Por que Putin está se aproximando da América Latina:bet 36 5

Crédito, Presidência da República

Legenda da foto, Presidente russo recebeu Bolsonarobet 36 5Moscou

"É mais que um casamento perfeito que eu levo para o Brasil. E senti também, pela fisionomia, pelo que foi tratado até fora da agenda oficial, com autoridades russas,bet 36 5especial com o presidente Putin, que é esse o sentimento que ele tem também", disse Bolsonaro.

Até recentemente, a relação do Kremlin com a América Latina estava centradabet 36 5países liderados por políticos rejeitados pela Casa Branca: Venezuela, Nicarágua e Cuba, alémbet 36 5uma aproximação crescente com a Bolívia.

Nesta semana,bet 36 5meio à tensão entre a Rússia e a Ucrânia, que é acompanhada mundialmente e especialmente pelos Estados Unidos, o vice-primeiro-ministro da Rússia, Yuri Borisov, visitou Cuba e a Venezuela.

Putin ligou pessoalmente para os colegas cubano, venezuelano e nicaraguense — com este último, não falava por telefone desde 2014.

O presidente Nicolás Maduro ratificou que o sentimento é correspondido. "A Rússia conta com todo o apoio da Venezuela para dissipar as ameaças da Otan (Organização do Tratado do Atlântico Norte, aliança militar ocidental) ebet 36 5todos esses países para que siga sendo um territóriobet 36 5paz", disse.

A relação dos russos com os venezuelanos envolve o petróleo e a mineração venezuelana, além da vendabet 36 5armas russas para a Venezuela. A estatal PDVSA, que é um pilar fundamental para os planos políticos venezuelanos, mudou, recentemente,bet 36 5sedebet 36 5Lisboa para Moscou, como informaram as agências internacionaisbet 36 5notícias.

Crédito, Divulgação

Legenda da foto, Putin também se reuniu com presidente Argentina, Alberto Fernández, neste mês

No caso dos cubanos, que foram tão dependentes dos recursos da ex-União Soviética e sentem até hoje a falta daquele respaldo financeiro, a aproximação tem várias motivações.

Segundo o jornal oficial Granma, Cuba e Rússia mantêm "diálogo político no mais alto nível", atravésbet 36 5"um fluido intercâmbiobet 36 5visitas", com aprofundamento dessa relação durante a pandemia.

Como ocorreu com Argentina, Bolívia e Paraguai, o governo Putin enviou carregamentos da vacina Sputnik V para Cuba — o imunizante foi o primeiro a chegar nestes países.

Ainda segundo a publicação, há uma embarcação prestes a zarpar para a ilha com carregamentobet 36 5trigo dos russos para os cubanos.

Crédito, Dmitry Astakhov/Sputnik/via REUTERS

Legenda da foto, Presidente russo tem se aproximadobet 36 5diferentes líderes da região

O lequebet 36 5relações dos russos com países na região tem aumentado e poderia crescer ainda mais com a chegadabet 36 5novos políticos ao poder, segundo analistas da Rússia e latino-americanos ouvidos pela BBC News Brasil.

No dia 11bet 36 5março, o presidente eleito do Chile, Gabriel Boric — um políticobet 36 5esquerda, será empossado. Em maio há eleições presidenciais da Colômbia — vista como o "principal aliado" dos Estados Unidos, seja pela já tradicional aliança para o combate às drogas ou por ser vizinha da Venezuela — ebet 36 5outubro, no Brasil.

De Cali, na Colômbia, o russo Vladimir Rouvinski, professorbet 36 5Relações Internacionais e Ciências Políticas da Universidade Icesi e especialista na relação entre a Rússia e a América Latina, contextualiza a relação atualbet 36 5Putin com líderes latino-americanos.

"A Rússia busca uma reciprocidade simbólica com líderes da América Latina, mirando principalmente os Estados Unidos. Putin está querendo dizer aos americanos: 'Olha, não estou sozinho, e não se metam com a Ucrânia, com nosso território'. Putin quer mostrar que não está isolado", diz Rouvinski, que nasceu na Sibéria, estudou no Japão e mora na Colômbia desde o fim dos anos 90.

Crédito, Aleksey Nikolskyi/Sputnik/Kremlin via REUTERS

Legenda da foto, Putin tem relaçãobet 36 5'confiança pessoal' com presidentes da Argentina e da Bolívia, diz especialista

O especialista observa que Putin tembet 36 5forma particularbet 36 5fazer política internacional.

"Putin constrói relação a partir da confiança pessoal. E ele tem isso com Maduro e com Ortega. Mas ainda não conseguiu isso com o governo atualbet 36 5Cuba. A Rússia é hoje um país capitalista e Cuba continua dizendo que é um país socialista. E como Cuba precisabet 36 5dinheiro, acredito que, se tiver que fazer uma opção futura, será pelos Estados Unidos, que têm mais recursos", acrescenta.

Foi essa relação "de confiança pessoal" que levou, por exemplo, os presidentes da Argentina e da Bolívia, Luis Arce, a telefonarem para Putin quando o envio das doses da Sputnik estava atrasado.

