De atração turística a propaganda nazista: a história dos dirigíveis no Brasil:verificação novibet

“A árvore foi arrancada com raiz e tudo”.

Passado o susto inicial, o capitão Hugo Eckener (1868-1954) recebeu as boas-vindas do antropólogo Gilberto Freyre (1900-1987), representante do governo pernambucano. Depoisverificação novibetser reabastecidoverificação novibetgás hidrogênio, o dirigível seguiu viagem rumo ao Rioverificação novibetJaneiro. Na então capital federal do país, o zepelim atracou, três dias depois, no Campo dos Afonsos, na Zona Oeste da cidade.

Em 1936, os pousos e as decolagens foram transferidos para a Base Aéreaverificação novibetSanta Cruz. Lá, foi construído o aeroporto Bartolomeuverificação novibetGusmão. Se o Recife ergueu uma torreverificação novibetatracação, o Rio construiu um hangarverificação novibet274 metrosverificação novibetcomprimento por 58 metrosverificação novibetlargura.

“O Graf Zeppelin chegou ao Brasil no mesmo diaverificação novibetque saiu o resultado das eleições para presidente. E simplesmente ‘roubou a cena’. Ler sobre o ‘charuto voador’ despertava mais atenção do que sobre a vitóriaverificação novibetJúlio Prestes”, compara Charles Narloch, doutorverificação novibetMuseologia e Patrimônio pela Universidade Federal do Estado do Rioverificação novibetJaneiro (UNIRIO) e tecnologista do Museuverificação novibetAstronomia e Ciências Afins (MAST).

A torreverificação novibetatracação no Recife foi restauradaverificação novibet2013 pelo artista plástico Jobson Figueiredo. Já o hangar na Base Aéreaverificação novibetSanta Cruz, no Rio, foi tombado pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (IPHAN) e, atualmente, é propriedade da Força Aérea Brasileira (FAB).

Na cultura popular

A passagem do Graf Zeppelin pelos céus do Recife foi mostrada no filme Retratos Fantasmas (2023), dirigido e roteirizado por Kleber Mendonça Filho. O documentário foi escolhido para representar o Brasil na busca por uma indicação ao Oscarverificação novibetMelhor Filme Internacional.

O dirigível alemão serviuverificação novibetinspiração, também, para O Crime do Bom Nazista (Todavia, 2023), escrito por Samir Machadoverificação novibetMachado. O romance policial é ambientado no interiorverificação novibetum zepelim alemão.

“Durante meu mestrado, tive aulasverificação novibetFilosofia e Literatura onde se analisavam a linguagemverificação novibetregimes totalitários, e seus paralelos com o bolsonarismo. Daí, nasceu a ideia do mistério que move o enredo: um assassinato onde a vítima é um judem homossexual e todos a bordo são nazistas”, explica o autor.

No livro Os Zeppelins nos Céus do Brasil, Cristiano Rocha Affonso da Costa recorda que, na décadaverificação novibet1930, os dirigíveis ajudavam a vender os mais variados produtos,verificação novibetrefrigerantes, como o guaraná Antarctica, até cigarros, como Lucky Strike, passando por sapato, óleoverificação novibetmotor e leiteverificação novibetpó.

Ao longo das décadas, os zepelins inspiraram artistas dos mais diferentes gêneros – tanto na horaverificação novibetcompor, caso do cantor e compositor Chico Buarque, autor de Geni e o Zepelim, da peça Ópera do Malandro (1979), quanto na horaverificação novibetescolher um nome paraverificação novibetbandaverificação novibetrock, como a britânica Led Zeppelin – a ideia, no caso, teria partido do integranteverificação novibetoutro supergrupo: o baterista Keith Moon, do The Who.

Quem não gostou nem um pouco do nome (“zepelimverificação novibetchumbo”,verificação novibetlivre tradução) foi Eva von Zeppelin, a neta do Conde Zeppelin. Menos ainda da capa do primeiro álbum do Led Zeppelin, lançadoverificação novibet1969, que reproduzia o exato momento da explosão do dirigível Hindenburg,verificação novibet1937.

Final infeliz

Aindaverificação novibetRetratos Fantasmas, o cineasta Kleber Mendonça Filho lembra do tempoverificação novibetque, estudanteverificação novibetJornalismo, conheceu Alexandre Moura, que trabalhava na cabineverificação novibetprojeção do antigo Art-Palácio, do Recife. O cineasta comparou a salaverificação novibetcinema a “um navio prestes a ser afundado”.

Considerado um dos maiores estúdios cinematográficos da Alemanha, a Universum Film AG, mais conhecida pela sigla UFA, foi fundadaverificação novibet18verificação novibetdezembroverificação novibet1917 e produziu, entre outros, o clássico Metropolis (1927), dirigido por Fritz Lang (1890-1976).

“Desdeverificação novibetorigem, o cinema foi visto como forte ferramentaverificação novibetpropaganda política e doutrinária. Neste contexto, a UFA tornou-se aliada do governo nazista na representaçãoverificação novibetuma boa reputação da Alemanha no exterior. A produtora ganhou tanta popularidade no país que qualquer filme alemão era taxadoverificação novibetfilme da UFA”, explica o historiador Arthur Gustavo Lira do Nascimento, doutorverificação novibetHistória pela Universidade Federalverificação novibetPernambuco (UFPE).

