Lênin: por que cérebrofifa betlíder comunista foi fatiadofifa betmaisfifa bet30 mil pedaços:fifa bet

Um convidado incômodo

"A história do cérebrofifa betLênin começa com uma proposta ao Politburo (comitê central do partido comunista da extinta União Soviética) do ministro da Saúde, Nikolai Semashko, e do assistente pessoalfifa betStalin, Ivan Tovstukha,fifa bet'exportar' o órgão para Berlim (Alemanha) para estudo", disse o historiador americano Paul Roderick Gregory.

O especialista, que escreveu o livro Lenin's Brain and Other Tales from the Secret Soviet (em tradução livre, "O cérebrofifa betLenin e outras histórias dos arquivos secretos soviéticos") especificou que, no momento da morte do líder, a Rússia careciafifa betneurocientistas.

E, por isso, as autoridades soviéticas convidaram o médico alemão Oskar Vogt (1870-1959) para analisar o órgão, que foi colocadofifa betformaldeído (conhecido como formol) após ter sido retirado durante a autópsia.

Vogt era um renomado neurologista que fundou e dirigiu o Instituto Imperador William para Pesquisa do Cérebro (hoje Sociedade Max Planck, uma prestigiada organização que reúne vários centros científicos alemães).

"A Alemanha tinha o melhor nível científico da época e o maior númerofifa betprêmios Nobel", explica José Ramón Alonso, professorfifa betNeurobiologia da Universidadefifa betSalamanca (Espanha), à BBC News Mundo.

"E embora Vogt tivesse alguma relutânciafifa betaceitar a tarefa, o governo alemão o instou a fazer isso. Naquela altura, a Alemanha estava interessadafifa betmanter boas relações com a URSS, para ultrapassar através daquele país as sanções que a impediamfifa betdesenvolver armamentos após a Primeira Guerra Mundial", acrescenta o especialista, que estudou o assunto para seu livro Historia del Cerebro ("História do Cérebro").

Contudo, o planofifa betlevar o cérebrofifa betLênin para Berlim foi abortado.

"Stalin não gostou da ideiafifa betum estrangeiro estar envolvido nesse processo, porque não conseguiria controlá-lo", diz Gregory, que é bolsista do Instituto Hoover da Universidadefifa betStanford, nos Estados Unidos.

'Como um queijo suíço'

Apesar das objeçõesfifa betsetores da liderança soviética, Vogt acabou sendo convidado a participar da pesquisa e recebeu uma das 30.953 partesfifa betque foram divididos o cérebro do falecido líder, que ele poderia levar para seu laboratório na Alemanha para estudá-lo.

Em troca, Moscou pediu ao especialista alemão que treinasse médicos russos na áreafifa betneurociências e dirigisse a criação do Instituto Russo do Cérebro (hoje Academia Russafifa betCiências Médicas).

No entanto, anos mais tarde, confrontos que Vogt teve com o regime nazista não só lhe custaram as suas posições na Alemanha, mas também ofereceram a Stalin a desculpa para dispensá-lo, acrescentou o historiador americano.

As dúvidas soviéticas sobre a intervenção estrangeira pareciam justificadas. Na décadafifa bet1930, do Terceiro Reich, alegaram que Lênin estava doente e que seu cérebro parecia "queijo suíço", lembra Alonso.

E é por isso que, quase no final da Segunda Guerra Mundial, Moscou lançou uma operação secreta para resgatar a amostra que estava nas mãosfifa betVogt, disseram os pesquisadores belgas L. van Bogaert e A. Dewulf.

"Os soviéticos temiam que a amostra que Vogt tinha caísse nas mãos dos americanos e pudessem usá-la para desacreditar Lênin, dizendo que ele sofriafifa betsífilis ou que não era um gênio", afirma o professor espanhol.

Tentativa fracassadafifa betagradar

No final da décadafifa bet1920, Vogt apresentou os resultados preliminaresfifa betseus estudosfifa betuma sériefifa betpalestras na Europa. E ali afirmou que "os neurônios piramidais da camada III do córtex cerebralfifa betLênin eram excepcionalmente grandes e numerosos".

Para o neurologista alemão, isso explicava a "mente ágil" do falecido líder e afifa betcapacidadefifa bet"relacionar ideias muito rapidamente, bem como o seu sentidofifa betrealidade", razão pela qual chamou Lêninfifa bet"atleta do pensamento associativo".

Embora à primeira vista o especialista tenha dado a Moscou o que procurava, alguns líderes soviéticos não ficaram satisfeitos. A razão? Outros especialistas da época sustentavam que grandes e numerosos neurônios piramidais também eram característicosfifa betatraso mental, alertou um líder comunistafifa betum relatório.

"As descobertasfifa betVogt foram amplamente criticadas porque se acredita que ele disse aos russos o que eles queriam ouvir: que o cérebrofifa betLenin era único e excepcional", diz Alonso.

"As autoridades soviéticas sustentavam que Lênin era o maior dos gênios e esperavam que o seu cérebro tivesse características especiais e que houvesse algo distinguível que lhes permitisse dizer que não era como ofifa betqualquer outro ser humano", acrescenta o neurobiólogo espanhol.

