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O ex-neonazista que hoje se dedica a 'desconverter' extremistas:slots party
Quando o estranho perguntou seu nome, Picciolini ficou com medoslots partydizer — seu sobrenome italiano já o havia colocadoslots partysituaçõesslots partybullying —, mas falou.
Em vezslots partytirar sarro do sobrenome, entretanto, o estranho disse que este era um motivoslots partyorgulho e que, se Picciolini não tomasse cuidado, alguém poderia tirar dele o orgulhoslots partyser italiano e europeu.
Isso tocou o jovem. Seus pais eram imigrantes que haviam se mudado da Itália aos EUA nos anos 1960. Ele se sentia mais italiano do que americano.
O estranho que abordou Picciolini naquele dia era Clark Martell, e o grupo para o qual o adolescente havia acabadoslots partyser recrutado era o primeiro skinhead neonazista dos EUA: o "Chicago Area SkinHeads" — também conhecido como Cash.
Picciolini acha que Martell, então com 28 anos, saíaslots partybuscaslots partypessoas vulneráveis.
"Ele viu que eu estava solitário, fazendo algo que me colocava nas margens — fumar baseadoslots partyum beco. Ele sabia que eu estavaslots partybuscaslots partytrês coisas importantes: um sensoslots partyidentidade, uma comunidade e um propósito."
O Chicago Area SkinHeads oferecia tudo isso.
"Foi a primeira vez na minha juventude que eu sentia que alguémslots partyfato prestava atençãoslots partymim e me empoderavaslots partyalguma forma."
Apesarslots partyele sentir dúvidas quanto à ideologia do grupo, achou na época que a recompensa da inclusão era maior do que qualquer coisa que tivesse experimentado.
Até então, Picciolini sofria bullying e se sentia abandonado por seus pais, que trabalhavam sete dias por semana (às vezes, 14 horas por dia) como donosslots partyum pequeno salãoslots partybeleza.
'Sensoslots partypertencimento'
O jovem começou a escutar músicasslots partymovimentos supremacistas brancos europeus e se identificou com as letras.
"Elas falavam da minha angústiaslots partyser jovem e invisível. Das minhas frustraçõesslots partytentar fazer algo ou progredir na vida. E essas letras culpavam 'o outro' por esses problemas."
As letras retratavam os supremacistas brancos como guerreiros contra "subraças" e religiões, "parasitas que tentavam destruir a glória e a herança da raça branca".
O uniforme neonazistaslots partycabeça raspada, botas e tatuagens consolidaram seu novo sensoslots partypertencimento.
No começo, ele ocultouslots partysua família seu envolvimento no grupo; mas, como o passar do tempo, passou a discutir com os pais.
"Eles eram imigrantes, e isso pode ser parte do motivo pelo qual me tornei tão anti-imigração."
Ele hoje entende que não tinha maturidade para pedir mais atenção por parteslots partyseus pais.
Logo, a violência seria parte da vidaslots partyPicciolini. Skinheads mais velhos começaram a incentivá-lo a brigar, algo que ele achava revigorante.
"A ideia era ser agressivo, entrarslots partybrigasslots partyrua para aterrorizar as pessoas e demonstrar força", conta. "Mas, acimaslots partytudo, era para mostrar a nossa bandeira."
O grupo usava camisetas com slogans como "Poder Branco" e "Orgulho Branco". "Queríamos fortalecer a ideiaslots partyque não tinha nadaslots partyerradoslots partyter orgulhoslots partyquem você é e lutar por isso."
Até que Picciolini deixouslots partyser um soldado e se tornou líder do Chicago Area SkinHeads.
Em 1989, Clark Martell foi condenado a 11 anosslots partyprisão por espancar uma mulherslots party20 anos que havia abandonado um grupo neonazista.
Martell e amigos também haviam destruído lojasslots partyjudeus e pintado suásticas por Chicago no aniversário da Noite dos Cristais, episódioslots party1938 na Alemanha nazista quando um ataque orquestrado destruiu milharesslots partysinagogas, casas e negóciosslots partyjudeus e resultou na morteslots party91 judeus.
Muitos membros do Cash foram detidos e condenados.
Músicas racistas
Picciolini, com apenas 16 anos, se tornou um dos poucos remanescentes. Ascendeu à liderança e começou a reconstruir o grupo.
