Como o desemprego está criando 'funcionários-polvo' e aumentando pressão sobre quem trabalha:bets aposta 365

Funcionário-polvo

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Legenda da foto, Demissões têm levado vários profissionais ainda empregados a acumular funções

Para manter o ritmo, diz Pastore, empresários ficam com os subordinados considerados mais versáteis, que podem aprender novas tarefas rapidamente. São os mais propícios a tornarem-se "funcionários-polvo".

Muitosbets aposta 365um

Relatosbets aposta 365acúmulosbets aposta 365tarefas se espalham por indústria, comércio e serviços.

Vendedorbets aposta 365uma lojabets aposta 365roupas na região metropolitanabets aposta 365Porto Alegre (RS), Jorge* virou caixa, estoquista e responsável pelo crediário depois que outra funcionária foi demitida.

Hoje exerce dez funçõesbets aposta 365um expediente que ficou mais longo.

"Quando minha colega saiu, tudo o que ela fazia foi para mim", diz.

Acúmulobets aposta 365funções

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Legenda da foto, Com mais funções, funcionários têm trabalhado até mais tarde - e diminuído almoço

O advogado Leonardo* também está trabalhando mais. Além das petições, ficou encarregadobets aposta 365tarefas que caberiam a um estagiário, como tirar cópias e cuidar da correspondência. Para fazer tudo, diminuiu o almoço.

"Antes comiabets aposta 365uma hora, e agora almoçobets aposta 365trinta minutos. Uso o resto para agilizar."

Aparentemente, Jorge e Leonardo tornaram-se mais produtivos, porque executam mais tarefas quase no mesmo tempo. A ligação entre produtividade e recessão foi discutidabets aposta 365estudos americanos feitos após a crisebets aposta 3652008. A BBC Brasil não encontrou uma pesquisa semelhante por aqui.

Segundo o trabalhobets aposta 365economistas da Universidadebets aposta 365Stanford e da Universidadebets aposta 365Utah, do último trimestrebets aposta 3652007, quando a recessão dos EUA começou, até o terceiro trimestrebets aposta 3652009, quando ela terminou, a produtividade no país cresceu 3,16%bets aposta 365setores não-agrícolas. A marca atingidabets aposta 3652009 (3,2%) foi a maior desde 2003.

Para os pesquisadores, dois motivos justificaram esse crescimento: a demissão dos trabalhadores menos produtivos e, principalmente, o esforço dos que ficaram para manter suas vagas.

No entanto, mesmo que os brasileiros se tornem mais produtivos na crise, isso não deve durar muito, diz a professora Regina Madalozzo, coordenadora do Mestrado Profissionalbets aposta 365Economia do Insper.

A razão é simples: as pessoas se cansam.

"Estudos mostram que você pode até aumentar a produtividade no curto prazo, mas isso não é sustentável. As pessoas não conseguem dar 100% o tempo inteiro, elas não são máquinas."

Funcionários dormem nas mesasbets aposta 365trabalho

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Legenda da foto, Para especialista, funcionários-polvo 'não conseguem dar 100% o tempo inteiro, as pessoas não são máquinas'

Segundo a professora, aprender novas atividades têm um lado positivo, que é tornar o trabalhador mais completo. No entanto, se isso significa ultrapassar limites físicos, a pressão tem o efeito contrário, prejudicando o serviço.

O vendedor-caixa-estoquista Jorge já percebe que suas vendas pioraram. Enquanto faz o cadastrobets aposta 365um cliente, deixa outros falando sozinhos.

"O patrão não acha certo cair o rendimento, mas não tem como, o atendimento não é mais o mesmo. Me sinto constrangido por não cumprir tudo."

Medo do desemprego

Concentrar tarefas não é a única pressão que os brasileiros sofrem com tantos demitidos no mercado. Com o desemprego acimabets aposta 36512%,bets aposta 365acordo com o IBGE, o medobets aposta 365ser mandado embora é outra preocupação constante.

