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'Fui obrigada a rezar para tirar o demônio': o duro relatohot betstransexual submetida à 'cura gay':hot bets
"Eu só sabia que gostavahot betsoutros garotos e que queria coisas diferentes daquelas que meus irmãos queriam", dizhot betsentrevista à BBC Mundo (serviçohot betsespanhol da BBC).
"Eles ouviram uma conversa que eu tive com um amigo, nos interromperam e logo começaram a fazer muitas perguntas", completa.
Ao confirmar que o filho era homossexual, os paishot betsDanne começaram uma busca por informações sobre o tema e consultaram vários especialistas.
"Diziam para eles que a minha carga hormonal estava muito baixa e me fizeram tomar pílulas para aumentar meu nívelhot betstestosterona, ou diziam que era assim porque a minha mãe me mimava muito ou que talvez tivessem me estuprado, embora isso nunca tenha acontecido", diz.
Após descartar diversas hipóteses, os pais dela aplicaram uma sériehot bets"processoshot betscorreção sexual" por meio da religião e da espiritualidade.
Uma psicóloga cristã foi a responsável por fornecer as informações iniciais sobre o tema aos paishot betsDanne.
Eles não entendiam muito bemhot betsque consistiam os tratamentos, mas aceitaram a "ajuda" e foi aí que começou o martíriohot betsDanne, que tinha 16 anos na época.
Ela é uma das muitas pessoas da comunidade LGBTQIA+ que foram forçadas a participar da chamada terapiahot betsconversão, que ainda é realizadahot betsmuitos países, inclusive naqueles onde foi proibida.
No Brasil, há proibições dessa prática quando é relacionada à psicologia. A "cura gay", como é conhecida por aqui, é proibida pelo Conselho Federalhot betsPsicologia desde 1999. Em 2020, o Supremo Tribunalhot betsJustiça (STF) suspendeu uma decisão judicial que abria brecha para permitir que psicólogos praticassem esse tipohot betsintervenção.
A primeira terapia
Certa vez, diz Danne, os pais a chamaram para acompanhá-loshot betsalgumas tarefashot betsrotina. Ela ficou surpresa quando eles foram a uma igreja, poishot betsfamília "nunca foi muito católica".
"Os pastores já sabiam tudo sobre mim. Eles me levaram ao púlpito e começaram a orar por mim e por outras pessoas que estavam lá", conta.
"Eu vi como os outros tocavam suas cabeças e as levavam para trás. Logo agarraram a minha cabeça também e tentaram puxá-la para trás, mas eu não tinha vontadehot betsir a nenhum lado. Foi muito estranho", se recorda.
"Então eles me perguntaram se eu ainda era gay e se o espírito havia deixado meu corpo".
Essa primeira "terapia" durou pouco maishot betsuma hora.
Ela lembra que a sessão a deixou muito cansada e que lhe explicaram que isso ocorreu porque "os espíritos haviam curado seu corpo e eliminaram os demônios".
"É como uma lavagem cerebral. No final você acaba acreditando que há algo ruim dentrohot betsvocê e que estão limpando vocêhot betsalguma coisa", explica.
Ela decidiu dizer a eles que não era mais gay.
"Eu menti para sairhot betslá. Eu sabia que, se dissesse que ainda era gay, o martírio duraria muito mais", conta. Ela afirma que o nervosismo, a ansiedade e a pressão causados pelas pessoas que rezavam ao seu redor não deixaram outra opção.
Ela garante que naquela época não sabia nada sobre direitos humanos, na escola não tinha o apoiohot betsnenhum professor e não tinha as ferramentas para dizer aos pais que o que estavam fazendo era errado.
Tudo isso desencadeou nela sintomas depressivos e várias tentativashot betssuicídio.
"Terapiahot betsconversão" é um termo que descreve práticas pseudocientíficas usadas para tentar alterar a expressãohot betsgênero, identidadehot betsgênero ou orientação sexualhot betsuma pessoa, variandohot betsmedicamentos prescritos a eletrochoques, internamento forçadohot bets"clínicas" e exorcismos.
Uma pesquisa da Universidadehot betsCoventry, no Reino Unido, publicada no ano passado, entrevistou dezenashot betspessoas que haviam sido submetidas a essas "terapiashot betsconversão" e não encontrou nenhuma evidênciahot betsque elas funcionem. Esse estudo apontou que isso pode ter um impacto negativo para a saúde mental das pessoas que passam por essas intervenções.
Um relatório elaboradohot bets2020 pelo Instituto Williams, da Faculdadehot betsDireito da Universidade da Califórnia, apontou que homossexuais ou bissexuais - o levantamento não incluiu pessoas trans - que são submetidos a esse tipohot betsterapiahot betsconversão têm quase o dobrohot betsprobabilidadehot betstentar ou pensarhot betssuicídiohot betscomparação com pessoas que não passaram por isso.
"Exorcismos"
Vários meses depois dessa primeira terapia, a colombiana que hoje se identifica como transexual foi submetida a uma segunda, ainda mais traumática, organizada pela mesma igreja onde foi batizada e seus pais se casaram.
"A minha irmã me acompanhou e disseram que seria um encontrohot betsjovens, o que não me pareceu estranho porque eu já tinha ido a alguns encontros nas empresashot betsque os meus pais trabalhavam".
Elas foram colocadashot betsum ônibus com outras famílias e, sem explicação, foram levadas a uma fazenda remota nos arredoreshot betsBogotá.
