Transenem: o cursinhojogo de pintarBH que está colocando trans e travestis na universidade:jogo de pintar

Crédito, Bruno Figueiredo/Áreajogo de pintarServiço

Legenda da foto, Alunas da turmajogo de pintar2016 do Transenem,jogo de pintarBelo Horizonte, cursinho preparatório para o Enemjogo de pintarBH voltado para pessoas trans e travestis

O projeto surgiujogo de pintaragostojogo de pintar2015, com aulas apenas aos sábados, por iniciativajogo de pintarAna Isabel Lemos, assistente social, ejogo de pintarAdriana Valle, advogada trabalhista.

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Legenda da foto, Projeto funcionajogo de pintarsalajogo de pintarescola estadual cedida pelo governo; equipe conta com 12 professores e maisjogo de pintar30 monitores, todos voluntários

Logo na primeira tentativa, menosjogo de pintartrês meses depois, o grupo conseguiu três aprovações entre 12 alunos. Hoje, Raul estuda Filosofia na UFMG, Nathan frequenta Engenharia Ambiental no Cefet (Centro Federaljogo de pintarEducação Tecnológica)jogo de pintarMinas e Sofia cursa Biblioteconomia na UFMG.

Em 2016, o projeto ampliou as atividades: as aulas passaram a acontecer todos os dias à noitejogo de pintaruma sala cedida pela Secretariajogo de pintarEstado da Educação. A equipe conta com 12 professores e maisjogo de pintar30 monitores, todos voluntários.

Abrindo portas

A iniciativa visa a abrir portas para indivíduos cujas dificuldades ultrapassam as fronteiras da salajogo de pintaraula.

Depoisjogo de pintarconcluir o ensino médio, Nathan começou a pesquisar o que poderia fazer para se sentir melhor comjogo de pintaridentidade. Trabalhou para bancar consultas médicas e medicamentos, já que a família não aceitavajogo de pintaridentificação com o gênero masculino e não apoiava a ideia da transição.

Ele conta que fez a transiçãojogo de pintaruma só vez, por não querer ser visto como uma mulher homossexual. "Não tenho problema com a identidade trans, mas eu não iria assumir uma identidade lésbica, que não era a minha", diz.

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Legenda da foto, Aprovadojogo de pintarEngenharia Ambiental após cursar o Transenem, Nathan antes estudava por conta própria para evitar piadas transfóbicas e machistasjogo de pintarsalajogo de pintaraula

Quandojogo de pintaraparência começou a mudar com os hormônios, Nathan viu suas chances dentro da empresa - uma concessionáriajogo de pintarveículos - acabarem. "Eu tinha medojogo de pintarperder o emprego, e perdi", relembra.

Quando finalmente se sentiu confortável para voltar a estudar, inscreveu-sejogo de pintarum cursinho intensivo tradicional. A experiência reforçou as dificuldades que sentiajogo de pintarcasa e na rua.

Em pouco tempo, passou a frequentar apenas a salajogo de pintarredação e estudar por conta própria, para evitar piadas transfóbicas e machistasjogo de pintarsalajogo de pintaraula.

Em certa ocasião, conta ele, professores do cursinho disseram aos alunos que um colega docente estava se relacionando com um "traveco". Nathan ficou bastante incomodado.

"Eles falavamjogo de pintarforma vulgar e desrespeitosa. De uma hora para outra, isso se tornou corrente entre os professores, e os alunos também começaram a reproduzir as falas."

Com Raul, a pressão no ambiente escolar começou mais cedo. Antesjogo de pintarpassar pela transição, ainda na adolescência, desistiu da escola por não querer mais suportar as pressões típicas do período.

O diploma do ensino fundamental foi suficiente para conseguir um bom trabalho coordenando a áreajogo de pintarTecnologia da Informaçãojogo de pintaruma empresajogo de pintarprojetos industriais, onde ficou por 12 anos.

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Legenda da foto, Raul Capistrano é outro ex-aluno do Transenem aprovado no exame: 'O tema da redação era violência contra a mulher. Se não fosse bem naquele tema,jogo de pintarqual tema iria?'

