Cinco motivos que levaram o Rio à pior criserealsbet roletasegurançarealsbet roletamaisrealsbet roletauma década:realsbet roleta

Crédito, Reuters

Legenda da foto, Cinco pessoas morreramrealsbet roletaconfronto no Complexo do Alemão na quinta-feira

"Como passamos por alguns anosrealsbet roletaotimismo, o golpe é muito maior", diz ele, referindo-se à melhora nos indicadoresrealsbet roletaviolência nos anos posteriores à instalação das UPPs e anteriores à Copa do Mundo. "Não apenas não conseguimos chegar aonde queríamos, mas estamos caminhando para uma situação ainda pior", considera Cano.

Nesta semana, o governo federal anunciou que enviará reforços ao Rio depoisrealsbet roletaa cidade ter parado na terça-feira, quando bandidos atearam fogo a nove ônibus e dois caminhõesrealsbet roletaalgumas das principais viasrealsbet roletaacesso à cidade - represáliarealsbet roletafacções criminosas contra operações policiaisrealsbet roletauma comunidade.

O Ministério da Justiça prometera mandar cem homens da Força Nacionalrealsbet roletaSegurança e agora diz que o número pode chegar a 300, após críticasrealsbet roletaque o aceno havia sido por demais tímido.

Crédito, Reuters

Legenda da foto, Númerorealsbet roletaconfrontosrealsbet roletafavelas com UPPs subiurealsbet roleta13,realsbet roleta2011, para 1.555,realsbet roleta2016

A recessão, a grave crise financeira do Estado do Rio, a escassezrealsbet roletarecursos para a polícia e o desemprego estão entre os fatores que contribuem para a atual criserealsbet roletasegurança.

Para o antropólogo e especialistarealsbet roletasegurança pública Luiz Eduardo Soares, o quadro atual resulta da intensificaçãorealsbet roletapráticas e circunstâncias que estãorealsbet roletacurso há muito tempo.

"O padrão tem sido o mesmo: confronto com 'o tráfico', adotando incursões bélicas às favelas, que matam inocentes, suspeitos e até mesmo policiais. A velha 'política' da conhecida - e derrotada - guerra às drogas", lamenta.

Entenda quais são os principais fatores estão por trás da atual criserealsbet roletasegurança no Rio.

Deterioração das UPPs

Nos últimos cinco anos, o númerorealsbet roletatiroteiosrealsbet roletacomunidades com UPPs aumentou 13.746%,realsbet roletaacordo com um estudo feito pela própria Polícia Militar. O númerorealsbet roletaconfrontos nas favelas com UPPs passourealsbet roleta13,realsbet roleta2011, para 1.555,realsbet roleta2016. As trocasrealsbet roletatiros se intensificaram nas últimas semanas, notadamente no Complexo do Alemão, onde a PM atua para instalar uma cabine blindada numa das principais vias da comunidade Nova Brasília.

O entusiasmorealsbet roletatorno da política das UPPs foi inicialmente justificado por uma queda vertiginosa nos índicesrealsbet roletacriminalidade nas comunidades. Com o tempo e a expansão do programa para comunidades maiores e mais complexas - como a Rocinha e o próprio Complexo da Maré -, a situação começou a se deteriorar.

Um dos problemas, segundo a socióloga Julita Lemgruber, coordenadora do Centrorealsbet roletaEstudosrealsbet roletaSegurança e Cidadania da Cândido Mendes (Cesec), foi apostar primordialmente nas UPPs, que tinham foco claro na capital e nunca foram uma políticarealsbet roletasegurança pública para todo o Estado - das 38 UPPs implantadas, apenas uma, no Complexo da Mangueirinha, fica fora dos limites do município, na Baixada Fluminense.

"Quando a política das UPPs entrourealsbet roletafalência, o Estado não conseguiu se movimentar rapidamente para se reestruturar", diz Lemgruber.

Para ela, os episódios violentos que a cidade tem presenciado são "reações pontuais para apagar incêndios", levando o Riorealsbet roletavolta à situaçãorealsbet roleta"anos atrás".

"Isso não é uma políticarealsbet roletasegurança pública. Isso são ações violentas que não levam a lugar nenhum. Temos visto uma médiarealsbet roletaquatro mortes provocadas pela polícia por dia, e maisrealsbet roleta60 policiais já morreram no Rio só neste ano. Isso seria um escândalorealsbet roletaqualquer parte do mundo. Aqui, faz parte da paisagem."

Para Ignacio Cano, pesquisador da Uerj, o Estado se ancorou nos bons resultados iniciais das UPPs sem que as políticas fossem "ampliadas, corrigidas, modificadas ou complementadas por novas políticas".

