No caminho do BRT: as histórias por trás do legado da Rio 2016:1xbet 45

Crédito, Felipe Barcellos

Legenda da foto, Reportagem da BBC Brasil ouviu cariocas1xbet 45todo o trajeto1xbet 45linha que cruza a cidade, do aeroporto ao Parque Olímpico.

Parada Galeão - Tom Jobim 2

Crédito, Felipe Barcellos

Legenda da foto, Engraxate apertou mão1xbet 45Usain Bolt, mas diz que movimento do aeroporto já foi maior que na Olimpíada

Na entrada do embarque do Galeão, Jackson Augusto1xbet 45Melo,1xbet 4522 anos, engraxa sapatos há 13 e está acostumado a conhecer estrangeiros, celebridades e atletas. Por isso, a movimentação da Olimpíada não lhe impressiona - exceto pelo momento1xbet 45que apertou a mão do velocista jamaicano Usain Bolt. "É bom porque está dando mais movimento, graças a Deus. Mas já teve maior."

O BRT, no entanto, mudou1xbet 45ida para o trabalho desde a comunidade da Maré, onde vive. "É bem mais rápido, foi uma melhoria pra nossa vida."

Ele diz querer assistir os jogos1xbet 45futebol olímpico, ou ao menos o masculino, mas não parece empolgado com o legado dos Jogos para a cidade.

"Pra mim não mudou nada. Acho que depois da Olimpíada, estão dizendo aí até que vai piorar." Como? A reportagem pergunta. "Não sei nem te explicar."

Parada Madureira

Crédito, Felipe Barcellos

Legenda da foto, "Na Olimpíada é aquela coisa: a preocupação é maior com os turistas do que com a gente", diz Thalita

Em meio a discussões entre passageiros e funcionários, rapazes tentando burlar as portas automáticas1xbet 45vidro para entrar no veículo mais rápido e voluntários a caminho do Parque Olímpico, os universitários Daniel Mendes,1xbet 4520 anos, e Thalita Ferreira,1xbet 4521 anos, esperam o segundo ônibus rápido para chegar ao famoso Mercadão1xbet 45Madureira.

"O BRT melhorou o trânsito, mas ainda tem o problema da superlotação. Vejo muitas pessoas reclamando que antes tinham mais linhas1xbet 45ônibus e agora elas ficam dependentes do BRT. Em vez1xbet 45desafogar as linhas que existiam, eles tiraram linhas e encheram o BRT. Talvez tenha algo bom aí [no legado da Olimpíada], mas agora só consigo ver pontos negativos para a cidade", afirma Daniel.

"Para mim, é diferente. Antes, eu podia pegar um ônibus só da Colônia Juliano Moreira, onde moro, para Madureira. Agora ficou mais picotado do que antes. Se tiver trânsito, é mais rápido com o BRT. Mas se não tiver, ir1xbet 45BRT demora mais. Os problemas sempre existiram, mas, na Olimpíada, tem aquela coisa: parece que a preocupação é maior com os turistas do que com a gente. A Zona Sul está sempre muito bem estruturada, mas a Zona Oeste não", diz Thalita.

Nenhum dos dois tem vontade1xbet 45acompanhar as competições.

Crédito, Felipe Barcellos

Legenda da foto, Considerada um dos principais legados olímpicos, linha vai1xbet 45aeroporto a bairro nobre, cruzando subúrbios do Rio

Questionada pela BBC Brasil, a Secretaria Municipal1xbet 45Transportes do Rio confirma que linhas1xbet 45ônibus foram extintas ou tornaram-se alimentadoras das estações do BRT. Mas afirma que "os moradores da região não ficaram desassistidos1xbet 45transporte público, ao contrário, têm à disposição um transporte mais rápido e confortável".

