Rio 2016: cinco temas sensíveis para prestar atenção durante a festapixbet365 comabertura:pixbet365 com
Segundo a imprensa os organizadores da cerimôniapixbet365 comabertura planejavam um segmentopixbet365 comque, ao sompixbet365 comGarotapixbet365 comIpanema,pixbet365 comTom Jobim e Viniciuspixbet365 comMoraes, a modelo internacional Gisele Bündchen desfilaria pelo campo do Maracanã e seria abordada por um jovem carioca numa tentativapixbet365 comassalto. Pouco depois policiais abordariam o assaltante, que seria protegido pela gaúcha.
O tema gerou tamanha repercussão negativa entre a população e a mídia que um dos diretores artísticos do espetáculo, o cineasta Fernando Meirelles, que dirigiu o filme Cidadepixbet365 comDeus, veio à público para negar a inclusão do segmento. "(Seria como) essa coisa que acontecepixbet365 comalguém invadir o campo, e os caras (policiais) vão tirar. Era para fazer uma selfie", dissepixbet365 comcoletivapixbet365 comimprensa.
No Twitter, Meirelles chegou a negar que o "assalto" tivesse sido incluído na abertura, apesarpixbet365 comfotos e vídeos publicados na imprensa após um ensaio geral no último domingo.
Para Julita Lemgruber, ex-ouvidora da Polícia Militar do Estado do Riopixbet365 comJaneiro e diretora do Centropixbet365 comEstudospixbet365 comSegurança e Cidadania da Universidade Cândido Mendes, incluir um assalto na abertura dos Jogos seria algo "absurdo".
"Felizmente alguém com o cérebro funcionando acordou a tempo e percebeu que tratava-sepixbet365 comuma ideia estapafúrdia. Quando li isso na imprensa nem pude acreditar quepixbet365 comfato era uma proposta, pensei que só poderia ser uma piadapixbet365 comextremo mau gosto", diz.
Na visão da especialista, a análise passa mais pelo impacto que o segmento teria sobre os brasileiros do que a mensagem que poderia passar para o mundo. "Não vou ficar elocubrando sobre a visão que o estrangeiro teria sobre algo que nem vai mais acontecer. O fato é que devido ao númeropixbet365 comhomicídios no Brasil e a situação da segurança pública no Riopixbet365 comJaneiro, com a falência das UPPs e um clima dramático, seria como fazer chacota da situação, algo totalmente inaceitável", diz.
Lemgruber também destaca o contraste entre a presençapixbet365 compoliciais, Força Nacional e militares nas áreaspixbet365 comcompetições olímpicas, sobretudo a Barra da Tijuca e a Zona Sul do Rio, e a situação atualpixbet365 comfavelas como a Maré e o Alemão, que nos últimos dias têm sido alvopixbet365 comoperações policiais e intensos tiroteios.
"De um lado temos a tranquilidade trazida pela forte militarização nas áreas da Olimpíada, e do outro as cenas absolutamente dramáticas para quem mora nas favelas do Rio, que têm acordado com tiroteios todos os dias. De um lado a presença massivapixbet365 comforçaspixbet365 comsegurança, e do outro essa higienização. É quase um teatro, uma pantomima da realidade. No palco essa farsa, e nas coxias, nos bastidores, esconde-se o que ninguém quer mostrar", avalia.
2 - Mudaspixbet365 comárvores e legado ambiental: "Nada mais do que uma peçapixbet365 commarketing"
Outro tema que pode gerar polêmica é o da sustentabilidade e legado ambiental dos Jogos. Segundo informações divulgadas pela imprensa, os 12 mil atletas que desfilarão pelo Maracanã quando cada delegação será anunciada devem ganhar mudaspixbet365 comárvores que serão plantadas no Parque Radical, no Complexopixbet365 comDeodoro, na zona norte do Rio, o que deve dar início a uma espéciepixbet365 com"floresta olímpica" no futuro.
