Desnazificação e genocídio: a história por trás da justificativalakers bulls betPutin para invasão da Ucrânia:lakers bulls bet

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Legenda da foto, Vladimir Putin afirmou querer "desnazificar" a Ucrânia

Contudo, ao acusar o atual governo ucraniano, comandado pelo presidente judeu Volodymyr Zelensky,lakers bulls betser nazista - sem qualquer prova disso -, Putin extrapola preocupações atuais e práticas com a segurança do país e mobiliza uma sérielakers bulls betconceitos e eventos históricos na região e que,lakers bulls betacordo com os especialistas, o ajudaria a justificar para o mundo e especialmente para o povo russo as ações militares contra um povo igualmente eslavo.

Putin evoca as memórias coletivas dos ataqueslakers bulls betAdolf Hitler na Europa, especialmente da invasão dos nazistas contra a então União Soviética, e a noçãolakers bulls betgenocídio e limpeza étnica contra um povo - nesse caso, contra os separatistas russos na Ucrânia - e tenta caracterizar seus atos não como agressão a um outro país, como o acusam Ucrânia, EUA e Europa Ocidental, mas como uma tentativalakers bulls betdefesa.

"A Segunda Guerra Mundial é ainda hoje uma parte importante da cultura e da política russa, e a falsa afirmaçãolakers bulls betque o governo ucraniano hoje é como o governo aliado nazista da Ucrânia na Segunda Guerra Mundial ou o Exércitolakers bulls betLibertação Ucraniano (o grupo que lutou ao lado dos nazistas) é uma tentativalakers bulls betmoldar a opinião russalakers bulls betrelação ao atual governo ucraniano", afirmou à BBC News Brasil Adam Casey, cientista político especialistalakers bulls betRússia da Universidadelakers bulls betMichigan, nos Estados Unidos.

lakers bulls bet De onde vem a noçãolakers bulls betque o lakers bulls bet atual lakers bulls bet governo ucraniano é nazista?

É impossível entender as referências feitas por Putin sem voltar algumas décadas na História. Se, por um lado, o modo como o Exército Vermelho, da União Soviética, combateu e derrotou as tropas nazistas alemãs na Segunda Guerra Mundial ainda mobiliza o imaginário dos russos e seu orgulho nacional,lakers bulls betoutro lado, a reaçãolakers bulls betao menos parte dos seus vizinhos ucranianoslakers bulls betrelação a Hitler segue sendo motivolakers bulls bethostilidade entre russos e ucranianos.

Quando o exército nazista adentrou as áreas ucranianas,lakers bulls bet1941, uma parte da população optou por colaborar com os alemães, enquanto boa parte do país foi varrida por sofrimento e destruição. Maislakers bulls bet5 milhõeslakers bulls betucranianos morreram combatendo os nazistas, que mataram a maior parte dos 1,5 milhãolakers bulls betjudeus ucranianos.

A ocupação alemã durou até 1944, e os ucranianos que se engajaram na cooperação com os alemães nazistas atuaram na administração local, se tornaram parte da polícia nazista ou viraram guardaslakers bulls betcamposlakers bulls betconcentração. O governo civil alemão nazista foi batizadolakers bulls betReichskommissariat Ukraine, ou RKU, e compreendia o que hoje se divide entre o território da Ucrânia, Belarus e Polônia.

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Legenda da foto, Manifestaçãolakers bulls betucranianoslakers bulls betextrema direitalakers bulls betKiev,lakers bulls bet2015, com a bandeiralakers bulls betnacionalista ucraniano Stepan Bandera, que colaborou com nazistas

Uma das figuras mais proeminentes - e controversas - desse nacionalismo colaboracionista ucraniano foi Stepan Bandera, que primeiro atuou para facilitar o domínio dos nazistas na região e depois se voltou contra eles, quando percebeu que seu planolakers bulls betindependência da Ucrânia não se concluiria. Bandera passou anoslakers bulls betum campolakers bulls betconcentração nazista e acabaria assassinado por um agente da KGBlakers bulls bet1959.

Por trás da colaboração com os nazistas, estava um desejolakers bulls betindependêncialakers bulls betparte dos ucranianos e a crençalakers bulls betque os alemães poderiam ser o caminho para se livrar do líder soviético Joseph Stálin.