Crédito, Felipe Barcellos

Legenda da foto, "Pra falar a real, eu não tô nem aí para a Olimpíada", diz Thainá

Thainá Germana,1xbet 4520 anos, está desempregada. Ao menos três vezes por semana, ela leva a filha Julia,1xbet 453 anos, ao Parque Madureira.

Inaugurada1xbet 452012, o a área1xbet 45lazer foi um dos mais celebrados legados dos Jogos na região norte e recebeu os anéis olímpicos doados por Londres, além1xbet 45equipamentos esportivos como quadra1xbet 45basquete e a segunda maior pista1xbet 45skate do país, apta a receber competições.

Mesmo1xbet 45um dia1xbet 45semana, e com chuva, o local está cheio1xbet 45adolescentes, pessoas praticando exercícios e famílias com crianças.

"Aqui, era só mato e casas. Agora, ficou mais valorizado, a área1xbet 45que a gente mora ficou mais vista. E tem bastante espaço para as crianças brincarem, que não tinha antes", diz Thainá.

Durante a Rio 2016, Madureira é um dos polos1xbet 45programação cultural e terá shows, esportes e um telão transmitindo as competições. Mas depois dos jogos, frequentadores se perguntam como ficará a segurança no local.

"Por causa da Olimpíada, tem mais policiamento aqui. Antes, não tinha muito. Depois que o parque foi construído, o pessoal fala que os assaltos ficaram piores, que tem mais aqui dentro do parque do que fora."

Perguntada sobre o ânimo para ver os jogos, Thainá, que chegou a ser jogadora semiprofissional1xbet 45futebol, desabafou: "Pra falar a real, eu não tô nem aí para a Olimpíada. Mas, se eu não estiver fazendo nada,1xbet 45repente posso vir aqui e assistir."

"Já me interessei pela Olimpíada, mas não me interesso mais, porque o mundo está horrível. E o povo só quer saber1xbet 45Olimpíada, não está nem aí para os hospitais."

Parada Ipase

Crédito, Felipe Barcellos

Legenda da foto, Rapper teve projeto social desmontado após remoção por causa do BRT

Cruzamos com o rapper e grafiteiro Gil Metralha,1xbet 4530 anos, diante1xbet 45um muro grafitado que dizia "R$ para a Olimpíada tem1xbet 45montão, para a saúde não". O muro recebe os passageiros que descem do BRT na estação Ipase, no meio1xbet 45uma avenida1xbet 45comércio movimentada do bairro1xbet 45Praça Seca, zona oeste do Rio.

Montado na bicicleta equipada com caixas1xbet 45som que tocavam suas músicas, Gil explicou que morava na esquina daquele quarteirão,1xbet 45onde foi removido para dar espaço à nova linha .

"Em 2013, derrubaram minha casa. Deram uma compensação, mas a casa valia mais. Comprei um apartamentinho no Recreio (dos Bandeirantes), mas quero voltar para cá", diz.

"Eu tinha um projeto social no terraço da minha casa, que fiz por conta própria. Construí uma pista e dez skates. Os meninos que tiravam notas boas na escola podiam andar comigo, mas tinham que me mostrar o boletim. Conheço todos esses meninos aqui que você está vendo. Mas o projeto só durou um ano. O BRT passou, terminou tudo."

Mesmo assim, o rapper acredita que a Olimpíada pode trazer coisas positivas à cidade. "Para mim não significou quase nada, mas não posso ser egoísta. Pode influenciar crianças a praticar esportes. Já está influenciando."

Parada Taquara

Crédito, Camilla Costa

Legenda da foto, Para Isabel, remoção por causa do BRT da olimpíada significou dívida-surpresa1xbet 45R$ 75 mil

Enquanto a parada do BRT Transolímpica não fica disponível próximo ao seu condomínio1xbet 45Colônia Juliano Moreira, a costureira baiana Isabel Ribeiro,1xbet 4557 anos, precisa pegar uma van até a parada Taquara, do BRT Transcarioca, para ter acesso ao transporte público.