“Ao mesmo tempoverificação novibetque, na Alemanha, a UFA se alinhava ao nazismo, a produtora se expandiaverificação novibetnosso país”.

No Brasil, a UFA inaugurou duas salasverificação novibetcinema: UFA-Palácio,verificação novibetSão Paulo, no dia 13verificação novibetnovembroverificação novibet1936, depois rebatizadaverificação novibetArt-Palácio, e Art-Palácio, no Recife, no dia 10verificação novibetmarçoverificação novibet1940. Os dois cinemas foram projetados pelo arquiteto brasileiro Rino Levi (1901-1965).

Segundo o historiador Flaviano Bugatti Isolan, professorverificação novibetHistória Contemporânea na Universidade do Estado do Rioverificação novibetJaneiro (UERJ) e autor do artigo Cinema Alemão no Brasil nos Anos 1920 e 1930: Percursosverificação novibetuma Política Cultural Exterior, havia planosverificação novibetinaugurar uma terceira salaverificação novibetCampinas (SP).

Ter uma salaverificação novibetcinema para chamarverificação novibetsua e, principalmente, para exibir os próprios filmes não era um privilégio da UFA. Outros estúdios cinematográficos, como a Metro-Goldwyn-Mayer (MGM) e a Paramount Pictures, também tiveram.

“Filmesverificação novibetpropaganda nazista nunca tiveram grande circulação no Brasil”, afirma o historiador Flaviano Isolan. “Logo, os produtores notaram que, para atrair público, a propaganda tinha que ser menos escancarada e mais sutil. E começaram a produzir comédias, romances e musicaisverificação novibetviés nazista. Ao contrário dos filmesverificação novibetHollywood, fantasiosos e romantizados, os alemães eram realistas e defendiam valores patrióticos”.

Como exemplo, cita Heróis Sem Pátria (1933), O Velho E O Novo Rei (1934) e Juventude Ardente (1937).

O Art-Palácio do Recife fechou suas portasverificação novibet1993 e o Art-Palácioverificação novibetSão Pauloverificação novibet2009.

Propaganda nazista

O Graf Zeppelin é, nas palavrasverificação novibetCristiano Rocha Affonso da Costa, “o dirigívelverificação novibetmaior sucesso da história”. Ao todo, realizou 590 voos – 68 deles para o Brasil – e transportou cercaverificação novibet13 mil passageiros.

Entre outras proezas, deu a volta ao mundoverificação novibet1929 – a viagem,verificação novibet21 dias, foi patrocinada pelo magnata William Randolph Hearst (1863-1951) – e levou cientistas até o Árticoverificação novibet1931. Podia alcançar a velocidadeverificação novibet128 km/h e transportar até 40 passageiros.

Se um navio levavaverificação novibet15 a 21 dias para cruzar o Atlântico, um dirigível percorria o mesmo trajetoverificação novibetapenas três dias e meio. Mas, se, por um lado, o tempoverificação novibettravessia era menor; o preço da passagem, por outro, era maior, bem maior – correspondia a uma primeira classeverificação novibetnavioverificação novibetluxo.

Tripulantes e passageiros viajavamverificação novibetum compartimento chamado “gôndola”, onde funcionava, além das cabinesverificação novibetcomando everificação novibetcontrole, a cozinha, o refeitório, os dormitórios e os banheiros.

No filme Indiana Jones e a Última Cruzada (1989), o intrépido arqueólogo é perseguido por um oficial nazista na gôndolaverificação novibetum zepelim. Disfarçadoverificação novibetbilheteiro, dá um soco no sujeito e o atira janela abaixo.

O que transportava a gôndola era o “invólucro” ou “envelope”, nome dado à parte superior do dirigível.

“Vamos supor que o corpo do dirigível seja um pacoteverificação novibetbiscoito – ouverificação novibetbolacha, dependendoverificação novibetonde você mora. Dentro dele, há vários biscoitos. Cada um equivale a um balão (ou célulaverificação novibetgás). No caso do Graf Zeppelin, eram 17, todos inflados com gás mais leve que o ar”, explica Cristiano Rocha Affonso da Costa.

Os gasesverificação novibetelevação mais usados eram o hidrogênio e o hélio. Se o primeiro é barato everificação novibetfácil obtenção, o segundo é caro everificação novibetdifícil produção. Outra diferença importante: o hidrogênio é altamente inflamável.

“Num primeiro momento, os dirigíveis funcionavam como meioverificação novibettransporte. Mas, com a chegadaverificação novibetHitler ao poder, se tornaram instrumentosverificação novibetpropaganda nazista”, afirma o historiador Dirceu Marroquim, doutorverificação novibetHistória Social pela Universidadeverificação novibetSão Paulo (USP), e coautor do livro Zeppelin no Recife (2015),verificação novibetparceria com Jobson Figueiredo.

“Muitos deles, inclusive, passaram a ostentar uma suástica no leme”.