Fazia tudoslots partyum apartamento decorado com bandeiras nazistas, banners da juventude hitlerista e pôsteresslots partysupremacistas brancos.
"Eu criava pôsteres e panfletosslots partypropaganda. (O local) também viraria o comando central, onde comecei a escrever, cantar e vender músicas racistas."
Ele estima ter recrutado diretamente mais 100 membros. Indiretamente, não tem ideiaslots partyqual pode ter sidoslots partyinfluência, uma vez que suas canções foram levadas para outros países e ele chegou a fazer shows comslots partybanda na Alemanha.
"A música segue viva ainda hoje, recrutando pessoas e inspirando atosslots partyviolência", diz Picciolini, que passou os últimos 24 anos tentando desfazer esses danos.
"É horrível pensar que eu, tão cegamente, acrediteislots partyalgo e não consegui ver o quanto era danoso às outras pessoas. Não há desculpa para isso. Não consigo explicar o fatoslots partyque participeislots partycoisas que glorificavam a morteslots partyinocentes."
Um caso particular atormenta Picciolini: quando ele tinha 18 anos, depoisslots partyuma noiteslots partybebedeira, ele e seus amigos foram até um McDonald's, onde alguns jovens negros esperavam na fila para serem atendidos.
Bêbado, ameaçou os jovens, que saíram correndo. O grupo neonazista os perseguiu. Um dos jovens negros sacou uma arma e disparou, sem acertar ninguém. Picciolini se atirou sobre ele.
"Lembroslots partybater nele, chutá-lo, socá-lo até seu rosto inchar. E lembro dele no chão olhando para mim enquanto eu chutava. Seus olhos me imploravam para que eu o deixasse sobreviver."
Pela primeira vez, algo dentro dele fora tocado.
"Por um segundo, pensei que poderia ser meu irmão ou alguém que eu amava. E reconheci que eu estava não apenas causando dor a ele, mas também aslots partyfamília e às pessoas que ele amava."
Apesar desse momentoslots partyempatia, Picciolini continuou sendo membro do grupo por mais cinco anos. Ele diz que não tinha coragemslots partyabandonar as pessoas que haviam lhe dado uma identidade desde seus 14 anos.
"Tinha medoslots partyvoltar ao nada que tinha antes,slots partynão valer nada. Eu achava que, quando estava recebendo atenção e causando medo, estava recebendo respeito."
Hoje ele percebe que respeito não tinha nada a ver com aquilo, mas só depoisslots partydiversos encontros com as pessoas que ele deveria odiar abrirem seus olhos.
Picciolini se casou aos 19 anos e, aos 21, já tinha dois filhos.
Ele conta queslots partymulher era gentil e progressista — e odiava que ele estivesse envolvido com supremacistas brancos.
Em casa, com a família, era outra pessoa. "Não queria recrutar minha mulher e meus filhos. Inconscientemente, eu sabia como era ruim, perigoso e violento. E não queria eles envolvidos ou associados a isso."
Para se sustentar, Picciolini abriu uma lojaslots partyCDsslots partymúsica, na qual vendia álbunsslots partydiferentes ritmos — mas tambémslots partyprópria música e aslots partyoutros grupos racistas —slots partyonde vinham cercaslots party75%slots partyseus lucros.
"O que eu não esperava era que pessoasslots partycor, gays e judeus também entrassem na loja", conta. Picciolini sabe que não era por acaso, uma vez que ele era amplamente conhecido como supremacista branco.
"Aquelas pessoas entravam (na loja) para me desafiar, mas escolhiam fazer isso por meio da compaixãoslots partyvez da agressão. Sou grato por isso, porque me permitiu, pela primeira vez, interagirslots partymodo significativo com as pessoas que eu pensava odiar."
Esse contato pessoal se mostraria vital para ele.
O rapaz se lembra especificamenteslots partyuma conversa com um adolescente negro que costumava fazer muitas perguntas sobre a música vendida na loja.
"Um dia, ele entrou e estava claramente chateado. Não estava como o adolescente felizslots partycostume. Perguntei o que tinha acontecido, e ele contou queslots partymãe havia sido diagnosticada com câncerslots partymama naquela manhã."
