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A luta dos 'guardiõesninhos' para proteger 'pássaro dos deuses' no sul da África:
"Eu agora os ouço todos os dias", conta Ndlovu, um homem magro e musculoso com braços fortes, apontando com o queixo para os pássaros que fizeram ninho perto dacasa. "Eles estão cantando muito; logo vai chover", diz ele.
Aqui nas ColinasMatobo, no sudoeste do Zimbábue (área reconhecida como Patrimônio Cultural Mundial pela Unesco), a maior parte das famílias éagricultoressubsistência, e a chuva é um elemento fundamental parasobrevivência.
Aqui, esses grandes pássaros pretos, os calaus-gigantes (Bucorvus leadbeateri), são considerados os anunciadores das chuvas.
Amahundundu é como esses pássaros são chamados pelos povos ndebele e kalanga das ColinasMatobo, fazendo referência ao canto grave e trovejante das aves, que pode ser ouvido a até 5 kmdistância. Eles são tão importantes para essas comunidades que, quando um calau-gigante morre, os moradores mais idosos se reúnem e oferecem ao pássaro o mesmo funeral tradicional oferecido aos seres humanos.
Eles acreditam que se você matar um ihundundu ("i" designa a ave no singular e "ama", no plural) pode ficar louco. Você vai enfurecer os deuses, vai faltar chuva e você poderá ser banidosua comunidade pelo resto da vida.
Os calaus-gigantes vivemgrupos familiares e podem ser encontradoscampos abertos na savana e nas pradarias desde a África do Sul até Uganda e a República Democrática do Congo.
Mas, como o habitat natural da espécie foi reduzido devido ao aumentoassentamentos humanos, a agricultura e a pecuária intensiva,população desabou - chegando a um pontoque a União Internacional para a Conservação da Natureza agora classifica esses superpredadores como vulneráveis na África subsaariana eriscoextinção na África do Sul e na Namíbia.
Na região onde vive Sofaya Ndlovu, entretanto, vem se desdobrando uma história diferente: a populaçãocalaus-gigantes está crescendo.
Em outras partes do sul da África, os pássaros, que podem viver 70 anos, procriam com sucesso apenas a cada seis a nove anos. Mas nas ColinasMatobo, os filhotes são gerados sem problemas a cada um ou dois anos.
O seu sucesso se deve,grande parte, às relações estreitas entre os povos ndebele e kalanda da região e os amahundundu. Essas comunidades vêm reverenciando os pássaros há gerações e se engajaminiciativas científicas para protegê-los.
Pessoas como Ndlovu estão ajudando pesquisadores na coletadados para melhor compreender e proteger não apenas a espécie, mas também o seu significado cultural.
"Os habitantes do distritoMatobo reverenciam o pássaro a pontoequipará-lo ao ser humano", afirma o conservacionista zimbabuano Evans Mabiza, que vem pesquisando os calaus-gigantesMatobo há 14 anos.
"Muitas culturas africanas acreditam que ele é o pássaro das chuvas - alguns os chamampássaro do trovão - mas tem havido muita erosão culturalalguns lugares ao longo dos anos. Nosso medo é que, um dia, isso possa ocorrerMatobo também e, por isso, queremos descobrir quais crenças ainda existem hoje - e estamos felizes por ver que elas ainda estão firmes por aqui, mesmo entre as crianças", afirma ele.
A bióloga conservacionista Lucy Kemp também tem interesse especial pelos calaus-gigantes. Na década1970, os pais dela foram pioneiros na pesquisa das aves no Parque Nacional Kruger, na África do Sul, e ela continua trabalhando para proteger a espécie.
"É importante proteger esses pássaros porque eles não são apenas superpredadores (estão no topo da cadeia alimentarseu habitat), mas possuem também essa enorme importância cultural; existem muitas canções, histórias e lendas associadas a essa espécie. Se eles se forem, nós perderemos parte não só do nosso ecossistema, mas também dos nossos corações e almas", afirma ela.
Foi apenas2007 que começaram as pesquisas formais sobre o calau-gigante nas ColinasMatobo.
Não havia extensos registros das aves no Zimbábue até então e, para entender melhor a espécie, Evans Mabiza e os conservacionistas Elspeth Perry e Bruce McDonald decidiram concentrar-seMatobo, a apenas 35 km dabasepesquisasBulawayo, a segunda maior cidade do Zimbábue.
