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A profissional que tenta rejuvenescer as palavras cruzadas:caçaniquel
Segundo ela, a pista reflete mudanças que ela tenta fazer na cenacaçaniquelpalavras cruzadas americanas, com uma linguagem que atraia perfis mais variadoscaçaniquelleitores (no caso, ela fez um jogocaçaniquelpalavras com o nome da cantora pop Ariana Grande, ícone do público juvenil).
"Existe um grande prazercaçaniquelsolucionar uma palavra cruzada - naquele momentocaçaniquelreconhecimento quando você vê algo que sabe refletido no seu jornal", ela diz.
"Então, para mim, o projeto é trazer esse momentocaçaniquelreconhecimento para mais e mais pessoas que se parecem comigo e consomem o mesmo tipocaçaniquelprodutos culturais que eu."
Anna atualmente trabalha para a revista The New Yorker, e tem PhDcaçaniquelliteratura inglesa e estudoscaçaniquelcinema e mídia. Ela se descreve como uma ávida consumidoracaçaniquelreality shows na TV e,caçaniquelentrevista à BBC, contou como se apaixonou pelo mundo das cruzadinhas - enquanto travava uma dura batalha contra um distúrbio alimentar.
Diversidade
Historicamente, o ambientecaçaniquelcriaçãocaçaniquelpalavras cruzadas sempre foi bastante masculino.
Anna descreve a si mesma como partecaçaniqueluma pequena geraçãocaçaniquelcriadores que estão trazendo uma diversidade maiorcaçaniquelvozes a esse mundo.
"Toda palavra cruzada,caçaniquelmuitas formas, traz a digital do seu criador", ela afirma.
Anna cresceucaçaniquelTribeca, no centro da ilhacaçaniquelManhattan,caçaniquelNova York, com seu pai (um advogado),caçaniquelmãe (uma historiadora da arte) ecaçaniquelirmã mais velha.
"Minha família é muito amorosa e também tem bastante do estereótipo da família judia nova-iorquina", prossegue Anna. "Discussões e educação foram certamente priorizadas, e nossas opiniões e ideias sempre tiveram valor desde cedo."
Anna se apaixonou por cruzadinhas na adolescência, quando acompanhoucaçaniquelmãe ao cinema "indie" Angelika Film Centre, na região do Soho, para assistir ao documentário Palavras Cruzadas (2006).
"O filme realmente te apresenta a membros muito excêntricos do mundo das palavras cruzadas, e eu tive um momento muito estranhocaçaniquelidentificação cinematográfica com eles", afirma.
Não é todo mundo que encontra inspiração criativa nas cruzadinhas, ela admite. "Por alguma razão, eu senti o entusiasmo e a excentricidade deles através da tela. Havia algo estrutural sobre a linguagem - era quase como mágica."
Anna passou a criar palavras cruzadas no estilo americano, que é bem peculiar, como ela explica:
"Absolutamente todas as letras precisam estar conectadas a duas palavras do quadro, o que cria um processocaçaniquelconstrução bastante masoquista. É diferente, por exemplo, das palavras cruzadascaçaniquelestilo britânico, na qual a dificuldade é criar charadas para cada palavra".
(Nesses modelos, as pistas são colocadas fora da gradecaçaniquelpalavras cruzadas. No Brasil, o estilo mais comumcaçaniquelpalavras cruzadas é o direto,caçaniquelque as pistas estão dentro dos quadradinhos.)
Anna passou a construir suas palavras cruzadas à mão, usando papel quadriculado e "muitos, muitos dicionários", até completar 25 anos.
"É como se as palavras tivessem virado um tipocaçaniquelequação matemática, na qual você precisa se assegurarcaçaniquelque todas as letras se cruzem na página ao mesmo tempocaçaniquelque pertençam a palavras reais. Agora, o processo foi digitalizado e comecei a usar softwarescaçaniquelconstruçãocaçaniquelpalavras cruzadas, como todo mundo."
Com o software agilizando o processo, Anna sentia que estava "trapaceando", apesarcaçaniquela elaboração ainda depender,caçaniquelgrande parte, do trabalho humano.
