Nós atualizamos nossa Políticavai de bet imagensPrivacidade e Cookies
Nós fizemos importantes modificações nos termosvai de bet imagensnossa Políticavai de bet imagensPrivacidade e Cookies e gostaríamos que soubesse o que elas significam para você e para os dados pessoais que você nos forneceu.
A cantora que resolveu desafiar o machismo da música regionalista gaúcha:vai de bet imagens
Müller é uma das representantesvai de bet imagensuma geraçãovai de bet imagenscantoresvai de bet imagensmúsica regionalista gaúcha que ganhou destaque nos anos 2000. Com carreira iniciada aos oito anos, ela apresenta desde 2012 o Galpão Crioulo, um dos mais antigos programasvai de bet imagensTV sobre a temática tradicionalista, transmitido pela RBS TV, afiliada da TV Globo.
As críticas, raras no Estado, lançaram a artista no centrovai de bet imagensuma polêmica, que opõe julgamentos distintos sobre moral na cultura tradicional gaúcha.
Em texto publicado na internet, Müller condenou o machismo que, diz, ainda é reproduzido por muitos compositores. Como exemplo, citou versos famosos, como os da canção É Disso que o Velho Gosta: "Churrasco, bom chimarrão / Fandango, trago e mulher / É disso que o velho gosta / É isso que o velho quer".
A opinião mexeu com os brios dos conterrâneos. Na página da cantora no Facebook, seguida por 220 mil pessoas, o texto teve quase 6 mil reações.
Os comentários vãovai de bet imagenselogios - "É isso aí, prenda linda"; "Você me representa"; "Machismo definitivamente não é tradição" - a discordâncias, algumas desrespeitosas - "Por que não procura umas cumbucas para lavar?"; "Se não gostou, vai embora para o Riovai de bet imagensJaneiro".
A reação do público foi surpreendente, segundo ela.
"Mas o que mais me impressionou foi a quantidadevai de bet imagensmulheres que se posicionaram contra o que falei, minimizando o machismo das músicas", relata, enquanto toma chimarrão no apartamentovai de bet imagensque vive com o marido e o filhovai de bet imagenssete mesesvai de bet imagensPorto Alegre.
"Isso reforça quantas mulheres gaúchas ainda carregam um pensamento machista."
Assunto nacional
A críticavai de bet imagensShana Müller foi ao ar na tardevai de bet imagens7vai de bet imagensabril, uma sexta-feira.
Naquela mesma semana, o país comentara exaustivamente o caso Marcos, competidor - gaúcho - do Big Brother Brasil que acabou expulso do reality show sob acusaçõesvai de bet imagensagressão a outra participante, e o do ator José Mayer, acusadovai de bet imagenster assediado sexualmente uma figurinista.
A cantora diz que o objetivo do texto não era pegar carona nesses casos.
"Na quinta-feira, estava na gravaçãovai de bet imagensmeu programa e escutei uma frase que colocava a mulher na posiçãovai de bet imagensobjeto, como se fosse um adereço do homem", explica. "Aquilo doeuvai de bet imagensmeu ouvido, me incomodou e decidi protestar escrevendo."
A legitimidade moralvai de bet imagensmúsicas consideradas misóginas e machistas, ou mesmo racistas e homofóbicas, é um tema recorrente entre movimentos feministas no Brasil.
Em 2016, o rapper paulista Criolo mudou o versovai de bet imagensuma música antiga,vai de bet imagensseu primeiro disco, para extinguir a palavra "traveco". No Carnaval passado, marchinhas tradicionais como Cabeleira do Zezé e Maria Sapatão foram deliberadamente banidasvai de bet imagensalguns blocosvai de bet imagensrua país afora.
Em março, a advogada Camila Queiroz,vai de bet imagens25 anos, transformou o que era uma publicação restrita a seus contatos no Facebookvai de bet imagensconteúdo que hoje alcança maisvai de bet imagens230 mil seguidoras. É a página "Arrumando Letras",vai de bet imagensque trechosvai de bet imagensmúsicas com indíciosvai de bet imagensapologia à agressão física ou ao abuso psicológico são substituídos por versos respeitosos às mulheres.
"Refletindo sobre a letravai de bet imagensmúsicas populares que eu mesmo cantarolava, percebi que a mulher é vista como alguémvai de bet imagenssorte quando encontra um amor, ou que é agredida para o bem dela, da relação ou porque mereceu", disse Camila. "Decidi, então, modificar essas letras."
A correção se aplica a toda sortevai de bet imagensgêneros musicais - sertanejo, funk, samba, rock, reggae -, nacionais ou internacionais.
Entre as "arrumadas" está Ajoelha e Chora, citada no começo desta reportagem, e Run for Your Life, dos Beatles.
