Como poder, isolamento e busca por legado levaram Putin a arriscar nova incursão na Ucrânia:email bet365

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Legenda da foto, Cena é símbolo do isolamentoemail bet365Putin

Na quarta-feira (23/2),email bet365acordo com o Pentágono, Putin teria 80% das suas tropas na regiãoemail bet365"posição avançada" e prontas pra um ataque maciço.

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Legenda da foto, Veículos blindados na regiãoemail bet365Rostov, Rússia

Seu poderio militar instaladoemail bet365solo seria capazemail bet365atacar a capital ucraniana Kyev e sustentar a maior guerra na Europa desde 1945.

O preparo bélicoemail bet365Putin incluiria até a montagememail bet365hospitaisemail bet365campanha, com farto estoqueemail bet365bolsaemail bet365sangue, vitais para operaçõesemail bet365campoemail bet365batalha.

Entre outras demandas, Putin iniciou a negociação diplomática há maisemail bet365três meses - agora, praticamente interrompida - com a exigênciaemail bet365que a aliança militar Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan) desse garantiasemail bet365que a Ucrânia jamais se tornará um membro do grupo - o que Putin vê como um risco à segurança russa.

Putin chega aos 70

Mas suas motivações são, segundo especialistas, mais amplas. Há maisemail bet365duas décadas no poder, Putin se mostra mobilizado por revisionismos históricos que remontam não só ao fim da União Soviética, mas à queda do Império Russo e até mesmo àemail bet365formação (séculos atrás), ressentimentosemail bet365relação ao Ocidente e preocupações com como seu período à frente do governo russo entrará para a história.

"Às vésperasemail bet365completar 70 anos, Putin está certamente preocupado com seu legado, e um dos 'assuntos inacabados'email bet365sua gestão é justamente a relação com a Ucrânia", afirmou à BBC News Brasil Brian Taylor, professoremail bet365Ciência Política da Syracuse University e autoremail bet365The Code of Putinism (O Código do Putinismo,email bet365tradução livre).

De acordo com Taylor, quando Putin chegou ao poder,email bet3651999, muita gente, inclusive os especialistasemail bet365política russa, não acreditava que ele duraria muito tempo no cargo.

Até então um desconhecido agente do serviço secreto russo, a KGB, Putin foi o quarto primeiro-ministro a ocupar o cargo na Rússiaemail bet365apenas um ano.

Ele assumiu nos estertores do impopular governoemail bet365Boris Yeltsin, período no qual os russos se viamemail bet365joelhos pela perdaemail bet365statusemail bet365potência global, após o fim da União Soviética, pela brutal desvalorizaçãoemail bet365sua moeda e pela crescente fome que assolava o país.

As memórias disso certamente ajudariam a moldar a política internacional do novo líder russo.

Putin se mostrou bem mais do que um burocrata da KGB e passou a operar desde então uma das máquinasemail bet365guerra mais poderosas do mundo - atualizada para se tornar também a maior especialistaemail bet365cibersegurança global - e a sustentar a economia russaemail bet365níveisemail bet365crescimento constantes e robustos, comparáveis aos da China, embora pouco diversificada e dependente basicamente das indústriasemail bet365petróleo e mineração.

Com isso, reconstruiu a autoestima russa, o queemail bet365parte explicaemail bet365popularidade, que ele parece querer colocar à prova com suas recentes ações.

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Legenda da foto, Vladimir Putin está no poder na Rússia há maisemail bet365duas décadas

De seus anos na KGB, ele manteve o hábitoemail bet365ser extremamente cauteloso com suas comunicações - até hoje, Putin não usa telefone celular - e conservou uma mentalidade propensa à alta suspeição, alémemail bet365uma percepção trágica sobre o fim da União Soviética.

"Putin serviu à KGB na Alemanha Oriental durante o colapso do comunismo por lá. Mais tarde, ele qualificou o fim da própria União Soviética como uma grande catástrofe geopolítica. Putin parece genuinamente acreditar que a queda do regime soviético foi causada pela interferênciaemail bet365agentes externos na região, especialmente dos Estados Unidos. Uma espécieemail bet365conspiração ocidental", afirmou à BBC News Brasil Adam Casey, cientista político especialistaemail bet365Rússia da Universidadeemail bet365Michigan, nos Estados Unidos.

"Essa maneiraemail bet365pensar é uma marca central para entender as premissasemail bet365Putin e compreender como ele moldaemail bet365política externa."

