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'Se não assinar, vai morrer': a nebulosa história das esterilizações forçadas na Califórnia:vulkan bet com
"Fiquei surpresa por ele não ter faladovulkan bet comfazer uma biópsia, mas também não tinha dinheiro para pagar um médico para me dar uma segunda opinião", admite. Então ela assinou o consentimento sem questionar e passou pelo procedimento.
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89). Foi escrita por Jean-Michel Rivat e 🏧 Dominique Dubois, e produzida pela primeira.
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Main Story | 214 | 8h 8m |
Main + Extras | 33 | 10h 18m |
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Fim do Matérias recomendadas
Dias depois, preocupada com o desconforto e o suor contínuo, uma enfermeira viu o laudo médico dela e soubevulkan bet comque consistia realmente aquela operação: "Fizeram uma histerectomia completa".
Seu útero, colo do útero e outras partesvulkan bet comseu sistema reprodutivo foram removidos. Ou seja, a esterilizaram.
"A minha alma caiu no chão. Eu fiqueivulkan bet comchoque."
Isso aconteceuvulkan bet com2005 na Prisão Femininavulkan bet comCorona, parte do Departamentovulkan bet comCorreções e Reabilitação da Califórnia (CDCR). E casos como ovulkan bet comPulido se repetiram ao longo da décadavulkan bet compelo menos outros três centros do sistema penitenciário estadual.
É o mais recente episódio na história sombriavulkan bet comesterilizações forçadas da Califórnia, um passado que o estado agora está tentando retificar oferecendo indenização às vítimas.
Para "melhorar" a população
"A históriavulkan bet comesterilizações contra a vontade ou sem o devido consentimento na Califórnia é extensa e foi registradavulkan bet comdiferentes estágios", disse Lorena García Zermeño à BBC.
Ela é coordenadoravulkan bet compolíticas e comunicação do California Latinas for Reproductive Justice, um dos grupos que lutou durante anos para que o Estado reconhecesse essa prática e aprovasse um programavulkan bet comreparações.
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A primeira dessas fases é a histórica, relacionada à Lei da Eugenia que vigorou na Califórnia entre 1909 e 1979, e cuja aplicação atingiu seu auge na décadavulkan bet com1930.
E é que a eugenia, entendida como um suposto "melhoramento" das características genéticasvulkan bet comuma população por meio da reprodução seletiva e da esterilização, já era praticada nos Estados Unidos antes mesmo da Alemanha nazista.
"No século 20, dos 48 estados dos EUA - porque o Havaí e o Alasca ainda não eram - 32 tinham leis eugênicas que davam às autoridades médicas o podervulkan bet comesterilizar aqueles que consideravam 'débeis mentais' (mentalmente fracos) ou com deficiência intelectual e aqueles diagnosticados com transtornos psiquiátricos", explica Alex Stern.
Diretora do Laboratóriovulkan bet comEsterilização e Justiça Social da Universidadevulkan bet comMichigan, Stern estudou profundamente esse capítulo sombrio da história americana.
"Essas pessoas, que foram internadasvulkan bet cominstituições estatais por seus familiares ou após um boletimvulkan bet comocorrência, passaram por exames para calcularvulkan bet comidade mental, seu quocientevulkan bet cominteligência, receberam uma pontuação e com base nisso as autoridades decidiram se estavam 'aptas' ou não a reproduzir", continua.
Após minuciosa revisão dos registros e dados do estado, a equipevulkan bet comStern estimou que das 60 mil esterilizações realizadas nacionalmente sob as leisvulkan bet comeugenia, 20 mil ocorreram na Califórnia. Umavulkan bet comtrês.
"Era o Estado mais agressivo, e tinha a ver com o fatovulkan bet comas elites, que eram principalmente WASPs (sigla usada para definir os brancos, anglo-saxões e protestantesvulkan bet cominglês) e com muito poder no legislativo e as universidades, eles tinham uma visão muito concretavulkan bet comcomo queriam que fosse o estado", diz Stern.
Usando técnicas estatísticas,vulkan bet comequipe descobriu um padrão: a prática afetava "desproporcionalmente" os latinos, principalmente as jovens latinas.
"Uma latina que estavavulkan bet comuma instituiçãovulkan bet com(condados de) Sonoma ou Napa tinha 59% mais chancesvulkan bet comacabar esterilizada do que uma mulher branca", diz ela.
