A última luta olímpica vetada para mulheres: 'Machismo escancarado’:vega casino

Luta greco-romana na Olimpíadavega casinoParis

Crédito, Getty Images

“A tradição machista continua escancarada nas nossas caras.”

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A brasileira Giullia Penalbervega casinoluta

Crédito, Getty Images

Legenda da foto, A brasileira Giullia Penalber representa o Brasil na luta livre femininavega casinoParis

A luta é um dos esportes mais antigos da história da humanidade – se não o mais antigo. A modalidade greco-romana foi um dos nove esportes disputados na primeira edição dos Jogos Olímpicos na Era Moderna,vega casino1896, e estevevega casinotodos os Jogos desde então.

O esporte surgiu oficialmente na França entre o final do século 18 e início do 19, tendo como principal inspiração representações clássicas gregas e romanas da luta disputada nos Jogos Olímpicos da Antiguidade.

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E enquanto a luta greco-romana da atualidade segue um estilo baseado no esporte antigo, a chamada luta livre é disputadavega casinoum formato mais moderno.

E enquanto a luta livre masculina faz parte do programa olímpico desde os Jogosvega casinoAntuérpiavega casino1920, as mulheres só foram incluídas no programa nos Jogosvega casinoAtenasvega casino2004.

Mas atletas e ex-atletas ainda veem a faltavega casinorepresentação feminina nas competiçõesvega casinogreco-romana como um atraso para o qual não há justificativa lógica.

“Nunca sequer tentaram explicar porque não podemos participar”, afirma Dailane Reis, atleta e treinadoravega casinoluta livre e greco-romana.

“Sempre ouvi ‘que isso aqui é para homem e pronto, acabou. Não vai mudar’”.

Procurado, o Comitê Olímpico Internacional afirmou à reportagem por meiovega casinoum porta-voz que “está empenhadovega casinopromover e integrar a igualdadevega casinogênero no esporte e para além dele”.

A entidade afirmou também que o programavega casinoeventos da Olimpíada é definido pelo Conselho Executivo do Comitê Olímpico Internacional, mediante recomendações da Comissão do Programa Olímpico evega casinocooperação com as Federações Internacionais e o respectivo Comitê Organizador dos Jogos Olímpicos.

“Mais especificamente, qualquer proposta para um novo evento apresentada pela respectiva Federação Internacional passa por um processovega casinorevisão e tomadavega casinodecisão muito rigoroso, liderado pela Comissão do Programa Olímpico, que envolve representantesvega casinoatletas, Federações Internacionais e Comitês Olímpicos Nacionais”, afirmou.

A federação internacional responsável pelo esporte atualmente é a União Mundialvega casinoWrestling, ou United World Wrestling (UWW),vega casinoinglês.

A BBC Brasil entrouvega casinocontato com a organizaçãovega casinobuscavega casinoesclarecimentos sobre a exclusividade masculina na luta greco-romana, mas não obteve resposta até a publicação desta reportagem.

Incompatibilidade física?

A inclusão das mulheres na luta greco-romana já foi discutidavega casinodiversas ocasiões, por pressãovega casinoatletas e patrocinadores.

O presidente da UWW, Nenad Lalović, chegou a dizervega casinoentrevista que “poderia ser viável” adotar novas categorias nos Jogosvega casinoParis, mas nada foi concretizado.

Ao invés disso, a União submeteu uma candidatura ao COI para incluir a lutavega casinopraia, ou Beach Wrestling, nos Jogosvega casino2024. A ideia era que apenas mulheres pudessem competir na modalidade,vega casinoforma a igualar o númerovega casinoatletas do sexo feminino e masculino inscritos na luta.

Mas a proposta foi rejeitada pela Comitê Olímpico e tudo permanece da mesma maneira.

Para Aline Silva, da CBW, as justificativas para a faltavega casinomulheres na modalidade greco-romana são insuficientes e não fazem sentido.

