somente assim será possível a retomadafutebol da sorteum novo ciclofutebol da sortedesenvolvimento, legitimado pelo voto popular efutebol da sorteconsonância com os ideaisfutebol da sortejustiça socioambiental efutebol da sorterespeito aos direitos humanos.