Putin e Biden sobem tom e apontam que guerra da Ucrânia está longe do fim:roleta 10
Putin, porém, afirmou que enquanto os países da Aliança do Tratado do Atlântico Norte (Otan) seguirem enviando armas para os ucranianos, a guerra não parará.
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A tréplicaroleta 10Biden veio apenas algumas horas depois,roleta 10um discurso na capital polonesa, Varsóvia, no qual ele tentou não apenas refutar as palavrasroleta 10Putin mas aumentar o moral dos integrantes da OTAN e dos americanos, cujo apoio ao lado ucraniano - que tem significado altos custos para os americanos - vem esmaecendo.
"Putin já não duvida da força da nossa coalizão, mas duvida da força da nossa convicção" disse Biden, para na sequência complementar: "Nós não estamos cansados".
Biden disse ainda que "se a Rússia pararroleta 10atacar a Ucrânia, a guerra acaba. Se a Ucrânia pararroleta 10se defender, quem acaba é a Ucrânia",roleta 10resposta direta às acusaçõesroleta 10Putinroleta 10que a Otan prolonga a guerra.
Os dois discursos têm um arroleta 10"déjà vu", já que tanto Putin quanto Biden discursaram há um ano, sobre os assuntos, respectivamente no Parlamento russo e na Polônia.
E se no front o momento éroleta 10certa indefinição eroleta 10desenvolvimentos pouco decisivos - apesarroleta 10destrutivos, a batalha retóricaroleta 10Putin e Biden dá pistas sobre quão bélicos devem ser os próximos meses ou mesmo anos na área.
Afinal, o que disse Putin?
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O líder russo fez um dos cada vez mais incomuns discursos presenciais ao Parlamento russo, no qual ele qualificou o momento como "um divisorroleta 10águas" na história da Rússia, uma situação "difícil" e um desafio existencial para a identidade russa, como Putin a compreende.
"É um momentoroleta 10mudanças cardeais e irreversíveisroleta 10todo o mundo, os eventos históricos mais importantes que moldarão o futuroroleta 10nosso país eroleta 10nosso povo, quando cada umroleta 10nós carrega uma responsabilidade colossal", disse.
Na sequência, ele culpou totalmente o "Ocidente" (leia-se EUA e Otan) por detonar a "operação especial" na Ucrânia, como o Kremlin chama a guerra iniciadaroleta 10fevereiroroleta 102022.
"Eu quero repetir que são eles os responsáveis pela guerra. Nós estamos usando a força para tentar interrompê-la", disse Putin, ao longoroleta 10maisroleta 10uma hora e meiaroleta 10discurso.
O argumento tem sido usado reiteradamente por Putin que,roleta 102014, culpou a União Europeia pela invasão militar russa à Crimeia.
Reiteradamente acusadoroleta 10ser um autocrata por Biden e autoridades europeias, Putin afirmouroleta 10seu discurso que os líderes das democracias ocidentais "têm tentado usar princípios como democracia e liberdade para defender seus valores totalitários" e "desviar a atenção da populaçãoroleta 10escândalosroleta 10corrupção eroleta 10problemas socioeconômicos".
O líder russo voltou a acusar a Ucrâniaroleta 10neonazismo - exatamente como fez há um ano também diante do Parlamento russoroleta 10um discurso no qual afirmou que o território ucraniano é historicamente uma área russa, separada da Rússia por decisão do líder comunista Vladimir Lênin,roleta 101917.
Na ocasião, Putin disse ainda que havia sugerido ao então presidente americano Bill Clinton o ingresso da Rússia na Otan, mas que a sugestão não havia sido bem recebida.
E deixou claro que estava prestes a lançar uma invasão militar contra o vizinho - embora pouca gente apostasse que ele tentaria tomar até mesmo Kiev já nos primeiros atosroleta 10guerra.
Agora, Putin diz que as consistentes remessasroleta 10armasroleta 10países da Otan para a Ucrânia, que incluiu até tanques, alimentam o conflito.
"Quanto mais eles enviarem armas para a Ucrânia, mais teremos responsabilidade pela situaçãoroleta 10segurança na fronteira russa. Esta é uma resposta natural."
Mas os recadosroleta 10Putin não se destinavam apenas a ucranianos, americanos e europeus.
Putin também enviou claras mensagens àroleta 10audiência doméstica.
Em meio a semanas extremamente mortíferas no frontroleta 10fevereiroroleta 102023 - com maisroleta 10800 mortes semanaisroleta 10russos segundo autoridades ucranianas - e tendoroleta 10realizar uma espécieroleta 10recrutamento compulsórioroleta 10jovens, Putin admitiu o peso para pais e familiares das baixas nos camposroleta 10batalha e prometeu um novo fundoroleta 10apoio a eles.
"Todos nós entendemos, eu entendo, como é insuportavelmente difícil agora para as esposas, filhos, filhasroleta 10soldados caídos, seus pais, que criaram defensores dignos da pátria", disse Putin.
Mas o principal anúncioroleta 10Putin ao mundo foi o que ele chamouroleta 10"suspensão" da participação russa no programa New Start, o último tratadoroleta 10reduçãoroleta 10armas nucleares entre EUA e Rússia ainda vigente atualmente.
"Sou forçado a anunciar hoje que a Rússia está suspendendoroleta 10participação no tratado estratégicoroleta 10armas ofensivas", disse Putin.
O tratado, assinadoroleta 102010 e com prazoroleta 10vigência até 2026, tinha por objetivo limitar o númeroroleta 10ogivas nucleares mantidas pelos dois países, alémroleta 10regular a implantaçãoroleta 10mísseis e submarinos capazesroleta 10lançá-las.
