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Oito obstáculos que Isaquias Queiroz superou para se tornar o maior medalhista do Brasil numa Olimpíada:
O canoísta baiano Isaquias Queiroz,22 anos, fez história ao se tornar o primeiro brasileiro a conquistar três medalhas numa mesma ediçãoOlimpíada.
Remando sozinho, Isaquias conseguiu prata na C1 1000m e bronze na C1 200m (o 'c' vemcanoa, o primeiro número se refere ao númeroatletas e o segundo, à distância da provametros). E ao ladoErlonSouza, foi prata na C2 1000m.
Isaquias cresceuUbaitaba (a cerca370 km ao sulSalvador), cidade20 mil habitantes localizada numa região que no passado era habitada por índios tupiniquins.
Cortada pelo Rio das Contas, que deságua no destino turísticoItacaré, a cidade leva a canoa até no nome:denominação resulta da união dos vocábulos indígenas ubá (canoa pequena), y (rio) e taba (aldeia, cidade). Foi lá que Isaquias deu as primeiras remadas.
Aos 19 anos,2013, Isaquias alcançou o topo da canoagem mundial pela primeira vez, com ouro no C1 500m e bronze no C1 1000m.
Naquele ano, começara a trabalhar com o espanhol Jesús Morlan, um treinador obcecado com números que já somava cinco medalhas olímpicas no currículo, a maioria com David Cal, o atleta espanhol com mais pódios olímpicos da história.
O maior canoísta do Brasil teve que superar uma sérieobstáculos até a participação vitoriosa nos Jogos do Rio, que abre um possível novo capítulo olímpico para Tóquio-2020. Conheça oito momentos chave na trajetória do atleta.
1) Queimaduras
Aos três anos, ele sofreu um acidente com água fervente. Uma jovem que cuidavaIsaquias enquanto a mãe trabalhava como servente na rodoviária havia colocado água para ferver, a panela virou e atingiu a criança.
Com graves queimaduras, Isaquias passou um mês internado e quase foi desenganado pelos médicos, mas acabou se recuperando.
2) Rapto
O paiIsaquias morreu quando ele tinha apenas dois anos, e a mãe, Dilma, cuidava dele eoutros nove irmãos e irmãs (cinco biológicos e quatro adotados). Ao trabalhar, ela às vezes deixava as crianças trancadascasa.
Um dia, Dilma foi chamada no trabalho porque Isaquias estava sumido. Ficou preocupada porque uma mulher já havia ameaçado levar o menino, que foi encontrado depois, sozinho e chorando,uma roçacacau.
3) 'Sem-rim'
Em 2004, aos dez anos, um ano antescomeçar a praticar canoagem, Isaquias tentou escalar uma mangueira para ver uma cobra morta. Desequilibrou-se e caiucostas sobre uma pedra.
Com hemorragia interna, o menino precisou ser internadoUTI (UnidadeTratamento Intensivo) e teve um dos rins retirados, o que lhe obriga hoje a ingerir muito mais água do que o normal. O fato também fez nascer o "Sem-Rim", como passou a ser chamado na cidade.
4) Fora do Pan2011 eLondres 2012
Em julho2011, com apenas 17 anos, Isaquias conseguiu seu primeiro feito histórico na canoagem brasileira: foi campeão na C1 200m e vice no C1 500m no campeonato mundial júnior, realizado naquele ano na Alemanha.
Era o anoque Isaquias havia deixado Ubaitaba e ido viver no RioJaneiro, e enfrentou problemas para se adaptar à nova rotinatreinamentos, poucos amigos e dinheiro escasso. Acabou não sendo incluído na equipe que disputaria o Pan-AmericanoGuadalajara (México),outubro.
Revoltado com a ausência, ele voltou à cidade natal sem ter autorização e foi suspenso da seleção. Voltou a treinar apenas no ano seguinte e também ficou fora dos Jogos OlímpicosLondres2012.
5) Briga com confederação
Em setembro2013, após faturar um ouro (C1 500m) e um bronze (C1 1000m) no MundialCanoagem, Isaquias publicou um texto no Facebook reclamandofaltareconhecimento da Confederação BrasileiraCanoagem.
Intitulado "Desabafoum campeão triste", o texto criticava a faltaapoio financeiro após suas primeiras vitóriasmundiais adultos e deixava seu futuro na modalidadeaberto. Citava, como exemplo comparativo da faltaapoio no Brasil, um colega do Equador que havia recebido dinheiro e uma casa como prêmio pelo ouro.
"Estou pensando seriamenteabandonar a canoagem. Já não aguento mais apresentar bons resultados e não ter mudanças significativasminha vida", escreveu.
Na época, a confederação negou que tivesse prometido prêmios, reconheceu que ainda havia "muito a ser aprimorado"relação a apoios e disse que continuaria dando suporte a Isaquias.
6) Queda na reta final
No MundialCanoagem2014,Moscou, Isaquias liderou quase toda a prova individual dos 1000 m, mas acabou perdendo o titulo porque mergulhou na água comemorando antes da linhachegada.
Resultado: o ouro ficou com o alemão Sebastian Brendel (campeão da provaLondres-2012 e também no Rio). A organização chegou a dar a medalhaprata para Isaquias, mas depois da atualização do sistema o resultado foi alterado para "não completou a prova". "Meu mundo desabou, a única coisa que tinha para fazer era chorar", afirmou depois, sobre o episódio, à revista Isto É.
Ele acabou dando a volta por cima no mesmo mundial, ao faturar o bicampeonato no C1 500m e o bronze no C2 200 m com ErlonSouza.
7) Boicote a evento-teste
Em setembro2015,meio à boa fase da canoagem brasileira, a equipe brasileira, liderada por Isaquias, decidiu boicotar o evento-teste das Olimpíadas realizado no Rio,protesto contra atraso no pagamentosalários e condiçõeshospedagem numa instalação do Exércitoque estavam na ocasião.
Eles afirmaram que estavam havia oito meses sem receber do BNDES (Banco NacionalDesenvolvimento Econômico e Social), patrocinador da canoagem brasileira. "Uma das causas da nossa decisão é o respeito que se deve ter por um atleta. É a nossa formaprotestar", disse Isaquias na ocasião.
A confederação atribuiu o atraso a questões burocráticas e disse que os atletas não ficaram sem assistência no período.
8) Acidentecarro
Tambémsetembro2015, Isaquias sofreu um acidente na BR-101 após buscar o irmão no aeroportoIlhéus. Ele estava no volante, cochilou e perdeu o controle do veículo, que caiuuma ribanceira.
Isaquias, o irmão e um amigo saíram sem ferimentos. O acidente só não teve consequências mais graves porque Isaquias dirigiabaixa velocidade por causa da neblina.
"Só para confirmar, eu estou bem e não aconteceu nada com a gente. Com certeza foi milagreDeus", escreveu no Facebook o canoísta na época.
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