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Por que a morte da juíza da Suprema Corte dos EUA Ruth Bader Ginsburg é um terremotouma nação já fragmentada:
Como isso também ocorreum país politicamente polarizado e poucas semanas antesuma eleição presidencial tensa, o debate sobre a substituiçãoGinsburg ameaça aumentar a divisão entre republicanos e democratas.
"Normalmente, as nomeações para o Supremo Tribunal são um esporte sangrento. Portanto, isso vai ser verdadeiramente apocalíptico. Há muitojogo nessa nomeação", diz Jonathan Turley, professordireito constitucional da George Washington University, à BBC Mundo, o serviço hispânico da BBC.
Uma cadeira-chave
O fatoos juízes da Suprema Corte servirem por toda a vida significa que qualquer mudança na composição tem efeitos duradouros.
Nomeada pelo presidente democrata Bill Clinton1993, Ginsburg fazia parteum blocoquatro juízes progressistas que costumavam precisarum quinto "pêndulo" para obter a maioria.
Em votações recentes, esse quinto voto foi dado pelo juiz John Roberts para decisões sobre imigração, direitoshomossexuais e outras questões importantes da chamada "guerra cultural" nos EUA.
Os presidentes americanos têm o poderescolher os membros do tribunal, que deve ser ratificado pelo Senado, e Trump costuma considerar uma conquista ter feito isso duas vezesmenosquatro anos no cargo.
Se pudesse colocar um terceiro magistrado puramente conservador, a Corte teria seis juízes escolhidos por republicanos, enquanto o bloco liberal permaneceriauma minoriatrês.
Com o tempo, isso pode levar a mudanças significativasvários ramos do direito.
"Esta é possivelmente a nomeação mais importante da história do tribunal moderno. Há uma sériedoutrinas que atualmente variammaioriascinco a quatro", observa Turley.
Por exemplo, ele aponta que um novo juiz conservador no tribunal pode abrir o caminho para reverter parcial ou totalmente Roe versus Wade, o caso icônicoque o tribunal descriminalizou o aborto1973.
Provavelmente cientetudo isso, Ginsburg disse antesmorrer que seu "desejo mais fervoroso" era que evitassem substituí-la até que um novo presidente assumisse o cargo, segundo a rádio pública norte-americana NPR.
A questão agora é se Trump pode causar esse desequilíbriouma Suprema Corte que recentemente falhou maisuma vez contra os interesses do presidente.
' Sem demora '
A morteGinsburg oferece a Trump a oportunidadeestimular o eleitorado conservador e religioso a menos50 dias antes da eleição, quando as pesquisas o mostram atrás do candidato democrata Joe Biden.
De fato, durante semanas, Trump apontou para a eventualidadenomear um terceiro juiz da Suprema Corte como motivo parareeleição.
E neste sábado (19/09) o presidente confirmou pelo Twitter que tentará fazê-lo nos meses que permanecer como presidente.
"Fomos colocados nesta posiçãopoder e importância para tomar decisões pelas pessoas que nos elegeram com tanto orgulho, sendo que uma das mais importantes é considerada a escolha dos juízes da Suprema Corte dos Estados Unidos. Temos essa obrigação, sem demora!", escreveu Trump no Twitteruma mensagem ao Partido Republicano.
E o debate que se abre com isso desviará um pouco a atenção da respostaTrump à pandemiacoronavírus, quando os EUA estão prestes a atingir 200 mil mortes por covid-19, um número que nenhum outro país registrou.
O Senado, a chave
O Senado é controlado pelo Partido RepublicanoTrump. Seu líder, Mitch McConnell, antecipou na mesma sexta-feira à noite que haverá, sim, uma votação sobre o juiz nomeado pelo presidente.
No entanto, ele evitou dizer quando isso aconteceria: antes ou depois das eleições3novembro.
Os republicanos têm 53 senadores (ante 47 democratas), mas pelo menos dois membros dessa maioria protestaram dias atrás sobre votarum novo juizum momento tão próximo da eleição.
Isso sugere que a substituiçãoGinsburg pode se tornar um novo testelealdade republicana a Trump, quando alguns senadores lutam para serem reeleitos.
Por outro lado, soma-se à polêmica o precedenteque McConnell bloqueou2016 a votação no Senadoum juiz nomeado para o tribunal pelo então presidente Barack Obama, alegando que se tratavaum ano eleitoral.
Sua explicação agora é que a votação pode prosseguir porque, ao contrárioquatro anos atrás, o presidente e a maioria do Senado pertencem ao mesmo partido.
Os democratas rapidamente exigiram que ele esperasse até depois da eleição.
"Os eleitores devem escolher o presidente e o presidente deve escolher o juiz a ser considerado pelo Senado", disse Biden na sexta-feira.
Isso também pode mobilizar eleitoresesquerda, que ainda não têm certeza se votam a favorBiden.
"Eu não poderia imaginar tornar essa eleição mais divisiva ainda, mas aconteceu: isso adiciona um elemento transformador à eleição", pondera Turley. "Isso aumentará o nívelraiva no país."
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