“E é quevulkan bet comuma épocavulkan bet comgrande imigração, as elites queriam controlar a reprodução das famílias latinas, as mais férteis, e administrar o futuro biológico do estado”, enquanto promoviam programas para incentivar a reprodução da classe média branca.
Esterilizada aos 13
Uma das que sofreram com esse procedimento no auge da Lei da Eugenia foi Mary Franco.
Californianavulkan bet compais mexicanos, ela foi esterilizadavulkan bet com1934, quando tinha apenas 13 anos.
Ela foi internadavulkan bet comuma instituição estadual chamada Pacific Colony, no que era então Spadra, hoje a cidadevulkan bet comPomona, localizada a cercavulkan bet com35 quilômetros a lestevulkan bet comLos Angeles.
"Um vizinho estava abusando dela, entãovulkan bet comfamília decidiu interná-la para não piorar a situação e para protegervulkan bet comreputação, porque naquela época ninguém era preso por algo assim", dizvulkan bet comsobrinha-neta Stacy Cordova à BBC News Mundo.
No centro, depoisvulkan bet commedir seu QI e submetê-la a uma sérievulkan bet comtestes, ela foi rotulada como "débil mental por desvio sexual" e esterilizada, explica Cordova, lendo diretamente o relatório médico original.
"Isso a prejudicou muito. Ao longo da vida ela lamentou por não ter tido filhos e claramente sofreuvulkan bet comdepressão, embora nunca tenha sido diagnosticada", diz ela.
A história foi contada a ela porvulkan bet comprópria tia-avóvulkan bet com1997, um ano antesvulkan bet comsua morte. Mary Franco faleceu sem nunca saber que o caso dela não foi isolado.
"Parte o meu coração pensar que ela sempre acreditou que o que aconteceu com ela aconteceu porque ela era uma garota má", lamenta.
A própria Cordova não sabia a dimensão do assunto até quevulkan bet com2017, um dia enquanto dirigia, ouviu o Dr. Stern falar no rádio. "Tive que sair da rodovia e estacionar. Nunca ouvi falar daquele episódio tão feio e forte da Califórnia."
Ela entrouvulkan bet comcontato com a pesquisadora e logo o Laboratóriovulkan bet comEsterilização e Justiça Social lhe enviou o histórico médicovulkan bet comsua tia-avó e os documentos que autorizaramvulkan bet comesterilização.
"Agora, quando revejo os papéis, percebo que o assunto me tocavulkan bet commuitos níveis: como mexicana-americana, porque aconteceu na minha família e a dividiu, e porque sou professoravulkan bet comeducação especial e se isso acontecesse hoje, meus alunos seriam esterilizados", diz Cordova.
'Explosão demográfica'
Décadas depois da esterilizaçãovulkan bet comFranco, quando a eugenia já era uma ideologia indissociável do Holocausto e muito criticada por sociólogos, antropólogos e outros cientistas, a Califórnia ainda não havia se livrado dessas práticas.
De fato, no limiar da revogação da Lei da Eugenia, entre 1968 e 1974, uma sérievulkan bet commulheres foram submetidas, inconscientemente ou sob coação, a intervenções que as impediriamvulkan bet comvoltar a ter filhos.
Aconteceu no Los Angeles-USC Medical Center, um hospital administrado pelo condado.
“Naquela época, a superpopulação era uma preocupação muito grande”, diz Virginia Espino, historiadora especializadavulkan bet compolíticasvulkan bet comcontrole populacional e injustiça reprodutiva, que estudou o casovulkan bet comprofundidade.
Em 1968 um livro intitulado The Population Bomb (A bomba populacional) e que incluía frases como "a batalha para alimentar toda a humanidade está perdida" ou "milhõesvulkan bet compessoas morrerãovulkan bet comfome", havia se tornado um best-seller.
Em 1969, o presidente Richard Nixon, após alertar o Congressovulkan bet comque no ano 2000 haveria mais 100 milhõesvulkan bet comamericanos, ordenou a formaçãovulkan bet comuma comissão para estudar o "problema".
E muitos hospitais públicos receberam centenasvulkan bet commilharesvulkan bet comdólares federais para programasvulkan bet complanejamento familiar que incluíam esterilizações.
Mas as coisas fugiram do controlevulkan bet comalguns estados, onde velhos preconceitos racistas e elitistas foram reforçados por novas preocupações com a superpopulação e a pobreza, e acabaram afetando mulheres pobres, especialmente as não brancas.
No casovulkan bet comLos Angeles, a barreira do idioma e uma maternidade lotada foram adicionadas à equação.
