'Uma loucura', diz ex-presidente colombiano e Nobel da Paz sobre açõesbwin 005Bolsonaro na pandemia:bwin 005

Juan Manuel Santos

Crédito, Arquivo Pessoal

Legenda da foto, O ex-presidente da Colômbia e Prêmio Nobel da Paz, Juan Manuel Santos

Quando perguntado sobre a forte presençabwin 005militares no governo brasileiro, ele disse que não tende a dar bons resultados. Santos falou ainda sobre os avanços e falhas do Acordobwin 005Paz com as Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (Farc), assinado quando era presidente e que foi o motivo para receber o Prêmio Nobel da Paz.

Leia os principais trechos da entrevista:

bwin 005 BBC News Brasil - A América Latina é a região mais desigual do planeta e agora está no foco da pandemia do novo coronavírus. As economias da região, como as do Brasil e da Argentina, já mostram queda acentuada. O que fazer?

bwin 005 Juan Manuel Santos - A região já não vinha crescendo economicamente, já tinha uma sériebwin 005problemas, antes da pandemia. A América Latina é a região com um dos sistemasbwin 005saúde mais fracos e populações muito vulneráveis, como as comunidades indígenas, os presidiários e os pobres que vivembwin 005condições muito precárias, além dos imigrantes, como os venezuelanos aqui na Colômbia. São populações ainda mais vulneráveis à pandemia. Tudo isso se juntou. E piorou com as políticas erradas dos líderes da América Latina. Dói dizer isso, mas o Brasil não fez um trabalho positivo. E o México também não.

Não existe nenhum tipobwin 005liderança regional para fazer valer a regiãobwin 005nenhuma instância do mundo. Estamos um pouco à deriva. É como um barco que não tem capitão, que está no meiobwin 005uma tormenta e o que nós precisamos nesse momento são lideranças efetivas. Mas, infelizmente, ninguém está fazendo isso.

bwin 005 BBC News Brasil - O senhor citou o Brasil. O Brasil é o maior país da América Latinabwin 005termosbwin 005população e econômicos e faz fronteira com a Colômbia. O presidente Bolsonaro disse que o coronavírus era uma gripezinha. Hoje, o Brasil já tem maisbwin 00550 mil mortos por Covid-19. O que o senhor opina sobre esta política do presidente Bolsonaro?

bwin 005 Santos - Vou ser um pouco duro. É uma loucura. É uma loucura o que está acontecendo no Brasil. É uma liderança quebwin 005vezbwin 005estar ajudando a resolver o problema, está contribuindo para piorar o problema. E isso repercute no resto da região porque o Brasil é um país muito grande. Então, essa situação no Brasil é um péssimo exemplo da região. É uma política que está produzindo um fracasso total, uma verdadeira tragédia para os brasileiros e para o mundo.

bwin 005 BBC News Brasil - Na Colômbia, a cidadebwin 005Leticia, que faz fronteira com o Brasil, era até poucos dias atrás a mais afetada por coronavírus no país. O Brasil faz fronteira com dez países da região. O Brasil virou uma ameaça nesta pandemia por não ter uma política contra a Covid-19?

bwin 005 Santos - Sem dúvida. Nós estamos muito preocupados porque essa região amazônica (onde está Leticia) não está apenas sofrendo pela pandemia, mas as comunidades indígenas, que devemos preservar, porque são os melhores guardiõesbwin 005um ecossistema que é fundamental para o mundo, podem desaparecer. Estão totalmente desprotegidas.

Essa faltabwin 005política por parte do Brasil repercute imediatamente, como ocorre no caso colombiano. Como você acababwin 005mencionar, uma das regiões com mais casos, e contágios mais rápidos, e mais mortes é exatamente a região que faz fronteira com o Brasil, na Amazônia. Por isso, a política do Brasil influencia o resto da América Latina e a influencia que está tendo é muito negativa.

bwin 005 BBC News Brasil - Como Prêmio Nobel da Paz, o senhor pensou ou pensa telefonar para o presidente Bolsonaro para uma conversa, para falar sobre essa ameaça à região?

bwin 005 Santos - Olha, tomei como decisãobwin 005vida não intervirbwin 005política,bwin 005assuntos internosbwin 005um país. Espero que outros o façam. Quem dera meu presidente (Iván Duque) pudesse falar com Bolsonaro. Ou que outros presidentes da América Latina pudessem falar com Bolsonaro para que ele 'entre en razón' (tenha sensatez). Por isso, eu dizia que estamos vendo uma total faltabwin 005liderança na América Latina. Mas são os presidentes, os chefesbwin 005Estado atuais, e não os anteriores, aos quais corresponde realizar ações concretas.

