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PortoMariel: com área 50% vazia, cubanos esperam ajuda'irmão' Lula para atrair empresas brasileiras:
Sua construção, feita pela empreiteira brasileira Odebrecht, contou com o financiamentoUS$ 638 milhões do BNDES. Em plena capacidade operacional, o local prometia funcionar como um motor capitalista a sustentar o regime comunista cubano. Mas até hoje o complexo portuárioMariel segue sendo uma promessa jamais inteiramente realizada.
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‘Mais do que um amigo, um irmão’
Agora, com o retorno ao poder do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, a quem o governo cubano credita a viabilização da obra, Cuba estabeleceu a atraçãoempresários brasileiros para a zona especial desenvolvimentoMariel como uma estratégia primordial.
Criada nos moldes das Zonas Econômicas Especiais da China, as ZEEs, a zonaMariel prevê incentivos fiscais (como impostos zerados sobre mãoobra e sobre a produção nos dez primeiros anos), facilitaçõesinfraestrutura, como o fornecimentoágua e energia, e acesso fácil aos mercados do Caribe.
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Em 2016, no auge do entusiasmo com o empreendimento, havia listacentenasempresas interessadasse instalar ali graças à proximidade com o mercado consumidor americano. Naquele período, até mesmo o então presidente dos EUA Barack Obama autorizou a instalaçãouma plantaMarieluma fábricatratores.
Boa parte do entusiasmo se reverteu depois que a administraçãoDonald Trump voltou a apertar os torniquetes das sanções à Cuba. Sem poder produzir visando o mercado americano, boa parte das empresas - incluindo as brasileiras- desistiu da instalaçãoMariel.
“Sempre tratamos o Brasil como prioridade”, diz Martínez. Segundo ela, no entanto, na esteira dos processos políticos que retiraram Dilma Rousseff do poder e, mais tarde, com a eleição presidencialJair Bolsonaro, tanto os políticos quanto a imprensa brasileira se tornaram “agressivos” à Cuba. Tempos que ela acredita estarem superados.
Nesta semana, dois funcionários da Zona especialMariel desembarcaramSão Paulo, onde passarão alguns dias promovendo o Porto a empresários, especialmente os do setor agro-industrial, alimentar, petroleiro e energético.
Novos financiamentos do BNDES?
“Para o brasileiro, a decisãoinvestir agora se torna muito mais viável. Lembremos que há maiscinco anos o BNDES não nos renova um empréstimo, que os financiamentos foram fechados, que os investimentos e as políticas mudaram, que houve maior controle sobre as saídascapitais do Brasil e isso afeta a empresário brasileiro”, argumenta Martínez.
De fato, desde o fim do governo Dilma, não houve renovaçãoempréstimos do bancodesenvolvimento brasileiro ao governo cubano.
E a partir do segundo semestre2018, Cuba deixoupagar as parcelas do financiamento conforme os contratos assinados entre 2009 e 2013.
Por isso, a ilha foi incorporada a uma listainadimplentes, condição na qual o Conselho Cadastral do BNDES, responsável pela aprovaçãocrédito, tem por regra negar qualquer tiponovo empréstimo.
Segundo informado pelo BNDES à BBC News Brasil, a dívida atualizadaCuba com o banco, contados os juros, chega a US$ 520 milhões - o equivalente a maisR$ 2,5 bilhões.
Questionada sobre as razões da inadimplência cubana, Martínez diz que o assunto foge ao seu escopoatuação, mas demonstra esperançaque o banco brasileiro possa se tornar novamente uma fonterecursos para o país.
“Agora estamosum momento melhor, com um amigo (Lula), até porque alémamigo ele é um irmão, alguémquem gostamos, e há possibilidades dos empresários brasileiros retornarem a Cuba sem serem pressionados pelo governocontrário. Acho que estamos no momento certo para fazer essa promoção, por isso nos esforçamos tanto no trabalho”, diz Martínez, enquanto avança os slidesuma apresentaçãoPower Pointlíngua portuguesa sobre o complexoMariel.
Segundo ela, desde as eleições brasileiras2022, já repetiu a apresentação ao menos uma dezenaempresários brasileiros. Na semana passada, foi a vez do presidente da Apex, Jorge Viana, conhecer os slides. Questionado sobre qual o potencialnegócios e que empresários brasileiros estariam interessadosvir a Cuba, Viana não respondeu à BBC News Brasil até a publicação desta reportagem. Carlos Gabas, secretário-executivo do Consórcio Nordeste, foi outra das autoridades brasileiras que esteve recentementereunião com a diretoraMariel.
Martínez se nega a revelar os nomes dos empresários que disse ter recebido. Segundo ela, o embargo americano, que proíbe, por exemplo, que um navio atraquequalquer porto nos EUA dentroum período6 meses após atracarCuba, também inclui medidasperseguição concorrencial às empresas que se instalam na ilha.
Por isso, uma das cláusulas do contrato das empresas que se incorporam à zonaMariel é o sigilo. O complexo não divulga as empresas que o compõem. Mas sabe-se que há ali a multinacional Unilever, a Nescor (associação da Nestlé com uma estatal cubana) e a espanhola Profood. O complexo divulga as nacionalidades das empresas que ali operam: são 17 espanholas, cinco vietnamitas, três italianas, três mexicanas.
E somente uma, a BrasCuba, tem origem brasileira. Trata-seuma associação entre a empresacigarros Souza Cruz e uma estatal cubana, a Tabacuba. Mas a Souza Cruz já atuaCuba há 28 anos e apenas se transferiu para dentro da zona especial. Na prática, embora algumas companhias do Brasil tenham iniciado o processoimplantação, nenhuma nova empresa do país se instalouCuba após a conclusão do porto.
Nos dias que antecederam a chegadaLula ao país, nesta sexta, 16/9, veículosimprensa cubanos ou hispânicos com circulaçãoCuba, como a Rádio Havana e o Infobae, retrataram a expectativaque a visita do presidente brasileiro represente uma nova levarecursos a Cuba. Não há empresários na comitiva que parte hojeBrasília.
Mas assessoresLula disseram à BBC News Brasil que o encontro com o líder cubano Miguel Diaz-Canel deve inaugurar uma renegociação da dívida com o BNDES. Não se trataum perdão, masum “reescalonamento” para adequar o regimepagamento a algo que Cuba possa cumprir.
O país vivemaior crise econômica desde a revolução comunista,1959, resultado do recrudescimento do embargo americano, da pandemiaCOVID que derrubou o turismo na ilha, e da inflaçãogrãos e energia, que Cuba importa massivamente.
“Aos cubanos interessa a renegociação e a retomadapagamentos até para que possam pegar novos financiamentos”, disse à BBC News Brasil um diplomata brasileiro com conhecimento das negociações.
Há dúvidas se uma mera formalizaçãorenegociação entre os presidentesBrasil e Cuba seria o suficiente para que o BNDES retirasse o governo cubano da condiçãoinadimplência e reabrisse linhascrédito ao país.
A BBC News Brasil consultou oficialmente o banco sobre isso, mas não houve resposta até a publicação desta reportagem.
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