Sucessovaidebet localizaçãoVini Jr. causa 'pânico racial'vaidebet localizaçãopessoas brancas, diz pesquisador negro:vaidebet localização

Moreira, que é também professor assistente na Universidade Presbiteriana Mackenzie, é autor do livro Racismo Recreativo (Editora Jandaíra). O conceito que ele propõe, e que dá título à obra, refere-se a mensagens que demonstram desprezo por minorias raciais através do humor evaidebet localizaçãoatividades como os esportes.

O livro analisa programas humorísticos que retrataram personagens negrosvaidebet localizaçãoforma depreciativa e também 88 decisões judiciais no Brasilvaidebet localizaçãoque o humor racista foi utilizado para se referir a minorias raciais.

Segundo o pesquisador, tanto os programas quanto as decisões judiciais recorrem aos mesmos estereótipos.

Recentemente, outra acusaçãovaidebet localizaçãoracismo que ganhou repercussão chegou à Justiça brasileira:vaidebet localizaçãomeadosvaidebet localizaçãomaio, o Tribunalvaidebet localizaçãoJustiçavaidebet localizaçãoSão Paulo exigiu que o humorista Leo Lins retirasse um vídeo do ar.

A decisão afirma que o vídeo propagava "comentários odiosos, preconceituosos e discriminatórios contra minorias e grupos vulneráveis".

Lins foi também proibidovaidebet localizaçãorealizar nas suas apresentações novos comentários contra minorias. A BBC News Brasil procurou o humorista através do seu contato para publicidade, mas não teve retorno.

Falasvaidebet localizaçãoLins sobre negrosvaidebet localização2017 são, inclusive, mencionadas por Adilson Moreiravaidebet localizaçãoseu livro.

Alémvaidebet localizaçãoRacismo Recreativo, Moreira é autorvaidebet localizaçãooutras publicações, como o livro Pensando Como Um Negro: Ensaiovaidebet localizaçãoHermenêutica Jurídica (Editora Contracorrente), que foi finalista do Prêmio Jabutivaidebet localização2020, na categoria Ciências Sociais.

O jurista, que está morando na Califórnia, conversou com a BBC News Brasil por chamadavaidebet localizaçãovídeo. Confira os principais trechos da entrevista.

vaidebet localização BBC News Brasil - Nos últimos dias, dois casos relacionados ao racismo tiveram repercussão no Brasil: primeiro, a decisão da Justiça contra o humorista Leo Lins e depois manifestações racistas contra Vini Jr. durante um jogovaidebet localizaçãofutebol na Espanha. Ambos são casosvaidebet localizaçãoracismo recreativo?

vaidebet localização Adilson Moreira - Não tenho dúvida alguma. Os dois casos envolvem manifestações racistas, e o racismo é um sistemavaidebet localizaçãodominação social que tem dois propósitos fundamentais. Primeiro, garantir vantagens competitivas para pessoas brancas. Segundo, garantir que a respeitabilidade social seja um patrimônio exclusivovaidebet localizaçãopessoas brancas, para que pessoas brancas continuem tendo acesso privilegiado ou exclusivo a oportunidades sociais, pelo simples fatovaidebet localizaçãoserem brancas.

Isso ocorre tanto no Brasil quanto na Espanha evaidebet localizaçãovárias outras sociedades ocidentais. A sociedade precisa ser permanentemente convencidavaidebet localizaçãoque pessoas não brancas não são atores sociais competentes. Então, a degradação moralvaidebet localizaçãopessoas não brancas é um elemento centralvaidebet localizaçãotodas ou quase todas as formasvaidebet localizaçãoracismo. Ela é certamente o elemento central do que eu chamo no meu livrovaidebet localizaçãoracismo recreativo.

O caso do Vinícius Junior atesta issovaidebet localizaçãoforma ainda mais clara, porque ele é um homem negro retinto e um profissionalvaidebet localizaçãoaltíssima competência. Isso leva muitas pessoas brancas a uma situaçãovaidebet localizaçãopânico racial.

Porque se há pessoas negras tão competentes, se a sociedade for convencidavaidebet localizaçãoque pessoas negras, asiáticas ou indígenas podem desempenhar funções sociais com a mesma competência — e, no caso dele, com uma competência muito maior do que a maioriavaidebet localizaçãopessoas brancas —, o status social privilegiado [dos brancos] está ameaçado. Então, eu preciso degradar aquela pessoa.