Jair Bolsonaro

Crédito, EPA

Legenda da foto, 'Considerar uma pandemia como uma gripezinha. Dar sinal para que ninguém exerça nenhuma disciplina social, que ninguém acate as recomendações dos cientistas, dos médicos, isso só agrava o problema. E vemos os resultados.'

bwin 005 BBC News Brasil - Quando o senhor falabwin 005total faltabwin 005liderança, o senhor falabwin 005relação a cada país ou uma liderança unificada na região? Pode explicar melhor?

bwin 005 Santos - Vou lhe dar um exemplo. Um dos problemas mais graves que a América Latina tem e vai ter é o financiamento, porque nós não temos a capacidade dos países desenvolvidosbwin 005fazer o que é necessário. Todos os países da América Latina têm limitações fiscais e estamos com necessidades cada vez maioresbwin 005financiamento. No entanto,bwin 005nenhuma instância, na arquitetura financeira mundial, a América Latina está levando uma voz concreta. Não está fazendo nenhuma proposta. Pior ainda, estão nos tirando, neste momento...

bwin 005 BBC News Brasil - A presidência do BID (Banco Interamericanobwin 005Desenvolvimento)...

bwin 005 Santos - A única representação importante, exato, que era a presidência do BID. E isso com o apoio dos presidentes da América Latina. Isso não entra na minha cabeça. Acho totalmente contraproducente. É a única instância que temos para pelo menos sermos ouvidos nas discussões internacionais sobre financiamento, sobre a economia.

bwin 005 BBC News Brasil - O Brasil tinha um pré-candidato e a Argentina também. E o atual presidente do BID é o colombiano Luis Alberto Moreno. O Brasil (o chanceler Ernesto Araújo) disse que viu "positivamente" a indicação feita pelos Estados Unidos. Outros países da região também apoiaram o nome do indicado dos EUA.

bwin 005 Santos - Eu não sei o que podem verbwin 005positivo que nos tirem algo que tínhamos há 60 anos. Houve um acordo tácito, quando o BID foi criado, que o BID seria localizadobwin 005Washington, mas que a presidência do BID sempre seriabwin 005um latino-americano. E o senhor Trump rompeu com essa tradição e quer impor um candidato que, alémbwin 005tudo, tinha sido vetado pelo atual presidente do BID para a vice-presidência. Então, estamos, nesse sentido, numa situação muito ruim.

bwin 005 BBC News Brasil - Nabwin 005opinião existe um novo xadrez politico na região? Por exemplo, a Unasul deu lugar ao Prosul, o Brasil saiu da Celac (Comunidadebwin 005Estados Latino-Americanos). São vários movimentos. O senhor acha que is bwin 005 s bwin 005 o também está ligado à postura do Brasil, que parece ser muito próximo dos Estados Unidos, ou melhor bwin 005 , bwin 005 bwin 005Trump?

bwin 005 Santos - Existem vários fenômenos. O México tem um presidente (López Obrador) que não quer saber nadabwin 005assuntos internacionais. Do Brasil, já sabemos a postura. São dois países que, tradicionalmente, deveriam exercer alguma formabwin 005liderança na região. A falta desses dois países complica. Existem outros países que não atuaram e não houve coordenação.