"Naquela época, nós queríamos apenas coletar dados sobre suas características e hábitosprocriação. Não tínhamos ideia da relação das pessoas com os calaus-gigantes e ficamos surpresos quando encontramos resistência ao perguntar sobre os pássaros", explica Mabiza, que agora chefia o Fundo para as Crianças e Conservação da Natureza do Zimbábue e continua a reunir informações culturais e científicas para o projeto do fundo voltado para os calaus-gigantes.
"As pessoas ficaram muito preocupadas com a nossa motivação e, somente depois que nos reunimos com líderes locais, as pessoas começaram a compartilhar informações sobre as aves", diz ele.
Quando começaram a trabalhar nas ColinasMatobo, Mabiza e seus colegas formaram clubesconservação nas escolas.
"Fizemos isso para poder engajar as criançasações'ciência cidadã', pois elas encontrariam as aves quando fossem para a escola e era fundamental para nós que elas relatassem o comportamento dos pássaros que presenciassem", conta ele.
"Depois que estabelecemos nosso relacionamento com as crianças, os adultos também começaram a confiarnós", afirma.
Mabiza comenta agora que as pesquisas abordam tanto o aspecto científico como a perspectiva cultural, bem como a formaque eles se complementam.
"O nosso relacionamento cresceu tanto que agora as pessoas me chamam para me passar informações sobre um determinado calau-gigante e, se algum 'estrangeiro' pergunta à comunidade pelos calaus-gigantes, eles me telefonam. Eles valorizam o nosso trabalho para garantir a continuidade da espécie", ressalta Mabiza.
O incomum sobre os calaus-gigantes é que,vezviverem dentro do Parque NacionalMatobo, que fica próximo, as aves se estabeleceram na área da comunidade e fazem seus ninhos perto das propriedades - porque a atividade humana criou um ambiente favorável para os pássaros.
As pessoas espantam os macacos e babuínossuas plantações, afugentando assim os predadores que atacam os ovos e filhotes dos calaus-gigantes.
As áreas agrícolas atraem roedores, os roedores atraem cobras - e os calaus-gigantes se alimentamambos. A criaçãogado mantém a grama baixa nas proximidades, fornecendo condiçõessavana ideais para a procriação das aves.
E os calaus-gigantes também são protegidos pelas crenças tradicionais. "Amahundundu são pássaros dos deuses", afirma Moyo, uma agricultorafala delicada que tem um pequeno grupocalaus-gigantesninhos nas pedras perto dacasa desde 1982.
"Nós nos consideramos abençoados por termos ninhosamahundundu por aqui", diz ela.
A famíliaMoyo é uma das 17 famílias do distritoMatobo que têm calaus-gigantes procriando perto das suas propriedades e auxiliam Mabiza mantendo registros do comportamento e dos hábitosprocriação das aves.
Mabiza chama essas famílias"guardiãsninhos". Elas acompanham detalhes como quando os calaus-gigantes começam seus cantosacasalamento, quando são vistos os primeiros filhotes, o que eles estão comendo e qual adinâmicagrupo.
O trabalhoMabiza é realizado principalmente com recursos próprios e ele consegue visitar as colinas apenas duas ou três vezes por mês - por isso, as informações coletadas pelos guardiões têm valor excepcional para o seu trabalho.
"É uma honra muito grande e recebo com humildade o esforço das comunidades para garantir que o projeto seja bem sucedido", afirma Mabiza.
"Sinto que as ColinasMatobo algum dia serão um centropesquisa para toda a África, onde as pessoas poderão vir para entender como podemos proteger essa magnífica espécie, que carrega tanto valor ecológico e cultural", ressalta.
À medida que a estação chuvosa se aproxima, os cantos crescentes dos amahundundu começam a se espalhar pela paisagem. Em volta das ColinasMatobo, os guardiõesninhos registram nos seus cadernos: os amahundundu estão chamando.
"Ultimamente eles vêm cantando cada vez mais. Belas canções, eles cantam canções muito bonitas", afirma o agricultor Ndlovu, novamente gesticulando para o grupocalaus-gigantes que já vinham fazendo ninhos atrás dapropriedade antesele nascer.
"Quando eles cantam assim, nós suspeitamosalgo: suspeitamos que haverá chuvas muito boas", conta ele.
Os pássaros das chuvas falaram: tudo ficará bem.
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