"Os gestores se limitaram a uma expansão quase automática das UPPs e do pagamentorealsbet roletabonificações a policias", considera Cano. Ele diz que as UPPs viraram o "fetiche" da segurança pública no Rio; convencionou-se atribuir a elas tudorealsbet roletabom que acontecia, ou tomar todos os problemas como indicativosrealsbet roletaseu fracasso. A situação, porém, envolve muitos outros fatores.

Crise financeira no estado e na polícia

O cenáriorealsbet roletarecessão e grave crise financeira no Estado do Rio tem castigado servidores públicos estaduaisrealsbet roletavários setores - e não é diferente com a Polícia Militar. Turistas desavisados que chegavam ao aeroporto do Galeão para a Olimpíada no ano passado foram recebidos por um gruporealsbet roletapoliciaisrealsbet roletaprotesto empunhando bandeiras dando as boas vindas ao "inferno" - "welcome to hell", diziarealsbet roletainglês, avisando que policiais e bombeiros não estavam recebendo seus salários, e quem chegasse ao Rio não estaria seguro.

De lá para cá, a situação se tornou mais crítica. Devido à crise, policiais ainda não receberam 13º salário nem as bonificações a que têm direito. Maria Isabel Couto, da Diretoriarealsbet roletaAnáliserealsbet roletaPolíticas Públicas da Fundação Getúlio Vargas (FGV/DAPP), diz que a escassezrealsbet roletarecursos vem prejudicando a infraestrutura e as condiçõesrealsbet roletatrabalho da polícia, aumentando a situaçãorealsbet roletavulnerabilidade.

Crédito, EPA/ Marcelo Sayao

Legenda da foto, Neste ano, maisrealsbet roleta60 policiais já foram mortos no Riorealsbet roletaJaneiro

"O aumento dos indicadoresrealsbet roletaviolência significa que os policiais na ponta estão sendo colocados sob muito mais pressão - isso enquanto o Estado passa por uma crise financeira violentíssima que gera ansiedade sobre se vão receber salários, e boatosrealsbet roletaque o Estado não tem dinheiro para comprar gasolina,realsbet roletaque as viaturas estão sucateadas,realsbet roletaque coletes a provarealsbet roletabala estão vencidos e armas estão sem manutenção. Tudo isso gera um cenáriorealsbet roletamuito estresse para um funcionário cuja função é ir para a rua e proteger a população."

Neste ano, maisrealsbet roleta60 policiais já foram mortos no Rio. "A sociedade precisa responsabilizar o policial quando ele precisar ser responsabilizado, mas também precisa entender que policiais estão sob extrema pressão e profundo estresse, e que eles também são vítimas desse processo."

Expansão da mancharealsbet roletacriminalidade

A década entre 2006 e 2016 foi marcada por um períodorealsbet roletaotimismo que teve seu ápice realsbet roleta2011, ano que apresentou os melhores indicadoresrealsbet roletasegurança. Em seguida, a situação começou a se deteriorar. Ao fim do período, a violência não voltou ao que era; mas se reconfigurou e se espalhou geograficamente pelo Estado.

Uma pesquisa realizada pela FGV/DAPP com base nos dados compilados pelo Institutorealsbet roletaSegurança Pública (ISP) mostrou que, quando a violência voltou a aumentar, ela se distribuiu pelo Estado.

"Antes, a capital sempre acumulava os maiores númerosrealsbet roletaviolência", diz Maria Isabel Couto, uma das autoras da pesquisa. Isso foi mudando ao longo dos últimos anos, com o aumento do crime no interior do Estado e na Baixada Fluminense (região metropolitana do Rio, já fora das fronteiras do município).

"A concentração na capital significava que, do pontorealsbet roletavista da segurança pública, os esforços e o contingente também podiam ser concentrados. Hoje, a violência está muito mais dispersa, e é preciso distribuir esforços, recursos e adotar estratégias mais complexas", diz Couto.

A distribuição criminal pode ser atribuída,realsbet roletaparte, à fugarealsbet roletatraficantesrealsbet roletaáreas ocupadas por UPPs para consolidar o domínio e outros territórios. Mas Couto considera também que o descrédito das UPPs teve um importante papel. "As UPPs trouxeram a sensaçãorealsbet roletaque o Rio ia finalmente dar conta do problema do tráfico. Os primeiros episódiosrealsbet roletaviolência fizeram essa ideia desmantelar e mostraram que as UPPs não eram infalíveis."