O que está acontecendo no BID é um dos vários exemplos. Está se destruindo a pouca institucionalidade regional que existia. E isso é muito ruim. Espero que isso gere uma reação e que todos possamos entender que somente colaborando entre nós, dialogando, cooperando entre nós, vamos poder sair adiante nessa pandemia. Existe uma frase que diz que ninguém está salvo até que todo o mundo esteja salvo. Se não entendemos isso, vamos ter problemas muito sérios. E a América Latina unida é uma grande força. Mas precisamos que os atuais líderes entendam isso e trabalhem para unir-se. Não que cada um trabalhe para seus próprios interesses políticos porque isso enfraquece a região. E enfraquece cada país.

bwin 005 BBC News Brasil - Na prática, cada país fechou suas próprias fronteiras, nessa pandemia, e aplicou medidas que foram as mesmas da China, como a quarentena. Mas não há dialogo entre os presidentes para uma política comum. Essa semana haverá reunião virtual do Mercosul, mas Bolsonaro e o presidente da Argentina, Alberto Fernandez, não se falam. O que está acontecendo?

bwin 005 Santos - O fenômeno Trump influenciou muito o resto do mundo. Trump buscou enfraquecer o multilateralismo, enfraquecer as organizações internacionais, as Nações Unidas, a Organização Mundialbwin 005Comércio, e isso repercute nas regiões. Ebwin 005certa forma o que aconteceu na América Latina, por problemas políticos como divisõesbwin 005torno da Venezuela e outros problemas específicos, foi quebwin 005vezbwin 005diálogo para encontrar um denominador comum, os países decidiram assumir uma posiçãobwin 005isolamento. E isso no longo prazo é muito negativo.

bwin 005 BBC News Brasil - No Brasil, são maisbwin 00550 mil mortos por coronavírus bwin 005 ; bwin 005 na Colômbia e na Argentina, relativamente, há menos mortes bwin 005 ; bwin 005 Uruguai, Paraguai estão numa situação melhor, mas, apesarbwin 005estar melhorando, ela é grave no Peru. O que se pode fazer? Hoje (terça-feira, 30), por exemplo, o ministro bwin 005 interino bwin 005 da Saúde do Brasil, Eduardo Pazuello, participoubwin 005uma cerimônia no Palácio do Planalto sem máscara. E o presidente Bolsonaro também aparece sem máscara. Como o senhor vê essa situação?

bwin 005 Santos - Muito mal. Inclusive, meu país, Colômbia, que ainda tem alguns bons indicadores, tem tendência muito ruim. No Chile e no Peru, que começaram bem, com disciplina, a situação foi sendo deteriorada porque as medidas não foram complementadas com medidas necessárias, como o distanciamento social e o usobwin 005máscaras. O isolamento não serve, se temos ferramentas e não as usamos.

Estamos vendo que a América Latina tem problemas sérios. Talvez com algumas exceções, como Uruguai e Costa Rica, mas o restante dos países está com problemas. No caso colombiano, a tendência ébwin 005alta (de casos). Por isso, a liderança e a coordenação são importantes. E bons exemplos. O que você disse sobre o ministro da Saúde do Brasil é um mau exemplo. Está acontecendo também nos Estados Unidos, com Trump. E isso também é mau exemplo.

pessoas na feira

Crédito, Getty Images

Legenda da foto, 'Quando existe confiança (nos governantes) as pessoas têm maior disciplina. Quando a confiança não existe, impera a indisciplina e é o que estamos vendo aqui no meu país, no Brasil, no México, no Chile, no Peru.'

bwin 005 BBC News Brasil - Mas Bolsonaro e outros presidentes defendem que a economia funcione. Na Colômbia, por exemplo, o desempregobwin 005maio foi acimabwin 00520%. No Brasil, a recessão foi agravada. Paralisar a economia não é pior?

bwin 005 Santos - Existe um dilema muito complicado. Qual é o equilíbrio conveniente entre economia e saúde? Ninguém tem a fórmula perfeita. Mas pelo menos é possível tentar enviar mensagens que gerem confiança na população. É o que as autoridades deveriam fazer.

