O que explica recordecasa das apostas netincêndios no Pantanal:casa das apostas net

Mas, além da conjunçãocasa das apostas nettantos 30s, essa é uma região forjada no fogo, dependente dele. É uma área úmida, onde não se imagina o fogo como parte da paisagem natural. Mas ele é fundamental para a manutenção das características do local.

Os lugares que mais queimam no Pantanal são também os lugares que mais inundam, semelhante ao que ocorre no delta do Okavango,casa das apostas netBotsuana. Nos períodos úmidos, há muita produçãocasa das apostas netmatéria orgânica.

Muitos dos capins do Pantanal são adaptados ao fogo, e produzem muita matéria seca, ou seja, crescem e, quando rebrotam, o capim do ano anterior seca e permanece ali. Nos períodos secos, essa biomassa produzida fica disponível para queima.

Atualmente, o Pantanal está vivendo um períodocasa das apostas netuma seca extrema, que começoucasa das apostas net2019.

Nesse tempo, só houve um anocasa das apostas netcheia: 2023. Então, toda a biomassa produzida na cheia do ano passado é hoje material passívelcasa das apostas netentrarcasa das apostas netcombustão.

Como acontecem as cheias e secas no Pantanal?

O que chamamoscasa das apostas netPantanal é, na verdade, um lugar onde chove pouco. Da borda leste para a borda oeste do Pantanal, temos uma precipitação médiacasa das apostas netcercacasa das apostas net1.000 mm/ano.

Seria quase clima quasecasa das apostas netsemiárido, não fossem as chuvas nas cabeceiras. Da parte norte do Pantanal, vêm as águas dos rios Paraguai e Cuiabá, que são os mais caudalosos. Da parte leste, principalmente dos rios Aquidauana e Miranda.

Quando esses rios vertem grande volumecasa das apostas netágua, eles transbordam e o Pantanal inunda.

E o que temos observado nesses últimos anos é um decréscimo das chuvas,casa das apostas netuma maneira geral, nas cabeceiras. Então, no Cerrado e um pouco já na transição para a Amazônia (áreas das cabeceiras desses rios), está chovendo menos.

Historicamente, a região tem os ciclos plurianuaiscasa das apostas netseca e cheia. A série mais longacasa das apostas netdados que temos é do rio Paraguai, onde a Marinha faz medições desde 1900. Do início das coletas até 1960, houve bastante oscilação, com anos mais cheios e anos mais secos.

Em 1960, o Pantanal entrou num ciclocasa das apostas netseca, até 1974, com alguns poucos anoscasa das apostas netcheias no meio, como agoracasa das apostas net2023. De 1974 até 2018, o Pantanal viveu um ciclocasa das apostas netgrandes cheias, até que,casa das apostas net2019, voltamos ao padrãocasa das apostas net1960.

Há certamente na região uma questão cíclica. E isso se alia aos eventos extremos, que são efeito das mudanças climáticas. Estamos, portanto, vivendo um ciclocasa das apostas netseca, exacerbado pelos eventos extremos.

E estamos aindacasa das apostas netum períodocasa das apostas netaprendizagem. Como estamos num ciclocasa das apostas netseca que começoucasa das apostas net2019, depoiscasa das apostas netum longo períodocasa das apostas netcheias, as pessoas mais novas, mesmo as que estão acostumadas ao Pantanal, ainda não viveram um ciclocasa das apostas netseca como essecasa das apostas netagora. Para eles é uma novidade e pouca gente sabe o que fazer.

Resiliência e adaptação

Em 2024 convergiram todos esses fatores: a regra dos 30, a grande quantidadecasa das apostas netbiomassa produzida no ano anteriorcasa das apostas netcheias, um ciclocasa das apostas netseca, mudanças climáticas, períodocasa das apostas netaprendizagem.

Isso faz com que esse ano a região enfrente incêndios que superam o registrado no mesmo períodocasa das apostas net2020, ano recordecasa das apostas netqueimadas.

E a esses fatores se junta ainda outro: a capacidadecasa das apostas netadaptação da flora local para essa alternânciacasa das apostas netfogo e água.

O Pantanal é mais preparado para o fogo do que a Amazônia. Por aqui, um ambiente, quando muito sensível, leva cercacasa das apostas net20 anos para se recuperar.

Na Amazônia, há registrocasa das apostas netregiões que demoraram maiscasa das apostas net40 anos para se recuperar, ou que nunca voltaram a ser o que eram.

Algumas áreas do Pantanal, como as matas ciliares, são mais sensíveis ao fogo.