Vogt acreditava que havia ligações diretas entre a estrutura (tamanho e forma) do cérebro e a inteligência das pessoas.

Sob sete chaves

Uma pessoa que defendeu o uso do terror para controlar as massas ou que viveu às custas da mãe até ela morrer pode ser considerada intelectualmente superior?

Os biógrafos soviéticos ignoraram isso e destacaram que a grande memóriafifa betLênin lhe permitiu dominar sete línguas e ser capazfifa betescrever um artigo para um jornalfifa betapenas uma hora.

As investigações para encontrar a raizfifa bet"gênio" do líder bolchevique duraram maisfifa betuma década, pois foi necessário começar a coletar outros cérebros para que os especialistas pudessem compará-los com o do falecido revolucionário, explicam os estudiosos sobre o tema.

Essa é a razão pela qual nas prateleiras da Academiafifa betCiências Médicasfifa betMoscou hoje não apenas o cérebrofifa betLênin é mantido trancado a sete chaves, mas também o do fisiologista Ivan Pavlov, o do engenheiro aeronáutico Konstantin Tsiolkovski e o do escritor Maxim Gorky.

No entanto, os pedaçosfifa betcérebro do fundador da URSS foram comparados não apenas com osfifa betcompatriotas brilhantes, mas também com osfifa betdez cidadãos comuns. Os resultados não foram divulgados e apenas apresentados às mais altas autoridades.

"No Instituto Hoover há uma cópia do relatório que o Politburo recebeu, que tem 63 páginas. O relatório estáfifa betmau estado e contém muita linguagem científica e coisas sem sentido, mas é claro que conclui que Lênin foi um gênio até ao fim dos seus dias. Isso apesarfifa betele ter sofrido quatro derrames cerebrais e ter ficado incapacitado desde o segundo deles", diz Gregory.

"Foi cômico ler esse documento, porque parecia que (seus autores) estavam inventando coisas para chegar à conclusão que queriam", acrescenta.

Embora pesasse apenasfifa bet1,3kg,fifa betcomparação com maisfifa bet2 para alguns escritores famosos da época, os investigadores soviéticos asseguraram que o cérebrofifa betLênin apresentava uma "complexidadefifa betrelevos e peculiaridades na configuração dos sulcos e circunvoluções, especialmente no seu lobo frontal" dignosfifa betalguém com "altas habilidades intelectuais".

Alonso rejeita as conclusõesfifa betVogt e daqueles que o sucederam.

"Ninguém acredita que o tamanho ou a forma do cérebro tenha alguma coisa a ver com a inteligência (...) Há pessoas com cérebros grandes que deixaram grandes obras artísticas ou científicas, mas também há pessoas com cérebros pequenos que o fizeram. Não encontramos um padrão que nos permita dizer onde está a genialidade", explica.

E Alonso lembra que "hoje continuamos discutindo o que chamamosfifa betinteligência".

"(O pintor Vincent) Van Gogh é considerado um gênio artístico, mas era uma pessoa com muitos problemas. O mesmo aconteceu com (o físico Isaac) Newton, que é considerado o melhor cientista da história, mas não tinha amigos e vivia quase na miséria, apesarfifa better dinheiro", conclui o especialista.

Uma arma política

Após a dissolução da URSSfifa bet1991, alguns cientistas que guardavam ou examinavam o cérebrofifa betLênin começaram a oferecer outras versões além da oficial.

"Certamente tinha um grande lobo frontal e um grande númerofifa betneurônios piramidais. Agora, o que isso significa? Só podemos especular (...) que o cérebro não tem nadafifa betespecial", admitiu Oleg Adrianovfifa bet1993, então diretor do centro que protege os cérebros do líder bolchevique.

"Não creio que ele fosse um gênio", concluiu o cientista russofifa betdeclarações à imprensa britânica.

O estudo do cérebrofifa betLênin também foi uma das armas com as quais Stalin procurou se estabelecer como herdeiro do fundador da URSS.

"Stalin não só queria provar a genialidadefifa betLênin, mas também se tornar o intérprete desse gênio, a fimfifa betfortalecer afifa betposição na luta pelo poder que começou assim que Lênin morreu", acrescenta Gregory.

Mas o cérebrofifa betLênin não foi a única coisa que Stalin usou nafifa betguerra pelo poder. Ele ignorou os desejos do seu antecessor e dafifa betfamília e decidiu preservar o corpofifa betLenine e exibi-lo publicamente como ofifa betum santo no mausoléu construído sob os muros do Kremlin, onde permanece até hoje.

No entanto, especialistas como o historiador cubano Armando Chaguaceda acreditam que o próprio Lênin deu origemfifa betvida ao seu posterior processofifa betendeusamento.

"Lênin foi o criador do Estado totalitário soviético, que tem a propaganda entre os seus pilares", diz.

"Uma coisa é o que dizem os dirigentes e outra coisa é o que acontece na prática, para todos estes líderes: Lênin, Fidel Castro ou Mao Tse Tsung disseram que não queriam um culto à personalidade àfifa betvolta, mas isso era retórica, porquefifa betvida eles organizaram ou patrocinaram um culto àfifa betfigura e isso continuou após suas mortes", afirma.