Política brasileira precisa da corrupção para funcionar, diz pesquisador:sacar no pixbet
Ele já havia feito parte do diagnósticosacar no pixbetOs entraves da democracia no Brasil (FGV, 2003). Ames afirma que, após o fim da ditadura, imaginava que a corrupção cairia mais no país. "É problemático que, embora seja mais arriscado roubar, as pessoas continuem a fazê-lo".
Confira a entrevista.
sacar no pixbet BBC Brasil - A corrupção no Brasil hoje é maior que no passado?
sacar no pixbet Barry Ames - Acho que a escala da corrupção envolvendo a Petrobras é certamente maior do que erasacar no pixbet2000. Mas minha aposta é que a quantidade roubada no período militar era ainda maior que a roubada hoje. Muitos daqueles generais ficaram ricos.
A grande diferença é que, numa democracia, os jornais e outros tipossacar no pixbetmídia estão muito engajadossacar no pixbetexpor a corrupção e, na Nova República (após o fim da ditadura,sacar no pixbet1985), há agênciassacar no pixbetcontrole fiscal que são muito ativas, como o Tribunalsacar no pixbetContas da União.
O Judiciário se tornou muito independente e atuante. O nívelsacar no pixbetcorrupção pode ser substancialmente menor que nos anos 1970 e 1980, mas nada disso era exposto.
O problemático é que, embora seja mais arriscado roubar, as pessoas continuem a fazê-lo. Elas continuam a correr os riscos. Eu achei que a corrupção diminuiria mais.
sacar no pixbet BBC Brasil - Por que ela não diminuiu mais?
sacar no pixbet Ames - Precisamos voltar ao argumento que fiz no meu livro há 12 anos sobre as instituições eleitorais, o votosacar no pixbetlista aberta, com distritos eleitorais grandes e a facilidade para a entradasacar no pixbetpartidos. Essas instituições facilitam a corrupção.
Outro fator é a importância dos empreiteiros e o oligopólio no setorsacar no pixbetconstrução civil. Em 1992, no escândalo dos Anões do Orçamento, as mesmas empreiteiras estavam envolvidas na comprasacar no pixbetvotossacar no pixbetdeputados para aprovar emendas que lhes dariam contratos.
Com uma Petrobras enorme, com tantos contratos para distribuir, e com esse oligopólio organizado no setorsacar no pixbetconstrução, é muito fácil para as empresas se coordenarem com os caras na burocracia para que aceitem uma oferta muito alta.
E, claro, alguns congressistassacar no pixbetpartidos políticos saberão o que está acontecendo e você terásacar no pixbetpagá-los. Isso torna o conluio importante e fácilsacar no pixbetfazer.
sacar no pixbet BBC Brasil - Por que o conluio se torna importante?
sacar no pixbet Ames - É muito difícilsacar no pixbetmanter um sistema presidencial multipartidário coeso sem algum tiposacar no pixbetclientelismo. Carlos Pereira (cientista político da Fundação Getúlio Vargas) acha que o sistema só funciona por causa do clientelismo, mesmo quando os presidentes têm mais habilidades políticas que Dilma.
Quando a economia não vai bem, é muito difícil manter essa coalizão unida. Se não houver clientelismo, obras públicas e nomeações, como manter esses partidos apoiando o governo? Não há a possibilidadesacar no pixbetobter a maioria absoluta no Legislativo.
Esses partidos não têm políticas, mas você pode sempre comprar o apoio do PMDB com clientelismo. Ao mesmo tempo, quando há agênciassacar no pixbetcontrole observando com cuidado, fica difícil manter as coalizões funcionando.
sacar no pixbet BBC Brasil - A prisãosacar no pixbetexecutivos das maiores empreiteiras do país na Operação Lava Jato não muda o jogo?
sacar no pixbet Ames - Acho que sim. No escândalosacar no pixbet92, nenhuma daquelas pessoas foi presa, nem os deputados. Portanto, isso traz esperança, sim.