Esse sentimento foi catapultado por outro evento histórico que recém completou 90 anos: o Holodomor, ou Fome-Terror ou ainda Grande Fome, um períodolakers bulls betque,lakers bulls betacordo com a estimativa do historiador Timothy Snyder, da Yale University, cercalakers bulls bet3,3 milhõeslakers bulls betpessoas morreramlakers bulls betfome. Há, no entanto, quem diga que esse número foi até 3 vezes maior que a estimativalakers bulls betSnyder.

Embora a fome tenha atingido a União Soviética como um todo nesse período, especialmente por políticas econômicas do regimelakers bulls betStálin, os ucranianos - e outros 15 países - consideram Holodomor um genocídio. Isso porque,lakers bulls betacordo com alguns historiadores, a fome na Ucrânia teria sido muito pior do que a no restante da região por uma decisão deliberadalakers bulls betStálinlakers bulls betremeter menos recursos à região e proibir o deslocamento das pessoaslakers bulls betbuscalakers bulls betalimentos. O líder soviético teria tomado a decisãolakers bulls betpunir e pressionar o campesinato ucraniano, que resistia a ceder suas férteis propriedades agrícolas ao controle do Estado, como ordenava o regime soviético.

Crédito, Getty Images

Legenda da foto, Tropas nazistas invadem uma casa na ucraniana Sebastopol,lakers bulls bet1942, durante a ocupação alemão, quando cercalakers bulls bet5 milhõeslakers bulls betucranianos morreram

O Holodomor virou um trauma coletivo que ainda assombra a Ucrânia, mesmo 90 anos após os acontecimentos, e que serviulakers bulls betcombustível para o sentimento antissoviético que Bandera encarnou nos anos 1930 e 1940.

Mas por que a histórialakers bulls betBandera importa agora, quase um século depois?

A resposta está nos acontecimentos detonadoslakers bulls bet2013, quando o então presidente ucraniano Viktor Yanukovych, que comandava um governo pró-Rússia, cedeu à pressãolakers bulls betPutin e se recusou a assinar um pactolakers bulls betaproximação do país com a União Europeia, algo que a maioria dos ucranianos desejava.

A decisão do presidente fez irromper protestos populares pelo país. Em um deles, na Praça Maidan, na capital ucraniana Kyev, estima-se que 100 mil pessoas se manifestaram. Após meseslakers bulls bettensão,lakers bulls bet2014, Yanukovych fugiu para a Rússia e acabou deposto.

"Essa referência a nazistas e neonazistas se tornou muito proeminente na mídia russa por voltalakers bulls betdezembrolakers bulls bet2013, porque, na época dos protestos da Praça Maidan, alguns dos manifestantes faziam coisas como hastear uma bandeiralakers bulls bet(Stepan) Bandera, um nacionalista ucraniano que, temporariamente, durante a Segunda Guerra Mundial, cooperou com os nazistas para tentar buscar a independência ucraniana. Há um segmento da população ucraniana que relembra aquelas tentativaslakers bulls betalcançar a independência ucraniana sob (Joseph) Stalin, aliando-se a Hitler, não como uma colaboração com o nazi-fascismo, mas como a atuaçãolakers bulls betpatriotas ucranianos e heróis nacionais", explicou à BBC News Brasil Brian Taylor, professorlakers bulls betCiência Política da Syracuse University e autorlakers bulls betThe Code of Putinism (O Código do Putinismo,lakers bulls bettradução livre).

A Rússia retaliou a derrubadalakers bulls betYanukovych tomando a Crimeia e desencadeando uma rebelião no leste ucraniano liderada por separatistas apoiados pela Rússia — o confronto contra as forças ucranianas já custou 14 mil vidas. Nesse período, algumas milíciaslakers bulls betextrema-direita passaram a atuar para repelir os separatistas russos. São grupos como o Pravy Sektor e o Azov Battalion, que costumam empunhar bandeiraslakers bulls betBandera, a quem Putin chamalakers bulls bet"cúmplicelakers bulls betHitler" e que hoje detém statuslakers bulls bet"herói nacional ucraniano". Nenhum desses grupos extremistas, no entanto, jamais conseguiu eleger parlamentares para o Congresso Nacional ucraniano nem tem representantes no Executivo.

Legenda do vídeo, Conflito entre Rússia e Ucrânia pode se transformarlakers bulls bet3ª Guerra Mundial?

