O soldado americano que aprendeu a tocar com pianobwana bet sign upSaddam Hussein e hoje é músico premiado:bwana bet sign up

Homem tocando piano

Crédito, Cortesia Michael Trotter

Legenda da foto, Michael Trotter aprendeu a tocar piano no Iraque

Essa experiência transformoubwana bet sign upvidabwana bet sign upmuitos aspectos - deixando cicatrizes físicas, mentais e emocionais - e acabou sendo o iníciobwana bet sign upuma carreira musical que agora seguebwana bet sign uptrajetória ascendente.

Trotter faz parte, juntamente combwana bet sign upesposa, Tanya Trotter,bwana bet sign upThe War and Treaty, uma dupla que já lançou três álbuns e que vem conquistando seu lugar no cenário musical americano.

Em 2019 e 2020, eles venceram na categoria artista do ano nas premiações Americana Music Honors & Awards e no Folk Alliance International, respectivamente.

Aindabwana bet sign up2020 apresentaram-se no Grammy, prestigiosa cerimôniabwana bet sign uppremiação da indústria musical dos EUA, e neste ano foram indicados a dupla do ano no Academy of Country Music Awards.

E tudo isso começoubwana bet sign upum paláciobwana bet sign upSaddam, com um piano.

O elo mais fraco

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A primeira vez que Trotter teve contato com o piano Hussein foi graças a Robert Scheetz, um dos capitãesbwana bet sign upsua unidade.

"Ele percebeu o medo que eu tinha quando cheguei no Iraque. Não é como ir à Disney. Você vai para a guerra e desde o momento que você chega sente o ambiente. Você ouve os tiros, as explosões e sente até o cheiro da perdabwana bet sign upvidas", diz Trotter.

"Scheetz me identificou como o elo mais fraco, como a pessoa que poderia morrer. Ele precisava me tirar do meu medo, e leu no meu perfil que a música era o que me libertavabwana bet sign uptudo. Como ele sabia que no palácio onde estabelecemos nossa base havia um piano pertencente a Saddam Hussein, ele me levou para o porão onde estava o instrumento", conta.

Era um piano vertical preto "magnífico", segundo Trotter. Hoje ele confessa - anos depois, quando conseguiu tocar outro piano - ter descoberto que aquele instrumento estava desafinado.

Não foi fácil chegar àquele porão - era preciso passar por escombros, tijolos e ruínas. Mais uma lembrança da guerra.

Fotobwana bet sign upTrotter com uniformebwana bet sign upmilitar

Crédito, Cortesia Michael Trotter

Legenda da foto, Trotter tinha 20 anos quando foi para o Iraque

"Quando você pensabwana bet sign upum palácio, imagina algo bonito, mas este era um palácio bombardeado. Algumas das paredes haviam sido derrubadas, parte do telhado ainda estava caído. Muitas partes foram destruídas. Às vezes eu tinha que escalar escombros só para chegar ao piano", relata.

Seguindo o conselhobwana bet sign upScheetz, que o convidou a usar o piano "sempre que quisesse encontrar o caminhobwana bet sign upvolta para casa", Trotter desceu ao porão todos os dias durante 15 meses, tentando aprender a tocá-lo.

Procurando harmonias

O amor pela música ébwana bet sign upfamília. Sua avó materna toca piano e todas as suas tias cantam música gospel. Também é o casobwana bet sign upsua mãe, que ele descreve como uma cristã devota e cujo fervor religioso acabou marcando seu amor pela música.

"Eu crescibwana bet sign upCleveland, Ohio, onde havia uma infinidadebwana bet sign upestaçõesbwana bet sign uprádio oferecendo todos os tiposbwana bet sign upcoisas boas e muito ruins. E minha mãe, para garantir que eu não sucumbisse às ruins, mexeu aparelhobwana bet sign uprádiobwana bet sign upcasa pra que ele sintonizasse uma estação AM que durante o dia só falava da Bíblia, mas que à noite tocava umas músicas velhas e boas. Foi isso que acabou definindo meu gosto musical", diz.

