Engenheiro, senador e expoente da Universal: Quem é Crivella, o novo prefeito do Rio:betboo telegram

Marcelo Crivella com a mulher, Sylvia Jane, ao ir votar

Crédito, AFP

Legenda da foto, Marcelo Crivella venceu embetboo telegramterceira tentativabetboo telegramse tornar prefeito do Rio

Após acusar a empresa, ao lado da revista Veja,betboo telegramfazer uma cobertura manipuladora da disputa ebetboo telegramtentar mudar o resultado das eleições, acabou enfim comparecendo ao debate realizado pela TV Globo na última sexta, o último da disputa. Apresentou-se, como já viroubetboo telegrammarca registrada,betboo telegramforma serena.

A BBC Brasil tentou entrevistar Crivella nas últimas semanas, sem sucesso.

Origens

Nascido no Rio, Crivella tem 59 anos, é engenheiro e está casado há 36 anos com a escritora Sylvia Jane. Eles têm três filhos: Deborah, Marcelo e Rachel.

É conhecido por ser vaidoso (está com o cabelo sempre impecável) e metódico. Em entrevistas, disse que a disciplina é herança dos oito anos que passou no Exército.

Bispo licenciado da Igreja Universal do Reinobetboo telegramDeus e sobrinhobetboo telegramEdir Macedo, o fundador da denominação, é uma das estrelas do mundo gospel nacional, com maisbetboo telegram15 álbuns gravados e milharesbetboo telegramdiscos vendidos - atividade que pretende manter ao lado dos afazeresbetboo telegramprefeito.

Marcelo Crivella e Sylvia Jane

Crédito, Arquivo Pessoal

Legenda da foto, Ao ladobetboo telegramSylvia Jane, nos anos 1970; ela foibetboo telegramúnica namorada, segundo Crivella

Filhobetboo telegrampais católicos, passou a frequentar a Igreja Metodista ainda criança. Anos depois, ajudou seu tio a fundar a Universal.

Além da trajetória religiosa, o novo prefeito do Rio fez questãobetboo telegramfrisar,betboo telegramdiferentes momentos da campanha, que já trabalhou como taxista, engenheiro civil e professor universitário, alémbetboo telegramser militar da reserva.

Especialistas apontam a Igreja Universal tanto como a força que o catapultou ao sucesso na política quanto um "fantasma" que até hoje tinha sido obstáculobetboo telegrameleições para prefeito ou governador.

Se por um lado Crivella se tornou senadorbetboo telegram2002 sem nunca ter disputado uma eleição antes (acabou ainda reeleitobetboo telegram2010),betboo telegramgrande parte com a ajuda dos votosbetboo telegramfiéis, por outro buscou se descolar da igreja nas campanhas.

"Sou evangélico e posso ser engenheiro, mas não prefeito?", questionou recentemente.

"Não vou deixarbetboo telegramser cristão e evangélico, mas peço que não deixembetboo telegramvotarbetboo telegrammim por preconceito, sob penabetboo telegramo Riobetboo telegramJaneiro perder mais uma vez um bom prefeito", pediu embetboo telegrampropaganda eleitoral.

Desde a primeira vez que disputou a Prefeitura do Rio,betboo telegram2004, Crivella tem afirmado que a Universal e seu tio têm "influência zero" sobrebetboo telegramcampanha,betboo telegramtrajetória política e eventuais decisõesbetboo telegramgoverno.

Polêmicas

Mesmo com as tentativasbetboo telegramdistanciamento,betboo telegramrelação com a igreja foi motivobetboo telegramvárias polêmicas nas últimas semanas.

Capa da revista "Veja" com reportagem sobre Crivella

Crédito, Reprodução

Legenda da foto, Crivella teria sido preso ao tentar expulsar invasoresbetboo telegramterreno da Universal, segundo a "Veja"

Na principal delas, a revista Veja publicou,betboo telegramuma das versõesbetboo telegramcapa, a fotobetboo telegramuma suposta prisãobetboo telegramCrivellabetboo telegramflagrantebetboo telegram1990, quando ele teria tentado expulsar,betboo telegramforma violenta, invasoresbetboo telegramum terreno da igreja.

O prefeito eleito nega que tenha sido preso. Em um vídeo publicado nas redes sociais, disse que foi impedido pelos invasoresbetboo telegramentrar no terreno para inspecionar uma estrutura que corria o riscobetboo telegramcair: "Deu uma confusão danada, foi todo mundo para a delegacia. Lá, o delegado resolveu identificar a todos. Por isso, essa foto que você viu na capa".

