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Por que próximo veículo espacial da Nasa pode descobrir se já houve vidaMarte:
Na década1970, as missões chamadasViking realizaram um experimento para procurar micróbios no solo marciano. Mas os resultados foram inconclusivos.
Indícioságua
No início dos anos 2000, os robôs chamadosVeículos ExploradoresMarte da Nasa foram incumbidos"seguir a água". O Opportunity e o Spirit encontraram evidências geológicas da presençaágua líquida no passado.
O veículo explorador Curiosity, que aterrissou2012, encontrou o lago que, no passado, cobria o lugar onde pousou, a cratera Gale, onde pode ter havido vida. Ele também detectou moléculas orgânicas (contendo carbono) que servem como "blocosconstrução da vida".
Agora, o robô Perseverance explorará um ambiente semelhante com instrumentos projetados para realizar testesbuscatraçosbiologia.
"Eu diria que é a primeira missão da Nasa desde a Viking a fazer isso", disse Ken Williford cientista do Jet Propulsion Laboratory (JPL), laboratório da NasaPasadena, na Califórnia, responsável pelos projetos da missão.
"O Viking buscou vida existente — ou seja, vida que ainda poderia haverMarte. Mais recentemente, a abordagem da Nasa tem sido aexplorar ambientes mais antigos, porque os dados que temos sugerem que Marte era mais habitável durante seus primeiros bilhõesanos."
O alvo do Perserverance, que deverá pousarMartefevereiro2021, é a cratera Jezero, onde os sinaisexistência passadalíquido são ainda mais claros, quando vistosórbita, do que os da cratera Gale.
O veículo explorador perfurará rochas marcianas, extraindo núcleos do tamanhoum pedaçogiz. Estes serão armazenadosrecipientes selados e deixados na superfície. Mais tarde, estes serão coletados por outro veículo explorador, lançados à órbitaMarte e levados à Terra para análise. Tudo faz parteuma colaboração com a Agência Espacial Europeia (ESA na sigla inglesa), um projeto chamado Mars Sample Return (DevoluçãoAmostraMarte,tradução livre).
Mas o veículo explorador também terá outras tarefas na superfícieMarte.
A crateraJezero apresenta um dos exemplos marcianos mais bem preservadosum delta: estruturascamadas formadas quando os rios entramcorpos abertoságua e depositam rochas, areia — e, potencialmente, carbono orgânico.
"Há um canalrio que flui do oeste, penetrando na borda da cratera; e logo depois, dentro da cratera, na foz do rio, há um belo lequedelta. Nosso plano é pousar bem na frente desse delta e começar a explorar", disse Williford.
O delta contém grãosareia origináriosrochas localizadas rio acima, incluindouma bacia hidrográfica que fica a noroeste.
"O cimento entre os grãos é muito interessante. Ele registra a história da água interagindo com a areia no momento da deposição no lago", diz Ken Williford.
"Ele fornece habitatspotencial para qualquer organismo que vive entre esses grãosareia. Pedaçosmatéria orgânicaqualquer organismo rio acima podem ter sido potencialmente levados para o delta."
A Jezero está localizadauma região que há muito interessa a ciência. Fica no lado ocidentaluma baciaimpacto (formada pelo impactoum meteorito ou cometa) gigante chamada Isidis, que mostra os sinais mais fortespresença dos minerais olivina e carbonato medidos a partir do espaço. "Os minerais carbonáticos são um dos principais alvos que nos levaram a explorar esta região", diz Ken Williford.
Uma pesquisa sobre os minerais na cratera Jezero, realizada por Briony Horgan, da Universidade Purdue, Melissa Rice, da Western Washington University (ambos cientistas da missão) e colegas, revelou depósitoscarbonatos na margem ocidental da antiga bacia. Esses carbonato que sobraram foram comparados ao que se vêum ralobanheira — o acúmuloespumasabão que resta depois que a água é drenada.
Carbonatos terrestres podem conter evidências biológicas dentroseus cristais. Um tipoestrutura que às vezes sobrevive é o estromatólito.
Eles são formados quando muitas camadasbactérias e sedimentos,escala milimétrica, se acumulam ao longo do tempo. Na Terra, eles ocorrem ao longolinhas costeiras antigas, onde a luz do sol e a água são abundantes.
