'Meu sonho é respirar sem aparelhos': o drama da filabetesporte wikipediatransplantebetesporte wikipediapulmão:betesporte wikipedia

Crédito, Gabi Di Bella

Legenda da foto, Duda é uma das 42.306 pessoas na fila para um transplantebetesporte wikipediaórgão no Brasil

O diagnóstico da doença veio aos 3 anos - os problemas mais sérios começarambetesporte wikipedia2014, aos 12. "Ela fazia esportes, educação física no colégio, sempre levou uma vida normal. Masbetesporte wikipediajulho daquele ano ficou 21 dias internada", conta a mãe Margarete Zilio,betesporte wikipedia52 anos.

Desde então, a doença evoluiu e levou a uma mudançabetesporte wikipediavidabetesporte wikipediatoda família. Na volta para casa, ela sofreu um pneumotórax (acúmulo anormalbetesporte wikipediaar entre o pulmão e a pleura, membrana que reveste internamente a parede do tórax) e ficou mais 39 dias internada.

"Foram quarenta. Cada dia a mais conta", corrige logo Duda.

Crédito, Gabi Di Bella

Legenda da foto, Duda só pode receber pulmão se ele vierbetesporte wikipediaalguém com até 1,40mbetesporte wikipediaaltura

Na busca por tratamento, os pais e a menina se mudarambetesporte wikipediaJundiaí, no interiorbetesporte wikipediaSão Paulo, para Gravataí, na região metropolitanabetesporte wikipediaPorto Alegre, a capital gaúcha.

A família chegou a fazer campanha nas redes sociais pedindo ajuda. A página "Duda Zilio - Garotabetesporte wikipediafibra" ainda está no ar.

Na Santa Casabetesporte wikipediaPorto Alegre, centrobetesporte wikipediareferênciabetesporte wikipediatransplantes no país, a menina faz reabilitação junto a outros 40 pacientes enquanto aguarda um órgão compatível. "Duda engordou dez quilos depois que começou a reabilitação, foi maravilhoso pra ela", conta a mãe.

Lá, todos vivem conectados ao cilindrobetesporte wikipediaoxigênio, o equipamento com o qual Duda convive 24 horas por dia. Uma fontebetesporte wikipediavida, mas tambémbetesporte wikipediaproblemas.

"As pessoas tropeçam no fio. A minha mãe e a minha avó também. Quando eu grito 'Mãe!' já é tarde, acaba que até arranca do nariz", conta a menina, rindo.

Ela também passa por dificuldades na rua. As pessoas não enxergam a mangueira fina e passam no meio, entre a menina e a mãe - o paciente não deve levar o equipamento e, por isso, tampouco pode andar sozinho.

"O sonho dela é entrar na salabetesporte wikipediacirurgia e sairbetesporte wikipedialá sem ter que carregar mais esse tubo", diz a mãe.

Duda vai à escola normalmente, mas não pôde participar da viagembetesporte wikipediaformatura. Como o órgão pode surgir a qualquer momento, a família não pode viajar.

"Gostaríamosbetesporte wikipediair conhecer a serra e outros lugares, mas não podemos nos afastar e correr o riscobetesporte wikipedianão conseguir chegar na Santa Casa a tempo", explica Margarete.

Enquanto isso, a adolescente curte as férias lendo e vendo filmes com os pais. "Outro dia, ficamos até às 3h da manhã assistindo a Harry Potter", conta.

Crédito, Gabi Di Bella

Legenda da foto, A mãebetesporte wikipediaDuda fez testesbetesporte wikipediacompatibilidade para um transplante intervivo

A mãe já fez exames para avaliar a compatibilidadebetesporte wikipediafazer um transplante intervivos - aquelebetesporte wikipediaque o doador está vivo. Nesse caso, porém, é preciso maisbetesporte wikipediaum doador.

"Eu sou compatível, mas estamos vendo se alguém mais da família é. Isso é muito difícil porque as pessoas tem medo da cirurgia. Eu entendo", afirma.