Gigante dos ares

Além do Graf Zeppelin, outro dirigível,verificação novibetfabricação alemã, também fazia a rota Europa-América do Sul: era o LZ 129 Hindenburg. Seu primeiro voo para o Brasil aconteceu no dia 31verificação novibetmarçoverificação novibet1936 e conduzia, entre os passageiros, o maestro Heitor Villa-Lobos (1887-1959).

Comparado ao Graf Zeppelin, o Hindenburg era um pouco maior: tinha 245 metrosverificação novibetcomprimento – quase o tamanho do transatlântico britânico Titanic, que tinha 269 metros – e 41,2 metrosverificação novibetlargura. Atingia a velocidadeverificação novibet135 km/h e transportava até 72 passageiros.

Cada passageiro podia transportar até 20 quilosverificação novibetbagagem. Mais do que isso, as malas tinham que ser despachadas por navio, sem custo adicional.

Maior e mais moderno: o Hindenburg tinha “piloto automático”, sistemaverificação novibetaquecimento e salaverificação novibetfumantes – no Graf Zeppelin, fumar era proibido.

A tripulação era dividida entre equipe técnica e geral: o capitão coordenava o primeiro grupo, que incluía engenheiros, maquinistas e operadoresverificação novibetleme, e o comissárioverificação novibetbordo, o segundo,verificação novibetcozinheiro a médico.

Acidente ou sabotagem?

Se o Graf Zeppelin realizou, entre 1930 e 1937, 68 viagens para o Brasil, o Hindenburg realizou, entre 1936 e 1937, apenas oito. Dessas oito, duas foram estratégicas: uma experimental para Buenos Aires, na Argentina,verificação novibet1934, e outraverificação novibethomenagem à colônia alemã no Paraná e Santa Catarina,verificação novibet1936.

Nas duas ocasiões, o dirigível sobrevoou cidades como Porto Alegre, Joinville e Pelotas. Em Blumenau, a passagem do Hindenburg foi saudada por buzinasverificação novibetcarros, sirenesverificação novibetfábricas e sinosverificação novibetigrejas.

“A maioria das pessoas sabia que os dirigíveis sobrevoariam suas cidades. A notícia chegava com diasverificação novibetantecedência, através das rádios ou dos jornais”, explica o roteirista Saulo Adami, um dos diretores do documentário O Dirigível (2019), ao ladoverificação novibetAlessandro Vieira e Carlos Alexandre Martins. “Mesmo assim, muitos se surpreenderam com o tamanho dos zepelins. Disseram que eram assombrosos”.

O LZ 129 Hindenburg teve vida curta: no dia 6verificação novibetmaioverificação novibet1937, pegou fogoverificação novibetLakehurst,verificação novibetNova Jersey (EUA). A tragédia durou inacreditáveis 34 segundos. Morreram 13 dos 36 passageiros e 22 dos 61 tripulantes.

“O que aconteceu naquele dia foi uma fatalidade”, lamenta o historiador Cristiano Rocha Affonso da Costa. “Duas comissões, uma da Alemanha e outra dos EUA, investigaram a explosão e descartaram a hipóteseverificação novibetsabotagem. O que houve foi vazamentoverificação novibetgás aliado à eletricidade estática”.

Já Charles Narloch, do MAST, compara a tragédiaverificação novibetHindenburg ao naufrágio do Titanic,verificação novibet1912. “Alémverificação novibetserem os maiores do mundo, eram tidos como ‘infalíveis’. A tragédia do Hindenburg comoveu o mundo. Para o Brasil, ficou o gosto amargoverificação novibetuma promessa que não se cumpriu”, lamenta.

O LZ Graf Zeppelin foi desmontadoverificação novibet1940. Sua carcaça foi usada na construçãoverificação novibetaviõesverificação novibetguerra.

Máquina mortífera

O Conde Zeppelin entrou para a história da aviação por emprestar seu sobrenome à empresa que fundouverificação novibet1908, a Companhia Zeppelin. O primeiro modelo que inventou, o LZ 1, tinha 137 metrosverificação novibetcomprimento, chegou a 390 metrosverificação novibetaltura e caiu depoisverificação novibetvoar por 18 minutos.

Durante a Primeira Guerra, seus zepelins foram transformadosverificação novibetnaves militares. No dia 31verificação novibetmaioverificação novibet1915, o LZ 38 bombardeou a cidadeverificação novibetLondres e deixou um saldoverificação novibet28 mortos e 60 feridos.

Ao todo, os 109 dirigíveis fabricados durante a guerra, 89 deles pela Companhia Zeppelin, mataram 557 pessoas e feriram outras 1.358. Não por acaso, foram apelidadosverificação novibet“Baby Killers”.

Curiosamente, o primeiro piloto a realizar um voo totalmente controladoverificação novibetdirigível foi um brasileiro: Alberto Santos-Dumont (1873-1932). Foi no dia 20verificação novibetsetembroverificação novibet1898. Seu invento tinha 25 metrosverificação novibetcomprimento, era equipado com motorverificação novibet12 cavalos e chegou a uma altitudeverificação novibet400 metros.