Acho que um dos motivos do sucesso no Uruguai é a confiança que os uruguaios têmbwin 005relação ao que seus governos, o nacional e os locais, estão dizendo na pandemia. Quando existe confiança (nos governantes) as pessoas têm maior disciplina. Estão mais inclinadas a fazer o correto. Quando a confiança não existe, impera a indisciplina e é o que estamos vendo aqui no meu país, no Brasil, no México, no Chile, no Peru. Estamos vendo uma grande indisciplina e sem disciplina por parte da população, vai ser difícil combater a pandemia.

bwin 005 BBC News Brasil - Existe um novo populismo na região?

bwin 005 Santos - Isso já existia. Bolsonaro é um populistabwin 005direita. O presidente do México,bwin 005esquerda. E sem contar a Venezuela. Isso não é pela pandemia. Mas espero que a pandemia acabe levando a cidadania a valorizar cada vez mais a ciência. E que o populismo perca força.

bwin 005 BBC News Brasil - O senhor com outros ex-presidentes, como Fernando Henrique Cardoso, do Brasil, Ricardo Lagos, do Chile, e Ernesto Zedillo, do México, assinaram um documento público dizendo que alguns líderes atuam bem na pandemia e outros não. Defenderam a ciência e que o FMI esteja mais presente, com mais recursos para a região. Esse documento tem maisbwin 005um mês. Mudou alguma coisa após esse pedido?

bwin 005 Santos - A relevância desse documento está mantida. E voltaria a assiná-lo. O Fundo Monetário Internacional precisa dar mais recursos à região. Precisamos ser criativos,bwin 005inovações que geram mais recursos financeiros para enfrentar a catástrofe econômica na região.

bwin 005 BBC News Brasil - Como o senhor disse, a região já vinha malbwin 005termos econômicos e sociais quando surgiu a pandemia. Então, o que esperar depois da pandemia?

bwin 005 Santos - As Nações Unidas estimam que vamos retroceder 30 anos. O Banco Mundial diz que vamos retroceder 20 anos, que voltaremos a ter os índicesbwin 005pobreza que tínhamos no começo do século e que vamos ter um desemprego alto durante muito tempo.

Mas ao mesmo tempo a pandemia deu visibilidade aos problemas graves que temosbwin 005desigualdade,bwin 005faltabwin 005produtividade,bwin 005pobreza,bwin 005vulnerabilidades. Mas podemos aproveitar a pandemia para reconstruir nossos países com melhores políticas, ou seja, políticas sociais justas e verdes. Precisamosbwin 005mais justiça social e precisamos ser muito mais conscientesbwin 005combater as mudanças climáticas porque essa pandemia é uma pequena situação diante da tragédia das mudanças climáticas, se não atuamos com maior determinação para deter as mudanças climáticas.

bwin 005 BBC News Brasil - Como?

bwin 005 Santos - Por exemplo,bwin 005vezbwin 005retroceder ao usobwin 005energia poluentes, fósseis, como está acontecendo, estimular a economia, poder aproveitar para estimular a criaçãobwin 005energias renováveis. Políticas que tenham como finalidade a sustentabilidade ambiental. Este é o momento para isso.

bwin 005 BBC News Brasil - Voltando à política brasileira bwin 005 , e bwin 005 xiste preocupaçãobwin 005alguns setores com os rumos da democracia desde que Bolsonaro participoubwin 005um ato com manifestantes que pediam a intervenção no Supremo Tribunal Federal. Nabwin 005visão, a democracia brasileira corre riscos?

bwin 005 Santos - O que vejo é uma tendência no mundo todobwin 005usar a pandemia para que os governos saiam fortalecidos, mas com o custobwin 005afetar a divisãobwin 005poderes, enfraquecendo os Supremos e até o Congresso. Isso é o contrário do que defende qualquer democrata. Acho que é preciso estar atento. E isso está acontecendo não só na América Latina, masbwin 005vários lugares do mundo todo. Os governos gostambwin 005ter todo o poder, ter controlebwin 005tudo e isso pode virar um costume. Claro que sabemos que existem situações excepcionaisbwin 005função da pandemia e o governo precisabwin 005mecanismos para atuar. Mas isso não pode ser uma regra e sim uma exceção.

bwin 005 BBC News Brasil - O governo brasileiro conta com forte participaçãobwin 005militares. Bolsonaro tem um discursobwin 005que a ditadura militar não foi negativa para o país. Qual abwin 005opinião?

bwin 005 Santos - Como democrata, não gostei nunca que militares respondam pelos governos. Os militares - e eu fui militar - devem cumprir com seu mandato constitucional. E não virar um co-governo. O governo deve estar nas mãos dos civis. A essência da democracia exige que os militares cumpram seu dever e não interfiram na administração dos assuntos públicos porque essa fórmula, geralmente, gera consequências negativas.

