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ErrosinstruçõesIsrael para os palestinos criam confusão e podem violar leis internacionais:
Em um comunicado, as IDF afirmaram que os avisos analisados pela BBC eram apenas um elemento dos seus "amplos esforços para encorajar a evacuaçãocivis para fora da zonaperigo".
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O Direito Humanitário Internacional exige que as forças atacantes emitam um aviso prévio eficaz sobre ataques que possam afetar a população civil, a menos que as circunstâncias não permitam.
Israel diz que seu sistemaalerta foi concebido para ajudar civis a fugirzonasperigo, à medida que a guerra contra o Hamas continua. O sistema divide um mapaGazacentenasquarteirões numerados, um modelo nunca antes utilizado pelas pessoasGaza.
Israel produziu um mapa online interativo dos quarteiros para ajudar os habitantesGaza a entenderque quarteirão se encontram e se devem deixá-lo quando for emitido um avisoevacuação.
Esta postagem feita pelas IDF no finaljaneiro, na rede social X, mostra um QR code para o mapa-mestrequarteirões.
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Mas as pessoas com quem conversamos relataram dificuldades para acessar o sistema online, bem como para entender e navegar por ele.
A BBC analisou os canaisrede sociallíngua árabe das IDF no Facebook, X e Telegram, onde encontramos centenaspostagens contendo avisos. Um mesmo aviso foi frequentemente publicado repetidamente – às vezes com pequenas alterações –dias consecutivos oudias e canais diferentes.
Também buscamos avisos impressos que foram fotografados e compartilhados online. As IDF afirmam ter lançado 16 milhões desses panfletos sobre Gaza.
Focamos nossa análise nos avisos emitidos desde 1dezembro, quando as FDI lançaram seu sistemaquarteirões como formafornecer instruções mais precisas do que anteriormente, após pressão internacional.
Agrupamos todas as postagens e folhetos das IDF que encontramos após esta data26 tiposavisos diferentes. A grande maioria fez referência ao sistemaquarteirões-mestres.
Alémavisos e folhetos online, as IDF disseram à BBC que alertaram sobre ataques iminentes por meiomensagens telefônicas pré-gravadas e ligações individuais. Não é possível fazer reportagens abrangentes esoloGaza e, com a rede telefônica gravemente danificada, a BBC não conseguiu reunir evidências da existência das mensagens e chamadas telefônicas.
Os 26 avisos que encontramos continham informações fornecidas pelas FDI que poderiam ser usadas pelas pessoas para que escapassemzonasperigo.
Mas 17 deles também continham erros. Esses erros incluíam:
- 12 avisosque quarteirões ou bairros estavam listados no texto da postagem, mas não destacados no mapa que os acompanhava;
- Noveque as áreas foram destacadas no mapa, mas não listadas no texto que acompanhava;
- 10 avisosque a zonaevacuação sombreada no mapa cortava quarteirõesdois sem que o mapa fosse detalhado o suficiente para que fosse possível definir o limite;
- Seteque setas que deveriam apontar no mapa para áreas“segurança” na verdade apontavam para áreas também sob evacuação.
Além disso, um aviso listou bairros como estandoum distrito quando na verdade estavamoutro. Um segundo confundiu os números dos quarteirõesdois bairros. E, num terceiro, alguns quarteirões listados no texto estavam no lado opostoGaza aos destacados no mapa anexo.
Compartilhamos esses erros com as IDF, mas não obtivemos respostas específicas às questões relacionadas aos mapas. Responderam apenas que o texto das mensagens tinha sido suficientemente claro.
Sobre as setas usadas para direcionar as pessoas para um local seguro, disseram que “é óbvio que as setas apontam para uma direção geral”, reiterando que as principais informações foram fornecidas no texto.
Estas imprecisões e erros podem violar a obrigaçãoIsrael, no Direito Internacional,fornecer “avisos antecipados eficazes”, afirma Janina Dill, co-diretora do InstitutoÉtica, Direito e Conflitos ArmadosOxford.
Se a maioria dos avisos contém erros ou não são claros a pontoa população civil não os conseguir compreender, então, diz ela, “esses avisos não cumpremforma adequada a função que desempenham sob o direito humanitário internacional”.
Isso enfraquece a função dos avisos, acrescenta Kubo Macak, professorDireito Internacional na UniversidadeExeter, que é “dar aos civis a oportunidadese protegerem”.
'Grande discussão'
Em dezembro, Saleh, um empresáriotecnologia da CidadeGaza, estava abrigado com os filhos e sogrosNuseirat, no centroGaza, onde, ele conta, não havia eletricidade, sinaltelefone e havia longos períodos sem sinalInternet.
Ele viu pessoas mortas e outras fugindouma escola próxima enquanto ela estava sendo bombardeada, mas disse que não recebeu qualquer orientaçãoevacuação das IDF.