Duda pensa no futuro com otimismo: "Quero ser médica, geriatra ou pediatra, adoro velhinhos e crianças", diz.

A escolhabetesporte wikipediaSofia

O médico Sadi Sochio, coordenador clínico da equipebetesporte wikipediatransplantebetesporte wikipediapulmão da Santa Casa, define a lutabetesporte wikipediaDuda e dos demais pacientes como o "jogo perversobetesporte wikipediaganhar a corrida da morte que está se avizinhando. É uma corrida imoral", define.

Todos os anos são realizadosbetesporte wikipediamédia 30 transplantesbetesporte wikipediapulmãobetesporte wikipediaPorto Alegre, apesar da capacidade e da estrutura do hospital permitirem o dobro disso.

"Nós estamos aqui, prontos. Podemos realizarbetesporte wikipedia50 a 60 transplantes por ano, mas precisamosbetesporte wikipediaajuda da sociedade. Precisamos que as pessoas se declarem doadoras e que as famílias saibam disso", diz.

A listabetesporte wikipediaespera por transplantesbetesporte wikipediapulmão na Santa Casa tem 60 pacientes. O prognóstico ébetesporte wikipediaque a chancebetesporte wikipediaesses pacientes morrerembetesporte wikipediadois anos ébetesporte wikipedia50%.

"As pessoas não são um litrobetesporte wikipedialeite que vem com databetesporte wikipediavalidade. Não temos como saber quando a pessoa vai morrer. Caso esses pacientes não recebam o enxerto (órgão novo), metade deles vai morrer. Isso é um dado bem real que acompanhamos há bastante tempo", explica o médico.

Dos pacientes que chegam a fazer o procedimento, 50% veem melhora embetesporte wikipediaqualidadebetesporte wikipediavida e tem uma expectativabetesporte wikipediavida ampliadabetesporte wikipediacinco anos. Para 99% deles, não existe a possibilidadebetesporte wikipediatransplante intervivos, até porque, para isso, não existe cobertura pelo SUS.

Crédito, Gabi Di Bella

Legenda da foto, Segundo dados do Ministério da Saúde, 182 pessoas esperam por um pulmão

Um transplantebetesporte wikipediapulmão entre duas pessoas vivas custa cercabetesporte wikipediaUS$ 100 mil dólares.

"Se eu fizer isso, vou ter que fechar o programabetesporte wikipediatransplantes, porque diminui o númerobetesporte wikipediaoperações que posso fazer por ano", afirma Sochio.

Segundo dados do Ministério da Saúde, 2,3 mil pessoas morreram à esperabetesporte wikipediaum órgão no Brasilbetesporte wikipedia2015.

Na Santa Casabetesporte wikipediaPorto Alegre, foram realizados 30 transplantesbetesporte wikipediapulmãobetesporte wikipedia2016, dois a mais do quebetesporte wikipedia2015 - anobetesporte wikipediaque foram realizados quatro transplantesbetesporte wikipediaintervivos.

No país inteiro (o procedimento também é feitobetesporte wikipediahospitaisbetesporte wikipediaFortaleza ebetesporte wikipediaSão Paulo) foram realizados 74 transplantesbetesporte wikipediapulmãobetesporte wikipedia2015 e 72 até agostobetesporte wikipedia2016,betesporte wikipediaacordo com o Ministério da Saúde - 182 pessoas estão à espera do órgão.

Sochio afirma que a principal causa da necessidadebetesporte wikipediatransplantes ainda é o tabagismo. Ele pede que as pessoas externem seu desejobetesporte wikipediaserem doadoras e, assim, ajudar essas pessoas.

"No jantarbetesporte wikipediaNatal, no almoçobetesporte wikipediadomingo... as pessoas têm que informar a famíliabetesporte wikipediaque querem doar órgãos caso algo ocorra", diz.

O médico afirma o órgão recebido deve ser usado da forma mais cuidadosa possível e que a busca é por pacientes que tenham mais cuidado e disciplina, que vão cuidar bem deles.

"Vivemos uma escolhabetesporte wikipediaSofia diária", relata.