Juan Manuel Santos

Crédito, EPA

Legenda da foto, Santos continua a defender o processobwin 005paz que ajudou a criar, mas se diz preocupado

bwin 005 BBC News Brasil - O senhor assinou o acordobwin 005paz com as F bwin 005 arc bwin 005 bwin 0052016. Como vê o acordo hoje? Existem notíciasbwin 005que as células das Farc continuam atuando no interior da Colômbia. Não está preocupado com essa situação?

bwin 005 Santos - Estou preocupado, mas ao mesmo tempo tranquilo. O Acordobwin 005Paz foi blindado juridicamente pela Corte Constitucional. Nenhum governo, ou os próximos três governos, pode aprovar leis ou decretos que contrariem o cumprimento dos acordos. O que sim me preocupa é que esse governo (presidente Iván Duque) foi muito lentobwin 005organizar o cumprimento dos acordos. Também me preocupa que certos líderes sociais estejam sendo assassinadosbwin 005algumas regiões como resultado do acordo. Camponeses que perderam a terra pela violência ou líderes que estão estimulando a substituição dos cultivos ilícitos (folhabwin 005coca). Sei que ainda temos muitos problemas, mas vejo com satisfação e otimismo que a grande maioria dos integrantes das Farc, que se desmobilizou e se desarmou, continua atendendo ao processobwin 005paz e se incorporando à vida civil. As Farc são hoje um partido político com representação no Congresso.

bwin 005 BBC News Brasil - Mas o senhor acha que chegará o diabwin 005que, alémbwin 005representação no Congresso, os integrantes das Farc terão empregos dignos e serão m bwin 005 ais bem bwin 005 aceitos pela sociedade colombiana?

bwin 005 Santos - Acho que estão sendo cada vez mais aceitos. E existem ex-combatentes que estão trabalhandobwin 005empresas normais. E as pessoas cada vez mais os aceitam como uma parte fundamental da nossa vida social e política.

bwin 005 BBC News Brasil - Há poucos dias, um brasileiro e seu namorado suíço foram sequestrados no interior da Colômbia. Foi notícia no Brasil. A Colômbia ainda não é um país seguro para o turismo?

bwin 005 Santos - É um país muito mais seguro do que era. Antes, a metade do país era 'zona vermelha' (perigoso). Mas ainda temos problemas. Existem lugares onde as quadrilhasbwin 005criminosos, estas dissidências das Farc que estão dedicadas ao narcotráfico, operam. Ainda temos problemas. Mas somos um país diferente daquele que tínhamos há alguns anos porque não podemos comparar o que era a Colômbia há seis ou sete anos com o que o país é hoje. Mas não ignoramos que ainda temos problemas.

bwin 005 BBC News Brasil - O que mudou nabwin 005vida ser Prêmio Nobel da Paz? Mudou alguma coisa?

bwin 005 Santos - Sim. Me fez estar mais comprometido a continuar ajudando as causas importantes ligadas ao que tem a ver com viverbwin 005um mundo mais pacífico. Para mim abriu uma janela, como disseram os indígenas, para entender que a paz não se faz somente entre seres humanos, mas que a paz também deve ser com a natureza. E nós vínhamos,bwin 005certa forma, destruindo a natureza. E se queremos paz entre seres humanos, temos que ter paz com a natureza. E estou me dedicando a isso, a promover a paz entre seres humanos e a promover a paz com a natureza.

bwin 005 BBC News Brasil - Onde o senhor está nesse momento? Há muito barulhobwin 005pássaros.

bwin 005 Santos - A Colômbia é o país com maior diversidadebwin 005pássaros do mundo. E estoubwin 005uma zona que está a uns 70 quilômetrosbwin 005Bogotá. É uma zona onde há muitos e muitos pássaros.

bwin 005 BBC News Brasil - No final do ano passado foram realizados fortes protestos no Chile, na Colômbia, no Equador ebwin 005outros lugares da América Latina. Sua percepção é que eles estão adormecidos pela pandemia, mas voltarão? Ou não?