"Ao entender que estava fazendocaçaniquelmim mesma menos competitiva, comecei a usar o software."
A primeira palavra cruzada que ela já criou era baseada na palavra inglesa "midterm" (usada para se referir, por exemplo, a eleições que ocorram no meiocaçaniquelum mandato ou a exames escolares na metade do ano letivo).
"As respostas temáticas na cruzadinha tinham 'term' no meio delas, então essa era a brincadeiracaçaniquel'midterm' - por exemplo (as palavras) 'mastermind', 'determined', 'watermelon'. Acho que dei para minha mãe resolver."
Anorexia
Anna não sabia ao certo secaçaniquelfamília entendia plenamentecaçaniquelpaixão.
"Minha irmã mais velha meio que me trollava, achava que eu era nada 'cool'. Ela mudoucaçaniquelopinião", conta. "De muitas formas, acho que (minha família) não entendia bem a mecânica da minha mente, e acho que eu também não. Mas era o que eu gostava."
Ao longo do tempo, criar palavras cruzadas se tornou um "mecanismo para me acalmar", depois que ela desenvolveu anorexia na adolescência.
Na época, seu namorado na universidade, que chegou a ser seu "mais devoto resolvedorcaçaniquelpalavras cruzadas", mandou o trabalhocaçaniquelAnna para Will Shortz, o conhecido criadorcaçaniquelpalavras cruzadas e editor do New York Times.
"Shortz ficou muito entusiasmado", diz Anna, "principalmente porque eu tinha 19 anos. Ele correu para publicar (meu trabalho) porque queria que eu estivesse entre seus construtores adolescentes (de cruzadinhas). Ele foi muito claro: se eu fizesse minhas revisões muito rapidamente, seria a mais jovem mulher a ser publicada nas palavras cruzadas do New York Times."
Mas como fazia suas cruzadas à mão na época, "não fui tão rápida e me tornei a segunda mulher mais jovem a ser publicada no Times".
Mas enfrentar a anorexia não foi fácil. Ela enxerga o históricocaçaniquelseu distúrbio alimentar ecaçaniquelseu cruciverbalismo - devoção às palavras cruzadas - como "intimamente enredados um com o outro".
Anna ecaçaniquelfamília ficaram bastante temerosos com seu estadocaçaniquelsaúde, então ela concordoucaçaniqueliniciar um processo recomendado pelos médicos chamado "refeeding", ou realimentação,caçaniquelmodo muito controlado. No caso dela, isso consistiacaçaniquelfazer três grandes refeições por dia, intercaladas por construir uma palavra cruzada.
"Descobri que havia uma espéciecaçaniquelescape do meu corpo quando eu escrevia as palavras cruzadas. Eu entrava numa espéciecaçaniquelmatrix virtualcaçaniquelpalavras que me dava uma espéciecaçaniquelbarato como compensação", ela explica.
"Entendi que o que eu fazia era difícil, o que me fez sentir meio virtuosa e me permitiu escapar dos desconfortos corporais".
Anna diz que adorava seus estudos, mas por conta do distúrbio alimentar precisou se ausentar durante vários semestres.
"Perdi a confiança da minha família, foi com certeza o pior período da minha vida - não apenas pela minha relação comigo mesma, mas também pela rupturacaçaniquelrelações que eram tão preciosas para mim."
E a principal distorção causada pela anorexia é que Anna sentia que o distúrbio alimentar havia se tornado uma parte essencialcaçaniquelsi mesma.
"O mais assustador não era simplesmente (o fato)caçaniqueleu ganhar peso, mas não saber quem eu seria sem (a anorexia). Eu tinha pensamentos perversos, como achar que não seria inteligente o bastante sem isso, que não teria boas notas, que não conseguiria fazer essa atividade intelectualcaçaniquelnicho que são as palavras cruzadas", explica.
"Todas essas coisas que eu valorizavacaçaniquelmim, eu presumia, erroneamente, ilusoriamente, que eram ligadas ao meu distúrbio alimentar, o que dificultou minha recuperação."