"A Bolívia tem um governo amigo na Rússia desde o início da pandemia. Em janeirobet 36 52021, chegou aqui um carregamento simbólicobet 36 525 vacinas e depois vários carregamentos. Mas quando houve atraso, devido à demanda e a capacidadebet 36 5produção (dos russos), Arce ligou para Putin e os envios foram acelerados", diz o porta-voz do presidente boliviano Jorge Richter, falandobet 36 5La Paz.

Para ele, foi com o foco no "anti-imperialismo" americano que a relação entre a Bolívia e a Rússia passou a ser construída, durante o governo do ex-presidente Evo Morales (2006-2019), já que, segundo ele, os dois países não eram "muito próximos ou complementares".

No casobet 36 5Alberto Fernández, que abriu as portas da América Latina para a Sputnik V, entre os telefonemas com Putin destacou-se a ligação do russo para saberbet 36 5seu estadobet 36 5saúde depois que o argentino contraiu o vírus, quando já tinha as duas doses do imunizante.

Fernández atribuiu os "efeitos leves do coronavírus" à vacina enviada por Putin. E disse a Putin: "Vocês estiveram presentes (com as vacinas) quando o mundo não esteve".

Mas, sendo o Brasil o maior país da América Latina,bet 36 5termos populacionais e econômicos, a visitabet 36 5Bolsonaro ao Kremlin foi acompanhada ainda com maior atenção por parte dos estudiosos e políticos.

Para Rouvinski, a relação do Brasil com a Rússiabet 36 5Putin "é totalmente diferente" da que é estabelecida com os demais países da região.

"O Brasil é uma potência global, um ator decisivo para a economia internacional. Faz parte dos BRICS e integra o Conselhobet 36 5Segurança das Nações Unidas (uma cadeira não permanente e por dois anos, a partirbet 36 5janeiro deste ano)", diz o professor.

Ele lembrou que a Rússia é um importante fornecedorbet 36 5fertilizantes para o Brasil, mas que os dois países disputam internacionalmente o comérciobet 36 5aviões. No caso do Brasil, através da Embraer, quebet 36 5si é uma potência no ramo. O especialista mencionou ainda que o Brasil é o principal parceiro comercial da Rússia na América Latina, mas que representa, porém, "uma porcentagem pequena do comércio global da Rússia".

Sobre a visitabet 36 5Bolsonaro a Putin, Rouvinski acredita que o presidente brasileiro buscou enviar uma mensagem aos Estados Unidos, diantebet 36 5suas diferenças explícitas com o presidente Joe Biden, e ao seu próprio eleitorado.

"Mas lendo o que o presidente brasileiro disse, achei que ele foi cuidadoso e pareceu não querer problemas com os Estados Unidos", acrescenta.

Rouvinski entende que essa aproximação é "mais simbólica" do que efetiva no longo prazo. Os investimentos russos na região estão longebet 36 5se compararem com os dos Estados Unidos e da China na América Latina.

"Quando a gente compara, os investimentos russos sãobet 36 5chorar. Mas a América Latina ainda costuma ser vista como o quintal dos Estados Unidos", destaca, sugerindo que a presença russa, mesmo que simbólica, incomoda a Casa Branca.

Menos "simbólica" e,bet 36 5certa forma, física é a presença russa na Venezuela, onde, afirmou Rouvinski, as armas das forçasbet 36 5segurança do país liderado por Maduro são russas.

"Os russos sempre olham com muita esperança para o mercadobet 36 5armas da América Latina, mas sabem que a competição é grande."

Segundo agências internacionaisbet 36 5notícias, a Rússia vendeu armas e tanques para Cuba e Nicarágua e sistemas antimísseis para a Venezuela — e essa é a parte bélica e igualmente estratégica da relação dos russos com pelo menos parte do mapa da América Latina.

Rouvinski lembra que, jábet 36 52008, na guerra pela Geórgia, os russos já tinham começado a considerar a reciprocidade com a América Latina também como estratégia para se contrapor aos Estados Unidos.

Mas por que Fernández, da Argentina, o chileno Boric e o colombiano Gustavo Petro, da frentebet 36 5esquerda Pacto Histórico, que lidera as pesquisasbet 36 5intençãobet 36 5votos, e até o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva — pré-candidato às eleições presidenciais do Brasil deste ano, tão diferentesbet 36 5Putin, poderiam também receber acenobet 36 5Moscou?

Fernández, segundo analistas argentinos, busca reduzir a dependência dos Estados Unidos, do qual necessita por seu acordo bilionário com o Fundo Monetário Internacional (FMI).

E os demais? "Apesar das distâncias ideológicas, o novo governo do Chile poderia estabelecer uma relação mais próxima com a Rússia, que há muito tempo tenta essa aproximação com nosso país. E Boric poderia ter essa maior aproximação, apesar do que pensem os Estados Unidos", diz Guillermo Holzmann, professorbet 36 5ciências políticas da Universidadebet 36 5Valparaiso.

Na opiniãobet 36 5Rouvinski, governos como osbet 36 5Petro e Lula, se eleitos, seriam "multipolares". "Um discurso multipolar que os russos também adoram", diz.

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