O mesmo diagnóstico havia sido recebido pela mãeslots partyPicciolini pouco antes. De repente, ele viu que conseguia se conectar com o adolescente e, por um momento, esqueceu suas crenças racistas. Os dois tiveram uma conversa longa sobre a vida, o amor e as coisasslots partyque gostavam.
Ao longo do tempo, experiências do tipo se repetiram, à medida que Picciolini começou a se conectar justamente com as pessoas que ele achava que precisava manter distantes daslots partyvida.
"Foram essas pessoas que escolheram me tratar com compaixão, quando eu menos merecia, que tiveram o efeito transformador mais poderososlots partymim. Encontros humanos ainda são a coisa mais poderosa que eu já vi para quebrar o ódio."
Aos 22 anos, Picciolini viu seu casamento desmoronar. "Eu não consegui priorizar minha família ao movimento. E ela (esposa) me deixou."
Foi o gatilho final para Picciolini fechar a lojaslots partymúsica e abandonar a supremacia branca.
"Gostariaslots partypoder te dizer que houve um grande momento (de ruptura), mas não. Eu fui desaparecendo. Entreguei a liderança a outra pessoa. Usei a desculpaslots partyque precisava me dedicar à minha família e a buscar emprego e que voltaria depois. Não tinha a intençãoslots partyvoltar, mas naquele momento não tinha coragemslots partydizer a eles."
Hoje, ele consegue olhar para trás e ver que causou danos tanto a estranhos quanto às pessoas mais próximas.
"Assim que consegui refletir (a respeito), senti o pesoslots partytudo o que havia feito", conta.
Durante cinco anos, ele tentou esconder seu passado, fazer novos amigos e achar um emprego, tudo sem contar o que havia feito na juventude.
Mas,slots party1999,slots partydepressão profunda, Picciolini não sabia ao certo quem era ou qual era o seu propósito. Só sabia que queria ser uma pessoa melhor.
"Eu acordava todas as manhãs desejando não ter acordado", lembra.
Um dia, recebeu a visitaslots partyuma amiga, que o incentivou a se candidatar a um emprego na multinaiconal IBM, onde ela havia começado a trabalhar recentemente.
"Eu achei que ela estava louca. Eis uma empresaslots partytecnologia da lista da Fortune 100, e ela queria que eu me candidatasse, um ex-nazista que havia sido expulsoslots partyseis escolas, que sequer tinha um computador ou que havia cursado a universidade. Mas eu a ouvi. Ela era uma amiga, e eu não tinha muitos amigos na época, e prometi a ela que iria à entrevistaslots partyemprego."
Picciolini acabou conseguindo um emprego júnior instalando computadoresslots partyuniversidades e pontos comerciais.
Pela primeira vezslots partymuito tempo, ele sentia alguma esperança e ficou animado — até descobrir, no primeiro dia no emprego, que faria um trabalhoslots partyuma das escolas das quais fora expulso por brigar e protestar.
"Fiquei aterrorizado. Achei que essa nova esperança cairia por terra assim que alguém me reconhecesse."
Ele se escondeu pelos corredores da escola, tentando evitar ser reconhecido. Passou por John Holmes, chefe da segurança escolar.
Holmes não o reconheceu, mas Picciolini se lembrava dele. Quando adolescente, ele costumava antagonizar com o segurança negro. Naquele dia, porém, a sensaçãoslots partyque precisava se redimir foi ainda maior do que seu medoslots partyser notado.
Ele então seguiu Holmes até o estacionamento da escola e o tocou no ombro.
"Ele se virou e deu um pulo para trás quando me reconheceu. Estava com medo."
Sem saber muito bem o que fazer, Piccioloni estendeu a mão e disse: "Me desculpe". Holmes o cumprimentou e agradeceu por desculpar-se, mas emendou que, se ele realmente estivesse sendo sincero, precisaria fazer mais.
Os dois sentaram para conversar. O rapaz contou sobre suas experiências e disse que tinha abandonado o grupo. Holmes o abraçou e o fez prometer que seguiria contandoslots partyhistória.
Esse foi outro momentoslots partyinflexão, que ajudou Picciolini a entender que fugir não era uma opção — ele precisava encontrar uma maneiraslots partyreparar todo o dano que havia causado e pedir perdão àqueles que tinha magoado.
"Honestamente, Holmes salvou minha vida naquele dia. Não sei se, sem a orientação dele, seu encorajamento e perdão, eu teria encontrado coragem."