Um vídeo gravadobetboo telegram2014 também provocou controvérsia - para os críticos, ele colocabetboo telegramxeque o distanciamento que Crivella defende publicamente entrebetboo telegramcarreira política a igreja. Nas imagens, ele fala a uma plateia da Universal:

"Devido à repercussão da Fazenda Canaã, fui desta vez (depoisbetboo telegramseis anos na África e três no sertão baiano) enviado para a política. Confesso que naquele instante fiquei triste. Aceitei porque na Igreja Universal você não tem opção. Na Igreja Universal você vai, tem que ir."

Durante a campanha, também foram explorados trechosbetboo telegramseu livro Evangelizando a África, publicadobetboo telegraminglêsbetboo telegram1999 e lançado no Brasilbetboo telegram2002, quando Crivella tinha 45 anos e foi eleito para o Senado.

Na obra, ele diz que a homossexualidade constitui "conduta maligna" ebetboo telegram"terrível mal" e que a Igreja Católica e outras religiões "pregam doutrinas demoníacas".

Diante da repercussão negativa, disse que, embora reconheça o texto como seu, devia desculpas à sociedade pelas ofensas que teriam sido publicadas "há décadas", "quando era jovem" e vivia na África, "num ambientebetboo telegramguerras, superstição e feitiçaria".

Marcelo Crivella e Sylvia Janebetboo telegramseu casamento

Crédito, Arquivo Pessoal

Legenda da foto, Crivella casou-sebetboo telegram1980 com Sylvia

Dualidade

Para o pastor Ed René Kivitz, membro da Igreja Batistabetboo telegramÁgua Branca, uma corrente progressista evangélica que diverge das igrejas neopentecostais, a dualidade entre o Crivella religioso e o político não passariabetboo telegram"estratégiabetboo telegramcampanha".

"Em síntese trata-sebetboo telegramcomo vender essa imagem. Para o público interno, da igreja, ele é um homem com uma missão. Para a sociedade civil, é um homem que tem o desejobetboo telegramser prefeito", diz.

"Mas eu não tenho dúvidabetboo telegramque a campanha e a trajetória política dele são decididas no horizonte interno dabetboo telegramexperiência religiosa e articulado publicamente com as forças e interessesbetboo telegramsustentação deste projeto religioso."

O pastor Silas Malafaia, da Assembleiabetboo telegramDeus Vitóriabetboo telegramCristo, apoiou Crivella no segundo turno - e se orgulhabetboo telegramdizer que o ajudou a conquistar votos evangélicos.

Mas lembra que fez campanha contra ele na primeira etapa e que ajudou a "derrubá-lo na eleição para governador",betboo telegram2014.

Para o pastor, que sempre foi rivalbetboo telegramEdir Macedo, é nítido que o bispo licenciado da Universal "recebeu uma missãobetboo telegramseu tio".

"Ele estava numa estruturabetboo telegramque era assalariado e estava embaixo, e mesmo que não fosse o que ele queria, ele obedeceu. Agora, ao chegar lá, ele pode ter percebido uma vocação para a política, e acabou gostando", diz.

Marcelo Crivella segura o filho recém-nascido no colo

Crédito, Arquivo Pessoal

Legenda da foto, Crivella com o filho Marcelobetboo telegram1985; ele tem mais duas filhas, Deborah e Rachel

Malafaia compara o novo prefeito do Rio a astrosbetboo telegramfutebol.

"Eu tenho diferenças com o Edir Macedo, e a Universal sempre foi isolada no meio evangélico, isso todos sabem. Mas o Crivella é como um Neymar, um Messi, um Cristiano Ronaldo. Um jogador que consegue se sobressair ao seu time e que aos poucos ganhou a comunidade evangélicabetboo telegramgeral."

Kivitz classifica a sucessãobetboo telegramgravações e a capa da Veja como "tiros que saíram pela culatra".

"Historicamente, quanto mais a igreja evangélica foi caricaturada na imprensa, mais ela cresceu. O maior cabo eleitoral do Jair Bolsonaro é o Jean Wyllys, e vice-versa. Ao bater tantobetboo telegramCrivella, a imprensa e seu adversário podem ter ajudado a fortalecer a ainda mais a imagem que ele quis transmitir,betboo telegramque é alvobetboo telegrampreconceito ebetboo telegraminjustiças por ser evangélico."

Questionado no último debate sobre um potencial "projeto político da Universal para o Rio", Crivella voltou a tentar se descolar.

"Você está preocupado com a minha igreja? Com Igreja Universal? Eu tenho certeza que não. E a fila dos hospitais? Interessa para eles se eu sou católico, espírita, umbandista ou evangélico? Só para o Freixo. Para você eu tenho certeza que não interessa. Não tem nada desse negóciobetboo telegramser instrumentobetboo telegrampoderbetboo telegramnenhuma igreja."