Hoje1xbet 45dia, no entanto, ela sai pouco1xbet 45casa, já que não tem dinheiro para o transporte.

Isabel vivia na ocupação1xbet 45uma antiga fábrica1xbet 45lenços na rua Ipadu, no bairro1xbet 45Jacarepaguá. O local foi demolido para as obras da nova linha. Como a maioria dos antigos vizinhos, ela recebeu um apartamento do programa 'Minha Casa, Minha Vida' no bairro próximo, mas, agora, recebeu também um problema.

Sem receber da prefeitura o valor dos apartamentos, o Banco do Brasil, agente financeiro da obra, têm cobrado dos moradores uma dívida1xbet 45R$ 75 mil.

O imbróglio a fez perder o emprego, infartar algumas vezes e ter seu nome sujo, o que a impede1xbet 45conseguir aposentadoria pelo INSS para fazer uma cirurgia cardíaca.

"Eu vivia1xbet 45um galpão numa casa arrumadinha, mas onde as telhas já caíam com a chuva e o esgoto transbordava. Quando peguei a chave desse apartamento, eu chorei muito porque pedia a Deus para ter um cantinho. Mas eu não sei se isso aqui é meu, filha", diz.

"Eu assinei um documento com o Banco do Brasil e não recebi um contrato. Recebo cartas1xbet 45cobrança, mensagens1xbet 45celular, telefonemas, mas não tenho resposta da prefeitura. Podem me dar uma ordem1xbet 45despejo. Tenho muito medo."

Apesar da mudança1xbet 45moradia, que diz ter sido para melhor, Isabel se recente do legado olímpico.

"Pra mim a Olimpíada não significa nada. Essa Transolímpica só veio para acabar com minha vida, porque se não fosse essa maldita linha eu não estava passando por isso. Está tudo bloqueado: meu CPF, meu CNPJ. Eu nunca devi nada a ninguém", afirma.

"Comparando com onde eu morava, isso aqui é como estar morando na Barra. É um patrimônio maravilhoso, mas acabou com nossa vida."

Procurada pela BBC Brasil, a Secretaria1xbet 45Municipal1xbet 45Habitação e Cidadania do Rio (SMHC) afirmou que "o processo1xbet 45registro dos contratos dos imóveis do Minha Casa, Minha Vida está1xbet 45andamento". "Os contratos serão entregues aos moradores após a conclusão desse processo", diz.

Alguns moradores estão há quase dois anos no apartamento sem tenham recebido o documento.

A secretaria disse ainda que "já está regularizando o pagamento"1xbet 45todas as parcelas dos apartamentos junto ao Banco do Brasil. Mas não deu prazos para que a dívida seja quitada.

"Sempre que toma ciência1xbet 45reclamações1xbet 45moradores, a SMHC emite ofícios solicitando ao banco que cesse as notificações (de cobrança)", afirmou o órgão.

Nos últimos dias, no entanto, Isabel continuou a receber mensagens1xbet 45sobre a dívida.

O Banco do Brasil afirmou, por e-mail, que "efetua a cobrança ativa das parcelas1xbet 45atraso por meio1xbet 45seus canais1xbet 45cobrança".

"Para que a situação seja regularizada, aguardamos da Prefeitura do Rio1xbet 45Janeiro, a efetivação dos pagamentos prometidos aos beneficiários contemplados".

Parada Curicica

Crédito, Felipe Barcellos

Legenda da foto, "Estou procurando competições gratuitas para ir", diz ex-atleta que teve loja removida para passagem1xbet 45BRT olímpico

Para a comerciante Ana Thelly Nascimento da Silva,1xbet 4530 anos, a remoção foi menos controversa do que a1xbet 45outros moradores1xbet 45sua região, na Vila União,1xbet 45Curicica. Entre as linhas Transcarioca e Transolímpica, ela teve seu brechó1xbet 45móveis removido para um local próximo por causa da nova linha.