Não acho que essas pessoas no Judiciário vão sumir, tenham alguma agenda política ou não. A questão crítica é se vão manter essa vontade para caçar os corruptos, independentementesacar no pixbetserem do PT, PSDB, PMDB ou outro partido. Se puderem fazer isso, o desfecho será positivo.
sacar no pixbet BBC Brasil - Quais ações seriam prioritárias numa reforma política no Brasil?
sacar no pixbet Ames - O sistema atual é hiperdemocrático no sentidosacar no pixbetque qualquer gruposacar no pixbeteleitores com um número pequenosacar no pixbetseguidores consegue eleger um deputado. Por exemplo, monarquistas podem ter um deputado, embora a ampla maioria do povo rejeite a monarquia. O problema desse tiposacar no pixbetsistema é que ele obstrui a governabilidade.
Os partidos deveriam agrupar interesses, mas os partidos brasileiros são tão diversos quanto aos interessessacar no pixbetseus membros que a maioria deles não consegue elaborar algum tiposacar no pixbetprograma.
Primeiro, seria desejável reduzir o númerosacar no pixbetpartidos no Legislativo. O número atual é tão alto que eleva o preço -sacar no pixbettermossacar no pixbetobras públicas e cargos políticos - da construçãosacar no pixbetcoalizões, e reduz a velocidade do processo legislativo.
Segundo, criar um sistema eleitoralsacar no pixbetque haja laços reais entre eleitores e seus representantes. O sistema atual enfraquece esses laços e torna os deputados muito independentes da liderança do partido.
Terceiro, reduzir o tamanho dos distritos eleitorais. Isso ajudaria os eleitores a conhecer seus deputados e vigiá-los.
sacar no pixbet BBC Brasil - Os políticos que se projetaram nesse sistema teriam algum interessesacar no pixbetaprovar uma reforma que poderia prejudicá-los?
sacar no pixbet Ames - É difícil, mas a rotatividade no Congresso brasileiro sempre foi alta. Eles podem aceitar reformas que não entremsacar no pixbetvigor imediatamente, mas num futuro próximo, talvez na eleiçãosacar no pixbet2022. E se a sociedade civil se mobilizarsacar no pixbettorno desse tema, os políticos saberão que se opor à reforma é muito arriscado.
A próxima eleição deverá levar muita gente nova para o Congresso. E imagino que a sociedade civil estará monitorando cuidadosamente para garantir que os eleitos não sejam envolvidossacar no pixbetcorrupção. Acho provável que haja uma limpeza da casa.
sacar no pixbet BBC Brasil - Como compara a corrupção no Brasil com a nos EUA?
sacar no pixbet Ames - De certa maneira, o que o sistema americano fez foi legalizar algumas coisas que nós podemos considerar corruptas: cidadãos privados podem dar quantias enormessacar no pixbetdinheiro para campanhas políticas sem ter suas identidades reveladas.
A Suprema Corte decidiu que isso é liberdadesacar no pixbetexpressão. Tecnicamente não é corrupção, ainda que as pessoas achem que corrompe o sistema.
Por outro lado, no processosacar no pixbetcontratações e licitações, temos muito menos corrupção que no Brasil. Em geral, o modelosacar no pixbetcompras é tão descentralizado e tem tantas pequenas construtoras que o sistema se torna mais rigoroso e honesto. E as obras são realizadas, enquanto no Brasil há atrasos enormes nos projetos, com muito desperdício.
As instituições políticas não podem ser separadas das instituições econômicas. O Brasil precisasacar no pixbetum sistema mais transparentesacar no pixbetconcorrências e licitações para projetos do governo. Não sei se isso pode ser feito sem desmembrar as empreiteiras, mas só um sistema transparente cortará o fluxosacar no pixbetdinheiro corrupto para burocratas e políticos.
sacar no pixbet BBC Brasil - Acha que o Brasil caminha para um sistema similar aos dos EUAsacar no pixbetrelação ao financiamentosacar no pixbetcampanhas, com a "legalização" da corrupção?
sacar no pixbet Ames - Acho que não. Os brasileiros são mais sensatos. A maioria dos americanos acha que isso é uma loucura, mas seria necessária uma emenda constitucional para mudar a natureza do financiamentosacar no pixbetcampanhas aqui. Há discussões sobre isso, mas é um longo caminho.
No Brasil, o Tribunal Superior Eleitoral tem sido muito ativo e criou regras sobre doações a partidos que são razoáveis. A direção é a correta.