bwin 005 Santos - Voltarão, com certeza. A desigualdade social será um denominador comum dos protestos. Vamos ver mais desigualdade, mais desemprego, mais pequenos empresários quebrados. Ebwin 005países como o meu, até os mais velhos, confinados na marra, também saem para protestar. Então, acho que os protestos estão congelados, mas quando a pandemia passar, serão retomados. Mas é quando os governantes teriam a oportunidadebwin 005ouvir a voz dos manifestantes, dos indignados e canalizar essa indignação para políticas melhores, mais justas, mais verdes. Parte desses protestos são os ambientalistas que viram como os países não se comprometembwin 005verdade com os compromissos como o Acordobwin 005Paris. Eu sou otimista nato e acho que essa combinação, se tivermos uma boa liderança, pode canalizar para a criaçãobwin 005nova economia e politicas que corrijam os problemas que existem há 200 anos na América Latina.

Trump

Crédito, Getty Images

Legenda da foto, 'O fenômeno Trump influenciou muito o resto do mundo. Trump buscou enfraquecer o multilateralismo, enfraquecer as organizações internacionais, as Nações Unidas, a Organização Mundialbwin 005Comércio, e isso repercute nas regiões'

bwin 005 BBC News Brasil - Podem ocorrer mudanças geopolíticas se o presidente Trump ganhar ou perder a eleiçãobwin 005novembro?

bwin 005 Santos - Essa eleição é muito importante para a América Latina. Se o senhor Trump seguir na Presidência, vamos continuar vendo uma políticabwin 005total desconhecimentobwin 005relação à América Latina. Uma política improvisada que não nos deu nenhum benefício. Acho que o candidato democrata (Joe Biden) conhece a região e trabalhou pela América Latina, gosta e admira a nossa região. A relação entre Estados Unidos e América Latina melhoraria muito com uma mudançabwin 005governo nos Estados Unidos.

bwin 005 BBC News Brasil - Como o senhor vê a situação da Venezuela hoje? Não há previsãobwin 005novas eleições (presidenciais com maior participação da oposição) e o opositor Juan Gua bwin 005 i bwin 005 do, que contou com apoiobwin 005vários países, parece ter perdido forças.

bwin 005 Santos - Acho que nesse momento está tudo parado. Continuo insistindo que a única solução e a mais favorável que temos na América Latina e, principalmente na Colômbia que é o mais prejudicado com a situação venezuelana, e não por causa dos venezuelanos, óbvio, é uma solução negociada, pacífica, onde devem estar presentes os jogadores determinantes. São eles Rússia, China, Cuba, Estados Unidos e América Latina. Essa tem que ser a solução e nunca é tarde.

bwin 005 BBC News Brasil - O senhor disse no início da entrevista que acha uma loucura como o presidente brasileiro está lidando com a situação da pandemia. Por quê?

bwin 005 Santos - Considerar uma pandemia como uma gripezinha. Dar sinal para que ninguém exerça nenhuma disciplina social, que ninguém acate as recomendações dos cientistas, dos médicos e isso só agrava o problema. E agora vemos os resultados.

bwin 005 BBC News Brasil - As pessoas tendem a seguir a seu líder?

bwin 005 Santos - Sim, claro. Os líderes devem dar exemplos. Os líderes têm responsabilidades combwin 005população. O que vemos hoje no Brasil e nos Estados Unidos são líderes que dão maus exemplos.

bwin 005 BBC News Brasil - Como Prêmio Nobel da Paz, se tivesse que mandar alguma mensagem ao Brasil, qual seria?

bwin 005 Santos - O Brasil é um país maravilhoso, com grande futuro. A América Latina sempre foi a região do futuro. Mas acontece que não permitimos que esse futuro chegue. Mas tomara que essa pandemia nos faça acordar. E nos mostre que podemos mudar certas políticas para que este futuro vire o presente. O Brasil e a América Latina temos tudo o que o mundo precisa. Temos biodiversidade, temos água, temos energia, temos uma população engajada e também os melhores jogadoresbwin 005futebol.

Trump

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