De acordo com índice da CNI (Confederação Nacional da Indústria), o medo do desemprego ficoubets aposta 36564,8 pontosbets aposta 365dezembro - o indicador vaibets aposta 365zero a cem pontos e, quanto mais alto, maior é o temor. O resultado do mês passado foi o maior desde 1996.

O receiobets aposta 365ser o próximo demitido nem sempre coincide com o acúmulobets aposta 365funções. O motivo pode ser justamente o contrário: a demanda cai tanto que o trabalhador fica ocioso.

"Me sinto inútil. Saiobets aposta 365casa, enfrento o transporte, para chegar aqui e não fazer nada", diz Ana sobre a agênciabets aposta 365marketing onde trabalha. Antes da crise, ela desenvolvia campanhas publicitárias. Com as demissões, foi remanejada para o treinamento, setor que está parado.

"Você tem que fingir que está trabalhando, porque não quer ser demitido."

Anúnciosbets aposta 365empregobets aposta 365poste no centrobets aposta 365São Paulo

Crédito, Ingrid Fagundez/BBC Brasil

Legenda da foto, Medo do desemprego piora relação entre funcionários e patrões, dizem entrevistados

Para ela, a relação com os patrões piorou. Ana diz que o discurso "se você não quer, tem quem queira" é comum.

"Ele existe abertamente. Quando a gente questiona os gestores, ele respondembets aposta 365forma ofensiva."

Trabalhadoresbets aposta 365outras áreas relataram a mesma situação à BBC Brasil. De forma mais ou menos exposta, dizem, a carta do desemprego tem sido usada com frequência.

Contratadabets aposta 365uma empresa da indústria alimentícia, Giovana diz que esse "alerta" não vem diretamente da chefia, mas chegabets aposta 365outras formas.

"Recentemente tivemos uma reunião sobre benefícios e o responsável pelo RH disse 'antesbets aposta 365reclamar da alteração no planobets aposta 365saúde, devíamos olhar as taxasbets aposta 365desemprego'. A ameaça velada ficou evidente."

Relação patrão-empregado

A relação patrão-empregado no Brasil não é só difícilbets aposta 365temposbets aposta 365recessão, diz a professora Carmen Migueles, que fez doutoradobets aposta 365sociologia das organizações.

Migueles afirma que esse contato é árido por natureza. Segundo ela, os subordinados muitas vezes não percebem que os chefes também estão numa posição difícil. Por outro lado, os empresários não costumam compartilhar o que está acontecendo com seu negócio e subestimam a ajuda que seus empregados podem lhe oferecer.

"O Brasil é um dos países que mais tem uma visão negativa dos pares, do chefe e das instituições."

Sobre as pressões exercidas pelos patrões, a professora diz que perfis autoritários ou paternalistas são muito comuns no país. Há também o que chamabets aposta 365"psicopatas", que se aproveitam da situação para ameaçar e cobrar seus funcionários.

Profissional estafado

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Legenda da foto, Para professora, momento existe ainda mais maturidade prodissional

No entanto, para Migueles, os subordinados também têm parcelabets aposta 365culpa num relacionamento tão desgastado. O brasileiro, afirma, possui uma propensão a sentir penabets aposta 365si mesmo, o que mostrariabets aposta 365faltabets aposta 365maturidade profissional.

"É muito comum no Brasil o perfil da vítima: ninguém cuidabets aposta 365mim, meu emprego está por um fio. Muitos querem que a empresa trate-os como filhos", diz.

"O brasileiro acho que o empresário é um super-homem: ele deve assumir os riscos, resolver os problemas e motivar as pessoas."

A faltabets aposta 365maturidade, dizem os entrevistados, já teria se mostrado nos anosbets aposta 365prosperidade econômica, quando as vagas eram abundantes - naquele momento os trabalhadores faziam o jogo hoje dominado pelos patrões.