Putin já vinha chamando as inspeçõesroleta 10"sem noção" e o Departamentoroleta 10Estado dos EUA já acusava há algum tempo os russosroleta 10não cooperarem com inspeçõesroleta 10acordo com o acertado entre as duas potências.
Para David E. Sanger, que há quatro décadas cobre os tratadosroleta 10não proliferaçãoroleta 10armas nucleares para o jornal The New York Times, a ação "foi mais uma indicaçãoroleta 10que a era do controle formalroleta 10armas pode estar morrendo".
O secretárioroleta 10Estado dos EUA Antony Blinken chamouroleta 10"irresponsável" o anúncioroleta 10Putin mas disse que os americanos "seguem abertos para negociar tratadosroleta 10armamentos a despeitoroleta 10qualquer outra questão que esteja interferindo no relacionamento".
Para o editorroleta 10Rússia da revista britânica The Economist, Arkady Ostrovsky, o fatoroleta 10o principal anúncioroleta 10Putin ter sido a suspensãoroleta 10um acordoroleta 10armamentos evidencia as dificuldades - inesperadas pelo Kremlin - que o Exército russo têm enfrentado para conquistar porções do território ucraniano.
"Ele não tinha mais nada a anunciar", disse Ostrovsky à BBC. O analista nota, porém, que o discursoroleta 10Putin deixou claro a seu próprio povo que este é um caminho "sem retorno".
O campeãoroleta 10xadrez russo Garry Kasparov, um crítico a Putin e hoje ativista dos direitos humanos, usouroleta 10conta no Twitter para diminuir a importância da falaroleta 10Putin.
"As mentiras e discursos fracosroleta 10Putin expõem o quão pouco o mundo precisa temer a Rússia. Abandonar tratados que ele já ignora, as repetitivas ameaças nucleares que acabariam comroleta 10vida confortável, as reclamaçõesroleta 10uma guerra que só ele começou e pode acabarroleta 10um segundo", definiu Kasparov.
"Já disse muitas vezes que ele não é um enxadrista. É um jogadorroleta 10pôquer apelando para blefes que possam explorar as fraquezas dos oponentes."
O que disse Biden?
Presidentes americanos costumam ser ciososroleta 10símbolos e gestos. Biden já havia se mostrado afeito ao artifício - ao se vacinar publicamente contra a covid e ao visitar os familiaresroleta 10negros mortos por policiais, por exemplo.
Mas o atual presidente americano provou ontem (20/2) que está literalmente disposto a ir longe por uma foto. Disfarçado e cercado por agentes do serviço secreto, Biden fez uma jornada qualificada pela imprensa americana como "surreal" e "arriscada" até desembarcarroleta 10um trem na capital ucraniana.
Biden se reuniu com o presidente ucraniano Zelensky, caminhou pelas ruasroleta 10Kiev e tirou fotos que certamente estimularam as palavrasroleta 10Putin no Parlamento.
A respostaroleta 10Biden veio algumas horas mais tarderoleta 10um discursoroleta 10pouco maisroleta 1020 minutos,roleta 10oposição aos cem minutos que Putin falou. Biden respondeu ao russo, mas também expressou apoio político aos aliados da Otan e tentou animar a audiência americana.
Quase um ano atrás, Biden também falava a uma plateiaroleta 10Varsóvia, e ele fez questãoroleta 10rememorar o fato.
"Um ano atrás, o mundo estava se preparando para a quedaroleta 10Kiev. Acabeiroleta 10voltarroleta 10uma visita a Kiev e posso relatar que a cidade continua forte, orgulhosa, altiva e, o mais importante, livre", disse Biden. "A Ucrânia nunca será uma vitória para a Rússia."
De acordo com Biden, Putin está sendo confrontado por forças "que não esperava há um ano". Segundo ele, após quase um anoroleta 10guerra, "líderes democráticos estão mais fortes e os autocratas estão mais fracos".
Enfrentando crescentes questionamentosroleta 10parte da população americana e da oposição sobre o apoio multibilionário que tem dado à Ucrânia, Biden tentou descrever o conflito no país como uma luta pelo princípio mais caro aos EUA: a liberdade.
Indiretamente pediu paciência e descartou vislumbrar o fim do conflito. "A defesa da liberdade não é um trabalhoroleta 10um dia ouroleta 10um ano", afirmou.
O presidente americano prometeu novas sanções contra a Rússia ainda esta semana - o que é recebido com ceticismo por analistas já que até agora o Kremlin se mostrou capazroleta 10amortecer os impactos das punições econômicas impostas pelo G-7.
Diferenteroleta 10seu discurso há 11 meses, no entanto, desta vez ele conseguiu evitar gafes e respostas impulsivas. Na fala do ano passado, Biden enunciou: "Pelo amorroleta 10Deus, este homem não pode permanecer no poder."
Mais tarde, a Casa Branca teve que explicar que Biden não estava literalmente pedindo pela remoçãoroleta 10Putin do poder, mas falando figurativamente.
Encerrado o discurso, Biden foi recebido por crianças sorridentes com bandeiras americanas, polonesas e ucranianas nas mãos, alémroleta 10aplausos. Uma referência óbvia ao trecho do discursoroleta 10que Biden defendeu que a vitória ou derrota da Ucrânia determinará o mundoroleta 10que "nossos filhos e netos viverão".
Resta saber se as imagens e falasroleta 10Biden conseguiram convencer também os congressistas e os americanos a manterem o apoio - quase dez vezes maior que o do Reino Unido, o segundo maior doador à Ucrânia - a uma guerra do outro lado do Atlântico.