O que é a 'vingança da horasac betpix365dormir' dos jovens que trabalham demais na China:sac betpix365

Ela descreveu o fenômeno como "pessoas que não têm muito controle sobresac betpix365vida diurna recusando-se a ir dormir cedo, para ganhar alguma sensaçãosac betpix365liberdade durante a noite".

O tuíte ressoou com muita gente. Em uma resposta que ganhou 4,5 mil curtidas, o usuáriosac betpix365Twitter Kenneth Kwok escreveu: "(Fico) geralmente das 8h às 20h no escritório, são 22h quando chegosac betpix365casa, janto e tomo banho, e provavelmente não vou só dormir e repetir a mesma rotina. Algumas horassac betpix365tempo pessoal são necessárias para sobreviver."

Não se sabe ao certo a origem do termo chinês. A menção mais antiga encontrada pela reportagem foisac betpix365um postsac betpix365blog datadosac betpix365novembrosac betpix3652018, mas provavelmente há anteriores. O autor do post (um homem da provínciasac betpix365Guangdong) escreveu que, durante a jornadasac betpix365trabalho, ele "pertencia a outras pessoas" e que só conseguia "encontrar-se a si mesmo" quando chegavasac betpix365casa e deitava.

Essa "vingança" é triste, ele escreveu, porque cobra um preçosac betpix365sua saúde, mas também "ótima", por lhe dar um poucosac betpix365liberdade.

A expressão se popularizou na China, mas é provável que o fenômeno seja bem mais amplo e que haja trabalhadores exaustossac betpix365vários cantos do mundo adiando o sono para reivindicar um poucosac betpix365tempo para si — mesmo sabendo que isso pode prejudicarsac betpix365saúde.

Limites tênues

Já faz tempo que especialistas advertem que a escassezsac betpix365temposac betpix365sono é uma epidemia global, mas ignorada,sac betpix365saúde pública. A pesquisa Philips Global Sleepsac betpix3652019, que fez maissac betpix36511 mil entrevistassac betpix36512 países, mostrou que 62% dos adultos pesquisados sentem que não dormem o suficiente — o fazemsac betpix365média por 6,8 horas nos diassac betpix365semana, menos do que as 8 horas recomendadas por especialistas.

As pessoas citaram diversos motivos para o sono reduzido, incluindo estresse e o ambientesac betpix365que dormem, mas 37% dos entrevistados disseram que a culpa ésac betpix365jornadas caóticassac betpix365trabalho ousac betpix365estudo.

Na China, uma pesquisa nacionalsac betpix3652018 apontou que 60% das pessoas nascidas depois dos anos 1990 não dormiam o bastante, principalmente as que viviamsac betpix365cidades grandes.

As empresassac betpix365tecnologia que criaram a cultura do 966 (das 9h às 9h, seis dias na semana) tendem a estar sediadas nas grandes cidades, e suas práticas influenciaram outros setores. Um relatório recente da emissora estatal chinesa CCTV e do Escritório Nacionalsac betpix365Estatísticas apontou que um trabalhador chinês típico temsac betpix365média apenas cercasac betpix3652 horas e 40 minutos livres por dia, quando não está trabalhando nem dormindo — uma reduçãosac betpix36525 minutossac betpix365relação ao ano anterior.

Gu Bing, 33, diretora criativasac betpix365uma agência digitalsac betpix365Xangai, costuma trabalhar até tarde e acha que dorme cedo quando vai para a cama antes das 2h da manhã. "Mesmo que eu fique cansada no dia seguinte, não quero dormir cedo", diz.

Gu gostava mais das noites longas quando tinha 20 e poucos anos e agora pensasac betpix365adotar hábitossac betpix365sono mais "normais". No entanto, ela diz precisar das horas que tem para si à noite. "Quero ser saudável", diz ela, "mas meus empregadores roubaram meu tempo. Quero pegar meu temposac betpix365volta."

Para além da longa jornada no trabalho, outra parte do problema é que as pessoas têm cada vez mais dificuldadesac betpix365traçar limites entre as vidas profissional e pessoal, opina Ciara Kelly, que ensina psicologia do trabalho na Universidadesac betpix365Sheffield (Reino Unido). Por contasac betpix365e-mails e mensagens instantâneas, empregados estão sempre acessíveis. "Isso dá a sensaçãosac betpix365que estamos 'sempre trabalhando', porque o trabalho pode nos chamar a qualquer momento", diz.

Jimmy Mo, 28, analistasac betpix365uma desenvolvedorasac betpix365games na metrópole chinesasac betpix365Guangzhou, descobriu que é uma facasac betpix365dois gumes combinarsac betpix365paixão por videogames com o trabalho.

"Meu trabalho é também meu hobby. Adoro sacrificar meu temposac betpix365lazer por ele", conta, explicando que é exigido dele que jogue diferentes jogos forasac betpix365seu horáriosac betpix365trabalho, alémsac betpix365fazer cursos para melhorar suas habilidades. Para acomodar também seus hobbiessac betpix365ioga e canto, ele geralmente não vai deitar antes das 2h da manhã.