No início, ele não estava certo do que devera fazer. Mas então, pouco tempo depois, estava andando pelo shopping quando um homem passou e disse: "Tatuagem bacana, cara. White Power!"
Ele havia reconhecido as runas nórdicas tatuadas no antebraçoslots partyPicciolini. Para a grande maioria, esses não são símbolos óbviosslots partyódio — mas foram cooptados por grupos supremacistas brancos.
Essa foraslots partyprimeira interpelação informal. Foi a primeira vez, depoisslots partydeixar o grupo, que ele falou com alguém que ainda acompanhava o movimento.
Após um diálogo breve, pareceu que o homem havia entendido porque Picciolini havia decidido sair e, mais importante, que havia um caminho para que ele tomasse o mesmo caminho se assim quisesse.
"Não sei o que ele fez, mas saí pensando que compartilhar minhas experiências poderia ajudar outras pessoas a entender que existe uma rotaslots partysaída."
E foi aí que ele passou a usarslots partyhistória para tentar convencer outras pessoas a abandonar grupos extremistas.
Já foram maisslots partymil desde então — dos quais, ele acredita, quase 400 tenham decidido sair dos grupos dos quais faziam parte,slots partysupremacistas brancos a estrangeiros que haviam viajado para a Síria para se juntar ao Estado Islâmico.
"O que move as pessoasslots partydireção a esses movimentos não é a ideologia", defende. "A ideologia é o componente final que dá a elas permissão para sentir raiva."
Picciolini acredita que são alguns "buracos" que apareceremslots partynossas vidas — incidentes que geram trauma ou sensação agudaslots partyabandono — que leva algumas pessoas a se juntarem a grupos extremistas,slots partybuscaslots partyidentidade, propósito eslots partyum sensoslots partycomunidade.
"Quando converso com essas pessoas sobre deixar esses movimentos, nunca discuto ideologia com elas. Não digo que estão erradas, ainda que, claro, eu saiba que elas estão. O que eu faço é escutar, escutar e tentar identificar aqueles 'buracos', para encontrar maneirasslots partypreenchê-los ."
Picciolini sabe, entretanto, que suas ações do passado continuam reverberando até hoje — e causando danos.
Em uma conversa com um jornalista dois anos atrás, ele descobriu que o supremacista branco Dylann Roof, que matou nove pessoasslots partyum ataqueslots partyuma igrejaslots partyCharlestonslots party2015, era fã da música que ele fazia muitos anos atrás.
Quatro meses antes do atentado, Roof escreveuslots partyum site queslots partyconteúdo racista que havia assistido a um documentário sobre skinheads e que procurava mais informações sobre a banda que aparecia nas imagens.
Quando o repórter confrontou Picciolini com os versos, ele olhou com horror para os versos que havia escrito quando era adolescente.
"Fiquei arrasado por saber que posso ter tido alguma influência no que ele fez. Ele entrouslots partyum lugarslots partyadoração e matou nove pessoas que achavam que eram sub-humanos, queslots partyminhas letras eu tratava como alguém que estava destruindo nosso país."
Além da músicaslots partyPicciolini, Roof também consumia notíciasslots partysitesslots partyextrema direita que disseminam estatísticas falsas sobre crimes perpetrados por negros contra brancos.
"Assim como essas estatísticas, minhas músicas também promoviam a ideiaslots partyque negros era responsáveis por todo crime que acontecia nos Estados Unidos, todo estupro. Essas foram as ideias que o levaram àquela igreja e a assassinar nove pessoas inocentes — e me sinto muito responsável por isso."
Ele sabe que não há como voltar no tempo e fazer com que as letras que já inspiraram tanto ódio desapareçam. Mas está comprometidoslots partyexpor as mentiras racistas nas quais um dia acreditou e tentar evitar que outras pessoas sigam o mesmo caminho.
"Não há nada que eu possa falar ou fazer que leve embora toda a dor que eu causei."
"Meu objetivo no futuro, alémslots partyir às comunidades às quais fiz mal e tentar reparar o dano que causei, é eliminar que estragos semelhantes aconteçam com gerações futuras."
Ouça aqui a entrevista (em inglês)slots partyChristian Picciolini no programa Outlook da BBC World Service
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