Grafite existe desde Roma Antiga e, se apagado, se fará mais forte, diz urbanista italiano:roleta da pixbet

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Legenda da foto, Para professor italiano, grafites falam sobre o momento da cidaderoleta da pixbetforma diferente da dos livros ou jornais

"É apagar parte da cultura, escondê-la, porque se tem medo do seu significado", afirma o arquiteto, que escreveu livros sobre a experiência urbana e participou da Flip (Festa Literária Internacionalroleta da pixbetParaty) no ano passado.

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Legenda da foto, Francesco Careri é professorroleta da pixbetestudos urbanos e foi convidado da Flip do ano passado

Em entrevista recente à BBC Brasil, o secretárioroleta da pixbetCultura da cidade, André Sturm, disse "que ninguém é contra o grafite", mas que é preciso ter espaços adequados onde ele possa ocorrer.

"O que a gente quer fazer é apoiar uma açãoroleta da pixbetgrafiteroleta da pixbetlocal disponibilizado pela prefeitura, para que a população perceba que não é algo criminoso, marginal."

Na quinta-feira, a Justiçaroleta da pixbetSão Paulo derrubou uma liminar que impedia a prefeitura da capitalroleta da pixbetapagar grafites sem autorização do Conselho Municipalroleta da pixbetPreservação do Patrimônio Histórico, Cultural e Ambientalroleta da pixbetSão Paulo (Conpresp).

Em despacho, a desembargadora Maria Olívia Alves disse que o pedido feito por munícipes para barrar a medida parecia impedir a prefeituraroleta da pixbetcuidarroleta da pixbetáreas e prédios públicos.

Leia abaixo trechos da entrevista feita com Careriroleta da pixbetjaneiro.

roleta da pixbet BBC Brasil - O que acha da ação do prefeito João Doriaroleta da pixbetpassar tinta cinza sobre os grafitesroleta da pixbetSão Paulo?

roleta da pixbet Francesco Careri - É horrível. Sou otimista e tenho certeza que esse tiporoleta da pixbetregistro não vai se perder, porque desde sempre se escreve nos muros. Aqui (na Itália), nos muros da antiga Roma, há grafites dos romanos, que era a única maneira dos cidadãosroleta da pixbetdizer suas ideias,roleta da pixbetexprimir-se. Não havia outros lugares onde podia-se escrever senão nos muros.

Na Grécia, também há grafites, escritas dos cidadãos, dos peregrinos que iam até lá. É uma formaroleta da pixbetexpressar-se. As termas romanas estão cheias deles.

É algo que não se pode apagar. Se forem apagados, se farão mais fortes.

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Legenda da foto, Antigos romanos já desenhavam nos muros para se expressarem, diz urbanista

roleta da pixbet BBC Brasil - Há ações similares acontecendo na Europa?

roleta da pixbet Francesco Careri - Aquiroleta da pixbetRoma há um departamento do município que se chama Decoro Urbano, que é como o (programa) Cidade Linda. Para eles, o decoro é banalizar tudo. Apagar as praças que têm vida na cidade. O que quer dizer decoro? O que quer dizer requalificação? Para mim parece mais interessante reconhecer a qualidade que há nos lugaresroleta da pixbetvezroleta da pixbetapagá-la.

(Hoje) requalificar significa colocar uma portaroleta da pixbetvidro, controlar o espaço. Para mim, tudo isso é tirar a qualidade, tirar o potencialroleta da pixbetliberdaderoleta da pixbetum lugar.

roleta da pixbet BBC Brasil - Você mencionou a importância que as inscriçõesroleta da pixbetmuros tiveram para gregos e romanos. Essas intervenções, portanto, têm uma longa história. Por que ainda há um receio ante elas?

roleta da pixbet Francesco Careri - Teme-se que alguém possa se apropriar da imagem da cidade e teme-se a capacidade dos cidadãosroleta da pixbettransformarroleta da pixbetcidade. É como se o espaço público tivesse que ser reservado aos arquitetos, urbanistas, políticos, administradores e não pertencesse a todos. Como habitamos nossa casa e a personalizamos, é mais interessante que se possa personalizar a cidade também. Porque é espaço público, então é o público que deve dar imagem (a ela).

O que tento ensinar aos meus estudantes é a qualidade intrínseca que há na ação sobre um espaço. Quando alguém pinta desenhos faz algo pessoal, mas que dá uma qualidade ao espaço: a liberdaderoleta da pixbetpoder exprimir-se. E matar isso é matar a liberdaderoleta da pixbetexpressão.

roleta da pixbet BBC Brasil - Seguindo esse raciocínio, apagar os grafites é passar uma mensagemroleta da pixbetque há restrições à liberdade?

roleta da pixbet Francesco Careri - Claramente. Na América Latina, há a tradição dos murais. Na Cidade do México, os murais falam para os cidadãos que não sabem ler, como acontece nas catedrais góticas da Idade Média, na Europa. (Nessas igrejas), as mensagens se transformaramroleta da pixbetsímbolos para contar que há inferno, paraíso, para contar a históriaroleta da pixbetCristo. Tudo isso é possível ver, não é preciso ler.