O encontro tinha regras rígidas. Durante os "intermináveis" seis dias, ela repetia a mesma rotina: acordava muito cedo e logo mandavam rezar antes do café da manhã. "Depois tinha que ficar rezando o dia todo para tirar o 'demônio'hot betsmim e se não obedecesse não conseguia comer nem dormir", lembra ela.
"Eles fizeram exorcismos jogando água bentahot betsmim. Eles colocaram velashot betstodos os lugares, fizeram cruzes com cinzashot betsmim e falaram sobre o que haviahot betserrado comigo e a minha orientação sexual."
À medida que as pessoas "se arrependiamhot betsseus pecados", elas tinham que falar sobre outras pessoas com quem haviam cometido o "pecado" para identificá-las.
Para poder ir para a cama, era necessário dizer primeiro que se sentia "livrehot betsespíritos".
Todos iam dormir, menos Danne, que não aceitava mentir novamente e não queria demonstrar arrependimento por ser gay.
Por isso, a colocaram como um exemplohot betsalgo que "estava errado" e a faziam rezar rosários durante horas.
"Nas últimas noites, a minha irmã me disse que se sentia muito mal e me implorou para mudar. Ela também se sentia rejeitada por ser irmãhot betsum gay", explica Danne.
'Não queria continuar lutando'
Chegou um momentohot betsque ela decidiu ceder e, assim como fez depois da primeira terapia, disse que havia deixadohot betsser gay.
No caminho para casa,hot betsfamília perguntou se ela estava bem e se sentia alguma mudança.
"A princípio, disse que havia mudado. Não queria seguir lutando e se eu dissesse que me sentia o mesmohot betssempre, as terapias continuariam, o que não era saudável pra mim".
Danne explica que quando saihot betsuma terapiahot betsconversão, você se sente "perdido", porque o que dizem nesses lugares é "muito diferente" do que você realmente sente. "Você quer mudar e ser 'normal', porque te fazem acreditar que é errado ser você", reflete.
"Eles fazem você sentir que se você é gay,hot betsúnica opção na vida é ser cabeleireiro ou prostituta e eu não queria isso, queria estudar astronomia".
Após essas experiências, Danne começou a investigar o que havia acontecido com ela e o que significava ser gay.
Pouco depois, muito mais informada, Danne se abriu para os pais.
Ela confirmou que continuava sendo gay, falou para eles sobre os direitos humanos, decidiu se envolver no ativismo LGBTQIA+ e começou a participarhot betsmanifestações e eventos sobre a temática.
Na escola, ela começou a falar sobre diversidade e foi expulsa por isso.
Anos depois, seus pais se desculparam, agora a apoiam e a acompanham nas passeatas do orgulho gay.
Hoje, Danne trabalha como diretora da Fundação Gaat, um grupohot betsação e apoio à comunidade trans, que denuncia que "as terapiashot betsconversão continuam sendo muito comuns" tanto na Colômbia como no resto da América Latina e que o problema é "normalizado e internalizado".
"Eu não sabia que havia passado por terapiahot betsconversão até começar a investigar o que era isso", diz ela.
"Eu só dizia na escolahot betstomhot betsbrincadeira que haviam feito exorcismohot betsmim, que não havia funcionado e eu continuava sendo gay".
Após as terapias às quais foi submetida, Danne passou por um processohot betsautoconhecimento como pessoa trans que ela classifica como longo e permeado por muitas "práticas e reavaliações" sobre o que sentia.
Um tema 'complexo'
Andrés Forero, gerentehot betscampanha do All Out, um movimento globalhot betsdireitos LGBTQIA+, diz que há muito pouca informação sobre essas terapias que prometem a cura gay.
"A questão na América Latina é complexa porque não tem sido prioritária e as leis variam muito", diz à BBC Mundo.
Em alguns países, como aqui no Brasil, existem proibições que impedem os psicólogoshot betsfazer terapiahot betsconversão, mas é uma medida "que não é muito útil", segundo Forero.
Isso porque "não são os psicólogos que mais fazem essas práticas, geralmente são organizações religiosas", argumenta.
Ele diz que "infelizmente" as terapiashot betsconversão são "bastante normalizadas" na cultura latino-americana.
"Quando eu disse ao meu pai que eu era gay,hot betsprimeira reação foi dizer: 'Bem, vamos ver se há algum tipohot betsterapia ou algo que possamos fazer para curá-lo", conta Forero.
Vazio na legislação
No século 20, não era incomum que alguns terapeutas propusessem a mudançahot betsorientação sexual por meiohot betspsicanálise intensa e,hot betsalguns casos, terapiahot betseletrochoque.
Mashot bets1973, a Associaçãohot betsPsicologia dos Estados Unidos deixouhot betsconsiderar a homossexualidade como um transtorno. Em 1990, também foi retirada da Classificação Internacionalhot betsDoenças da Organização Mundialhot betsSaúde (OMS).
A OMS e outras organizações médicashot betstodo o mundo alertam que todas as formashot betsterapiahot betsconversão são antiéticas e potencialmente prejudiciais.
Até o iníciohot bets2022, cinco países latino-americanos proibiam explicitamente essa prática: Argentina, Brasil, Equador, Uruguai e Porto Rico, embora na maioria dos casos as leis não abranjam o temahot betsmaneira suficientemente ampla. No restante da América Latina, há um vazio na legislação sobre o tema.
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