Faixa Amarela, do sambista Zeca Pagodinho, também foi modificada. Os versos "Mas se ela vacilar / vou dar um castigo nela / vou lhe dar uma bandavai de bet imagensfrente / quebrar cinco dentes e quatro costelas" ganharam nova roupagem com "Vacilou, né, fazer o quê / Dependendo do tamanho do vacilo / a gente termina numa boa".
Do engajamento femininovai de bet imagenstodas as regiões do Brasil - Camila moravai de bet imagensCuritiba -, nasceu o grupo privado "Arrumando letras entre amigas", onde quase 1,5 mil mulheres discutem a misoginia das músicas e buscam lutar contra o machismo.
Essa sororidade - união entre mulheres que buscam um objetivo comum -, ela garante, não tem preço. "É o fruto mais bonito que nasceu da página."
Culturavai de bet imagensmovimento
Um mês antesvai de bet imagensresolver questionar o machismovai de bet imagenssetores do tradicionalismo, Shana Müller escreveu um artigo no jornal Zero Hora afirmando que "em temposvai de bet imagensempoderamento feminino, é indispensável entender o gênero nesse fenômeno cultural" dentro do ambiente regionalista.
Após ela mexer nesse vespeiro, outras vozes sentiram-se representadas para fazer deslanchar o debate.
O historiador Tau Golin, da Universidadevai de bet imagensPasso Fundo, já analisou diversas letras com temática ligada ao gauchismo e constatou que as canções mais populares geralmente se baseiam no que ele chamavai de bet imagensmodelo animalesco, machista e violento do gaúcho.
"É assustador a quantidadevai de bet imagensmúsicasvai de bet imagensque simplesmente não há relação humana, mas grosseria da pior qualidade", avalia Golin.
O exemplo mais emblemático é Morocha, canção lançadavai de bet imagens1984vai de bet imagensum festival nativista pelo grupo David Menezes Júnior e os Incompreendidos.
Vencedoravai de bet imagenscinco troféus no concurso, a música tem como protagonista um homem que ameaça a mulher caso ela não se submeta ao seu jugo: "Aprendi a domar amanunciando égua / E para as mulher (sic) vale as mesmas regras / Animal, te para, sou lá do rincão / Mulher pra mim é como redomão / Maneador nas patas e pelego na cara", diz a letra.
A violinista e etnomusicóloga Clarissa Ferreira, pesquisadora do papel da mulher no tradicionalismo, afirma que, a exemplovai de bet imagensMorocha, a identidade do gaúcho sempre foi construída na representação do homem do campo viril e aguerrido, e que isso historicamente isolou o universo femininovai de bet imagensum plano secundário.
A cultura, defende ela, precisa ser dinâmica. "E a mudança pode começar pelas canções, que devem considerar os anseios do século 21,vai de bet imagensvezvai de bet imagensperpetuar o que era cultuado no século 18", acrescenta.
Em diversas oportunidades, artistas e representantesvai de bet imagensmovimentos tradicionalistas esboçaram descontentamento com as críticas. Não raro, os argumentos utilizados tentam rechaçar a pecha machista que atravessa a história.
Uma das premissas lembra, por exemplo, que durante a Revolução Farroupilha (1835-1845) cabia às mulheres a funçãovai de bet imagenscomandar as propriedades enquanto maridos e filhos lutavam pelos campos e coxilhasvai de bet imagensmeio à guerra.
Nairo Callegaro, presidente do Movimento Tradicionalista Gaúcho (MTG), afirmou, por exemplo, que a mulher "sempre foi respeitada e idolatrada" nesse meio.
"O MTG sempre preservou a imagem da mulher, hoje temos sete coordenadoras, temos inúmeras patroas (presidentes). Mas não apoiamos esse tipovai de bet imagenscomposição (de tom machista). Muitas dessas músicas parecem ser feitas para cair na graça, pois me parece que o gosto popular às vezes perde o controle, basta ouvir ritmos que são bem apelativos. Mas não apoiamos isso, não", disse.
Shana Müller, que não se considera uma feminista, promete ficar mais atenta não apenas às canções que apresenta, mas também àquelas que canta.
E não descarta seguir,vai de bet imagensseu próprio programa, o exemplo da apresentadora Titi Müller, que durante o festival Lollapalooza, realizado no fimvai de bet imagensmarçovai de bet imagensSão Paulo, criticou letras machistasvai de bet imagensum artista estrangeiro ao vivo.
"Desculpem os amigos e colegasvai de bet imagensprofissão, músicos, compositores, cantores, mas a verdade só serve se for dita e a mudança só acontece quando o alerta é feito", diz a cantora.
Principais notícias
Leia mais
Mais lidas
Conteúdo não disponível