No governo, ele agiu para reconstruir ao menosemail bet365parte a potência soviética e aniquilar atividadesemail bet365grupos separatistas - mantendo a integralidade do território russo.

Putin reverteu, à baseemail bet365guerra, a independência da Chechênia,email bet3652000. Invadiu a Geórgia,email bet3652008,email bet365apoio aos separatistas russos da Ossétia do Norte. E anexou a região da Crimeia, que era ucraniana até 2014.

E, se por um lado, a tomadaemail bet365controle da Crimeia gerou sanções europeias e americanas tardias e a suspensão do G8 (o grupo dos sete países mais industrializados do mundo mais a Rússia), ela também catapultou os índicesemail bet365popularidade do russo.

Agora, no entanto, as sanções aos movimentosemail bet365Putin, aindaemail bet365escopo menor do que a anexaçãoemail bet3652014, já se mostram mais rápidas e maiores.

Alémemail bet365restriçõesemail bet365viagem e investimentos aos representantes da Duma, a câmara baixa russa, e à elite do país, por parte dos Estados Unidos e da Europa, houve ainda banimento ou restrições a bancos russos no mercado internacional e à tomadaemail bet365empréstimo nos mercados europeu e americano pra financiar a dívida soberana do país.

Mas a medidaemail bet365maior impacto foi o congelamento do gasoduto Nord Stream 2, pelos alemães, no qual os russos fizeram um investimento bilionário e que começariaemail bet365breve a escoar gás natural russo para a Europa.

Há, no entanto, ceticismo entre os próprios aliados quanto à efetividade dessas medidas para conter a Rússia.

Ancestralidade e segurança

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Legenda da foto, Líder russo se preocupaemail bet365como seu governo vai entrar para a história

Na noiteemail bet365segunda-feira, 21/2, Putin fez um discursoemail bet365cercaemail bet365uma hora na TVemail bet365que sugeriu que apenas iniciou suas ações militares e as ancorou nas questõesemail bet365segurança, mas não só.

Em buscaemail bet365apoio popular para a investida, ele afirmou aos russos, por exemplo, que, caso a Ucrânia entrasse na Otan, os Estados Unidos poderiam posicionar mísseisemail bet365território ucraniano que atingiriam Moscouemail bet365meia hora ouemail bet365menosemail bet365cinco minutos, a depender do armamentoemail bet365questão.

A expansão da Otanemail bet365direção ao Leste Europeu é notória - com a entrada no blocoemail bet36514 paísesemail bet365esferaemail bet365influência russa - e incomoda a opinião pública russa e o governo.

Mas o líder não ficou apenasemail bet365aspectos práticos dos interesses nacionais. Putin falou bastante sobre a história russa e da região e sugeriu que a própria existênciaemail bet365um Estado ucraniano seria ilegítima.

Junto com Belarus, o líder russo enxerga na Ucrânia a chave da ancestralidade do povo russo. Em um artigo escritoemail bet365julhoemail bet3652021, Putin já deixava claro o quanto o tema o mobiliza e quão imbricados vê os dois países.

Ele afirmava que ucranianos e russos são um único povo (a despeito das línguas diferentes), "que compartilha o mesmo espaço histórico e espiritual".

Putin afirmava ainda que Kiev, a capital ucraniana, é o berço do povo ancestral russo e que "a verdadeira soberania da Ucrânia só é possívelemail bet365parceria com a Rússia".

No discurso dessa semana, ele sugeriu que, se a Ucrânia quisesse continuar com a movimentação pró-Ocidente, a que chamouemail bet365"descomunização", deveria devolver todos os territórios atribuídos ao país durante os anosemail bet365revolução socialista, incluindo Kiev.

Paradoxalmente, no entanto, foram as ações do Kremlinemail bet3652013 (quando atuou para que a Ucrânia não se juntasse à União Europeia) eemail bet3652014 (com anexação da Crimeia e financiamento contínuoemail bet365separatistas) que detonaram na Ucrânia um forte sentimento contrário ao enorme e poderoso vizinho.

Em 2014, as manifestações na Praça Maidan, no coraçãoemail bet365Kiev, derrubaram o então governo pró-Rússia.

"Se a Rússia tentar derrubar o governo atual e instalar um aliado no comando, isso provavelmente não será fácil. Não apenas porque é significativo o riscoemail bet365se tornar um pária internacional eemail bet365enfrentar uma catástrofe econômica, mas porque as ações russas desde 2014 dissiparam grande parte da boa vontadeemail bet365relação à Rússia que existia anteriormente na Ucrânia", diz Casey.