"O que descobri com minhas pesquisas é que muitas pacientes que vieram para o parto e não puderam ter um parto natural foram coagidas, encurraladas ou enganadas a também desistirvulkan bet comsua fertilidade quando assinaram o consentimento para uma cesariana", diz Espino.
"E para algumas eles sequer explicaram o que estavam aceitando."
'Se você não assinar, vai morrer'
Foi o casovulkan bet comMelvina Hernández, que chegou ao Los Angeles-USC Medical Center com 23 anos e sem falar uma palavravulkan bet cominglês.
Disseram que ela precisavavulkan bet comuma cesarianavulkan bet comemergência, mas que ela precisava assinar alguns papéis primeiro.
Ela respondeuvulkan bet comespanhol que não, não podia porque o marido não estava no local.
"Se você não assinar, vai morrer", disse a enfermeira, segurando um documentovulkan bet cominglês.
“Então ela pegou a minha mão e me fez assinar”, conta Hernández no documentáriovulkan bet com2015 “Chegavulkan bet combebês”, coproduzido por Espino e dirigido por Renee Tajima-Peña.
A criança nasceu saudável. Hernández só descobriria quatro anos depois que suas trompasvulkan bet comFalópio, que ligam útero e ovário, haviam sido ligadas.
Em 1975, ela e outras nove mulheres entraram com uma ação coletiva contra o hospital, argumentando que lhes fora negado o direito constitucionalvulkan bet comter filhos.
Elas fizeram isso representadas pela jovem advogada Antonia Hernández e apoiadas pelo já poderoso movimento chicano, especialmente por mulheres ativistas, que estava desenvolvendovulkan bet comprópria identidade política e feminismo.
Apesar das manifestações fora do hospital e da pressão da opinião pública, elas perderam o julgamento. O juiz não pôde determinar responsabilidades.
"Não conheço ninguém que tenha forçado o planejamento familiar a nenhum grupovulkan bet comparticular... Acho que qualquer mulher merece o direitovulkan bet comdecidir", disse Edward J. Quilligan, diretor da alavulkan bet commaternidade do centro médico, no documentário.
No entanto, foram aplicadas certas regulamentações para evitar que isso acontecesse novamente, como a proibiçãovulkan bet comsolicitar consentimento durante o parto ou sob efeitovulkan bet comanestesia, além da determinaçãovulkan bet comque houvesse formuláriosvulkan bet comconsentimento tambémvulkan bet comespanhol.
Evulkan bet com2018, o Conselhovulkan bet comSupervisores do Condadovulkan bet comLos Angeles emitiu um pedido formalvulkan bet comdesculpas às vítimas dessas esterilizações.
"Eles nos disseram que não ia acontecer, porque o hospital nunca reconheceu nenhuma irregularidade. Mas aconteceu, e foi muito importante", diz Espino.
A reparação
Apesarvulkan bet coma Lei da Eugenia ter sido revogada décadas atrás, uma auditoria estadual revelou que 144 mulheres encarceradasvulkan bet comquatro prisões da Califórnia foram esterilizadas entre 2006 e 2010 com pouca ou nenhuma evidênciavulkan bet comaconselhamento ou tratamentos alternativos.
E um estudo posterior identificou outras 100 vítimas no final dos anos 1990.
Mais uma vez, os afetados eram predominantemente latinas e americanas negras.
Em razão disso, a legislatura estadual aprovou uma leivulkan bet com2014 que proibia esterilizaçõesvulkan bet comprisões para fins contraceptivos.
Isso deu impulso à lutavulkan bet comuma sérievulkan bet comorganizações que vinham exigindo justiça sobre o tema há algum tempo.
Em 1ºvulkan bet comjaneirovulkan bet com2022, entrouvulkan bet comvigor um programavulkan bet comreparaçãovulkan bet comUS$ 4,5 milhões para as afetadas, o terceiro no país depois da Carolina do Norte (2013) e da Virgínia (2015).
"A Califórnia está empenhadavulkan bet comenfrentar esse capítulo sombriovulkan bet comseu passado e abordar o impacto que essa história vergonhosa tem sobre os californianos até hoje", disse o governador Gavin Newson ao assinar a lei sobre o programa.
"Embora nunca possamos reparar totalmente o que eles sofreram, o estado fará todo o possível para garantir que as sobreviventes dessas esterilizações injustas recebam uma compensação".