Para o biólogo Mário Moscatelli, ativista que encabeça campanhas e apelos pela despoluição e recuperação da baíapixbet365 comGuanabara e do sistemapixbet365 comlagos do Riopixbet365 comJaneiro há quase 30 anos, o segmento não é "nada mais do que uma peçapixbet365 commarketing, um ato carnavalesco, espetaculoso, que não se preocupa com o que virá depois".
"Não é missão dos atletas salvar a natureza. Eles estão aqui para competir. Serão 12 mil árvores, e eu espero que ao menos 10% delas sobrevivam. Plantar é fácil, cuidar é difícil. Vamos ver quantas sobreviverão daqui um ano", indica.
Sobre as polêmicaspixbet365 comtorno da ausênciapixbet365 comlegado ambiental dos Jogos no Riopixbet365 comJaneiro, Mario ressalta tratar-sepixbet365 com"mais uma promessa não cumprida, a exemplo do que ocorreu nos Jogos Panamericanos,pixbet365 com2007".
Os organizadores tinham prometido tratar 80% do esgoto que deságua na baíapixbet365 comGuanabara. Mas, segundo o Estado do RJ, eles conseguiram apenas aumentar a taxapixbet365 com11% para 51% - e não foi possível despoluir a Lagoa Rodrigopixbet365 comFreitas nem as lagoas da região da Barra da Tijuca e Jacarepaguá,
"Não se pode falarpixbet365 comzero legado ambiental, porque trataram um pouco do esgoto que chega à baía. Nos prometeram um avião Jumbo e nos entregaram um teco-teco. Adianta muita coisa? E se houver crítica na mídia e entre a população, após a abertura, é tarde demais. Para a natureza, pouco importa criticar agora. Isso deveria ter sido feito cinco anos atrás", diz.
Moscatelli lamenta o que considera uma "oportunidade perdida". "Mais uma vez perdemos uma chance, como nos Jogos Panamericanos. Vai demorar para termos um estímulo tão grande como uma Olimpíada para resolvermos os problemas da baía e das lagoas", ressalta.
3 - Samba, funk e clichês: "Somos múltiplos, mas ao nos apresentarmos e dizer quem somos é impossível não haver reducionismos"
Apesarpixbet365 comterem anunciado o distanciamentopixbet365 comclichês e estereótipos para ilustrar a cultura brasileira, segundo relatos da imprensa, os organizadores incluíram na abertura diversos segmentospixbet365 comque aparecem o samba e o funk, alémpixbet365 comterem convidado cantores e artistas que construíram suas carreiraspixbet365 comtorno destes ritmos. Ao ladopixbet365 comcada delegação devem entrar ritmistas tocando tamborins e cuícas e, ao final do show, escolaspixbet365 comsamba como Mangueira, Portela e Mocidade Independente transformarão o Maracanã num grande Carnaval.
Para Roberto DaMatta, um dos mais respeitados antropólogos do país, historiador formado pela UFRJ e PhDpixbet365 comantropologia pela Universidadepixbet365 comHarvard, apesar das críticas e polêmicas que a inclusão dessas referências podem suscitar, é normal que ao nos "apresentarmos para o outro, ocorram reducionismos".
"É muito difícil não cairpixbet365 comclichês e estereótipos porque ao dizer quem somos estamos essencialmente fazendo um exercíciopixbet365 comredução. Na realidade, sabemos que somos múltiplos, mas neste momento precisamos colocar uma etiqueta que diga que somos brasileiros, isso é natural, não tem saída", disse ele à BBC.
Para ele, se a cerimônia ocorresse na Alemanha, seriam retratados elementos como a cerveja, as paisagens da Baviera, a Oktoberfest. Se fosse na França, apareceriam Edith Piaf, queijo camembert e o can-can, se fosse na Itália, certamente estaria incluída uma referência a alguma ópera ou até ao Vaticano e ao papa, e se fosse na Rússia começaria com a apresentaçãopixbet365 comum balé russo.