Ele explica que, por muitos anos, apenas cercaemail bet36520% a 30% dos ucranianos apoiavam a adesão à Otan. Mesmo após a invasãoemail bet3652014, os números chegaram a 40%.

Mas, pela primeira vez,email bet365fevereiroemail bet3652021, a maioria dos ucranianos (56,1%) passou a apoiar a adesão à aliança militar.

"Esse sentimento se mostrou verdadeiroemail bet365todas as regiões do país", afirma Casey, referindo-se a uma sérieemail bet365oito pesquisas conduzidas por Olga Onuch e Javier Perez Sandoval, da Universidadeemail bet365Manchester e da Universidadeemail bet365Oxford, e ligados ao projeto Mobilize, que monitora mobilizaçõesemail bet365massa ao redor do mundo.

A mudança na percepção popular ucraniana pode ter ajudado a disparar o sinalemail bet365alerta que levou às açõesemail bet365Putin neste momento, dizem os analistas.

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Legenda da foto, Moradores da cidadeemail bet365Donetsk comemoram o reconhecimento formal da independência da Repúblicaemail bet365Donetsk por Putin

"Agora, ememail bet365terceira década no comando, Putin pode facilmente acreditar que, se não tomar ações mais decisivas, a Ucrânia se moverá ainda mais distante da Rússia", escreveu Thomas Wright, diretor do Centroemail bet365Estados Unidos e Europa e pesquisador do Brookings Institution na revista americana The Atlantic,email bet365dezembroemail bet3652021.

Isolamento crescente

Decisões dessa complexidade podem ter sido facilitadas pela reduçãoemail bet365vozes contrárias no governo russo.

Segundo Casey, o regimeemail bet365Putin foi gradualmente se tornando cada vez mais personalista. Se durante muito tempo ele foi largamente apoiado pelas oligarquias locais, mesmo isso foi diminuindo nos últimos tempos - com rompimentos ruidosos com integrantes da eliteemail bet365alguns casos.

Atualmente, Putin tem se mantido basicamente cercadoemail bet365seus auxiliaresemail bet365décadas, a maior parte deles também egressos da KGB.

E, enquanto se afastavaemail bet365círculos exteriores, ele aumentava gradualmente seus instrumentosemail bet365poder para governar e reduzia a possibilidadeemail bet365fiscalização e reivindicação da sociedade civil.

"Em seu discursoemail bet36521email bet365fevereiro, Putin parecia ressentido e zangado, e isso não é novidade. Ele tem uma longa listaemail bet365queixas sobre o colapso da União Soviética e como a Rússia foi tratada pelo Ocidente", afirma Taylor.

"Nos últimos dois anos, no entanto, durante seu autoisolamentoemail bet365seu bunker para se proteger da covid-19, ele teve muito tempo para cultivar esses ressentimentos", afirma o analista, notando que o líder russo reduziu drasticamente não apenas as viagens internacionais como a apariçãoemail bet365agendas públicas na própria Rússia durante a pandemia.

O isolamentoemail bet365Putin e o fatoemail bet365ter se cercadoemail bet365homens que expressam publicamenteemail bet365lealdade a ele pode ter levado Putin a decisões mais ousadas do que tomaria há alguns anos, com acesso a informações mais contrabalanceadas.

"Ainda não sabemos exatamente o que a Rússia fará a seguir, mas os riscosemail bet365uma ofensiva no território ucraniano são muito altos, e uma invasãoemail bet365grande escala claramente não pode estar descartada e pode até ser provável. Não há margem para acreditaremail bet365blefe", afirma Casey. =

No ambiente internacional, Putin conta com poucos aliados. Seus apoiadores incondicionais são Venezuela, Cuba, Síria e Belarus.

A China, que recentemente expressou apoio ao líder russo, já que vive com Taiwan uma situação a seu ver análoga à da Rússia com a Ucrânia, agora tenta se equilibrar entre a necessidadeemail bet365levar a sério a preocupaçãoemail bet365segurança dos países - tecla batida por Putin - e a soberania ao próprio território - conceito basilar da política externa chinesa que Putin feriu.

Os chineses dizem defender uma saída diplomática. Índia e Brasil, que já demonstraram simpatia a Putin, também deverão seguir pelo mesmo caminho.

A pressãoemail bet365europeus e americanos - que tentar demonstrar unidade publicamente - deve aumentar para que Putin fique cada vez mais isolado.

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