E, nesse caso, há ainda outro ponto. A advogada Ângela Leite demonstra [no capítulo "Ofender para ganhar", do livro Direito Antidiscriminatório e Relações Raciais] o seguinte: jogadoresvaidebet localizaçãofutebol são atletas. Atletas são pessoas que ocupam um papel muito importante no nosso imaginário social. Eles não tinham nenhuma relevância no século 19, mas desde a segunda metade do século 20, eles se tornaram modelosvaidebet localizaçãomasculinidade.

Então você tem aí uma relaçãovaidebet localizaçãoambivalência, porque o Vini Jr. é um atleta, um profissionalvaidebet localizaçãoalto desempenho, mas ele é negro. Isso significa que ele não representa a masculinidade ideal.

vaidebet localização BBC News Brasil - Você poderia exemplificar que oportunidades sociais seriam essas que seriam restringidas pelo status social dos brancos?

vaidebet localização Moreira - Há centenasvaidebet localizaçãomilharesvaidebet localizaçãoexemplosvaidebet localizaçãocomo o humor e os estereótipos afetam pessoas negras. Isso ocorre no acesso à Justiça, no acesso ao trabalho, no acesso à saúde... No SUS [Sistema Únicovaidebet localizaçãoSaúde], mulheres brancas são atendidasvaidebet localizaçãomédia por 15 minutos, homens brancos por 12 minutos, mulheres negras por 8 minutos e homens negros por 5 minutos.

Veja só a discussão sobre o episódio do Leo Lins. Há uma sérievaidebet localizaçãoatores sociais argumentando que aquilo é censura, que aquilo é o politicamente correto tomando conta do sistema judiciário brasileiro, que teríamos uma legislação antipiada. Mas o humor é uma mensagem, que produz sentido para a outra pessoa na medidavaidebet localizaçãoque ela compartilha as opiniões do indivíduo que contou a piada.

Então, para que o humor racista, sexista, homofóbico possa produzir o efeito cômico, grande parte ou a sociedade como um todo precisa acreditar que mulheres, negros e homossexuais são pessoas inferiores, diferentes, incompetentes, moralmente degradadas.

O que está por trás da ideiavaidebet localizaçãoque "quem não quer consumir, não vá" é a noçãovaidebet localizaçãoque o elemento cognitivo que faz alguém rir da piada está circunscrito àquele momento.

Então, depois que eu saio do show e me encontro com pessoas negras, asiáticas ou indígenas,vaidebet localizaçãooutras situações, eu agiriavaidebet localizaçãomaneira civilizada. Não. O elemento cognitivo que me faz rirvaidebet localizaçãouma piada racista também molda a minha percepção daqueles indivíduosvaidebet localizaçãotodas as outras circunstâncias. Então, se eu sou um profissionalvaidebet localizaçãorecursos humanos e tenho que decidir entre um homem negro e um homem branco, eu vou decidirvaidebet localizaçãofavor do homem branco, porque eu sou culturalmente treinado a acreditar que só pessoas brancas são competentes.

vaidebet localização BBC News Brasil - Então, uma piada não fica restrita ao teatrovaidebet localizaçãoque ela foi proferida?

vaidebet localização Moreira - É inteiramente impossível. E o livro [Racismo Recreativo] mostra isso. Eu fiz questãovaidebet localizaçãoprimeiro analisar uma sérievaidebet localizaçãopersonagens negrosvaidebet localizaçãoprogramas humorísticos e depois,vaidebet localizaçãouma sérievaidebet localizaçãoprocessos judiciais, que mostram que os estereótipos são exatamente os mesmos observados nos programas.

vaidebet localização BBC News Brasil - Quando há leis e decisões judiciais influenciando no conteúdo do humor, isso não traz risco nenhum à liberdadevaidebet localizaçãoexpressão?

vaidebet localização Moreira - A liberdadevaidebet localizaçãoexpressão é um princípio constitucional que surgiu dentrovaidebet localizaçãoum contexto muito específico, nos Estados Unidos do início do século 19,vaidebet localizaçãofunçãovaidebet localizaçãoleis chamadasvaidebet localizaçãoatosvaidebet localizaçãosedição, que proibiam críticas ao governo federal —vaidebet localizaçãoum momento que o governo estava fazendo uma sérievaidebet localizaçãocoisas contrárias ao interesse coletivo. Isso foi considerado um atovaidebet localizaçãocensura, porque ele impedia críticas da população a atos governamentais que efetivamente estavam prejudicando a população.

Isso é censura, quando um indivíduo exerce seu cargovaidebet localizaçãoforma inapropriada e diz: você não vai me denunciar. Estamosvaidebet localizaçãouma democracia onde a informação precisa circular, onde eu, você e o Leo Lins precisamos tomar conhecimento [da informação], expressar opiniões, para decidir pelo bem comum.

