O jogo político internacional por trás da condenação do canadense Robert Schellenberg à morte na China:

Crédito, Getty Images

Legenda da foto, Especialistas afirmam que relação entre os dois países se tornou 'diplomaciareféns

A China acredita que a prisãoMeng, agoraliberdade condicional, tenha motivação política.

O país asiático nega que as sentenças contrárias aos canadenses estejam ligadas ao caso da executiva, embora as prisões "dos Michael", como são conhecidos, tenham ocorrido poucos dias após a detençãoMeng2018.

A crise foi descrita como uma "diplomaciareféns", e por trás dela se esconde um jogo político internacional que vem escalando e para o qual se anteveem soluções complexas.

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Legenda da foto, Meng Wanzhou é diretora financeira da Huawei e filha do fundador da empresa

No meio, uma guerra comercial

Alguns especialistas argumentam que o Canadá foi pego no meio da guerra comercial entre a China e os Estados Unidos.

"A guerra comercial EUA-China contribuiu para aumentar as tensões entre a China e o resto do Ocidente. Joe Biden mantém uma postura dura contra Pequim, o que tem alimentado temoresum mundo dividido por uma nova Guerra Fria", diz Darren Touch, especialistarelações EUA-China do Wilson Center,Washington.

O caso da Huawei tem sido uma fonte constantetensão. Os EUA mantêm duras sanções contra a empresa chinesatecnologia e a acusamser uma ameaça à segurança nacional.

Meng Wanzhou é diretora financeira da companhia e filhaseu fundador, Ren Zhengfei. Sua prisão por autoridades canadenses1ºdezembro2018 deu-se como parteuma investigação dos EUA contra a Huawei por possíveis violações das sanções contra o Irã.

Desde o início, a China respondeu com indignação. Autoridades classificaram a detençãoMeng como "extremamente ofensiva e ilegal" e alertaram o Canadá que, caso a empresária não fosse libertada imediatamente, haveria "graves consequências".

Em menosuma semana, a China prendeu os canadenses Michael Spavor e Michael Kovrig por supostas atividadesespionagem.

Pequim diz que Michael e Schellenberg são criminosos, embora o Canadá acredite que seu destino esteja ligado ao da executiva da Huawei.

Meng foi presa logo após Robert Shellenberg ser julgado pela primeira vez. A sentençamorte foi colocada apenas no julgamento seguinte, agora ratificado.

Os crimes cometidos "pelos Michael" são ainda menos claros.

Crédito, Reuters

Legenda da foto, Robert Lloyd Schellenberg foi preso2014 acusadotráficometanfetamina

'Diplomaciareféns'

Especialistas consultados pela BBC Mundo, serviçolíngua espanhola da BBC, afirmam que, na prática, as sentenças foram uma retaliação pela prisãoMeng.

"A diplomaciareféns faz parte das ferramentas chinesas e está sendo usada neste caso", avalia Paul Evans, professorrelações internacionais para a Ásia e a região transpacífica da UniversidadeBritish Columbia, no Canadá.

"É tudo parteuma estratégia para pressionar o Canadá para que liberte Meng. Mas no Canadá o judiciário é independente, sem interferência política. No caso do Michael, tem havido muita faltatransparência sobre o processo, o que é inaceitável", acrescenta Touch.

O objetivo da China, dizem os especialistas, é evitar a todo custo que Meng seja extraditada e julgada nos Estados Unidos.

"O uso da diplomaciareféns pela China fere a lei internacional, já que Pequim busca exercer influência sobre o Canadá e outros países", ressalta Touch.

A confusão entre Ottawa, Pequim e Washington parece difícilresolver, pelo menos por enquanto.

Crédito, Reuters

Legenda da foto, Michael Spavor foi preso2018 acusadoespionagem

A saída do conflito

"Acho que a solução para essa confusão diplomática estáWashington, que iniciou a crise solicitando a extradiçãoMeng. Um acordo negociado com a promotoria, talvez combinado com uma multa muito elevada para a Huawei, poderia fazer parte dessa solução", diz Gordon Houlden, professor emérito do Instituto da China na UniversidadeAlberta, no Canadá.

Paul Evans, por outro lado, acredita que a solução para esse conflito passa por ele ser tratado como um problema diplomático e político, e não como um problema jurídico.

"Será muito difícil encontrar a solução", opina Touch.

A crise atual tem um antecedente2014, quando o casal canadense Kevin e Julia Garratt também foi preso na China supostamente por espionagem.

Crédito, Reuters

Legenda da foto, Kevin y Julia Garratt passaram por processo similar ao 'dos Michael'2014

A prisão aconteceu logo depoisas autoridades canadenses prenderem o cidadão chinês Su Bin por suposto envolvimentoum complô para hackear sistemas com dados militares americanos confidenciais.

Muitos interpretaram a prisão dos Garratt como retaliação e uma tentativabloqueio da China para impedir a extradiçãoSu para os Estados Unidos.

Su Bin foi considerado culpado e condenado2016 na Califórnia a 46 mesesprisão.

Julia Garratt foi libertada sob fiança2015 e Kevin Garratt foi deportado2016, após a visita do primeiro-ministro canadense, Justin Trudeau à China.

"No momento, não há indicaçãoquando Pequim poderá deportar os Michaels", disse Evans.

Houlden, por outro lado, não acredita que a sentençaSchellenberg será revertida, embora deixe a porta aberta para que ela "seja comutada para a prisão perpétuaalgum momento", analisa.

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