Foi assim que ele conheceu a obrabwana bet sign upNat King Cole, Willie Nelson, Patsy Cline, Nina Simone, Harry Belafonte e os Everly Brothers.

"Eles não focavambwana bet sign upum gênero específico. Se a música fosse boa, tocavam. Tudo era muito emocionante", lembra.

Assim, quando teve a oportunidadebwana bet sign upsentar-se ao pianobwana bet sign upSaddam Hussein, embora não soubesse tocá-lo, Trotter já era apaixonado por música.

Soldado tocando pianobwana bet sign upmeio a escombros

Crédito, Getty Images

Legenda da foto, Saddam tinha diversos pianosbwana bet sign upseus palácios

"Sempre consegui ouvir as notas e harmonizar. Então, descia lá e tentava tocar com um só dedo. Minha estratégia era encontrar três notas no piano. Harmonia. Não sabia que se chamavam acordes. Eu não conhecia nenhum termo. E uma das músicas com a qual comecei foi Lean On Me, porque é muito fácilbwana bet sign uptocar no piano", diz Trotter, que começa a cantarolar esta clássica cançãobwana bet sign upBill Withers.

"Então,bwana bet sign uprepente, eu dizia: 'Uau'. Essas notas soam muito bem juntas. E pensava que se tentasse a mesma coisa com a mão esquerda, talvez pudesse encontrar uma maneirabwana bet sign uptocar. E,bwana bet sign uprepente, estava desenvolvendo meu próprio estilo neste magnífico instrumento."

Soldado lendo

Crédito, Cortesia Michael Trotter

Legenda da foto, Trotter foi militar entre 2003 e 2007

Canções para funerais

Trotter gostavabwana bet sign upsentar ao piano todos os dias, tentando aprender a tocar e compor, mas foi somente com a morte do capitão Scheetz durante uma missão quebwana bet sign uprelação com aquele instrumento ganhoubwana bet sign upverdadeira dimensão.

"Eu tocava, e havia momentosbwana bet sign upque sentia que tinha algo bom. Mas me faltava uma ligação emocional com o instrumento, até que ele foi morto. Dalibwana bet sign updiante, eu tinha um novo propósito, um novo motivo para aprender a tocar. Eu queria homenagear a ele e a meus colegas. Eu queria me conectar com eles e ter uma sensaçãobwana bet sign upcura. Acho que abwana bet sign upmorte me desbloqueou e me permitiu conectar com o instrumento e mergulhar na composição", diz.

Trotter escreveubwana bet sign upprimeira músicabwana bet sign uphomenagem a Scheetz e cantou para seus companheiros no funeral, um gesto que acabaria transformandobwana bet sign upvida.

"Normalmente, durante os funerais militares, os soldados são muito estoicos. Eles se mantêm muito controlados, mas não foi o que aconteceu durante essa música. Nós desabamos, choramos juntos e nos abraçamos. E isso mudaria meu trabalho."

"Meu comandante viu aquele momento. E ele queria saber se eu havia escrito aquela música e quanto tempo havia demorado. Eu respondi e ele me disse: 'Bom, agora esse vai ser o seu trabalho. Você vai escrever músicas sobre os soldados e vai cantá-lasbwana bet sign upfunerais. Porque isso está ajudando a curar nossos rapazes e,bwana bet sign upuma forma estranha, está levantando o moral da minha unidade'."

Soldados andandobwana bet sign upmeio a escombros

Crédito, Getty Images

Legenda da foto, Militares americanos estabeleceram basesbwana bet sign uppaláciosbwana bet sign upSaddam

Música e cura

Esta nova função daria um novo significado àbwana bet sign upestada no Iraque.

Quando Trotter decidiu se alistar para ir para a guerra, ele estava tentando colocarbwana bet sign upvidabwana bet sign upordem. Tinha 20 anos ebwana bet sign upnamorada na época acabarabwana bet sign upengravidar.

