Como o debate sobre reparações pela escravidão voltou a ganhar força nos EUA:sites de prognosticos de apostas

Crédito, Biblioteca do Congresso dos EUA

Legenda da foto, Fotosites de prognosticos de apostas1862 mostra cinco geraçõessites de prognosticos de apostasescravossites de prognosticos de apostasuma fazenda na Carolina do Sul

Mas, recentemente, há um novo interesse nesse debate,sites de prognosticos de apostasum momentosites de prognosticos de apostasque as disparidades raciais no país ficaram ainda mais clarassites de prognosticos de apostasmeio à pandemiasites de prognosticos de apostascovid-19 (a doença causada pelo coronavírus) e a crise econômica, que afetam desproporcionalmente a população negra.

Desde o finalsites de prognosticos de apostasmaio, protestos contra o racismo e a brutalidade policial contra a população negra - desencadeados depois que George Floyd, um homem negro, foi morto sob custódiasites de prognosticos de apostasum policial branco - levaram centenassites de prognosticos de apostasmilharessites de prognosticos de apostaspessoas às ruassites de prognosticos de apostastodo o país e se espalharam pelo mundo.

Nesse contexto, o tema das reparações tem aparecido nas plataformassites de prognosticos de apostasvários candidatos, tanto negros quanto brancos, que disputam vagas no Senado, na Câmara e outros cargos públicos nas eleições deste ano. Até mesmo Joe Biden, que deve ser o candidato democrata à Presidência, disse neste mês que apoia a realizaçãosites de prognosticos de apostasestudos sobre o assunto.

"É o maior nívelsites de prognosticos de apostasdebate nacional sobre reparações que já vi na minha vida. E talvez desde a Era da Reconstrução. Dos últimos 150 anos", diz à BBC News Brasil o economista William Darity, professor da Duke University, na Carolina do Norte, e coautor do livro "From Here to Equality: Reparations for Black Americans in the Twenty-First Century" ("Daqui à Igualdade: Reparações para Americanos Negros no Século 21",sites de prognosticos de apostastradução livre).

Crédito, Biblioteca do Congresso dos EUA

Legenda da foto, Escravos trabalhando com algodãosites de prognosticos de apostasfazenda na Carolina do Sul,sites de prognosticos de apostas1862

Mudança

Darity ressalta que a "mudançasites de prognosticos de apostasclima"sites de prognosticos de apostastorno do debate sobre reparações começou já no ano passado, quando o tema foi citado por vários dos pré-candidatos que buscavam a indicação do Partido Democrata para concorrer à Presidência - entre eles Julián Castro, Beto O'Rourke e as senadoras Kamala Harris e Elizabeth Warren.

"O fatosites de prognosticos de apostasque havia candidatos presidenciais mencionando o termo 'reparações' era surpreendente", afirma o economista.

Segundo Darity, até então essa discussão costumava ficar, na maior parte, restrita à comunidade negra. "O que é diferente agora é que se tornou um debate que foi aberto ao grande público", observa.

O congressista democrata John Conyers, mortosites de prognosticos de apostas2019, foi o político negro que serviu durante mais tempo no Congresso americano. De 1989 a 2017 (quando renunciou), ele apresentou todos os anos um projetosites de prognosticos de apostaslei que previa um estudo sobre o legado da escravidão e propostassites de prognosticos de apostasreparação. Mas a possibilidadesites de prognosticos de apostasuma lei do tipo ser aprovada sempre foi considerada remota.

Recentemente, porém, iniciativas semelhantes vêm sendo adotadas por outros políticos. No ano passado, a congressista Sheila Jackson Lee reapresentou o projetosites de prognosticos de apostasConyers, com o apoio da presidente da Câmara dos Representantes, Nancy Pelosi. Uma subcomissão da Casa realizou audiência histórica para discutir a proposta. O senador Cory Booker apresentou projeto semelhante no Senado.

A questão também vem sendo debatida por vários governos municipais e estaduais e por instituições privadas - algumas das quais estão estabelecendo fundossites de prognosticos de apostasreparação para compensar descendentes dos escravizados.