Receitabetboo telegramsucesso

Marcelo Crivellabetboo telegramseu localbetboo telegramvotação no RJ

Crédito, AFP

Legenda da foto, Senador, na avaliaçãobetboo telegramespecialistas, teve sucesso ao falar com o eleitorbetboo telegramcentro

Integrantesbetboo telegramsua base, críticos e especialistas ouvidos pela BBC Brasil apontaram alguns dos ingredientes da receitabetboo telegramsucessobetboo telegramCrivella.

Na visão deles, a lista inclui o apoiobetboo telegramseguidores da Universal e a conquistabetboo telegramfiéisbetboo telegramigrejas evangélicas rivais, seu amadurecimento político após maisbetboo telegramdez anos no Senado e a experiência como ministro da Pesca no governo Dilma Rousseff.

A principal vantagem na comparação com Freixo, segundo especialistas, foibetboo telegramcapacidadebetboo telegramfalar para o eleitorbetboo telegramcentro, que não está alinhado com as bandeiras tradicionais da esquerda - mas tampouco partilha dos ideais liberais da elite.

"Freixo fala para a esquerda, artistas, intelectuais, militantes e a classe médiabetboo telegramIpanema e Leblon, pessoas que rejeitam visceralmente Crivella, mas cujos votos por si só não decidem eleição", avalia Ricardo Ismael, doutorbetboo telegramciência política e pesquisador da PUC-Rio.

"Já Crivella não fala só para os evangélicos. Ele falou à massa do eleitoradobetboo telegramcentro, que está focadabetboo telegramobter soluções para o cotidiano. Se vendeu como um senador, um engenheiro, buscando se descolar da Universal."

Para Ismael, a conjuntura teria incluído ainda o enfraquecimento do PMDB do Rio, que após anos no poder na Prefeitura e no Estado não conseguiu levar seu candidato, Pedro Paulo, ao segundo turno.

Marcelo Freixo

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Legenda da foto, Disputa com Freixo foi repletabetboo telegramtrocabetboo telegramacusações

O que esperar da gestão?

Analistas ouvidos pela BBC Brasil consideram "exageradas" as acusaçõesbetboo telegramque um governo Crivella representaria um "retrocesso"betboo telegrampolíticasbetboo telegramgênero e LGBT, prejuízos ao Carnaval e à cultura e levaria a uma maior intolerância religiosa.

"Ele teve que deixar claro que não eliminará a Parada Gay nem o Carnaval e nem tolerará qualquer tipobetboo telegramperseguição às religiõesbetboo telegrammatriz africana. É exagero esse tipobetboo telegramacusação. Não seria estratégico para ele", diz Ismael.

As propostasbetboo telegramgovernobetboo telegramCrivella prometem a modernização dos serviços públicos sem aumentar nenhum tributo municipal. Nos planos, está a redução do númerobetboo telegramsecretarias do atual 29 para "no máximo 15".

Na saúde, prometeu auditar da gestãobetboo telegramunidades municipais por empresas terceirizadas, as chamadas OSs, alvosbetboo telegraminvestigações e escândalosbetboo telegramcorrupção.

O prefeito eleito disse ainda que alcançará a metabetboo telegram50% dos alunosbetboo telegramséries iniciais estudandobetboo telegramhorário integral até 2020. "Vamos criar 20 mil vagasbetboo telegramcreches e 40 milbetboo telegrampré-escolas até 2020 atravésbetboo telegramuma PPP."

Sobre o legado olímpico e a manutenção das arenas equipamentos,betboo telegramgrande parte responsabilidade do município, Crivella diz que não quebrará contratos, mas terá que avaliar "caso a caso". "A prefeitura fez muitas concessões a empresários sem transparência."

Presidente evangélico?

Tida como um marco simbólico do maior acessobetboo telegramevangélicos a cargos majoritários, sobretudobetboo telegramuma cidade do porte do Rio, a vitóriabetboo telegramCrivella é vista por analistas como indicadorbetboo telegramque a influência evangélica na política brasileira é algo "crescente e irreversível".

"Seu governo não será fácil, com a imprensa vigiando 24h por dia e intelectuais, artistas, classe média e a esquerda visceralmente contra ele. Uma coisa é ser missionário, até ser senador e ministro. Outra bem diferente é administrar uma cidade como essa", opina Ismael.

Para Malafaia, um eventual sucesso dele abrirá o caminho para voos mais altos.

"Basta fazer a conta. Fazendo um bom governo, ele é reeleito. Nesse caso, também pode vir a ser governador posteriormente. E aí, por que não presidente da República? O primeiro presidente evangélico? Política é poder, e quanto mais se tem, mais se quer."