Por muito tempo, a empresa foi um dos únicos lugares onde ele se sentia confortável. "Eu era lido como uma lésbica masculinizada, até que começaram a me pressionar a vestir roupas mais femininas para apresentar projetos fora da sede. Pesquisei por que não me sentia bem naquela situação e descobri a transsexualidade", comenta.

Pouco após entender que poderia fazer a transição, Raul iniciou as aplicaçõesjogo de pintarhormônio. O processo não é instantâneo - e nesse intervalo várias pessoas se afastaram dele.

"O momento mais incríveljogo de pintarsua vida é quando você descobre que é possível adequarjogo de pintaraparência física ao gênero com o qual se identifica. Aí você mergulhajogo de pintarcabeça. Só depois pensa sobre como será no emprego, na escola, na família", afirma.

Em dado momento durante a transição, Raul percebeu quejogo de pintarpresença na empresa passou a ser incômoda. "Minha aparência não coincidia com meu nome, mas não queriam respeitar o nome que tinha escolhido. Não queria mais usar o banheirojogo de pintarantes, mas não tinha jeito. Não entendia nadajogo de pintardireitos naquela época", relembra.

Redejogo de pintarapoio

Entre agosto e outubro, um grupojogo de pintarprofessores voluntários se organizou aos sábados na casajogo de pintarAdriana, uma das fundadoras do cursinho, para oferecer as aulas.

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Legenda da foto, No segundo ano do projeto, aulas foram ampliadas para todos os dias, das 19h às 22h; parceria com Estado viabilizou espaço e alimentação

Nathan conta que a experiência foi completamente distinta. "Na primeira aulajogo de pintarquímica, com um farmacêutico, quase demos aula para ele perguntando tudo sobre hormônios. Não tinha piada transfóbica. Era um ambiente receptivo,jogo de pintarque discutíamos assuntos que antes eu não podia conversar com ninguém."

Só depoisjogo de pintardescobrir que poderia se inscrever no Enem com seu nome social, Raul se deixou convencer por uma amiga a fazer a prova.

Em 2015, ele esteve entre as 278 pessoas no Brasil que tiveram a solicitação para uso do nome social aceita. Neste ano, esse número cresceu 46%.

A importância do uso do nome social para pessoas transsexuais é tão grande que no primeiro semestre do ano passado Raul havia desistidojogo de pintarenfrentar qualquer situaçãojogo de pintarque seu nomejogo de pintarregistro fosse mencionado.

Ele não conseguia mais passar por constrangimentos pelo fatojogo de pintarseu nome não condizer comjogo de pintarfisionomia, e por isso deixoujogo de pintarir a consultas médicas ou procurar trabalho.

Ele diz que se considerava morto socialmente no momentojogo de pintarque conheceu o Transenem. "Quando olhava no espelho, via a imagem que sempre quis ter na vida, mas me sentia péssimo. Vivia com minha mãe e não fazia nada, porque não tinha coragemjogo de pintarsairjogo de pintarcasa para buscar serviço."

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Legenda da foto, Raul havia desistidojogo de pintarenfrentar qualquer situaçãojogo de pintarque seu nomejogo de pintarregistro fosse mencionado; experiênciajogo de pintarcursinho foi 'transformadora', diz

Quase 20 anos após abandonar a escola, ele ainda se considerava incapaz por não ter absorvido conteúdosjogo de pintaruma educação que supostamente era acessível a todos.

A experiência no projeto, segundo ele, foi transformadora.

"Minha autoestima aumentava quando professores do Transenem explicavam as matérias e eu entendia. Eu percebia que não era burro. Isso nunca aconteceria num cursinho tradicional, onde teria o problemajogo de pintarme expor. Professoresjogo de pintarcursinho tradicional têm que fazer comédia para alunos prestarem atenção, e fazem piadas com pessoas trans."

As questões do examejogo de pintar2015 caíram como um presente para Raul. "A primeira questão foi sobre Simonejogo de pintarBeauvoir (um dos nomes mais importantes do feminismo). Fiquei tão feliz que tive náuseas com medojogo de pintarerrar. O tema da redação era violência contra a mulher. Se não fosse bem naquele tema,jogo de pintarqual tema iria?" relembra.