Agora, o brechó fica diante1xbet 45um amontoado1xbet 45pequenas casas1xbet 45dois andares, espremidos ao lado do viaduto por onde passará o BRT, ainda1xbet 45obras.

No último mês, Ana teve o novo local1xbet 45trabalho interditado para que fossem feitos reparos na construção. A reportagem a encontrou no momento1xbet 45que recebia autorização para voltar.

"O pessoal da empresa que faz a obra me pediu para fazer um cálculo do quanto eu faturaria, para me reembolsarem. E fizeram a mesma coisa com as pessoas que moram aqui: alugaram apartamentos mobiliados para que eles ficassem. Mas tudo foi tranquilo. Não teve danificação nas paredes, não teve nada", diz.

Ex-atleta, ela diz que seu trajeto1xbet 45casa para o trabalho ficou mais longo com o BRT, já que a linha1xbet 45ônibus que a levava diretamente1xbet 45um local a outro foi extinta. Mesmo assim, acredita que o legado para a cidade pode ser positivo.

"Sou muito patriota. Problemas acontecem1xbet 45tudo o que a gente vai fazer, mas a olimpíada é uma coisa boa para todo mundo, não só para os atletas. E tudo tem um sacrifício. Algumas coisas vão dar errado, mas muita coisa vai ser muito boa. Com essas obras grandes vai ter menos trânsito no Rio1xbet 45Janeiro", afirma.

Parada Terminal Alvorada - Final do trajeto

Crédito, Felipe Barcellos

Legenda da foto, Sueli diz que faturamento aumentou com ampliação do BRT

No fim da manhã, o Terminal Alvorada, ampliado e reinaugurado1xbet 452013, está repleto1xbet 45soldados da Força Nacional, funcionários1xbet 45hoteis e shoppings da Barra, voluntários e turistas chegando do Galeão ou saindo1xbet 45seus hoteis rumo às praias da zona sul.

Sueli Silva Santos,1xbet 4545 anos, trabalha há pouco mais1xbet 45um ano1xbet 45uma banca1xbet 45revistas no terminal - que fica cinco paradas após o Parque Olímpico. "Aqui é bem mais movimentado. O faturamento da banca aumentou e meu salário também. Não vejo ninguém reclamar do BRT, não", afirma.

"Estou gostando da Olimpíada. De vez quando ajudo uns estrangeiros. Eles chegam pedindo as coisas e eu não entendo nada, mas desenrolo tudo. Estava louca para assistir os Jogos, se tivesse uma televisão aqui (na banca). Se pudesse, eu via tudo."

Crédito, Felipe Barcellos

Legenda da foto, Aldair diz que obras o ajudaram a conseguir emprego e "esquentar carteira"

O cabeleireiro Aldair José,1xbet 4544 anos, chegou ao final chegou ao final da Transcarioca vindo da Penha, na zona norte - um trajeto1xbet 45cerca1xbet 45três horas que hoje faz1xbet 45menos1xbet 451h30.

"Para mim o BRT mudou bastante, a princípio para o bem. Já me ajudou com emprego. Eu estava desempregado e acabei trabalhando na construção da via, como operador1xbet 45trânsito, por 11 meses. Deu uma esquentada na minha carteira, que andava fria. Também me ajudou porque estou vindo aqui começar1xbet 45outro emprego temporário, pelo período olímpico", diz.

"Acho que a Olimpíada é legal para o mundo e para o Rio. Gera turismo, dinheiro, emprego. Mas tem o outro lado, que fica esquecido, que é a saúde e a segurança aqui. Isso está terrível. Vão arrecadar muito dinheiro, mas pensamos sobre se esse dinheiro vai ser investido no Rio depois. Espero que seja."

*Esta reportagem foi atualizada às 21h17 do dia 081xbet 45agosto, para acrescentar a resposta da prefeitura do Rio sobre a situação dos moradores1xbet 45Colônia Juliano Moreira.