Em um dado momento, ele encontrou uma pessoa com um cartão SIM que permitia acessar redesdados no Egito eIsrael e se deparou com um avisoevacuaçãouma página do Facebook do governo israelense.
“Houve uma ordemevacuação para vários quarteirões residenciais – (mas) não sabíamosque quarteirão vivíamos. Isso levou a uma grande discussão”, diz Salah.
O acessoSalah à internet era intermitente, mas ele conseguiu enviar mensagens para a esposa, Amani, que está no Reino Unido desde pouco antes da guerra. Ela conseguiu acessar o mapa-mestre onlinequarteirões das IDF e identificar o local onde o marido estava. Mas, olhando para o avisoevacuação no Facebook, o casal percebeu que o quarteirão numerado onde Salah se encontrava estava divididodois – aumentando a confusão da família.
Eventualmente, Salah decidiu ir embora com as crianças. Mas alguns integrantes da família decidiram ficar - até os combates se agravarem ainda mais.
Quando a BBC analisou o avisoevacuação do Facebook que Salah tentou decifrar, encontramos mais pontosconfusão.
Em texto, a postagem pedia às pessoas que deixassem os quarteirões 2220, 2221, 2222, 2223, 2224 e 2225 – todos esses blocos que aparecem no mapa-mestre online das IDF.
Mas, no mapa anexo, os seis quarteirões numerados foram agrupados num só e rotulados erroneamente como quarteirão 2220.
Apesar dessas inconsistências,janeiro, Israel apresentou seu sistemaalertaquarteirões no Tribunal InternacionalJustiça como parte dadefesa contra a acusaçãogenocídio feita pela África do Sul.
Os advogadosIsrael argumentaram que o país estava fazendo tudo que estava a seu alcance para proteger civis e que tinha “desenvolvido um mapa detalhado para que áreas específicas pudessem ser evacuadas temporariamente,vezevacuar áreas inteiras”.
Eles apresentaram um aviso postadorede social no tribunal como prova – mas a BBC encontrou dois erros nele.
Os quarteirões 55 e 99 estavam listados no texto da postagem13dezembro, mas não estavam sombreados no mapa.
As IDF disseram à BBC que quando um númeroquarteirão é mencionado explicitamente no texto, o aviso é suficientemente claro.
Os advogados israelenses também alegaram que as IDF, através dacontaárabe no Twitter, forneciam informações sobre a localizaçãoabrigos pertoáreas que estavam sendo evacuadas. Mastodas as postagens e folhetos que analisamos não vimos nenhum aviso com nomes ou localizações exatasabrigos.
A análise da BBC também descobriu que o sistemaquarteirões das IDF foi usadoforma inconsistente. Nove dos 26 avisos listaram uma misturanúmerosquarteirões e nomesbairros. Outros nove não mencionaram númerosquarteirões. Apesar do link para o mapa-mestre online, eles listaram os bairros - que muitas vezes se estendiam por muitos quarteirões numerados - por nome.
A BBC não conseguiu encontrar uma formadeterminar os quarteirões exatos destes bairros.
A família Abdu, que inclui 32 pessoas, também fugiu da CidadeGaza para o centroGaza no início da guerra. Edezembro eles receberam um folhetoaviso lançadoum avião.
Mensagens no grupo familiarWhatsApp mostradas à BBC revelam a confusão. Eles discutiram durante dois dias o significado do folheto.
Ele continha uma listabairros a serem evacuados, mas a família não conseguiu localizar a maioria dos locais.
O aviso pedia que as pessoas deixassem "o acampamento Al-Bureij e os bairrosBadr, a Costa Norte, al-Nuzha, al-Zahra, al-Buraq, al-Rawda e al-Safa nas áreas ao sulWadi Gaza."
Localizamos um al-Zahra e um Badr nas proximidades, mas eles ficam ao norte do leito do rio Wadi Gaza. Não conseguimos encontrar os bairrosal-Rawda ou al-Nuzha nas “áreas ao sulWadi Gaza”.
A família Abdu sofreu para decidir o que fazer. Deveriam ficar e correr o riscoserem pegos numa forte ofensiva terrestre - ou partir e abandonar o único abrigo que talvez ainda fosse possível encontrar?
Alguns seguiram o que dizia o aviso e foram para “abrigosDeir al-Balah”. Mas quando chegaram sentiram-se inseguros e decidiram voltar. Se fosse para morrer, morreriam juntos, disseram-nos.
Dadossatélite sobre a destruiçãoGaza - analisados por Jamon Van Den Hoek da Oregon State University e Corey Scher do City University New York Graduate Center - mostram que a áreaDeir al-Balah para onde a família fugiu sofreu ataques mais intensos durante esse período do que a área que eles haviam deixado.
As IDF disseram que verificaram “dados relativos à presença e movimentocivis que se seguiram a esses avisos” e que eles não eram confusos ou contraditórios.
E afirmaram que os avisos “salvaram inúmeras vidascivis na FaixaGaza”.
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