Fortalecimentorealsbet roletafacções criminosas

Se na fase inicial as UPPs pareciam estar sufocando a atuaçãorealsbet roletacriminososrealsbet roletaalgumas favelas, as disputasrealsbet roletaterritórios vistas recentemente mostram que os danos causados não foram permanentes. A disputarealsbet roletaterritórios tem sido constante no Rio, e facções criminosas aproveitam a crise para agirrealsbet roletaforma mais agressiva.

"A criminalidade percebe que há um descontrole na segurança pública, que não há rumo, orientação", diz Julita Lemgruber.

"Você acha que a criminalidade não percebe que o Rio está à deriva, com um ex-governador preso, o mandato do atual correndo risco (referência a acusaçõesrealsbet roletacorrupção contra o governador Luiz Fernando Pezão), um Tribunalrealsbet roletaContas que está na cadeia? É uma situaçãorealsbet roletafaltarealsbet roletalegitimidade do Estado, um Estado que está um pouco à deriva, e a criminalidade percebe isso claramente", argumenta Lemgruber.

Mais do que isso, a desigualdade social e a faltarealsbet roletaoportunidade para jovens nas comunidades continua a contribuir para atrair meninos e adolescentes para o tráfico e munir as facçõesrealsbet roletarecursos humanos.

Sem outra portarealsbet roletasaída que ofereça outras oportunidades, jovens pobresrealsbet roletacomunidades idem são atraídos pelos benefícios "sedutores" do tráfico - que não se reduzem a bens materiais, diz o antropólogo e especialistarealsbet roletasegurança pública Luiz Eduardo Soares. "Mais do que isso, estãorealsbet roletajogo acolhimento, reconhecimento, valorização e pertencimento", afirma.

"É possível disputar menino a menino com a fonterealsbet roletarecrutamento criminosa. Disputar significa oferecer pelo menos os mesmos benefícios, com sinal invertido, evidentemente", considera Soares, dando o exemplo do camporealsbet roletapolíticas culturais, que tem muitas experiências bem sucedidas no Brasil e no mundo.

Maria Isabel Couto, da FGV/DAPP, diz que a faltarealsbet roletauma política nacionalrealsbet roletasegurança também ajuda a fortalecer as facções - que substituíram a disputarealsbet roletauma ou outra favela por disputas mais amplas e ambiciosas.

Crédito, AFP / YASUYOSHI CHIBA

Legenda da foto, Incêndiosrealsbet roletaônibus marcaram ondarealsbet roletaviolência nas últimas semanas

"A gestão do crime não respeita fronteiras", diz Maria Isabel Couto. "As facções estão se comunicando, criando parcerias, buscando expandirrealsbet roletainfluência e suas rotas. Há uma clara disputa nacional e internacional por territórios."

Em contraposição, ela diz ser urgente elaborar uma política nacionalrealsbet roletasegurança pública. "O governo federal precisa entender que se tratarealsbet roletauma questão nacional e que é seu dever lidar com isso. Nenhum Estado tem condiçõesrealsbet roletadar conta desse controle sozinho."

'Pacificação' versus confronto

Com a "falência" da políticarealsbet roletapacificação e o aumento da criminalidade, especialistas dizem que a doutrina policial que preconiza o confronto armado está voltando a ganhar força. A política das UPPs foi baseadarealsbet roletaestratégiasrealsbet roletapoliciamento comunitária - embora, considera Julita Lemgruber, elas não tenham sido bem sucedidasrealsbet roletaconsolidar esse vínculo com as comunidades.

Porém, o velho modelo das operações policiaisrealsbet roletafavelas para confrontar o tráfico não foi abandonado, e, com o acirramento da crise e da violência, volta a se intensificar.

O aumento do númerorealsbet roletapessoas mortas pela polícia reflete o aumentorealsbet roletaconfrontos. Nos últimos cinco anos (2012-2016), o númerorealsbet roletahomicídios decorrentesrealsbet roletaoposição à intervenção policial aumentou 120%, chegando a 920. Em 2012, o patamar mais baixo na última década, foram 419 mortes. Járealsbet roleta2007, antes das UPPs, o númerorealsbet roletamortos por policiais chegou a 1.330.

"As perdasrealsbet roletavida decorrentes desse conjuntorealsbet roletaações são definidas, cinicamente, como casualties, efeitos colateraisrealsbet roletamedidas 'necessárias'. Como dizia (o ex-secretáriorealsbet roletaSegurança Pública José Mariano) Beltrame, e outros antes dele: 'Não se fazem omeletes sem quebrar ovos'", diz Luiz Eduardo Soares.

"Eu acrescento: desde que não sejam seus filhos. Os efeitos dessa orientação irresponsável, mesmo criminosa, são trágicos."