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Dolorosa e duradoura, 'chikungunya vai ser surpresa maior que zika’, diz pesquisador:888pok
"O grande desafio para o governo serão essas grandes epidemias. Ainda não sabemos a dimensão do que vai acontecer com a epidemia888pokzika888pokoutras regiões do país", disse à BBC Brasil.
"Mas a chikungunya vai trazer mais surpresas do que a própria zika e a dengue. Como pesquisador, tenho ficado impressionado com seus efeitos."
Enquanto a dengue é capaz888pokatingir cerca888pok5 a 10%888pokuma população, a chamada "taxa888pokataque" da chikungunya pode chegar a 50%, avalia Brito. A zika, cujo percentual888pokatingidos ainda é desconhecido, deve ficar entre as duas, ele estima.
Números subestimados
De acordo com os dados mais recentes divulgados pelo Ministério da Saúde, já são mais888pok64 mil notificações888pokcasos888pokchikungunya até 23888pokabril888pok2016, contra 38 mil888pok2015. Mais888pok11 mil casos foram confirmados888poktodo o país.
Brito, no entanto, diz acreditar que os números são muito maiores.
"Pernambuco, por exemplo, está dizendo que o maior número888pokcasos este ano é888pokdengue, mas nós vemos pouquíssima dengue na prática. O maior número é888pokchikungunya, e há uma subnotificação impressionante por uma série888pokrazões, incluindo despreparo dos profissionais para fazer as notificações888pokforma correta", afirma.
"Com três vírus circulando no país, o modelo da vigilância epidemiológica não consegue ser mais fiel à verdadeira situação da epidemia."
Até o dia 24888pokmaio, Pernambuco registrou mais888pok30 mil casos notificados888pokchikungunya e cerca888pok75 mil888pokdengue, segundo a Secretaria888pokSaúde do Estado.
"Quando começaram a aparecer os casos888pokmicrocefalia888pokPernambuco, o Estado tinha 4 casos notificados888pokzika e 120 mil888pokdengue. Destes, provavelmente cerca888pok90 mil eram zika. O mesmo deve estar acontecendo agora com a chikungunya."
Em fevereiro, a reportagem da BBC Brasil visitou Vitória888pokSanto Antão, a 60 km888pokRecife, e encontrou emergências hospitais e postos888poksaúde superlotados com pacientes888pokarboviroses (grupo que inclui as doenças transmitidas por mosquitos) - o Estado estava no meio888pokseu primeiro surto888pokchikungunya.
Em bairros da cidade, moradores relatavam a rapidez com que a doença se espalhou por famílias e ruas.
"Já passamos do surto, mas os próprios pacientes do interior brincam dizendo que saem nas ruas e parece que estão888pokuma cidade888pokmúmias, porque as pessoas andam com dificuldade", afirma Brito.
Impacto
Ao contrário do que ocorre com a zika, ainda não há evidências888pokque o vírus da chikungunya seja transmitido da mãe para os bebês durante a gravidez, segundo o Ministério da Saúde. No entanto, a doença tem suas próprias peculiaridades.
Em seus primeiros dez dias, os sintomas costumam ser febres, fortes dores e inchaço nas articulações dos pés e das mãos. Em alguns casos, ocorrem também manchas vermelhas no corpo.
Mas mesmo com o fim da viremia - período888pokque o vírus circula no sangue - a dor e o inchaço causados pela doença podem retornar ou permanecer durante cerca888poktrês meses. Em cerca888pok40% dos casos, eles tornam-se crônicos e podem permanecer por anos.
"A intensidade do sofrimento dos pacientes para mim foi uma surpresa, mesmo que a literatura já falasse disso", diz Brito.
"São pessoas que podem ficar meses sem conseguir trabalhar, com dores muito intensas que não melhoram com analgésicos habituais como dipirona e paracetamol", continua.
"Elas têm dificuldade888pokandar,888pokpentear o cabelo,888poktomar banho sozinhas. E isso acontece na parte produtiva da vida, porque a maioria dos acometidos são adultos e idosos. Então além do impacto na qualidade888pokvida, há também um impacto econômico888pokdimensão ainda não calculada."
Depoimento: 'Não sou mais a mesma pessoa'
Peguei chikungunya888poksetembro888pok2014, quando a epidemia começou888pokFeira888pokSantana. Tive febre, dores no corpo e fiquei uma semana afastada com o mal estar. Na época, não fiz o exame sorológico. Me recuperei, mas continuei tendo inchaço no corpo, principalmente as pernas, com frequência. Fiz diversos exames com especialistas, porque não imaginei que fosse da chikungunya.
Em setembro888pok2015, eu passei a sentir dores muito fortes. Já não conseguia escrever, não conseguia sentar, nem andar, nem ir ao banheiro. Parecia que meu corpo estava paralisado pela dor. Fiquei internada por dois dias e a sorologia identificou o vírus.
Desde então, eu não tenho mais vida social. Às vezes sento e não consigo me levantar. Tem dias888pokque não consigo ir ao trabalho. Não calço mais salto alto, não abaixo mais para pegar nada no chão. Acordo à noite sentindo dores, dormência nas mãos, cãimbra nas pernas, não durmo bem.
Eu perdi todas as roupas porque ganhei cerca888pok18 quilos. Não consigo fazer atividades físicas. Já tentei pilates, hidroginástica, caminhada, mas não aguento, porque os nervos estão inflamados. A medicação que tomo é forte e eu não vejo muito resultado. A médica me disse que tenho que tomar por tempo indeterminado, porque não sabemos quando ficarei bem.
Não consigo mais ir a festas porque não aguento ficar888pokpé nem sentada por muito tempo. Só a gente não poder se arrumar como quer já mexe com a autoestima. Não uso mais anéis, porque os dedos começam a inchar.