"A Ucrânia não é controlada por nazistas ou fascistas, apesar do crescimentolakers bulls betgrupos ultra nacionalistas e fascistas nos últimos anos - um problema global não específico da Ucrânia. Na verdade, o governo democraticamente eleito da Ucrânia é comandado por um presidente judeu, Volodymyr Zelensky, cujos tios-avôs e outros membros da família foram assassinados durante o Holocausto", afirmou à BBC News Brasil a historiadora Amy Randall, da Santa Clara University, na Califórnia, especialistalakers bulls betRússia.

Na noite desta quarta-feira (23/2), depoislakers bulls bettentar se comunicar com Putin e ser ignorado repetidamente, o presidente ucraniano Volodymyr Zelensky foi à TV e se dirigiulakers bulls betrusso à população da Rússia, a quem apelou para que impedissem o Kremlinlakers bulls betprosseguir com um ataque. Em seu discurso emocionado, Zelensky abordou as acusaçõeslakers bulls betque seu governo é nazista, o que viria a ser repetido por Putin horas mais tarde, no momento do anúncio da operação militar.

Crédito, Reuters

Legenda da foto, O presidente ucraniano judeu, Volodymyr Zelensky, questionou argumentolakers bulls betPutin: "como posso ser nazista?"

"Dizem a vocês (russos) que somos nazistas. Mas pode um povo que deu maislakers bulls betoito milhõeslakers bulls betvidas pela vitória sobre o nazismo apoiar os nazistas? Como posso ser nazista? Explique isso ao meu avô, que passou por toda a guerra na infantaria do exército soviético e morreu como coronel na Ucrânia independente", afirmou Zelensky.

Os especialistaslakers bulls betRússia, no entanto, apontam que a utilização por Putin desse tipolakers bulls betargumento junto à população tende a acessar o emocional da população russa e faz partelakers bulls betum movimento maior do líderlakers bulls betmobilizaçãolakers bulls betapoio popular.

"Esta retóricalakers bulls betdesnazificação é poderosa porque evoca a memória do imenso sofrimento e vitória final do povo soviético durante a Segunda Guerra Mundial. Nos últimos anos, Putin intensificou deliberadamente a comemoração da "Grande Guerra Patriótica", como a Segunda Guerra Mundial é conhecida na Rússia, promovendo o Dia da Vitória como o feriado mais importante e usando a guerra para aumentar o orgulho nacionalista entre os russos", afirma Randall.

Do mesmo modo, alertam os especialistas, o uso do termo genocídio por Putin, para caracterizar uma falsa situaçãolakers bulls betaniquilamento da população russa na Ucrânia apela ao mesmo tipolakers bulls betsentimento. De acordo com Brian Taylor, o recurso ao termo "genocídio" para justificar incursões militares russaslakers bulls betáreas vizinhas não é novidade na política internacionallakers bulls betPutin. "Em 2008, ele fez o mesmo com a Geórgia e,lakers bulls bet2014, na Crimeia", afirma Taylor.

De fato, existe um conflito nas áreas separatistaslakers bulls betDonetsk e Lugansk desde 2014,lakers bulls betque separatistas russos financiados pelo governo russo enfrentam forças do Exército ucraniano, e que já resultou na mortelakers bulls bet14 mil pessoas.

Mas há também uma guerralakers bulls betdesinformaçãolakers bulls betcurso na área. Em 2015, uma equipe da BBC mostrou como, na regiãolakers bulls betDonetsk, onde apenas emissoraslakers bulls bettelevisão russas transmitiam programas desde 2014, a história da mortelakers bulls betuma garota russa,lakers bulls bet10 anos,lakers bulls betum bombardeio ucraniano foi inteiramente inventada. Jornalistas da mídia russa, responsáveis por reportar a história, admitiram à BBC que a menina jamais existiu. "Nós tivemos que transmitir isso", afirmaram os profissionais russos à BBC.

"O genocídio é uma grave acusação - e que a comunidade internacional leva a sério. Neste caso, é claro, nenhum genocídio está ocorrendo. Mas a pretensãolakers bulls betser o protetor do mundo russo, por assim dizer, é uma justificativa comum para a política externalakers bulls betPutin, e essa acusação infundadalakers bulls betgenocídio reforçalakers bulls betafirmação para o público domésticolakers bulls betque ele é o protetor dos russos étnicoslakers bulls bettoda a antiga União Soviética", afirma Casey.

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