É algo muito diferentevaidebet localizaçãodiscursovaidebet localizaçãoódio.

vaidebet localização BBC News Brasil - Então a censura é algo circunscrito à política institucional?

vaidebet localização Moreira - Essa é a origem tanto da discussão sobre censura quantovaidebet localizaçãoliberdadevaidebet localizaçãoexpressão. Mas certamente a censura pode ser exercida contra qualquer indivíduo, contra qualquer grupo cujas manifestações, discursos, são contrários aos interesses dos grupos dominantes. Porque censura implica uma relaçãovaidebet localizaçãopoder.

Pessoas brancas tentam nos convencer que a luta contra o racismo é uma questãovaidebet localizaçãocensura. Não. A luta contra o racismo é uma luta pelos valores civilizatórios.

Não creio que há problemavaidebet localizaçãopessoasvaidebet localizaçãohumoristas brancos fazerem piadasvaidebet localizaçãorelação a pessoas negras. Essas piadas podem assumir uma variedadevaidebet localizaçãoformas, sem que isso signifique a degradação moralvaidebet localizaçãopessoas negras.

Eu posso fazer piadas sobre mulheres ou sobre mulheres específicas sem que isso expresse a degradação moral. Eu posso construir um programavaidebet localizaçãotelevisãovaidebet localizaçãotornovaidebet localizaçãouma mulher que é uma alpinista social, sem que isso seja uma uma degradação das mulheres, como no programavaidebet localizaçãotelevisão mais popular da BBC, Keeping Up Appearances.

vaidebet localização BBC News Brasil - E o que você pensa no humor que faz graça com os brancos pobres nos EUA?

vaidebet localização Moreira - Eu não vejo propósitovaidebet localizaçãofazer piadas racistas com pessoas brancas, pobres e norte-americanas, que eles chamamvaidebet localizaçãored necks (em tradução literal, "pescoços vermelhos"). Especialmente quando nós consideramos o fatovaidebet localizaçãoque pessoas brancas sofrem com a homofobia, sofrem com a pobreza. E aqui nos Estados Unidos, sofrem tremendamente com a pobreza.

E vamos lembrar que representantesvaidebet localizaçãogrupos minoritários evaidebet localizaçãogrupos subalternizados também produzem humor sobre si mesmos.

Há toda uma tradição riquíssimavaidebet localizaçãohumorvaidebet localizaçãojudeus evaidebet localizaçãorelação a costumes existentes dentro da comunidade judaica, sobre a mãe judaica, sobre tradições judaicas... A mesma coisavaidebet localizaçãorelação a negros e a comunidade negra.

vaidebet localização BBC News Brasil - Então a questão do identitarismo se torna mais prominente aí? Ou seja, é mais aceitável que uma pessoa negra faça piada sobrevaidebet localizaçãocomunidade?

vaidebet localização Moreira - Eu acho que nesses casos é diferente porque o humor não está partindovaidebet localizaçãouma pessoa com o objetivovaidebet localizaçãolegitimar a dominação social.

O humor tem uma pluralidadevaidebet localizaçãoobjetivos, então um deles é produzir prazer e graça atravésvaidebet localizaçãosituações irônicas, jocosas, sobre membros do próprio grupo. Tem o objetivovaidebet localizaçãoalívio e relaxamento.

A teoria do racismo recreativo não está baseadavaidebet localizaçãoum sensovaidebet localizaçãohipersensibilidade, como as pessoas, especialmente homens brancos heterossexuais, dizem: "Ah, agora a gente não pode falar mais nada que eles ficam ofendidos". Não é sobre ofensas no sentido superficial da palavra. Não.

As pessoas negras ouvem comentários racistas todos os dias. Elas confrontam atitudes e atos racistas todos os dias. E esse essas atitudes, essas falas, comprometem o status coletivo [dos negros]. As piadas sexistas comprometem o status coletivovaidebet localizaçãomulheres.

Como o humor atua para reproduzir essa ideia? Por meiovaidebet localizaçãopiadas que falam que mulheres são emocionalmente descontroladas, que elas são muito sensíveis. O que elas realmente estão dizendo é: "Mulheres são muito emotivas. Nós homens, pelo contrário, somos seres racionais. Portanto, nós é que devemos ter acesso a cargosvaidebet localizaçãocomando e as mulheres devem estar numa posição subordinada."