"Pelo que eu ouvi na mídia não vai ser só samba e funk. Também vai ter bossa nova, tropicália, Gilberto Gil, Caetano Veloso, referências às praias cariocas, à hospitalidade brasileira", diz.
Sobre o momentopixbet365 comque o 14 Bis, invençãopixbet365 comSantos Dumont no início do século 20, é montado e levanta voopixbet365 compleno Maracanã, e as possíveis criticaspixbet365 comque este seria um dos poucos momentospixbet365 comque grandes conquistas do Brasil são ressaltadas no show, DaMatta diz que seria difícil retratar outros feitos que não esse.
"Não inventamos nada. Não temos uma grande marcapixbet365 comautomóveis, não temos nenhuma grande invenção tecnológica que não o 14 Bis. Como é que você mostraria o Carlos Chagas descobrindo a doençapixbet365 comChagas num show como esse? Com um microscópio no meio do estádio? O que mais incluiríamos além do Santos Dumont?", questiona.
DaMatta diz que, apesar das potenciais críticas, o brasileiro precisa terpixbet365 commente que, apesar do fatopixbet365 como momento serpixbet365 comcrise inédita na história contemporânea do país e que "não se trata do momento ideal para sediar uma Olimpíada", há outros lugares do mundopixbet365 comsituação pior. "Imagina fazer uma Olimpíadapixbet365 comParis neste momento, com o númeropixbet365 comataques terroristas lá recentemente. Quem iria?", diz.
pixbet365 com 4 - pixbet365 com LGBTs e diversidade sexual: "É melhor do que nada, mas Brasil ainda mata muitos LGBTs e momento atual épixbet365 comretrocesso"
Incluído na abertura dos Jogos como um dos pontospixbet365 comdestaque, o tema da diversidade sexual deve gerar debate tanto entre os setores conservadores que desaprovam a ascensão dos LGBTs e da união entre pessoas do mesmo sexo, como entre ativistas da área, devido ao potencial usopixbet365 comclichês ou ausênciapixbet365 comcríticas ao Brasil.
Felipe Oliva, ex-membro do Conselho Municipalpixbet365 comPolíticas LGBTpixbet365 comSão Paulo e integrante do Grupopixbet365 comAdvogados pela Diversidade Sexual epixbet365 comGênero, vê com bons olhos a inserção da temática no show e a participação da modelo internacional Lea T, primeira transexual a ter papelpixbet365 comdestaque numa abertura na história dos Jogos.
Para ele, no entanto, é importante lembrar que, apesarpixbet365 comtodo o climapixbet365 comfesta e celebração da diversidade, os LGBTs ainda são mortospixbet365 comgrande número no Brasil e o país trilha atualmente um caminhopixbet365 comretrocesso e obscurantismo na área.
"Há uma forte contradição entre a teoria e a prática. É interessante terem dado essa oportunidade inédita aos transexuais, mas ao mesmo tempo o Brasil é o país que mais mata transexuais e travestis no mundo", diz.
Dados da ONG Transgender Europe (TGEU) compilados entre janeiropixbet365 com2008 e marçopixbet365 com2014 indicam que o Brasil é o país que mais mata travestis e transexuais no mundo, com 604 mortes registradas no período. De acordo com o Grupo Gay da Bahia, que há anos compila os índicespixbet365 comassassinatospixbet365 comLGBTs, somentepixbet365 com2015 foram 318 mortos, sendo 52% gays, 37% travestis, 16% lésbicas e 10% bissexuais. Em 2014 foram 326 assassinatos. O levantamento é feitopixbet365 com187 cidades brasileiras.
"Espero que além da festa, o momento sirva para as pessoas refletirem sobre o fatopixbet365 comque o país ainda não aprovou a criminalização da homofobia nem a lei que permite que transexuais e travestis alterem seus nomespixbet365 comdocumentospixbet365 comforma universal. Além disso, deve-se ressaltar que o governo interino atualmente no poder eliminou o ministério encarregado dos direitos humanos onde estava incluída a atenção aos LGBTs e já recebeu a bancada conservadora e religiosa para reuniões mas recusou sentar-se à mesa com os movimentos LGBTs", avalia.