Transformando realidades

Neste ano, o segundo do projeto, as aulas foram ampliadas para todos os dias, das 19h às 22h. Por meiojogo de pintarparceria com a Secretariajogo de pintarEstadojogo de pintarEducação, o grupo conseguiu uma salajogo de pintaraula numa escola estadual, e oferece lanche aos alunos e alunas.

Os integrantes também se organizam para participarjogo de pintareventosjogo de pintarque possam arrecadar verba para custear passagens e material escolar para interessados e interessadas.

A atuação do coletivo também vai além dos limites da salajogo de pintaraula.

Affonso Novaes,jogo de pintar32 anos, professorjogo de pintarGeografia, conta que o grupo se mobiliza para participarjogo de pintarseminários, ir a peçasjogo de pintarteatro e a eventos que abordem o empoderamento das pessoas trans.

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Legenda da foto, Professor voluntário do Transenem, Affonso Novaes diz que a ação do grupo inclui participaçãojogo de pintaratividades extraclasse que tratam do empoderamento das pessoas trans

"As aulas não são centradas apenas no conteúdo do vestibular. Falamosjogo de pintarempoderamento,jogo de pintarocupação urbana. Precisamos ser uma estruturajogo de pintarapoio para alunos que já estão estudando, porque ali é um espaçojogo de pintarque você vive plenamente. Fora dali, o pau quebra", diz o ex-aluno Raul.

Questionados se percebiam algum aspecto negativojogo de pintarfrequentar um cursinho que não é aberto a qualquer pessoa, os participantes não citaram problemas.

Nathan foi aprovado na PUC-MG, mas após a matrícula soube que seu nome social só seria aceito na listajogo de pintarchamada, e não no sistema online ejogo de pintaroutros documentos acadêmicos.

"Se enviasse uma mensagem virtual a um professor, teria que explicar quem era e isso seria um constrangimento. Fiquei uma semana e saí", conta.

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Legenda da foto, Após aprovação no Enem, Nathan teve que lutar para ter seu nome social aceitojogo de pintartodas as atividades da faculdade: 'Se enviasse uma mensagem virtual a um professor, teria que explicar quem era e isso seria um constrangimento'

Para fazer a inscrição no Cefet, teve ajudajogo de pintarAna Isabel, uma das fundadoras do Transenem e que trabalha como assistente social na instituição. Assim, não teve problemas, e agora planeja ajudar os próximos alunos. "Quero abrir caminho para outras pessoas terem o mesmo respeito que eu tive."

Além do nome, a aparência física ainda é motivojogo de pintardiscriminação na universidade. Na Faculdadejogo de pintarFilosofia e Ciências Humanas da UFMG, não é diferente.

"Sei que não tenho problemas aqui porque mudei minha aparência física perfeitamente, como dizem que deve ser feito. Existem pessoas trans aqui que os outros sabem que são trans por motivos físicos e elas sofrem preconceito. Tenho dificuldadejogo de pintarincentivar as pessoas a virem para cá porque sei que podem sofrer", conta Raul.

Ainda assim, Keia,jogo de pintar51 anos, e Michelle,jogo de pintar42 anos, alunas do Transenemjogo de pintar2016, estão determinadas a vencer todos os obstáculos, e veem os alunos e alunas do ano passado como inspiração.

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Legenda da foto, Alunas da turna 2016 do Transenem: inspiração nos participantes aprovados no ano anterior

"Ano passado as aulas eram só aos sábados. e mesmo assim eles conseguiram passar com uma nota excelente. Se eles conseguiram, com certeza a gente também vai conseguir", afirma Keia.

A experiênciajogo de pintarRaul e Nathan revela que, para uma pessoa transsexual, acessar o ensino superior tem uma importância simbólica que extrapola a relevância do diploma acadêmico.

Para Raul, é nesse ponto que o Transenem está transformando a realidade. "Só ter passado por essa experiência prova que qualquer pessoa trans pode estar nesse lugar. Sei que se sair daqui hoje essa história minhajogo de pintarum semestre e meio já conta."

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Legenda da foto, Após trabalhar como cabeleireira por 32 anos, Kéia Brandão decidiu, aos 51 anos, procurar o Transenem para entrar na universidade