A iniciativa, gerida pela Junta da Califórnia para Compensaçãovulkan bet comVítimas, inclui sobreviventes da era histórica e aquelas esterilizadas no sistema prisional estadual.
Não inclui, no entanto, as mulheres que perderam a fertilidade no Los Angeles-USC Medical Center na décadavulkan bet com1970.
O fatovulkan bet comterem ido ao hospital, administrado pelo município, por vontade própria torna esses casos mais complicados, concordam as fontes consultadas para esta reportagem.
Porém, as fontes também concordam que essas mulheres precisam ser compensadas, mas apontam que o programa atual é um bom pontovulkan bet compartida sobre o tema.
A busca por sobreviventes
Quando a leivulkan bet comcompensação foi aprovada, no verãovulkan bet com2021, as organizações estimavam que havia 455 sobreviventesvulkan bet comesterilizações eugênicas e 244 entre aquelas que passaram por isso na prisão.
"Mas diante do que aconteceu nos outros estados que tinham esquemas semelhantes, onde apenas 25% das afetadas elegíveis pediram indenização, projetamos que apenas cercavulkan bet com157 pessoas acabariam recebendo o dinheiro", diz García Zermeño, da California Latinas for Reproductive Justice.
Então fizeram uma chamadavulkan bet comurgência para que as afetadas ainda vivas fossem localizadas. "Cada ano que passa perdemos 100 do primeiro grupo por causa da idade avançada."
Após um anovulkan bet combuscas,vulkan bet comjaneirovulkan bet com2023,vulkan bet com310 pedidos, o estado havia aprovado 51, rejeitado 103, descartado 3 como incompletos e outros 153 estavamvulkan bet comandamento.
"Tentamos encontrar o máximovulkan bet cominformações possível e, às vezes, apenas temos que esperar que outros encontrem mais detalhes por conta própria", disse Lynda Gledhill, diretora executiva do Conselhovulkan bet comCompensaçãovulkan bet comVítimas da Califórnia.
"Às vezes, simplesmente não podemos verificar o que aconteceu."
"Tanto dinheiro... mas tão pouco."
Entre as que já receberam indenizações está Pulido.
Depoisvulkan bet comser soltavulkan bet comliberdade condicionalvulkan bet comjaneirovulkan bet com2022, ela contatou a organização Coalizão da Califórnia para Prisioneiras Femininas e reivindicou avulkan bet comindenização.
Depoisvulkan bet comaprovada, demorou cinco semanas até que ele recebesse os US$ 15.000 (cercavulkan bet comR$ 77 mil).
"Quando o cheque chegou, tudo o que pude fazer foi sentar, segurá-lo e chorar", lembra ela, com a voz embargada.
"Fiquei muito tempo assim, observando o número. Nunca tive tanto dinheiro mas, porvulkan bet comvez, era tão pouco para o que me fizeram...".
E levou anos até que ela pudesse falar sobre o tema com alguém. A experiência a marcou profundamente.
"Sou uma americana nativa - dos apaches do Novo México - e acreditamos que a Mãe Terra deu às mulheres a capacidadevulkan bet comgerar vida. E esse presente foi roubadovulkan bet commim, sem minha permissão e sem mesmo meu conhecimento disso”, diz, ainda revoltada.
Hoje aos 41 anos e com um filho, ela diz que a privaram da possibilidadevulkan bet comconstituir uma nova família.
"Até hoje, quando ando na rua ou vou às lojas e vejo mães com seus filhos, paro e olho para eles. Nunca mais vou dar vida. É algo que continua me afetando emocionalmente a cada dia."
Apesar disso, ela tem aproveitado avulkan bet comliberdade e enfrenta o futuro com força e tem um novo nome.
"DeAnna (seu nome antigo) teve uma infância difícil, muito trauma pelo que viu, sentiu e como foi tratada. Ela se sentia como se estivesse carregando uma mochila muito grande", explica.
Ela escolheu seu nome atual porque queria que fosse algo considerado nativo americano. Ela sempre foi influenciada pela lua e "queria pertencer à parte brilhante da vida", e adotou o sobrenomevulkan bet comsolteira evulkan bet commãe.
Moonlight Pulido hoje tem planos, que podem incluir deixar a Califórnia e morar com o filho no estado americanovulkan bet comIllinois.
E também tem uma missão: "Quero dizer a todos aquelas que passaram pela mesma coisa que eu que se manifestem, peçam uma indenização e, se rejeitarem, tentem novamente. Não desistam".
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