Para Oliva, apesarpixbet365 comavanços nos últimos anos e da inserção histórica na cerimôniapixbet365 comabertura, o consenso entre os movimentos LGBTs épixbet365 como momento atual no país épixbet365 com"retrocesso e medo do que está por vir".
5 - Etnias, crise, 'gambiarras' e possíveis vaias: "Estrangeiros devem só reforçar imagem que já têm do Brasil"
Ao longo dos preparativos para a cerimôniapixbet365 comabertura dos Jogos os organizadores não esconderam que a crise econômica, que forçou reduçãopixbet365 com30% no orçamento do Comitê Rio 2016 e por consequência diminuiu as verbas para o show, foi um fator importante nas decisões sobre o que incluir e o que deixarpixbet365 comfora.
Em fevereiro, o vice-presidente do consórcio responsável pelos eventos da Olimpíada, Flávio Machado, negou,pixbet365 comentrevista à BBC Brasil, que as cerimônias fossem ser "simples", mas reconheceu que as verbas eram muito menores do que aspixbet365 comLondres (2012) e Pequim (2008), por exemplo, e que diretores artísticos precisariam ter criatividade por não poderem "esbanjar".
Além disso, ele ressaltou que o clima no país não era propício a exageros. Diante disso, muitos elementos do show teriam se apoiadopixbet365 com"gambiarras", ou improvisos, que também seriam retratados como uma das forças do brasileiro.
A imprensa também divulgou recentemente que no momentopixbet365 comressaltar a história e a composição étnica brasileira, a cerimônia mostra índigenas, africanos e portugueses, mas não dá destaque às diversas ondaspixbet365 comimigração que ajudaram a formar a população do país.
Para Guilherme Casarões, professorpixbet365 comRelações Internacionais da FGV e da ESPM, tais aspectos devem somente reforçar a imagem que o mundo já tem do Brasil. "Elementos como esses tendem a reforçar a imagem do jeitinho brasileiro, do país que faz tudopixbet365 comcima da hora", diz.
Sobre a crise econômica, o especialista considera que será algo indissociável quando a mídia estrangeira avaliar a abertura. "Anos atrás, a imprensapixbet365 comfora ainda era otimista, enquanto o Brasil já dava sinaispixbet365 comcrise. Agora perderam essa ingenuidade. É natural que não tenhamos uma abertura tão grandiosa como apixbet365 comLondres ou Pequim. Houve limite orçamentário e não seria condizente com a situação atual do país", avalia.
Casarões diz que teria sido interessante incluir outros grupos étnicos que ajudaram a construir a população brasileira, como japoneses, italianos, alemães, judeus, libaneses, sírios, e, mais recentemente, haitianos. "Seria complicado, no entanto, decidir se incluiriam todo mundo. Se ficasse alguémpixbet365 comfora haveria críticas. Outra coisa é que a sociologia brasileira tem essa ideia cristalizadapixbet365 comque a formação do país é realmentepixbet365 comíndios, africanos e portugueses", diz.
Em meio às especulações na imprensapixbet365 comque o pronunciamento do presidente interino Michel Temer seja acompanhadopixbet365 comvaias epixbet365 comcomo isso pode repercutir para o mundo, Casarões acredita que não há como esconder a crise.
"Anos atrás a mídia estrangeira ainda era otimista com o Brasil, apesarpixbet365 comjá darmos sinaispixbet365 comderrocada. Agora, a crise econômica e política é tão escancarada que ninguém tem mais ingenuidade com a nossa situação. Se houver vaias, serão um infeliz sintoma do momento que o país está atravessando e entre os estrangeiros dificilmente haverá surpresa ou choque. É o que estão esperando", diz.