É uma maneiraroleta da pixbetescrever para falar com todos, com as crianças, com quem não sabe ler, com os analfabetos.

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Legenda da foto, Programa "Cidade Linda", do prefeito João Doria, inclui remoçãoroleta da pixbetgrafites e pichações

roleta da pixbet BBC Brasil - Para você é como apagar um pouco a história da cidade?

roleta da pixbet Francesco Careri - Sim. E também apagar a consciência do atual. São coisas que não estão escritas nos jornais nem nos livros. Só podem ser lidas diretamente nos muros, apenas os muros falam sobre isso.

roleta da pixbet BBC Brasil - Em seus livros, você fala muito da "experiênciaroleta da pixbetcidade", do que ela pode oferecer aos que a percorrem, por exemplo. O que acontece com essa experiência quando você apaga grafites?

roleta da pixbet Francesco Careri - É como queimar livros. É apagar parte da cultura, escondê-la, porque se tem medo do seu significado. Caminhar sem poder ver o que os cidadãos expressam é como emudecer a cidade, removerroleta da pixbetvoz, tirar a possibilidaderoleta da pixbetlê-la. É tirar grande parte da experiência que se pode ter na cidade, porque também são traços que nos dizem quem vive naquele bairro.

Por exemplo, lembro que, caminhando por Bogotá, estava muito claro se estávamosroleta da pixbetum bairro sob (domínio dos) militares, das Farc ouroleta da pixbetoutras organizações, porque se podia ler nas siglas quem tinha o poder naquele lugar. Então, é uma maneira tambémroleta da pixbetsaber onde estou.

roleta da pixbet BBC Brasil - A maneira como as cidades europeias lidam com esse tiporoleta da pixbetexpressão urbana é diferente das latino-americanas?

roleta da pixbet Francesco Careri - Não sei se há muitas diferenças. Neste momento,roleta da pixbetRoma, há uma moda (do grafite) e os políticos têm se apropriado dela.

Há alguns bairros problemáticos na periferiaroleta da pixbetRoma e para "normalizá-los" são organizadas intervençõesroleta da pixbetgrafite. Pintar, dar cor, converteu-se numa forma muito institucionalroleta da pixbetarte. E muitas vezes usam artistas pouco interessantes, que não têm um discurso político.

É melhor que pintarroleta da pixbetcinza, claro, mas é uma formaroleta da pixbetse apropriar da arte que nasce fora das instituições, como uma crítica a elas.

Que um prefeito não compreenda que pode se apropriar disso para seu poder me parece pouco sofisticado. Poderia ser mais sofisticado desenhar flores, ou algo que não tenha um significado político, e pedir isso a artistas medíocres. Pintarroleta da pixbetcinza me parece verdadeiramente ignorante.

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Legenda da foto, Para urbanista, grafites contribuem à experiênciaroleta da pixbetcidade e dão uma qualidaderoleta da pixbetliberdade aos lugares

roleta da pixbet BBC Brasil - A Prefeitura anunciou há que vai convidar alguns artistas para pintar parte das paredes.

roleta da pixbet Francesco Careri - Sim, porque o poder sempre sabe como apropriar-se disso e utilizá-lo a seu favor.

roleta da pixbet BBC Brasil - Apesarroleta da pixbetalgumas mudanças nos últimos anos, com mais pessoas ocupando o espaço público, São Paulo ainda é vista por muitos como uma cidade cinza. Como você a vê?

roleta da pixbet Francesco Careri - Estive três ou quatro vezesroleta da pixbetSão Paulo e é muito difícil compreenderroleta da pixbetbeleza. Fui na última vez com meus filhos, que são pequenos, e depoisroleta da pixbettrês dias o menor, que tem sete anos, disse: "pai, este é um espaço sem lugares".

Porque simplesmente ele não encontrava um lugar para si, um lugar onde pudesse sentir-se livre, jogar bola, sentar-se. Sempre se sentiaroleta da pixbetespaços controlados ou onde havia muita gente caminhando, sentia que aquilo não era feito para ele.

A primeira sensação que se temroleta da pixbetSão Paulo é que é sempre a mesma. O que se vê do avião é uma cidade cinza, com arranha-céus. Claramente, não é assim. Agora que a conheço um pouco mais, compreendo que há bairros muito diferentes uns dos outros. Há diferentes tiposroleta da pixbetvida. Há uma geografia nessa cidade que parece monótona, mas que apenas precisa ser descoberta.

roleta da pixbet BBC Brasil - Então, qual a experiência idealroleta da pixbetcidade?

roleta da pixbet Francesco Careri - Eu diria espaçosroleta da pixbetliberdade. Entendo por isso espaços onde posso perder-me: terrenos vazios, zonas que não estão muito claras, onde há algo que se possa descobrir, onde nem tudo está claro, homologado à ideiaroleta da pixbetqualidade que se tem normalmente, à qualidade banal. Que exista uma possibilidaderoleta da pixbetperder-se verdadeiramente.