Dependendo da intensidade, o fogo vai moldar como essa mata ciliar vai crescer, restrita a árvores que consigam se estabelecer nesses ambientes.

O Cerrado tem cercacasa das apostas net12 mil espécies da flora, contando árvores, arbustos, ervas e todos os outros hábitoscasa das apostas netcrescimento.

O Pantanal tem apenas 2.500 para todos os hábitoscasa das apostas netcrescimento, porque sobrevivem aqui apenas as que conseguem driblar a questão da inundação e também do fogo.

Já os campos inundáveis são extremamente resistentes ao fogo: você queima hoje, amanhã eles começam a rebrotar.

Algumas gramíneas podem crescer junto com a inundação e chegar a 5mcasa das apostas netaltura — às vezes ficam maiores que a cana-de-açúcar.

Mesmo quando os campos não inundam, só a subida do lençol freático leva a uma produção grandecasa das apostas netbiomassa.

O efeito desse fogo associado a inundação é tornar a paisagem mais aberta. Depois que uma área inunda, só vão germinar as árvores que conseguem conseguem germinar embaixo d'água ou que resistem a inundação após a germinação no seco.

Com a ocorrênciacasa das apostas netfogo, essas árvores que germinaram e/ou cresceram sob a influência da inundação, podem morrer. A tendência é que os ambientes fiquem mais abertos, com árvores e arbustos substituídos por densas áreascasa das apostas netcampo com gramíneas.

Nos grandes incêndios, perdem todos

Recentemente o governo federal aprovou a Política Nacional do Manejo Integrado do Fogo, e o Mato Grosso do Sul também aprovoucasa das apostas netlei estadual do manejo.

Esse manejo envolve todo um trabalho educativo,casa das apostas netvalorização do manejo tradicional que as pessoas fazem e definição dos momentos e lugares adequados para a realização desse manejo.

Não é só controle e combatecasa das apostas netincêndios, mas um processocasa das apostas netconversar com as pessoas, planejar quem vai queimar, quando vai queimar, quantas áreas vão queimar. Tudo isso para reduzir a biomassa disponível para os períodos mais secos do ano.

Estávamos auxiliando o governo do estado na criaçãocasa das apostas netum programacasa das apostas netfogo prescritocasa das apostas netfazendas com o uso da plataforma SIFAU, que foi desenvolvida pela UFRJcasa das apostas netparceria com a UFMS para auxiliar o planejamento do Manejo Integrado do Fogo.

Com o uso do fogo prescrito, é possível reduzir a biomassa através da queima preventiva num períodocasa das apostas netque não há riscocasa das apostas netincêndio para evitar que, no período mais seco, exista combustível suficiente para gerar os grandes incêndios. É combater o fogo com fogo.

Quando o governo estava prestes a implementar o programa, os incêndios começaram. A queima prescrita ficoucasa das apostas netsegundo plano, e agora lidamos com o combate.

Isso leva a prejuízoscasa das apostas netdiversos níveis. Na questãocasa das apostas netsaúde, incêndios grandes produzem muita fumaça, que afeta a saúde das pessoas, com o aumentocasa das apostas netdoenças respiratórias.

Na frente econômica, o fogo pode destruir cercas, tratores e construções nas fazendas. Até o aeroportocasa das apostas netCorumbá acaba ficando fechado por dias quando não há visibilidade para pousos e decolagens.

Além disso, apesar da capacidadecasa das apostas netadaptação da flora local, se o fogo se torna muito frequente, algumas espécies mais sensíveis vão eventualmente se tornar raras no sistema ou até sumir.

Uma pesquisacasa das apostas netandamento sobre liquens mostrou que as áreascasa das apostas netmata que pegaram fogocasa das apostas net2020 não tinham liquens. Já áreas que pegaram fogo há 20 anos voltaram a tê-los.

É como um efeito sanfona, que acontece também com a fauna da região. Mas esse efeito sanfona tem um limite. Sem a implementaçãocasa das apostas netuma política adequadacasa das apostas netmanejo do fogo, o Pantanal tende a sofrer cada vez mais com essa conjunçãocasa das apostas netfatores, agravados pelas mudanças climáticas.

Geraldo Alves Damasceno Junior*: Professor do Institutocasa das apostas netBiociências, Universidade Federalcasa das apostas netMato Grosso do Sul (UFMS).

**Este artigo foi publicado no The Conversation e reproduzido aqui sob a licença Creative Commons. Clique aqui para ler a versão original.