Há bilhõesanos, a costaJezero era exatamente o tipolugar onde estromatólitos poderiam ter se formado — e se preservado.
O Perseverance examinará o tal ralo da banheira ricocarbonato com seus instrumentos científicos, para ver se estruturas como essa já se formaram ali.
Um instrumento chamado Sherloc captura imagenspertouma rocha e produz um mapa detalhado dos minerais presentes ali, incluindo qualquer material orgânico. Outro instrumento chamado Pixl fornecerá aos cientistas a composição química detalhada da mesma área.
Com esse conjuntodados, os cientistas "procurarão concentraçõeselementos biologicamente importantes, minerais e moléculas — incluindo matéria orgânica, especialmente quando essas coisas estiverem concentradasformas que são potencialmente sugestivasbiologia", diz Ken Williford.
Reunir muitos tiposevidência é vital; a identificação visual por si só não será suficiente para convencer os cientistasorigem biológica. A não ser que haja uma grande surpresa, as descobertas provavelmente serão descritas apenas como "bioassinaturas"potencial até que as rochas sejam enviadas à Terra para análise.
Sobre os estromatólitos, Williford explica: "As camadas tendem a ser irregulares e enrugadas, como seriase esperarum montemicróbios vivendo umcima do outro. Essa coisa toda pode fossilizaruma maneira visível até mesmo para as câmeras. Em formas assim, talvez possamos ver uma camada que tenha uma composição química diferente da seguinte, ou que seja possível identificar algum padrão repetitivo, ou achamos matéria orgânica concentradacamadas específicas — essas seriam as 'bioassinaturas' que poderíamos esperar encontrar."
No entanto, Marte pode não desistirseus segredos facilmente. Em 2019, cientistas da missão visitaram a Austrália para se familiarizar com estromatólitos fósseis formados há 3,48 bilhõesanos na regiãoPilbara.
"Teremos que olhar mais [em Marte] do que quando fomos para Pilbara. Nosso conhecimento da área ali vemdécadasmuitos geólogos indo ano após ano e mapeando o território", diz Ken Williford.
Em Marte, diz, "nós somos os primeiros".
Mas e se o veículo explorador não enxergar algo tão grande e óbvio quanto um estromatólito?
Na Terra, podemos detectar micróbios fossilizados no nívelcélulas individuais. Mas, para vê-los, os cientistas precisam cortar uma fatiapedra, triturá-la até a espessurauma folhapapel e estudá-lauma lâminavidro.
Nenhum veículo explorador é capazfazer isso. Mas pode não ser necessário.
"É muito raro encontrar um micróbio individual por conta própria", diz Williford.
"Quando eles estavam vivos — se fossem parecidos com os micróbios da Terra — eles teriam se unidopequenas comunidades que se acumulamestruturas ou aglomeradoscélulas que são detectáveis pelo veículo espacial."
Depoisexplorar o chão da cratera, os cientistas querem dirigir o veículo explorador até a borda. Os núcleosrochas levados dessa parte, quando forem analisados na Terra, podem fornecer uma estimativaidade para o impacto que escavou a cratera e uma idade máxima para o lago.
Mas há outra razão para estar interessado na borda da cratera. Quando um grande objeto espacial bate nas rochas que contêm água, a energia gerada pode criar sistemas hidrotérmicos — onde a água quente circula pelas rochas. A água quente dissolve minerais das rochas que fornecem os ingredientes necessários para a vida.
"Se isso aconteceu, teria sido o primeiro ambiente habitável na cratera Jezero", diz Ken Williford. A prova disso — juntamente com sinaisvida do que colonizou o ambiente — poderia estar preservada na borda.
O cenário atual da missão prevê que o veículo explorador se dirija para a regiãoSyrtis, mas é um objetivo mais longínquo.
Syrtis é mais antiga que Jezero e também possui a promessater carbonatos expostos — que podem ter se formadomaneira diferente dos da cratera.
Se, no final desta missão, os sinaisvida passada não surgirem, a busca não terminará. O foco se voltará para os núcleos extraídos das rochas, quando chegarem à Terra.
Mas a perspectiva continua sendo que a missão não apenas levante mais perguntas, masfato traga algumas respostas. Isso seria incrível. O que quer que esteja à espera do Perseverance, estamos à beirauma nova fasenossa compreensão do vizinho da Terra.
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