“A confederação internacional não quer ceder o estilo greco-romano para manter a tradição machista que se praticava na época Jogos Olímpicos da Antiguidade, quando as mulheres nem podiam entrar nos ginásios”, diz.

Aline Silva

Crédito, Divulgação/COB

Legenda da foto, Silva foi a primeira atleta brasileira a subir ao pódiovega casinocampeonatos mundiaisvega casinoluta livre, tem três medalhasvega casinoJogos Pan-Americanos e participou das Olimpíadas do Rio evega casinoTóquio

Segundo a ex-atleta, extraoficialmente muitos ainda recorrem ao argumentovega casinoincompatibilidade física para explicar a questão, ainda que esse tema nunca tenha aparecidovega casinodocumentos oficiais.

“Ouvi a minha vida inteira e ainda ouçovega casinodirigentes e atletas que mulheres não podem lutar greco-romana porque vão machucar os seios e ficar estéril”, diz. “Mas isso é um absurdo que não se justifica tecnicamente.”

A professora da Escolavega casinoEducação Física e Esporte da Universidadevega casinoSão Paulo (EEFE-USP) e coordenadora do Grupovega casinoEstudos Olímpicos Katia Rubio concorda que a proibição se baseiavega casinouma dominação masculina no esporte que deveria ser extinta.

No passado, atletas do sexo feminino já foram impedidasvega casinopraticar outros esportes com basevega casinojustificativas semelhantes. No Brasil, um decreto aprovadovega casino1941, durante o regimevega casinoGetúlio Vargas, proibia o futebol e outros esportes considerados mais duros, como qualquer tipovega casinoluta, para as mulheres.

“A questão não é machucar, porque existem várias proteções para os seiosvega casinooutras modalidades que poderiam ser aplicadas”, diz Rubio. “O esporte olímpico nasce como um campovega casinoforça masculina. E todas as modalidadesvega casinoque as mulheres podem competir hoje passaram por um processovega casinomuita luta. Nunca foi uma concessão.”

“É como se ainda precisasse haver uma um bastiãovega casinoresistência do mundo masculino onde mulher não entra.”

E apesarvega casinomuitas atletas e dirigentes do esporte brasileiro já terem se pronunciado sobre a questão, não há um movimento integrado e organizado com outras nações.

“Apesarvega casinoalguns países tentarem fomentar o feminino com campeonatos informais e a gente ter até técnicas mulheresvega casinogreco-romana dando aula no masculino, o esporte ainda é extremamente dominado e regido por homens”, diz Silva.

‘O que mais eu poderia ter ganhado?’

Nas Olimpíadasvega casinoParis, a luta greco-romana é disputadavega casinoseis categorias masculinas divididas por peso. A luta livre masculina e feminina também tem seis categoriasvega casinopeso cada.

Enquanto na greco-romana o competidor só pode usar os braços e a parte superior do corpo para atacar o oponente acima da cintura, a luta livre é uma forma mais aberta do esporte, na qual os atletas também utilizam as pernas e podem segurar os oponentes acima ou abaixo da cintura.

No entanto, o objetivo é o mesmovega casinoambos os estilos. Os lutadores devem usar as mãos limpas para prender os dois ombros do oponente no tapete sem segurá-lo pela camiseta ou, se nenhuma queda for realizada durante a luta, precisam ter mais pontos no final do tempo regulamentar a partirvega casinomovimentosvega casinoqueda evega casinoreversão.

Como não existe oficialmente a versão femininavega casinogreco-romana, não há competições e, consequentemente, são poucas as atletas que se desenvolvem na categoria.

Mas os praticantes do esporte acreditam que muitas mulheres no Brasil teriam condiçõesvega casinocrescer no esporte se pudessem competir.

Aline Silva iniciouvega casinocarreira no judô e depois migrou para a luta olímpica por intermédiovega casinoum treinador. Por seu passado, afirma que sempre manteve um estilovega casinoluta mais baseado no tronco do que nas pernas.