A historiadora Ana Lúcia Araujo, professora da Howard University,sites de prognosticos de apostasWashington, e autora do livro "Reparations for Slavery and the Slave Trade: A Transnational and Comparative History" (ainda sem tradução no Brasil), que trata da história dos pedidossites de prognosticos de apostasreparações financeiras e materiais, observa que esses pedidos nos Estados Unidos são muito antigos e vêm desde o século 18.

"De tempossites de prognosticos de apostastempos essa questão volta à tona", diz Araujo à BBC News Brasil.

Ela lembra que houve um movimento muito grandesites de prognosticos de apostaslibertos que, no final do século 19, pediram pensões ao governo como formasites de prognosticos de apostasreparação. Uma nova ondasites de prognosticos de apostasdiscussões sobre o tema ocorreu nos anos 1960.

"Nos períodossites de prognosticos de apostasque a questão dos direitos civis começa a declinar, os pedidossites de prognosticos de apostasreparação financeira têm tendência a reaparecer", afirma a historiadora.

Tema polêmico

Pesquisassites de prognosticos de apostasopinião indicam que há um aumento recente no apoio da população ao movimento Black Lives Matter ('Vidas Negras Importam') e que 76% dos americanos consideram discriminação racial um "grande problema" no país.

Mas o tema das reparações financeiras pela escravidão ainda é polêmico. Segundo pesquisa Gallup do ano passado, 67% dos americanos são contra a ideiasites de prognosticos de apostasque o governo deveria fazer pagamentossites de prognosticos de apostasdinheiro a americanos negros descendentessites de prognosticos de apostasescravos. Em 2002, essa taxa erasites de prognosticos de apostas81%. Mesmo entre a população negra, 25% são contra.

Entre os argumentos dos que se opõem às reparações estão ossites de prognosticos de apostasque serviriam para dividir os americanos esites de prognosticos de apostasque a escravidão estásites de prognosticos de apostasum passado remoto. Segundo Darity, na própria comunidade negra há quem considere que o recebimentosites de prognosticos de apostascompensação resultariasites de prognosticos de apostasum tiposites de prognosticos de apostas"vitimização psicológica", colocando-os na posiçãosites de prognosticos de apostasvítimas.

O economista também observa que ainda há nos Estados Unidos a crençasites de prognosticos de apostasque as desigualdades enfrentadas pela população negra são consequência "de seu próprio comportamento disfuncional" e nãosites de prognosticos de apostasquestões estruturais.

"Um dos primeiros passos no processosites de prognosticos de apostasconsolidar apoio para reparações é estabelecer claramente que o motivo pelo qual americanos negros estãosites de prognosticos de apostasuma posição marginalizada não é seu comportamento, e sim uma históriasites de prognosticos de apostasinjustiça racial que se mantém até o momento atual", ressalta.

Crédito, Biblioteca do Congresso dos EUA

Legenda da foto, Gruposites de prognosticos de apostashomens, mulheres e crianças negras livres na Virgínia,sites de prognosticos de apostas1865

Impactos

Segundo defensores das reparações financeiras, os impactos da escravidão e, posteriormente,sites de prognosticos de apostasquase um séculosites de prognosticos de apostasleissites de prognosticos de apostassegregação racial, ainda são sentidos e estão visíveis nas históricas desigualdadessites de prognosticos de apostasrenda esites de prognosticos de apostasriqueza entre os americanos negros e brancos.

Ao contrário da população branca, os escravos não podiam ser proprietáriossites de prognosticos de apostasterras (e, assim, deixar essa herança aos descendentes). Após a abolição, as leissites de prognosticos de apostassegregação racial impediram ou dificultaram que americanos negros votassem, estudassem, tivessem acesso a bons empregos, a financiamento ou adquirissem propriedade, entre outros obstáculos que os colocavamsites de prognosticos de apostasdesvantagemsites de prognosticos de apostasrelação à população branca.

Em diversas cidades, leis proibiam famílias negrassites de prognosticos de apostascomprar casassites de prognosticos de apostasdeterminados bairros, fazendo com que tivessemsites de prognosticos de apostasoptar por áreas e propriedades menos valorizadas. Pesquisadores ressaltam que, quando americanos negros conseguiam adquirir algum tiposites de prognosticos de apostaspropriedade, não era incomum que fosse roubada ou destruída. Sem proteção da lei, não tinham a quem recorrer.

