Professora usa rap e funk para ensinar História: 'Não estudei para domesticar aluno':freebet etoto

Crédito, BBC Brasil

Legenda da foto, Ane Sarinara tem 27 anos e é professora há oito; é militante do movimento negro e feminista e, lésbica assumida, também combate o preconceito contra a comunidade LGBT

Crédito, BBC Brasil

Legenda da foto, Funk escrito por alunosfreebet etotoAne do 1º ano do Ensino Médio na Fundação Casa

Tudo começou com um estudante muito problemático, mas que era muito bomfreebet etotoalgo: cantar funk.

"Outros professores tratavam isso como indisciplina. Só que eu sou da periferia, escuto funk desde que me conheço por gente", lembra. "Sugeri que ele escrevesse um funk sobre a matéria - foi a forma que encontrei para ele fazer parte da aula."

Quando o garoto apresentou o trabalho, ela percebeu que a tarefa havia "conquistado" não só a atenção dele, masfreebet etototoda a sala.

"Um dos meninos se ofereceu para fazer o beatbox (reproduçãofreebet etotosons com a boca e o nariz), outro pegou a latafreebet etotolixo, outros batucavam na mesa, batiam palmas", recorda.

"Nisso, a diretora entrou para perguntar o que estava acontecendo. Para ela, parecia uma zona. Mas não era: a gente estava tendo aula."

Resistência

Ane expandiu a experiência para além da música.

Uma vez, por exemplo, dividiu os alunosfreebet etotodois grupos e criou um tribunal: o primeiro representaria a polícia e o outro, o tráfico.

"Na periferia, a polícia é muito mal vista porque chega sempre com violência. Mas a ideia era mostrar para eles que o tráfico, que é quem acaba fazendo as melhorias que eles precisam na regiãofreebet etotoque o Estado é ausente, não tem só coisas positivas."

Mas fugir do "padrão" também trouxe problemas: diretores e outros professores reclamavamfreebet etotoque Ane era "liberal demais", e que seus alunos saíam achando que "podiam fazer tudo" nas outras aulas.

Crédito, BBC Brasil

Legenda da foto, Ocupaçãofreebet etotoalunos nas escolasfreebet etotoSão Paulo no ano passado chamou a atençãofreebet etotoAne: "Esses alunos estão gritando. Elas estão dizendo que não está dando mais. Que a escola nao está comportando o que eles precisam. E a gente está demorando demais para ouvir:"

"Eles diziam: 'alguns pais estão reclamando, se eles forem na Diretoriafreebet etotoEnsino você vai ter que se retirar da escola'. E eu respondia: 'não vou mudar, não estou fazendo nadafreebet etotoerrado'."

Alémfreebet etotonão ter desistido, ela hoje aplica seu método também na Fundação Casa (instituição que abriga menoresfreebet etotoidade infratoresfreebet etotoSão Paulo). Onde, aliás, enfrenta os mesmos problemas causados pelo modelo convencional.

"Quando entro na Fundação Casa, lembro das grades da minha escola. É igual. Não vejo diferença. A escola é uma prisão, a única diferença é que ela não tem seguranças. O resto é tudo igual. A mesma rotina, as mesmas grades, aquela lousa lá na frente, professor estressado."

'Carafreebet etotoprisão'

Nascida e criada na periferiafreebet etotoSão Paulo, Ane sentiu na pele os desafios que seus alunos têm no dia a dia.

Ela morava com a famíliafreebet etotoJandira, na região metropolitana, mas aos quatro anos tevefreebet etotoir morarfreebet etotoum orfanato na vizinha Carapicuíba. Viciado, seu tio passara a enfrentar problemas com traficantes, que ameaçaram a família toda.

No orfanato, conheceu o racismo, apanhou sem saber o porquê e enfrentou as amarras da escola, que para ela sempre teve "cara"freebet etotoprisão.

"A escola era uma prisão, é uma grande jaula. Você joga as pessoas lá, transforma todas elasfreebet etotomáquinasfreebet etotoobedecer sem questionar, mostra um mundo fora da realidade delas. Era como eu me sentia dentro da escola: presa."

Crédito, Roberto Parizotti/ Secom CUT

Legenda da foto, Ocupaçãofreebet etotouma das escolasfreebet etotoSão Paulo no ano passado trazia a faixa: "Escolas Prisões"

Ane foi morarfreebet etotoOsasco - onde vive até hoje - e logo decidiu que queria ensinar. Mas com um objetivo: que seus alunos não sentissem o que ela sentia na escola.

"Pensava: como eu gostaria que tivessem me dado essa aula? Foi por isso que comecei a tentar essas coisas diferentes."

E decidiu permanecer na periferia para "devolver algo" algo ao lugar que a criou.

"As pessoas costumam estudar e trabalhar para poder sair daqui. Mas eu não penso assim. Não tenho que sair desse lugar, eu quero transformar esse lugar."

Cansaço

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Legenda da foto, Ane usa raps como ofreebet etotoTarja Preta, Falsa Abolição (Meninas Negras Não Brincam com Bonecas Pretas) para falar sobre racismo

Mesmo com o discurso repletofreebet etotoesperanças, Ane admite o cansaço - ela acredita que "não vai durar muito tempo" na profissão.

"Não tem nadafreebet etotolegal nessa profissão. Parece exagero, mas é isso. Você é humilhado todos os dias, não tem nenhum reconhecimento. O que motiva o professor nesse país é o ideal dele."

Ela conta que, no decorrer dos anos, conseguiu bancarfreebet etotoescolhafreebet etoto"mandar o currículo para o saco e fazer o que eu acho que tem que ser feito". Mas reclama do peso da missão.

"Jogam toda a cargafreebet etotocima do professor. Tenho que educar, dentro e fora da escola, socorrer aluno, salvar aluno, salvar a sociedade… eu tenho que ser perfeita. Mas enquanto isso, o sistema está me arrochando dos dois lados, e você fica sem saber para onde correr. Geralmente a gente corre para o banheiro para chorar."

Ela diz cogitar abandonar a salafreebet etotoaula por medofreebet etotosairfreebet etotolá "de camisafreebet etotoforça". E, após citar númerosfreebet etotoprofessores que cometem suicídio, conclui:

"Muitos colegas meus já tomam tarja preta pra conseguir dar aula. Não quero ficar desse jeito. Aí é que está a questão: eu não consigo me adaptar ao sistema. Mas aí todo mundo me diz: vai chegar uma hora que você vai ter que escolher entre ficar e se adequar ou sair. E está chegando essa hora já."