Ela foi a primeira atleta brasileira a subir ao pódiovega casinocampeonatos mundiais, tem três medalhasvega casinoJogos Pan-Americanos e participou das Olimpíadas do Rio evega casinoTóquio.

“Eu não atacava muito a perna e todo mundo que me conhecia falava ‘nossa, se você fosse da greco-romana ein…’”, conta.

“Então para o resto da minha vida eu vou me perguntar ‘e se eu fosse permitida a lutar greco-romana? O que mais será que eu teria ganhado?’”.

Dailane Reisvega casinoluta pelo Brasil

Crédito, Arquivo pessoal

Legenda da foto, Dailane Reisvega casinoluta pelo Brasil

O mesmo é verdade para Dailane Reis, que sempre treinou ao ladovega casinohomens e sempre se destacou porvega casinoforça no tronco.

“Quando eu iniciei na modalidade, aos 13 ou 14 anos, era a única meninavega casinouma equipevega casinogreco-romana”, conta. “Então vivenciei o estilo minha vida toda e tive que adaptar para a luta feminina.”

Reis afirma que as habilidades adquiridas na greco-romana a ajudam como atleta da luta feminina, apesarvega casinonão poder usar os mesmos golpes. “Mas como sempre me destaquei por minha força e corpo, acho que poderia ter me dado bem na greco-romana se tivesse oportunidadevega casinocompetir.”

Alémvega casinoainda participarvega casinocampeonatos nacionaisvega casinoluta livre, a carioca também temvega casinoprópria equipevega casinoluta, com atletas do sexo masculino e feminino.

“Tenho uma aluna que adora greco-romana e sempre luta com os meninos - e ganha muitas vezes”, diz. “E mesmo para as que só lutam feminina gostovega casinoensinar alguns princípios da greco-romana, porque sei que isso vai ajudar elas no futuro.”

Desenvolvimento atrasado

A luta greco-romana é a única modalidadevega casinoluta disputada na Olimpíada que só permite homens.

O judô, por exemplo, se tornou elemento permanente do programa olímpicovega casino1972 e o evento feminino foi introduzido 16 anos depois.

Já o boxe feminino só foi introduzido no programavega casinoLondres 2012, apesar da modalidade masculina ser disputada desde 1904.

“As mulheres sempre encontraram maior resistência nas lutas do quevega casinooutros esportes”, diz Katia Rubio, da USP.

No Brasil, o decretovega casino1941 que proibia a participação das mulheresvega casinodiversas modalidades só foi revogadovega casino1979. Anos depois, muitas das lutas restritas ainda não haviam sido devidamente regulamentadas.

“Esses impedimentos atrasam o desenvolvimento das modalidades feminina. No judô, por exemplo, os resultados só começaram a aparecervega casinoforma mais clara entre as atletas mulheres recentemente, depoisvega casinomaisvega casino30 anosvega casinoproibição”, afirma Rubio.

Além da luta greco-romana que é exclusividade masculina, a Olimpíadavega casinoParis 2024 também mantém outros poucos esportesvega casinoque não há igualdade totalvega casinogênero.

O heptatlo, por exemplo, é disputado apenas pelas mulheres, enquanto no decatlo só os homens competem. Ambos incluem diversas disputasvega casinomodalidades do atletismo, mas são compostos por provas diferentes.

Em 2024, os homens foram autorizados a competir pela primeira vez no nado artístico.

Conforme as mudanças nas regras anunciadas pelo Comitê Olímpico Internacionalvega casinodezembrovega casino2022, no máximo dois homens poderiam fazer parte da disputavega casinoequipesvega casinooito atletas. No entanto, nenhum homem foi selecionado entre os 96 atletasvega casino18 países que disputam a modalidade.

Já a ginástica rítmica se mantém uma modalidade exclusivamente feminina.