"Eu estava determinado a pararbwana bet sign uptomar decisões horríveis. Eu faria algo para garantir que minha filha tivesse uma chance na vida e que eu pudesse cuidar dela. Entrei para o exército porque isso significava ter acesso a um planobwana bet sign upsaúde e não precisar mais me preocupar com aluguel nem com nada alémbwana bet sign upcomida e contabwana bet sign upcelular", comenta.

Mas, como descobriu quando voltou do Iraque, através da música ele encontrou mais do que estabilidade financeira.

"Na segunda vez que me alistei para ir ao Iraque, eu fiz por escolha. Quando voltei para casa me senti muito vazio. Senti que ninguém mais entendia quem eu era e que estava desorientado, sem rumo. Senti que meu trabalho lá não havia terminado e então voltei e fiquei lá até fevereirobwana bet sign up2007."

Nessa segunda passagem pelo Iraque, Trotter se dedicou principalmente a fazer música. Ao voltar para os Estados Unidos, contudo, se sentiu novamente desorientado.

Homem tocando piano e cantando

Crédito, Getty Images

Legenda da foto, Trotter usa a música como formabwana bet sign upfalar sobre seus traumas

"Mentalmente, no Iraque, passei por muita coisa, estava perdendo amigos, irmãos e irmãs. Não estava lidando com minha própria cura. Estava muito focadobwana bet sign upcantar e fazer as pessoas felizes, e nãobwana bet sign upser feliz eu prório."

Ele voltou com lesões físicas e mentais, sofrendobwana bet sign uptranstornobwana bet sign upestresse pós-traumático crônico (TEPT), ansiedade crônica, depressão crônica e lesões nas pernas.

Assim, ficou vagando sem um objetivo claro, tentando dar sentido àbwana bet sign upvida até que,bwana bet sign up2010 conheceu a atriz e cantora Tanya Blount (hoje Trotter),bwana bet sign upatual esposa.

Juntos formaram um duo musicalbwana bet sign up2014, quebwana bet sign up2017 rebatizaram para The War and Treaty, um nome que remete abwana bet sign upexperiênciabwana bet sign upvida e à ideia da música como ferramentabwana bet sign upcura.

"O amor e a música me deram esperança. E acredito que todos merecem sentir essa alegria que eu sinto. Por isso, não incluímosbwana bet sign upnossos discos oubwana bet sign upnossos shows nenhuma música que não nos comova."

Com um estilo que Trotter identifica como americana - por conter elementosbwana bet sign upblues, country, jazz, rock and roll, soul, R&B e gospelbwana bet sign upsuas formas clássicas - a dupla entrou para a listabwana bet sign upartistas emergentes da Billboard neste ano.

Homem toca piano e mulher canta

Crédito, Getty Images

Legenda da foto, Trotter ebwana bet sign upesposa hoje cantam juntos

No entanto, o caminho até aqui não tem sido fácil - incluindo uma grave crisebwana bet sign upsetembrobwana bet sign up2017, quando Trotter esteve prestes a tirar a própria vida.

"Eu havia paradobwana bet sign uptomar remédios. Estavabwana bet sign upum momento da minha vidabwana bet sign upque sentia que nada estava funcionando. Fui demitido do trabalho. Tínhamos um avisobwana bet sign updespejo na portabwana bet sign upcasa. Eles levaram meu carro por faltabwana bet sign uppagamento. Senti que tinha atingido o fundo do poçobwana bet sign uptermosbwana bet sign upfracasso. Minha depressão e meu estresse pós-traumático estavambwana bet sign upalta e eu decidi que eu era o problema, então eu iria sairbwana bet sign upcena", relata o artista.

"Eu estava pronto, mas minha esposa identificou a depressãobwana bet sign upmim naquele dia e, antes que eu percebesse, a polícia e os paramédicos estavam na minha porta. Ela se sentou ao meu lado e disse: 'Sei que você está planejando tirarbwana bet sign upvida hoje, mas eu só preciso que você espere mais cinco minutos. Me dê cinco minutos para te amar e fazer tudo fazer sentido.' Nós dois choramos e eu disse 'ok'.".

"E ainda estou vivendo esses cinco minutos."