"Durante e depois da Reconstrução, frequentemente, quando descendentes negros dos escravizados conseguiam conquistar algum grausites de prognosticos de apostasprosperidade, suas comunidades eram destruídas por massacres (perpetrados por) brancos", observa Darity.

Pesquisadores destacam o efeito cumulativo dessas desigualdades ao longosites de prognosticos de apostasgerações. Darity ressalta que, segundo os dados mais recentes do governo,sites de prognosticos de apostas2016, apesarsites de prognosticos de apostasos americanos negros representarem 13% da população, eles detêm apenas 2,6% da riqueza no país.

O patrimônio líquido das famílias negras nos Estados Unidos representa menossites de prognosticos de apostas15% do patrimônio líquido das famílias brancas. Enquanto 73% das famílias brancas têm casa própria, essa taxa ésites de prognosticos de apostasapenas 43% entre as famílias negras.

Propostas

Não há consenso sobre qual seria a melhor formasites de prognosticos de apostaslevar adiante as reparações ou sobre como determinar quem teria direito, quanto esites de prognosticos de apostasque forma pagar.

Alguns apontam como exemplo as reparações pagas pela Alemanha às vítimas do Holocausto e pelos Estados Unidos aos nipo-americanos enviados ilegalmente a campossites de prognosticos de apostasconcentração durante a Segunda Guerra Mundial.

Certas propostas envolvem pagamentos diretos aos beneficiados, enquanto outras priorizam investimentossites de prognosticos de apostasprogramas que reduzam as disparidadessites de prognosticos de apostasáreas como saúde, educação, emprego e habitação.

Há os que propõem cumprir a promessa dos "40 acres e uma mula" feitasites de prognosticos de apostas1865, o que, segundo alguns cálculos, custaria hojesites de prognosticos de apostastornosites de prognosticos de apostasUS$ 160 bilhões (cercasites de prognosticos de apostasR$ 856 bilhões). Outros calculam o valor do trabalho feito pelos escravizados, sem remuneração,sites de prognosticos de apostascomparação ao que empregados assalariados recebiam, o que somaria trilhõessites de prognosticos de apostasdólaressites de prognosticos de apostasvalores atuais.

Para Darity, o objetivo das reparações deve ser osites de prognosticos de apostasacabar com a desigualdadesites de prognosticos de apostasriqueza entre a população negra e branca. Ele calcula que seriam necessários no mínimo US$ 10 trilhões (cercasites de prognosticos de apostasR$ 53 trilhões), distribuídos pelo governo federalsites de prognosticos de apostasformasites de prognosticos de apostaspagamentos diretossites de prognosticos de apostasUS$ 250 mil (cercasites de prognosticos de apostasR$ 1,3 milhão) a cada americano negro que seja descendentesites de prognosticos de apostaspessoas escravizadas nos Estados Unidos.

Brasil

A historiadora Ana Lúcia Araujo observa que, no Brasil, apesarsites de prognosticos de apostasa questão das reparações financeiras ter sido mencionada já no século 19 por abolicionistas como Luiz Gama, os debates sobre o tema ganharam força mais tarde do que nos Estados Unidos, principalmente a partir dos anos 1990.

Desde então, foram adotadas medidas como as cotassites de prognosticos de apostasuniversidades ou a demarcaçãosites de prognosticos de apostasterritórios quilombolas. Mas, entre as iniciativas pedindo compensação financeira a descendentessites de prognosticos de apostasescravos no Brasil, nenhuma avançou.

Em 2014, a Ordem dos Advogados do Brasil (OAB) anunciou a criação da Comissão Nacional da Verdade da Escravidão Negra no Brasil, com o objetivosites de prognosticos de apostasfazer uma investigação sobre o período da escravidão e discutir formassites de prognosticos de apostasreparação.

Seu presidente, o advogado Humberto Adami, diz à BBC News Brasil que a comissão vem avançando no trabalhosites de prognosticos de apostaslevantar pistas e provas sobre a escravidão, mas reconhece as dificuldadessites de prognosticos de apostasdebater reparações financeiras pela escravidão no Brasil esites de prognosticos de apostaster uma proposta do tipo aprovada no Congresso.

"Toda vez que se começou a falarsites de prognosticos de apostasdinheiro, os exemplos anteriores é que a conversa acabava", afirma.

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