'Parecia que partedicas para apostar sportingbetmim estava morrendo': o quilombo que perdeu cemitériodicas para apostar sportingbetescravos para a Rio 2016:dicas para apostar sportingbet

Legenda do vídeo, Viladicas para apostar sportingbetmídia da Rio 2016 usou terreno onde ficava antigo cemitériodicas para apostar sportingbetescravos

Fugindo do local, os escravos teriam criado um dos primeiros quilombos do Estado do Rio, dentro da floresta.

"Foi uma sensação muito ruim ver aquela destruição ali. Parecia que uma partedicas para apostar sportingbetmim estava morrendo. Chegueidicas para apostar sportingbetcasa chorando, entreidicas para apostar sportingbetdesespero", relembra Adilson.

Em 2000, uma escavação na Capeladicas para apostar sportingbetSão Gonçalo do Amarante, que fica no centro do bairro e ao lado do terreno usado no condomínio, encontrou uma grande quantidadedicas para apostar sportingbetossos humanos, que especialistas acreditam serdicas para apostar sportingbetescravos, com base nas práticas da época.

Não é possível saber com certeza se há ossadas sob os prédios da Viladicas para apostar sportingbetMídia, mas os pesquisadores dizem que há grande possibilidadedicas para apostar sportingbetque este cemitério se estenda para dentro das delimitações do condomínio.

"É lógico que há enterramentos ali. Ali (no terreno) estavam todos os elementosdicas para apostar sportingbetum engenho que durou 200 anos. A mortalidadedicas para apostar sportingbetescravos era altíssima e o enterramento deles não tinha uma lógica, não tinha lápide nem cercado, disse à BBC Brasil o historiador ambiental Rogério Ribeirodicas para apostar sportingbetOliveira, da PUC-Rio, que participou das escavações.

Posse

A Fundação Cultural Palmares, órgão ligado ao Ministério da Cultura, reconheceu que parte da comunidade do Camorim se autodefine como remanescentedicas para apostar sportingbetquilombos.

Para ser reconhecida pelo governo como quilombola, uma comunidade precisa primeiro se autodeclarar como remanescentedicas para apostar sportingbetquilombo.

Depois, precisa enviar à Fundação documentos que comprovem a história do local e receber a visitadicas para apostar sportingbetum funcionário do órgão, que vai conferir as informações recebidas.

Hoje, os descendentes chamam também o terreno da antiga casa grande e do engenhodicas para apostar sportingbet"quilombo", já que tanto os vestígios na floresta quanto os do local onde trabalharam os negros - trazidos, emdicas para apostar sportingbetmaioria,dicas para apostar sportingbetAngola - foram importantes para o reconhecimento oficial.

Conhecido como "Mestre Guerreiro" pelos seus alunosdicas para apostar sportingbetcapoeira, Adilson, que hoje é guiadicas para apostar sportingbetecoturismo no parque e presidente da Associação Cultural do Camorim (Acuca) é o responsável por mobilizar a comunidade.

No terreno onde hoje está a Viladicas para apostar sportingbetMídia ele pretendia construir um centro cultural para manter vivas as tradições africanas.

"Queremos esse território para a preservação da nossa história, que é também a história do Brasil. Foram os meus antepassados que construíram o Riodicas para apostar sportingbetJaneiro", afirma.

Crédito, FELIPE BARCELLOS/BBC BRASIL

Legenda da foto, "Foram os meus antepassados que construíram o Riodicas para apostar sportingbetJaneiro", afirma Adilson

A comunidade quilombola reivindicou também o títulodicas para apostar sportingbetposse coletiva das terrasdicas para apostar sportingbetvalor histórico e cultural na região, incluindo parte do local onde foi construída a Viladicas para apostar sportingbetMídia, ao Instituto Nacionaldicas para apostar sportingbetColonização e Reforma Agrária (Incra), ligado ao Ministério do Desenvolvimento Agrário.

Depoisdicas para apostar sportingbetobterem o reconhecimento como comunidades quilombolas, os grupos podem pedir ao Incra a demarcação e a regularizaçãodicas para apostar sportingbetseu território.

A BBC Brasil teve acesso ao relatóriodicas para apostar sportingbetum antropólogo do Incra,dicas para apostar sportingbet2009, atestando que há vestígios do quilombo e do engenho na região e dando início ao processo.

Até agora, o moradores aguardavam o início da demarcação.

Procurado pela BBC Brasil, o Incra, no entanto, afirmou que o processo foi arquivadodicas para apostar sportingbet2014, por entender que "as áreas pleiteadas não se tratamdicas para apostar sportingbetregularizaçãodicas para apostar sportingbetterritório indispensável para a garantia da reprodução física, social e econômica da comunidade reconhecida como remanescentedicas para apostar sportingbetquilombo".

O órgão diz ter notificado a comunidade, mas Adilson nega ter recebido qualquer notificação. Ainda é possível, segundo o próprio Incra, pedir o desarquivamento e o reinício do trâmite.

O condomínio, chamado Verdant Valley Residence, édicas para apostar sportingbetresponsabilidade da construtora Living Amparo Empreendimentos Imobiliários, do grupo Cyrela.

Para o historiador Rogério Ribeiro, a empresa deveria ter feito um mapeamento arqueológico do local antesdicas para apostar sportingbetcomeçar a construir.

"Agora tudo o que estava ali foi perdido, acabou", afirma.

Por e-mail, a Living disse à BBC Brasil que "não tem conhecimentodicas para apostar sportingbetqualquer reivindicação da área pela comunidade quilombola".

