A disputa entre monarquia britânica e Etiópia por devoluçãorestos mortaispríncipe africano:

"Queremos os restos mortais como família e como etíopes, porque esse não é o país onde ele nasceu", disse um dos descendentes da família real, Fasil Minas, à BBC.

"Não foi certo" ele ser enterrado no Reino Unido, acrescentou.

Mas,um comunicado enviado à BBC, um porta-voz do PalácioBuckingham disse que o processoremoção dos restos mortais pode afetar outros corpos enterrados nas catacumbas da CapelaSão Jorge, no CasteloWindsor.

"É muito improvável que seja possível exumar os restos mortais sem perturbar o localdescansoum número substancialoutras pessoas nas proximidades", disse o palácio.

A declaração acrescenta que as autoridades da capela são sensíveis à necessidadehonrar a memória do príncipe Alemayehu, mas também têm "a responsabilidadepreservar a dignidade do falecido".

Também disse que no passado a Casa Real havia "atendido a pedidosdelegações etíopes para visitar" a capela.

Sem resposta

O fatoo príncipe Alemayehu ter terminado a vida dele no Reino Unido tão jovem foi o resultado da ação imperial e do fracasso da diplomacia.

Em 1862,um esforço para fortalecer seu império, o pai do príncipe, o imperador Tewodros 2, buscou uma aliança com o Reino Unido, mas suas cartas não obtiveram uma resposta da rainha Vitória.

Irritado com o silêncio e fazendo justiça com as próprias mãos, o imperador manteve alguns europeus, entre eles o cônsul britânico, como reféns. Isso precipitou uma enorme expedição militar, envolvendo cerca13 mil soldados britânicos e indianos, para resgatá-los.

A força também incluiu um funcionário do Museu Britânico.

Em abril1868, eles sitiaram a fortaleza montanhosaTewodros,Maqdala, no norte da Etiópia, e,questãohoras, dominaram as defesas.

O imperador decidiu que preferia tirar a própria vida a ser prisioneiro dos britânicos - uma ação que o transformouuma figura heróica entre seu povo.

Após a batalha, os britânicos saquearam milharesartefatos culturais e religiosos, incluindo coroasouro, manuscritos, colares e vestidos.

Os historiadores dizem que dezenaselefantes e centenasmulas foram necessárias para transportar os tesouros, que hoje estão espalhados por museus e bibliotecas europeus, assim comocoleções particulares.

Os britânicos também levaram embora o príncipe Alemayehu e a mãe dele, a imperatriz Tiruwork Wube.

Os britânicos podem ter pensado que isso era para mantê-los seguros e evitar que fossem capturados e possivelmente mortos pelos inimigosTewodros, que estavam pertoMaqdala,acordo com Andrew Heavens, cujo livro The Prince and the Plunder relata a vidaAlemayehu.

Após a chegada dele à Grã-Bretanha,junho1868, a situação do príncipe econdiçãoórfão atraíram a simpatia da rainha Vitória. Os dois se conheceram na casaférias da rainha na IlhaWight, perto da costa sul da Inglaterra.

Ela concordouapoiá-lo financeiramente e colocá-lo sob a guarda do capitão Tristram Charles Sawyer Speedy, que se tornou tutor do príncipe da Etiópia.

Eles primeiro viveram juntos na IlhaWight e depois o Capitão Speedy o levou para outras partes do mundo, incluindo a Índia.

Mas foi decidido que o príncipe deveria ter uma educação formal.

Ele foi enviado para a escola pública britânicaRugby, mas não foi feliz lá. Mais tarde, ele se mudou para o Royal Military CollegeSandhurst, onde foi submetido a bullying.

O príncipe tinha um "desejo"voltar para casa, diz a correspondência citada por Heavens, mas essa ideia foi rapidamente anulada.

"Sinto por ele como se o conhecesse. Ele foi deslocado da Etiópia, da África, da terra dos negros e permaneceu lá como se não tivesse casa", disse à BBC Abebech Kasa, também descendente da família real etíope.

Eventualmente, Alemayehu acabou sendo ensinadouma casa particularLeeds. Mas ele ficou doente, possivelmente com pneumonia, e a certa altura recusou o tratamento pensando que havia sido envenenado.

Depoisuma década no exílio, o príncipe morreu1879 com apenas 18 anos.

A doença dele tornou-se assuntoartigos na imprensa nacional e a Rainha Vitória escreveuseu diário sobre a tristeza pela morte dele.

"Muito triste e chocada ao saber por telegrama que o bom Alemayehu faleceu esta manhã. É muito triste! Sozinho,um país estranho, sem uma única pessoa ou parente pertencente a ele", disse ela.

"A vida dele não foi feliz, cheiadificuldadestodo tipo, e era tão sensível, pensando que as pessoas olhavam para ele por causasua cor... Todos lamentam muito."

Ela então providenciou o enterro dele no CasteloWindsor.

Os pedidos para que os restos mortais retornem não são novos.

Em 2007, o então presidente do país, Girma Wolde-Giorgis, enviou um pedido formal à rainha Elizabeth 2ª para que o corpo fosse devolvido, mas esses esforços foram infrutíferos.

"Nós o queremosvolta. Não queremos que ele permaneçaum país estrangeiro", disse Abebech Kasa.

"Ele teve uma vida triste. Quando penso nele, choro. Se eles concordaremdevolver seus restos mortais, pensarei nisso como se ele voltasse vivo para casa."

Ele espera obter uma resposta positiva do recém-coroado rei Charles 3º.

"A restituição é usada como uma formareconciliação,reconhecer o que estava errado no passado", diz a professora Alula Pankhurst, especialistarelações anglo-etíopes.

Ela acredita que o retorno do corpo seria "uma formaa Grã-Bretanha repensar seu passado. É uma reflexão e uma aceitaçãoum passado imperial".