"Em 2014, você conversava com um empresário e ele não conseguia segurar ninguém, as pessoas pulavambets aposta 365lugar para outro. Agora a mesa virou", diz a professorabets aposta 365Administração da FGV-SP Beatriz Lacombe.

Empresáriosbets aposta 365várias áreas consultados pela BBC Brasil afirmaram que os cortes foram necessários para a sobrevivênciabets aposta 365seus negócios e que também estão sendo afetados pessoalmente pelas incertezas da economia. Alguns disseram que redistribuíram tarefas para não prejudicar suas equipes.

De acordo com os especialistas, o ideal seria que patrões e empregados formassem uma "coalizão" para que, com sacrifícios mútuos, pudessem passar juntos pela recessão.

Profissional com dor nas costas

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Legenda da foto, Excessobets aposta 365pressão se reflete na saúde dos trabalhadores

Enxaqueca e tendinite

Enquanto essas relações não mudam, a pressão dentro dos escritórios começa a afetar a saúde dos trabalhadores.

A Associação Nacional dos Médicos Peritos estima que o númerobets aposta 365pedidosbets aposta 365auxílio-doença subiu até 30% no último ano. Os dadosbets aposta 3652016 ainda não foram divulgados pela Previdência Social.

O presidente da entidade, Francisco Cardoso, cita o casobets aposta 365um homem que sofreu um burnout, problema conhecido como doença do esgotamento profissional, depois que todas as 40 pessoas do seu setor foram demitidas. Só ele ficou.

A síndromebets aposta 365Burnout inclui sintomas como agressividade e falhasbets aposta 365memória.

"É um caso isolado, mas tipifica aqueles que, pelo acúmulobets aposta 365funções ou pela necessidadebets aposta 365afastar o desemprego, acabam trabalhando além do recomendável. Tem acontecido muito."

Giovana*, que gerencia a áreabets aposta 365segurançabets aposta 365produtobets aposta 365uma indústria, diz que o excessobets aposta 365trabalho trouxebets aposta 365voltabets aposta 365enxaqueca. Ela também foi parar no hospital por problemas nas costas e tendinite.

Segundo Giovana, na filial brasileira da empresa, apenas duas pessoas atendem as demandas que, na matriz, são realizadas por 30. O quadrobets aposta 365pessoal no Brasil foi cortadobets aposta 36530% nos últimos anos.

"Me pressiono cada dia mais, trabalhando além do expediente para manter tudo funcionando normalmente, mas a sensaçãobets aposta 365ser o 'gargalo'bets aposta 365um processo do qual não tenho controle chega a ser desesperadora."

Trabalhador cansado

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Legenda da foto, Processo atual terá consequências no futuro, diz especialista

O cansaço dos trabalhadores não é algo que se resolverá imediatamente com a recuperação econômica, alerta a professora Regina Madalozzo, do Insper. O esgotamento dos brasileiros trará consequências a longo prazo, sobretudo para as empresas que continuarem pressionando seus funcionários acimabets aposta 365seus limites.

"Quando sair da crise, será aquilo que vemos nos filmes: todo mundo doente, se demitindo ao mesmo tempo. Você tem que ter um mínimobets aposta 365incentivo para ir ao trabalho todos os dias."

Esta reportagem terminaria aqui. Mas Iasmin*, uma editorabets aposta 365livros didáticos, queria incluirbets aposta 365história: "é bom poder falar".

Ela descreveu crisesbets aposta 365dorbets aposta 365cabeça que duram uma semana, alémbets aposta 365confusão mental e perda da visão periférica. Em semanas tranquilas, costuma acumular dez horas extras.

Suas respostas demoraram a chegar e, por pouco, não ficarambets aposta 365fora. A justificativa, no entanto, não poderia ser um final mais propício: "o trabalho come até o tempo que a gente deveria usar para denunciar quanto tempo o trabalho come".

*Todos os trabalhadores entrevistados tiveram os nomes alterados para preservar suas identidades.