Guerra na Ucrânia: a devastaçãoIrpin, ‘cidade heroica’ que conteve avançotropas russas :

As tropas nos mostraram com orgulho um veículo blindado russo destroçado, comtorre retorcida. Havia outro veículo russo incendiado mais à frente. Mas nos levaram rapidamenteum local para outro devido à ameaça contínua da artilharia russa.

A maioria das 70 mil pessoas que viviam na cidade fugiu no mês passado, deixando os porões e arriscando suas vidas diante da implacável artilharia russa.

Muitos vão encontrar quase nada ao voltar. O presidente russo, Vladimir Putin, diz que não tem como alvo áreas civis, mas as casas destruídasIrpin contam outra história.

Vimos muitos danosáreas residenciais, incluindo um arranha-céuque o fogoartilharia havia aberto um buraco no cantoum apartamento. Um carrinhobrinquedo vermelho jazia no chão, pertoum parque abandonado. Havia carros com janelas crivadasbalas e casas queimadas com telhados estraçalhados.

Alguns dos mortos ainda permanecem sob os escombros. Outros foram enterrados às pressas nos quintais e parques porque era impossível dar a eles um funeral adequado. O prefeito estima que entre 200 e 300 civis foram mortos aqui, alguns deles foram alvos diretos enquanto fugiam. O número final provavelmente será maior.

Os russos haviam tomado20% a 30% da cidade, mas a resistência foi perseverante. O Ministro da Defesa da Ucrânia a reconheceu com o título honorário"Cidade Heroica Ucraniana" por "heroísmo e resistênciamassamoradores e defensores". Esta honraria remonta à Segunda Guerra Mundial, quando foi concedida a várias cidades na antiga União Soviética.

'Putin vai perder se não tomar Kiev'

Dentro da cidade, sob vigilância da polícia etropas fortemente armadas, o níveltensão é palpável.

Esta vitória foi conquistada com muito esforço, mas os soldados com quem conversamos reconheceram que os russos poderiam voltaralgum momento.

"Sim, achamos que sim", disse Serhiy Smalchuk, cuja ocupaçãotempos normais é apresentadorTV.

"Eles precisamKiev, certo, porque Putin vai perder se não tomar Kiev. Então eles vão tentarnovo, mas estamos preparados para caso eles voltem. E vamos derrotá-los."

"Não sabemos o que eles estão pensando", diz Ivan Kolehin, um jovem recruta do exércitodefesa territorial. "Não acho que eles vão tentar novamente tão cedo. Suas forças terrestres se retiraram, mas a artilharia ainda pode nos atingir."

Ivan trabalhava na áreamarketing antespegararmas. Ele parece ter dificuldadeprocessar a batalha por Irpin e o fatoainda estar vivo.

"Nunca pensei que sobreviveria", diz ele.

"No terceiro dia, ouvimos um apito, e eles começaram a nos bombardear diretamente. Estávamos sentados no porão e o teto começou a desmoronar. Isso nos assustou muito."

Agora, ele se preocupa com o futuro da cidade.

"Ainda não é seguro estar aqui, mas com o tempo vamos reconstruí-la", afirmou.

"Provavelmente levará anos, considerando os danos. Estou tentando não pensar no fatoque todas as casas destruídas foram construídas por alguém, às vezes com as próprias mãos."

Antes, ele tinha amigos russos, mas já não tem mais.

"Odeio os russos do fundo do meu coração", diz ele. "Isso não tem desculpa."

Moscou anunciou que agora vai reduzir drasticamente os ataques ao redor da capital e se concentrará na região lesteDonbas. Na verdade, o Kremlin tinha pouca opção, uma vez que suas ofensivas ao redor da capital haviam sido inviabilizadas.

Mas com o tempo, as forças russas podem se reagrupar e cercar a capital novamente. Se fizerem isso, terão que passar mais uma vez pela "cidade heroica", que estará na linhafogo.

Ao sairmosIrpin, um grupocivis era retirado a pé, atravessando o leitoum rio por meiotábuasmadeira precariamente colocadas sobre escombros e rochas. São os restosuma ponte que foi explodida pelas forças ucranianas para bloquear o avanço russo — mais um dos sacrifícios feitos por Irpin.

Uma ambulância aguardava duas mulheres idosas que estavam sendo carregadasmacas ao longo da margem do rio, sobreviventes do implacável, mas mal-sucedido ataque russo.

Mais adiante, uma colunatropas ucranianas alardeava com arrogância a vitória, irrompendoum canto obsceno contra Putin.

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