Antes eu morava sozinha e era independente, mas hoje moro com minha sobrinha porque não consigo fazer muita coisa. Não consigo pegar uma garrafa térmica para colocar o café na xícara. Minhas mãos não a sustentam.
Pedi auxílio-doença no INSS888pokoutubro, com os relatórios das médicas. Mas foi no período888pokque os peritos estavam888pokgreve. Então eu fiquei sem receber meu salário nem o auxílio durante 3 meses. Passei dificuldade financeira, foi minha família que me deu suporte. Em janeiro eu tive que voltar ao trabalho, mesmo sem condições.
A sensação que a gente tem é888pokser um robô, uma múmia, o corcunda888pokNotre Dame. Por pouco não fiquei deprimida. Tomei antidepressivos por quatro meses porque as médicas perceberam alterações no meu humor.
Tem dias888pokque você acorda mais animada, mas aí vem aquela sensação888pokdesgaste físico como se você tivesse corrido uma maratona. Não sou mais a mesma pessoa. Ando pelas ruas me segurando nas paredes.
Conceição Carneiro,888pok40 anos, é assistente social e mora888pokFeira888pokSantana, na Bahia.
'Competição'
Pesquisadores afirmam que o vírus da febre chikungunya entrou no Brasil888pokjulho888pok2014, trazido por um funcionário da construção civil brasileiro que trabalha888pokAngola e veio visitar a família888pokFeira888pokSantana, na Bahia.
"O vírus entrou no inverno, quando não tinha muita circulação no mosquito. Mas eu fui para lá e saí alertando que havia um risco muito alto888poka epidemia ser grande", relembra Brito.
"Só que nesse meio tempo começaram a aparecer outros casos888pokuma doença que parecia dengue, mas não sabíamos o que era. Era a zika. Esses vírus competem e uma epidemia sempre predomina", explica.
"O que provavelmente aconteceu foi que esperávamos que a chikungunya fosse888pokFeira888pokSantana para o resto do Nordeste, mas a zika entrou na frente. Aí todo mundo ficou voltado para a zika, especialmente após os casos888pokmicrocefalia, e a gente esqueceu da chikungunya."
Na região888pokFeira888pokSantana, no entanto, a primeira epidemia da febre ocorreu a partir888poksetembro888pok2014, e os efeitos são sentidos até hoje.
"Na época do surto, aumentou mais888pok100% a demanda nas emergências, tanto públicas quanto privadas", disse à BBC Brasil Melissa Falcão, infectologista da Vigilância Epidemiológica888pokFeira888pokSantana.
"Agora tenho pacientes que estão doentes há quase dois anos. E mais888pokmetade deles têm um grau888pokdepressão ou alteração888pokhumor. Imagine conviver com uma dor intensa e prolongada que você não sabe quando vai acabar."
Em casos crônicos, os pacientes podem sofrer888pokinsônia, dormência nos membros, cãimbras e dificuldades888pokcaminhar. A doença pode causar inflamação nos nervos ou iniciar doenças reumatóides, como a artrite.
Além disso, também pode desestabilizar doenças cardíacas, problemas renais e diabetes. Nos casos mais graves, pode causar a síndrome888pokGuillain-Barré e outros problemas neurológicos graves, do mesmo modo que a zika.
Ela atinge adultos e idosos com mais força. Em crianças, as manifestações costumam ser mais leves,888pokacordo com Falcão.
Mortes
Carlos Brito também suspeita que a doença seja responsável por um aumento no número888pokmortes888pokidosos888pokPernambuco registrado desde o início do surto.
O Estado registra atualmente 22 óbitos relacionados à chikungunya, e outros estão sendo investigados.
Ele ressalta, no entanto, que o fato888poko vírus agravar doenças crônicas comuns888pokidosos pode ter feito com que muitas mortes não tenham sido inicialmente relacionadas a ele.
No inverno888pok2015, um ano depois da chegada do vírus à Bahia, a chikungunya chegou com mais força888pokPernambuco, no Rio Grande do Norte e na Paraíba. Juntos, todos esses Estados registram a maior parte dos casos,888pokacordo com o Ministério da Saúde.
"Não tenha dúvidas888pokque zika e chikungunya vão atingir São Paulo. Elas não ficarão só no Nordeste. A dengue também começou888pokpartes específicas do país. Só que a velocidade888pokzika e chikungunya atingirem o país como um todo vai ser muito maior do que a da dengue", diz Brito.
Em nota enviada à BBC Brasil, o Ministério da Saúde afirmou que o SUS disponibiliza acesso integral aos tratamentos para os pacientes com chikungunya e "oferece medicamentos, como paracetamol e dipirona, entre outros, e tratamento dos sintomas da doença".
Brito afirma, no entanto, que os medicamentos comuns não são suficientes para o tratamento da dor, e que muitos profissionais888poksaúde estão tratando doentes888pokforma incorreta.
Junto a outros pesquisadores, ele elaborou um novo protocolo para o tratamento, que deve ser anunciado pelo ministério nos próximos dias e tende a demandar mais custos, por exigir mais doses dos remédios.
O Ministério da Saúde afirmou que, entre janeiro e março888pok2016, repassou aproximadamente R$ 60 mil aos gestores dos serviços888poksaúde para internações por chikungunya.
O ministro Ricardo Barros assumiu a pasta no dia 24888pokmaio, mas, até o momento, não foram anunciados os nomes que assumirão cargos importantes no combate a essas epidemias, como o secretário888pokVigilância888pokSaúde e o diretor888pokVigilância das Doenças Transmissíveis.
Ainda não há previsão888pokdesenvolvimento888pokuma vacina contra o vírus.
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