Reabilitação
A segunda palavra cruzadacaçaniquelAnna foi publicada no New York Times depoiscaçaniquelela ser internadacaçaniqueluma clínicacaçaniquelreabilitação para mulheres com distúrbios alimentares. Ela tinha 20 anos.
Enquanto iniciava seu processocaçaniquelrecuperação, ela temia que criar cruzadinhas a fizesse regredir.
"Com as palavras cruzadas, há esse conceitocaçaniquelque você pode controlar essa coisa incontrolável que é a linguagem - o que,caçaniquelnovo, para mim parecia uma tentativa imprudentecaçaniquelcontrolar o incontrolável que é o corpo humano", diz.
"Então, quando saí da reabilitação, e desfrutei da minha estável - mas precária - recuperação, fiquei com medocaçaniqueleu ter uma recaída (na anorexia) se voltasse a escrever as palavras cruzadas."
Como tudo nacaçaniquelvida naquela época, ela tevecaçaniquel"redescobrir e redefinir o significado" das cruzadinhas emcaçaniquelrecuperação. "Assim como o relacionamento com a minha mãe e irmã tevecaçaniquelser curado, o mesmo aconteceu com a minha relação com palavras cruzadas."
Depoiscaçaniquelter se formado na universidade, ela foi convidada por Will Shortz para ser editora assistente no New York Times.
Os dois eram pessoas muito diferentes, diz Anna. "Ele era um homemcaçaniquel62 anos criadocaçaniqueluma fazendacaçaniquelcavalos na área rural (do Estado de) Indiana. Eu tinha 23 anos, tinha sido criadacaçaniquelTribeca, no baixo Manhattan - nossas referências não poderiam ser mais distintas."
Anna e Will aceitavam ou rejeitavam as palavras cruzadas submetidas ao jornal - no caso das que eram aceitas, eles reescreviam até 90% das pistas. Os dois sentavam juntos e debatiam sobre como definir as palavras.
Ela cita a palavra "bro" (gíria para amigo, que pode ser também traduzida livremente como "mano") como exemplo da diferençacaçaniquelabordagem que os dois tinham a respeito da definiçãocaçaniquelpistas.
"O que vêm à mente para mim e o que vêm à mentecaçaniquelWill Shortz são definições e referências radicalmente diferentes", diz Anna.
"Para ele - e para a forma como isso foi feito por anos no Times - seria algo (relacionado à palavra "brother", quecaçaniquelinglês significa irmão) como 'parente da mana, irmão da mana'. E a minha pista era algo como 'gíria para jovem homem festeiro e narcisista'."
Anna diz que suas discussões com Shortz são "amigáveis", mas que o fococaçaniquelambos sempre era o público - e quem eles imaginavam como sendo a pessoa típica que vai resolver as palavras cruzadas do New York Times.
Enquanto continuavacaçaniquelrecuperação da anorexia,caçaniqueltrajetória nas palavras cruzadas passoucaçaniquel"privada e terapêutica" para "um exercício mais público e até político". Anna conta que passou a se ver como uma "forasteira na comunidadecaçaniquelconstruçãocaçaniquelpalavras cruzadas".
Ela também descobriu que haviam existido pioneiras antes dela, como Margaret Farrar (1897-1984), cuja genialidade nas palavras cruzadas fez dela a primeira editora desse segmento no New York Times.
"Outra mulher que admiro muito é Julia Penelope", diz Anna. "É uma linguista que escrevia suas próprias palavras cruzadas - que ela chamavacaçaniquelcruzadas lésbica-separatistas, cheiascaçaniquelpalavras como 'herstory' e 'womyn', escrita com y (respectivamente, 'históriadela' e 'mulher'). Ela não conseguiu publicar suas palavras cruzadas no New York Times, então publicoucaçaniquelmodo autônomo uma coleçãocaçaniquelcruzadas que eu adoro."
Agora, na dianteiracaçaniqueluma nova geração mais demograficamente diversificadacaçaniquelconstrutores, ela se sente também parte dessa longa linhagemcaçaniquelmulheres cruciverbalistas.
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