O humor racista, sexista, homofóbico é, antesvaidebet localizaçãotudo, comportamento estratégico.

vaidebet localização BBC News Brasil - Depois das últimas manifestações racistas contra o Vini Jr., algumas pessoas levantaram a questão sobre se o Brasil estaria mais avançado no combate ao racismo no futebol. O que você acha?

vaidebet localização Moreira - Eu detesto futebol e não acompanho futebol [risos]. Mas, no livro, eu menciono decisõesvaidebet localizaçãotribunais esportivos que condenaram clubes pela práticavaidebet localizaçãoracismo, como foi o caso do Grêmio [em 2022, o clube foi condenado pela Justiça a pagar multa por um grito racista da torcida]. Eu não creio que isso tenha ocorrido na Espanha.

vaidebet localização BBC News Brasil - Quem deve regular e decidir os limites da liberdadevaidebet localizaçãoexpressão? O Legislativo, o Judiciário, a própria reação espontânea da população...?

vaidebet localização Moreira - Cada um destes atores sociais tem uma função importante nesta regulação. Primeira, nós temos uma Constituição. Nós temos também uma lei que regula crimesvaidebet localizaçãoracismo [a lei 7.716]. A Constituição garante a liberdade o direito à liberdadevaidebet localizaçãoexpressão, mas nunca foi sobre a possibilidadevaidebet localizaçãovocê dizer o que você quiser. Nunca.

[O princípio da] A liberdadevaidebet localizaçãoexpressão tem uma origemvaidebet localizaçãoum objetivo muito específico, que é permitir a circulaçãovaidebet localizaçãodiscursosvaidebet localizaçãoinformação que podem contribuir para o bem comum. Racismo, sexismo, homofobia, nada disso, são coisas que promovem o bem comum.

vaidebet localização BBC News Brasil - Referindo-se ao caso Leo Lins, o humorista Fabio Porchat escreveu no Twitter que "dentro da lei pode-se fazer piada com tudo". Tecnicamente, isso é verdade?

vaidebet localização Moreira - Não, não é. Por causa da lei 7.716. O presidente Luiz Inácio Lula da Silva sancionou uma lei no início deste ano que traz modificações na lei 7.716, e uma delas caracteriza o crimevaidebet localizaçãoinjúria racial quando há o objetivovaidebet localizaçãopromover riso e entretenimento jocoso. Além da Constituição, que traz os princípios da igualdade e da dignidade humana.

vaidebet localização BBC News Brasil - No caso do humorista Léo Lins, a Justiça o proibiuvaidebet localizaçãofazer quaisquer comentários daqui para frentevaidebet localizaçãosuas apresentações contra minorias e categorias vulneráveis. Isso não extrapola os limitesvaidebet localizaçãocomo a Justiça pode interferir na expressãovaidebet localizaçãouma pessoa?

vaidebet localização Moreira - O Tribunalvaidebet localizaçãoJustiça agiu corretamente,vaidebet localizaçãoacordo com a lei, a lei 7.716. Isso não foi censura prévia ou qualquer coisa dessa natureza. O tribunal apenas acenou para ele: olha, tome cuidado para não fazer esse tipovaidebet localizaçãocomentário racista, porque isso configura crime.

vaidebet localização BBC News Brasil - Você é a favorvaidebet localizaçãocotas na magistratura?

vaidebet localização Moreira - Eu sou integralmente a favorvaidebet localizaçãocotas. Isso é absolutamente essencial para que o sistemavaidebet localizaçãojustiça brasileiro possa operarvaidebet localizaçãoforma adequada. A maioria dos membros do sistema judiciário brasileiro são pessoas brancas, heterossexuais evaidebet localizaçãoclasse alta.

[Nota da redação: Segundo um relatório do Conselho Nacionalvaidebet localizaçãoJustiça (CNJ)vaidebet localização2021, 68,3% dos servidores do Poder Judiciário são brancos e 30% negros. Entre os magistrados, 85,9% são brancos e 12,8% são negros. Os dados consideram apenas pessoas cuja raça foi declarada.

Outro relatório do CNJ,vaidebet localização2019, com dados relativos à atividade nos 10 anos anteriores, mostrou que 56,6% dos servidores do Judiciário eram mulheres, enquanto na magistratura o percentualvaidebet localizaçãomulheres caivaidebet localização37,6% no período.]

As pessoas brancasvaidebet localizaçãoclasse média-alta no Brasil têm pouco ou absolutamente nenhum contato com negros. Além disso, são socializadas a partir da ideiavaidebet localizaçãoque o racismo não tem relevância no Brasil.

Como você não tem contato com negros, a representação que você tem, especialmentevaidebet localizaçãohomens negros, é que eles são sujeitos perigosos. Isso vai, conscientemente ou inconscientemente, modificar avaidebet localizaçãodecisão. Isso é tão notório que é escritovaidebet localizaçãodecisões judiciais: "O acusado não parece ter uma aparênciavaidebet localizaçãobandido porque ele tem cabelos loiros e olhos azuis."