Comprovação

Segundo Adilson Almeida, os primeiros vestígios dos "escravos fujões" do engenho estão dentro da floresta do Maciço da Pedra Branca - são louças, garrafas e enxadas encontradasdicas para apostar sportingbetgrutas próximas, alémdicas para apostar sportingbetfundaçõesdicas para apostar sportingbetcasas que datam dos anos 1600 e 1700.

A reivindicação dos quilombolas, no entanto, não engloba o parque estadual, e, sim, a área onde ficava o Engenho do Camorim e a capeladicas para apostar sportingbetSão Gonçalo do Amarante, hoje na praça central do bairro.

Um dos desafios para o reconhecimento das comunidades quilombolas é o fatodicas para apostar sportingbetque seus registros históricos costumam ser orais, diz o advogado Luiz Peixoto, membro da Comissãodicas para apostar sportingbetDireitos Humanos da OAB, que acompanha o pedidodicas para apostar sportingbetposse do território pelos quilombolas do Camorim.

Foi esse, por exemplo, o primeiro contatodicas para apostar sportingbetAdilson Almeida com seus antepassados.

Crédito, FELIPE BARCELLOS/BBC BRASIL

Legenda da foto, Adilson quer reaver parte do terreno para criar um centro cultural no lugar

"O bisavô do meu pai foi capitão do mato aqui e capturava seus irmãos, açoitava e levava para o engenho. É algo que me entristece muito, nem gostodicas para apostar sportingbetfalar. Mas tenho que falar porque está dentro da história."

Mas isso não quer dizer que não sejam necessárias provas concretasdicas para apostar sportingbetsuas origens.

"No processodicas para apostar sportingbetreconhecimento e demarcação das comunidade quilombolas, segundo a lei, faz-se um levantamento não só arqueológico, mas cultural da comunidade, para comprovar a descendência dos escravos. Tudo isso já foi feito no Camorim", explica Peixoto.

"O pedidodicas para apostar sportingbetposse assegura, por si só, a proteção daquela terra. Construir ali significa causar um dano irreparável oudicas para apostar sportingbetdifícil reparação."

Ao receber, pela BBC Brasil, a notíciadicas para apostar sportingbetarquivamento da reivindicação dos quilombolas, Peixoto afirmou que precisa, ainda, conteúdo do processo e do a justificativa para a decisão, mas não descartou uma retomada do pedido.

"Existe uma disputa pelo território, que já é ocupado pela comunidade desde a época da escravidão."

Floresta 'no quintal'

Peixoto defende ainda que a obra viola o direito ambiental, por ter sido erguida próximo à àrea do parque, ter causado a derrubadadicas para apostar sportingbetárvores centenárias e o aterrodicas para apostar sportingbetnascentes fluviais.

A construtora Living e a prefeitura do Rio afirmam, no entanto, que o condomínio não está dentro da área protegida e que todas as licenças ambientais necessárias à obra foram obtidas.

No site da Living, o projeto do Verdant Valley Residence diz ser um "condomínio-clube".

Em conversa com um corretor responsável pela venda dos apartamentos, a reportagem ouviu que o local terá salãodicas para apostar sportingbetfestas para 300 pessoas, quadras esportivasdicas para apostar sportingbettamanhos oficiais e até uma van privativa que levará os moradores até a Barra.

"Você terá uma floresta eternamente sua, seu quintal será uma floresta", afirmou.

A construção do condomínio no terreno do antigo engenho carrega também uma ironia. Em novembrodicas para apostar sportingbet2015, 11 operários foram resgatados da obradicas para apostar sportingbetcondições degradantes, consideradas análogas ao trabalho escravo.

A construtora assinou um Termodicas para apostar sportingbetAjustedicas para apostar sportingbetConduta (TAC) e se comprometeu a resolver o problema.

Procurada pela BBC, a prefeitura do Rio disse que o empreendimento imobiliário foi construídodicas para apostar sportingbetterreno particular e seguindo os parâmetros urbanísticos determinados para o local. Mas não quis comentar a reivindicação dos quilombolas.

O advogado Luiz Peixoto, no entanto, esclarece que,dicas para apostar sportingbetacordo com a Constituição, a propriedade dos quilombolas, por ser anterior, se sobreporia a qualquer outra.

Resgate

Crédito, FELIPE BARCELLOS/BBC BRASIL

Legenda da foto, Bairro tem 20 mil moradores, mas apenas 20 famílias se identificam como quilombolas

Atualmente, o bairro do Camorim tem cercadicas para apostar sportingbet20 mil moradores, mas apenas 20 famílias - pouco menosdicas para apostar sportingbet100 pessoas - se identificam como descendentesdicas para apostar sportingbetafricanos escravizados.

Em 2009, quando teve início o processodicas para apostar sportingbetreconhecimento, os autodenominados quilombolas eram 80 famílias.

A queda drástica na identificação das famílias, segundo Adilson, se relaciona com a conversão dos moradores a religiões neopentecostais.

"Muitos, quando começam a ir para a igreja, acham que ser quilombola é vergonhoso, deixamdicas para apostar sportingbetlado a capoeira e as danças que ensinamos. Na minha família mesmo aconteceu isso", lamenta.

Para ele, este é um motivo a mais pelo qual a manutenção do sítio arqueológico no local é importante.

"Queremos resgatar ao menos uma parte do terreno para manter lá a nossa memória, alémdicas para apostar sportingbetfortalecermos os projetos sociais que existem no Camorim."

Os projetos incluem aulasdicas para apostar sportingbetcapoeira, danças e jogos africanos, uma horta coletiva e educação ambiental para crianças.

"Tenho fé que vou conseguir esse espaço. Vou até a última instância."