Ele sabe que o sono insuficiente pode acabar afetandosac betpix365saúde, e que poderia se sentir melhor se dormisse mais, mas se sente pressionado a fazer mais e mais.

Embora possam se ressentirsac betpix365o trabalho "espremer" seu temposac betpix365lazer, reduzir o sono provavelmente não é a melhor vingança contra isso. A privação do sono, principalmente asac betpix365longo prazo, causa diversos efeitos nocivos, tanto físicos quanto mentais.

No livro Por que nós dormimos - A nova ciência do sono e do sonho, o neurocientista Matthew Walker vai direto ao ponto: "Quanto menos você dorme, menor serásac betpix365vida". E as pessoas,sac betpix365geral, sabem disso: todos os entrevistados para esta reportagem sentiam que seus padrõessac betpix365sono eram pouco saudáveis — mas mesmo assim ficavam acordados até tarde.

A psicologia pode explicar por que as pessoas privilegiam temposac betpix365lazersac betpix365detrimento do sono. Um crescente conjuntosac betpix365evidências aponta para a necessidadesac betpix365termos tempo livre das pressões do trabalho, sob riscosac betpix365excessosac betpix365estresse e burnout.

Acontece que "uma das formas mais importantessac betpix365se recuperar do trabalho é pelo sono. Mas o sono é afetado pelo quanto que conseguimos nos desconectar", explica Kelly, da Universidadesac betpix365Sheffield.

É importante, diz ela, ter tempo livre quando conseguimos nos distanciar mentalmente do trabalho, o que explica por que as pessoas estão dispostas a sacrificar o sono pelo lazer noturno.

"As pessoas ficam presassac betpix365um paradoxo quando não conseguem se desligar do trabalho antessac betpix365ir para a cama, e isso provavelmente afeta seu sono negativamente", prossegue Kelly.

A solução real, ela afirma, é garantir que as pessoassac betpix365fato tenham tempo para atividades que as ajudem a desligar. Mas isso,sac betpix365geral, não depende apenas da vontade dos funcionários.

Heejung Chung, socióloga do trabalho na Universidadesac betpix365Kent (Reino Unido) que defende que haja mais flexibilidade no trabalho, vê a práticasac betpix365sacrificar o sono como culpa dos empregadores. E combater isso beneficiaria os empregados, mas também criaria um "ambientesac betpix365trabalho mais saudável e eficiente", argumenta.

"É, na verdade, uma iniciativasac betpix365produtividade", defende. "As pessoas precisamsac betpix365tempo para relaxar. Trabalhadores precisam fazer outras coisas que não só trabalho. É um comportamentosac betpix365risco fazer apenas uma coisa."

Flexibilidade

Desde a pandemia da covid-19, empresassac betpix365muitos países implementaram políticassac betpix365home office, introduzindo mais flexibilidade nas vidas profissionais mas também,sac betpix365alguns casos, mais dificuldadesac betpix365separar as barreiras já tênues entre trabalho e tempo pessoal. Não está claro, ainda, como o cenário vai impactar esses trabalhadores que já abdicam do sono para ter algum lazer.

Chung acredita que mudanças genuínas dependerãosac betpix365um novo rumo institucional para muitas empresas. "É difícil para indivíduos reagir (àsac betpix365situação empregatícia)", explica. A despeito disso, ela aconselha funcionários a conversar com colegas e coletivamente abordar a chefia, levando evidências do dia a dia, caso queiram pedir mudanças.

No entanto, é pouco provável que isso aconteça na China. Na realidade, um relatório sugere que as empresas estão pedindo cada vez mais horas extras dos funcionários, na tentativasac betpix365reduzir as perdas causadas pela covid-19.

Krista Pederson, consultora que trabalha com multinacionais e corporações chinesassac betpix365Pequim, diz ter observado essa tendência. E empresas chinesas veemsac betpix365culturasac betpix365trabalho como uma vantagem sobre mercados como EUA e Europa, onde as pessoas tendem a trabalhar menos horas: "Elas sabem que têm trabalhadores dedicados que farão o que for necessário para estar na dianteira, incluindo trabalhar o tempo todo".

Com uma culturasac betpix365trabalho tão exigente, empregados continuarão a enfrentar o problemasac betpix365uma forma que funcione para eles. Apesarsac betpix365permanecer ativa desde o amanhecer atésac betpix365madrugada, Gu Bing adora seu trabalho e desfrutasac betpix365seu pouco tempo livre.

"Às vezes, acho que a noite é perfeita, bonita até", diz. "Meus amigos e eu conversamos à noite e às vezes escrevemos canções juntos. É silencioso e calmo."

E os mais sortudos têm a opçãosac betpix365mudarsac betpix365emprego, que é o que Emma Rao fez: trocou seu "emprego 996" por um que fosse um pouco menos exigente. Mas ela descobriu que é difícil se livrarsac betpix365antigos hábitos.

"É uma vingança", diz ela sobre ficar acordada até tarde da noite. "Para recuperar um poucosac betpix365tempo para mim."

Leia o original desta reportagem (em inglês) na BBC Worklife

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